“Manuela”Era tão engraçado, minha vida estava prestes a mudar completamente, mas ao mesmo tempo tudo ficaria igual. Eu estava horrorizada com tudo o que fiquei sabendo nos últimos dias. Estava chocada com o que li naquele diário. E havia ainda a possibilidade de eu não ser filha da Rita, o que não era ruim, explicava muita coisa, mas me deixava angustiada.O Flávio estava cheio de atenções comigo, as garotas me ligavam todos os dias para saber como eu estava, a Lisa e o Rick ficavam de olho em mim o tempo todo no escritório e até o Paulo Henrique, meu amigo da faculdade, estava preocupado comigo.No meio de tudo isso ainda teve o divórcio dos meus pais, ou daqueles que eu achava que eram meus pais. Meu pai disse que a Rita está uma fera por causa do dinheiro. Mas é sempre o dinheiro. Pra começar, que se não fosse pelo dinheiro ela nunca teria se aproximado do meu pai e a primeira esposa dele ainda estaria viva. Se não fosse pelo dinheiro, ela não estaria tão louca assim para me levar
“Flávio”Ainda não estava na hora de buscar a baixinha, mas me deu uma vontade de ir buscá-la mais cedo. Eu sentia falta dela e com tudo o que vinha acontecendo eu estava inseguro com ela indo para a faculdade, um lugar onde eu não podia fazer muito além de deixar uma viatura na porta.- O que foi, maninho? – Lisa estava parada na minha frente com as mãos na cintura.- Nada, por quê? – Perguntei, levantando a cabeça. Eu estava sentado na sala com o rosto enterrado nas mãos.- Porque você parece tenso e está bufando. – Lisa me olhou e se sentou.- É tudo isso com a Manu, Lisa, e ela indo para a faculdade à noite. Eu não vou mentir, estou muito preocupado. – Acabei desabafando com a minha irmã.- Todos nós estamos, mas a Manu está bem lá. Ela tem o PH e tem a viatura que você deixou. Mas você, pelo visto, está mais inquieto hoje do que de costume. – Lisa me avaliou rapidamente, com a clareza de quem me conhecia muito bem.- É, eu estou me sentindo inquieto mesmo. – Refleti. – Quer saber
“Flávio”Respirei fundo e tentei colocar minhas idéias em ordem mais uma vez. Olhei ao redor da sala.- PH, você conhece a garota que falou com aquele homem? – Foi a primeira coisa que eu quis saber.- Sim, ela é novata, está um semestre atrás da Manu, veio transferida de outra faculdade, o nome dela é Karen, sala 313. – PH informou.- Coordenador, eu quero falar com essa garota agora e também quero falar com o seu segurança da entrada, porque eu tive que me identificar quando cheguei, mas para o homem que levou a minha namorada ele fez vista grossa. – Eu não estava para brincadeira e o coordenador percebeu.- Sua namorada, delegado? – Ele engoliu em seco.- Pois é, minha namorada. E se alguma coisa acontecer com ela, você e essa faculdade estarão com sérios problemas e eu nem preciso te dizer que corre o risco do seu segurança sair daqui preso hoje, não é mesmo. Então é bom que aquele merda daquele segurança fale tudo o que eu quiser saber. – O coordenador mandou chamar o segurança e
“Flávio”Saímos da faculdade e os policiais estavam me esperando encostados na viatura. Eu mal registrei a Lisa e o Paulo Henrique atrás de mim. Me aproximei dos policiais, eu estava a ponto de explodir de raiva.- Como é, qual dos dois tem certeza que a Manuela não saiu do prédio? – Parei em frente a eles irritado.- Delegado, nós não vimos a senhorita sair. – O policial que havia falado comigo no telefone insistiu.- Que porra vocês estavam fazendo que não abordaram aquele homem? – Perguntei sentindo vontade de quebrar a cara daqueles dois.- Delegado, nós não achamos necessário. – O policial continuou insistindo.- Não achou necessário? Vocês estão aqui para protegê-la, ela estava sob ameaça de sequestro e vocês vêem um sujeito estranho, mas não abordam? – Reclamei e vi o outro policial passar a mão nos cabelos nervosamente.- Você. – Apontei para o outro. – É bom me falar o que aconteceu aqui ou eu vou mandar os dois para a corregedoria e pedir a exoneração dos dois por prevaricaç
“Manuela”Eu não tinha idéia de quanto tempo já havia se passado desde que eu fui colocada nesse veículo, só sabia que já não conseguia mais chorar e que o meu corpo estava todo dormente.- Mas o que é isso? – Escutei o homem que dirigia perguntar e tentei me levantar.- Quietinha aí, bonitinha! – O que estava sentado no banco de carona me apontou uma arma e eu fiquei quieta.- Não vou parar aqui não, eu conheço aquele ali. – O motorista falou novamente. – Vou ligar para o patrão. – Ele pegou o celular e ligou. – Patrão, tudo certo, já estamos na cidade, mas não vai dar para deixar a moça na casa da dona não. O irmão dela está lá do lado de fora. – Ele ouviu por um momento. – Não, o outro. Isso. – Ele ouviu novamente. – Está bem, patrão.Ele desligou o telefone e olhou para o outro, mas não disse nada. Eu estava aflita. Se ele disse que estava na cidade, só pode ser na minha cidade. Mas de qual irmão ele falou? Eu precisava fugir, mas de que jeito? Será que o Flávio já tinha sentido a
“Flávio”Nunca fiz uma viagem tão longa, por mais que eu imprimisse velocidade no carro parecia que eu nunca chegaria àquela cidade. E quando finalmente cheguei na entrada daquela cidade eu parei, desci do carro e liguei de novo para o Camilo.- E então, Camilo? – Perguntei aflito.- Nem sinal dela, Flávio. Não tem nenhum movimento na casa da Rita. Está tudo apagado, como se ela já tivesse ido dormir. – Camilo me informou.- O Breno já chegou?- Sim, já tem um tempo que eles estão aqui. Ele sugeriu que nós nos reuníssemos em outro lugar, disse que um dos policiais que veio com ele vai ficar aqui de olho.- É uma boa idéia. Eu estou na entrada da cidade...Camilo sugeriu que fôssemos para a casa dele e eu achei uma boa idéia montarmos nosso centro de comando lá. Em poucos minutos eu chegava em frente a uma casa grande numa rua sossegada. Camilo já nos esperava e ao seu lado estavam o Sr. Orlando e a Olívia, que parecia já ter chorado bastante, mas mesmo assim, nos aguardava com uma mes
“Manuela”Eu não preguei os olhos a noite inteira. Mas também, nem que eu quisesse, o Sr. Cândido ronca como um escapamento furado, nunca vi uma coisa dessas. Quando ele acordou eu estava sentada na cama de costas pra ele.- Já acordou, Manuela? Você acorda cedo. – Ele comentou e eu só conseguia pensar “ah, claro, porque eu dormi como uma rainha ouvindo os seus roncos”. Ai, que raiva desse homem!- Sr. Cândido, por favor, me deixa ir embora. Eu nunca vou me casar com o senhor, não há forma no mundo da minha mãe me convencer disso. – Me levantei e olhei pra ele.- Garota, garota, eu vou te amansar. – Ele riu como um apalermado. Eu queria jogar qualquer coisa na cabeça dele, para ver se ele acordava desse delírio. - Olha, Manuela, vou te dizer uma coisa, eu conheço a Rita há muito tempo... – Ele começou a falar.- Ah, claro, o senhor até já foi amante dela! Realmente, o senhor com certeza a conhece há muito tempo e a conhece muito bem. – Eu estava possessa de raiva, nem sabia de onde sa
“Camilo”Que noite infernal que nós passamos. Meu pai estava arrasado, a Olívia estava nervosa, o Flávio estava a ponto de explodir. Nenhuma notícia da Manu até agora e já era meio do dia. Os policiais saíram durante a madrugada para patrulhar a cidade e verificar os endereços que eu passei das propriedades do Cândido, mas o Flávio ainda não tinha dado notícia.Nem meu pai e nem eu conseguimos ir para o trabalho, eu não tinha cabeça para a empresa, apenas informei a secretária que era para adiar tudo. Meu celular tocou, olhei no visor e era o próprio demônio me ligando. Atendi no viva voz para que meu pai e a Olívia pudessem ouvir, mas fiz sinal para que ficassem em silêncio.- O que você quer, Rita? – Perguntei ao atender.- Ora, falar com você, lógico, pra quê que se liga para uma pessoa? – Ela estava bancando a esperta comigo.- Rita, eu não tenho tempo e ainda que tivesse, não perderia falando com você. – Testei para ver o que ela falaria.- Pois eu se fosse você arrumaria tempo.