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Capítulo 05 | Bónus

MILENA CHRISTIAN

O vento carrega consigo uma temperatura úmida e morna, fazendo meus cabelos esvoaçarem com a brisa. A paisagem se vangloria em tons de laranja, amarelo e vermelho, tornando a época extremamente agradável e bela.

Memórias distantes me fazem afirmar sempre que Outono é minha época preferida do ano, nem sequer a Primavera e nem mesmo o inverno têm a mesmo encanto que o Outono.

E ao mesmo tempo, doces e velhas lembranças tomam minha mente em nostalgias leves, que de certa forma me fazem sorrir.

O que considero extremamente inapropriado neste momento.

Suspiro e fecho a janela de vidro, notando que algumas folhas úmidas entraram no cômodo quente e pousam na carpete bege que toma todo o piso da sala.

Sento na mesa, e o álbum de fotos aberto descansa ao lado do envelope na mesa de escritório — como se fosse apenas um objeto, se é que ele não passasse apenas disso — ou pelo menos deveria.

Suspiro e passo os dedos delicadamente sobre a peça dourada que adorna meu dedo anelar, e embora eu me arrependesse amargamente por continuar com ele, eu não posso evitar o sentimento de solidão que manifesta em meu coração sempre que eu o retiro.

E mesmo que o tal sentimento não seja nenhuma novidade para mim, e sendo que já se passaram dois anos, eu imaginava que já o havia ultrapassado.

Eu repetia como uma mantra para mim, me torturando uma e outra vez.

Mas agora é diferente, apesar de tudo eu ainda esperava o dia em que finalmente voltaríamos ser uma família normal, que ele fosse mais...

Fecho os olhos e também duramente o álbum de fotos.

Toques são dados na porta de repente e em seguida aberta pela Sra. Bunion.

Seus cabelos estão presos em um coque formal e traja em seu corpo um terno com saia de cinza opaco — como sempre —.

Sua afeição está relaxada mas a postura rígida como sempre evidencia sua classe e autoridade.

Com certeza não é bom momento para você entrar aqui, Elisabeth.

— Srta. Christian, imaginei que estivesse de folga hoje — diz e fecha a porta, caminhando até a janela, ela olha demoradamente para a paisagem oferecida pelo bom posicionamento da minha sala. — Por que não veio ter ao meu gabinete quando ouviu a minha convocação?

— Perdão, Sra. Bunion, eu estou um pouco ocupada — aponto ligeiramente para os projetos distribuídos no estirador do outro lado da sala.

Mas o olhar da diretora corre em direção ao buquê de tulipas jogadas no lixo e se aproxima afim de tocar nas pétalas vermelhas, pouco depois avista também o documento aberto, mas rapidamente o coloco dentro do seu próprio envelope.

Minha mãe sempre foi apaixonada por tulipas, e meu pai fazia questão de a presentear sempre em seus anos, e mesmo enquanto o câncer a levava de nós, meu pai fez questão de decorar todo o seu quarto do hospital com as mais diversas e belas tulipas.

E hoje, mesmo com a amarga informação guardada no bendito envelope, ele me trouxe especificamente as vermelhas que significam amor verdadeiro e eterno.

— Percebo — a mulher endireita-se e me encara brevemente antes de caminhar em direção a saída. — Enrique a aguarda na recepção, presumo que não o queira deixar a espera, certo? — e sai da sala.

Espero alguns segundos antes de levantar da cadeira e faço questão de encarar de forma profunda no envelope.

As flores permanecem aonde as deixei e o álbum também, eu não tenho intenções nenhuma de os carregar comigo.

Além disso, eu tenho minhas próprias dúvidas com a pessoa que está me esperando ansiosamente na portaria.

Talvez eu esteja sendo muito pessimista, talvez as coisas não sejam tão ruins quanto pareça.

Visto o sobretudo que descansava no pendurador ao lado da porta, e alcanço tanto o documento quanto o meu celular para finalmente sair de meu escritório.

Várias mensagens de Ruby caem e muitas ligações também caem na caixa postal. Ela precisa de mim, pelo menos é o que seu desespero me diz e também sua preocupação, inclusive a Sophia e meu pai, me apertando profundamente o coração.

Mas de momento eu preciso de um tempo para resolver meu atual problema com o Enrique, meu ex-marido.

Não só sei que minhas amigas irão surtar quando eu as contar, como também irão me julgar.

E meu pai... céus! Meu pai ficará tão decepcionado comigo.

Eu nunca escolhi ou pretendi me afeiçoar tanto a Enrique, mas ainda assim ele era estranhamente meu lar, o único sítio onde eu tinha conforto e refúgio, ele sempre foi meu porto seguro.

Mesmo que no final ele também era a única causa de minhas insônias, prantos, dúvidas e consequentemente todo meu vazio.

Respiro fundo e cruzo o corredor que dá para a saída da empresa.

Havia chovido bastante durante toda manhã, mas agora só resta a queda de chuviscos e um clima instável.

Brisas mornas fazem alguns fios rebeldes cobrirem meu rosto assim que abro as portas de vidro da entrada principal do edifício, observo atentamente o único carro branco no vasto parque de estacionamento enquanto ajeito os fios do meu cabelo para trás da minha orelha.

Você não pode ser covarde agora — digo de forma confiante para mim mesma.

Demorou alguns segundos até sair de lá alguém, no caso, o motorista que atravessou até chegar a porta de trás, abrindo assim para o seu chefe.

E do carro surge o homem alto, muito mais alto que eu, a nossa diferença de altura é gigante e é impossível não se intimidar sempre que o vejo.

Seu corpo é escondido pelo terno formal preto acompanhado por seus belos sapatos envernizados da mesma cor, o seu relógio reluzente o faz percetível de que se trata de um homem de negócios.

E Enrique é absolutamente lindo, possui curtos cabelos pretos com alguns fios cinzas que de destacam na mata escura , assim harmonizando com a sua pele branca amorenada.

Seus olhos verdes são a ruína de qualquer mulher que ousa querer se aprofundar neles.

E como eu poderia não me aprofundar neles?

Respiro fundo em resposta ao sorriso apaixonante que ele me oferece.

Será que ele não sabe que dessa forma torna tudo ainda mais doloroso? Tudo mais difícil?

Seus passos são graciosos até chegar ao pé de mim que estou parada o esperando, e então posso inalar o seu cheiro particularmente maravilhoso.

Solto a respiração que havia prendido inconscientemente mas continuo o encarando.

— Olá, Mila — ele diz.

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