“Flávio”Saímos da faculdade e os policiais estavam me esperando encostados na viatura. Eu mal registrei a Lisa e o Paulo Henrique atrás de mim. Me aproximei dos policiais, eu estava a ponto de explodir de raiva.- Como é, qual dos dois tem certeza que a Manuela não saiu do prédio? – Parei em frente a eles irritado.- Delegado, nós não vimos a senhorita sair. – O policial que havia falado comigo no telefone insistiu.- Que porra vocês estavam fazendo que não abordaram aquele homem? – Perguntei sentindo vontade de quebrar a cara daqueles dois.- Delegado, nós não achamos necessário. – O policial continuou insistindo.- Não achou necessário? Vocês estão aqui para protegê-la, ela estava sob ameaça de sequestro e vocês vêem um sujeito estranho, mas não abordam? – Reclamei e vi o outro policial passar a mão nos cabelos nervosamente.- Você. – Apontei para o outro. – É bom me falar o que aconteceu aqui ou eu vou mandar os dois para a corregedoria e pedir a exoneração dos dois por prevaricaç
“Manuela”Eu não tinha idéia de quanto tempo já havia se passado desde que eu fui colocada nesse veículo, só sabia que já não conseguia mais chorar e que o meu corpo estava todo dormente.- Mas o que é isso? – Escutei o homem que dirigia perguntar e tentei me levantar.- Quietinha aí, bonitinha! – O que estava sentado no banco de carona me apontou uma arma e eu fiquei quieta.- Não vou parar aqui não, eu conheço aquele ali. – O motorista falou novamente. – Vou ligar para o patrão. – Ele pegou o celular e ligou. – Patrão, tudo certo, já estamos na cidade, mas não vai dar para deixar a moça na casa da dona não. O irmão dela está lá do lado de fora. – Ele ouviu por um momento. – Não, o outro. Isso. – Ele ouviu novamente. – Está bem, patrão.Ele desligou o telefone e olhou para o outro, mas não disse nada. Eu estava aflita. Se ele disse que estava na cidade, só pode ser na minha cidade. Mas de qual irmão ele falou? Eu precisava fugir, mas de que jeito? Será que o Flávio já tinha sentido a
“Flávio”Nunca fiz uma viagem tão longa, por mais que eu imprimisse velocidade no carro parecia que eu nunca chegaria àquela cidade. E quando finalmente cheguei na entrada daquela cidade eu parei, desci do carro e liguei de novo para o Camilo.- E então, Camilo? – Perguntei aflito.- Nem sinal dela, Flávio. Não tem nenhum movimento na casa da Rita. Está tudo apagado, como se ela já tivesse ido dormir. – Camilo me informou.- O Breno já chegou?- Sim, já tem um tempo que eles estão aqui. Ele sugeriu que nós nos reuníssemos em outro lugar, disse que um dos policiais que veio com ele vai ficar aqui de olho.- É uma boa idéia. Eu estou na entrada da cidade...Camilo sugeriu que fôssemos para a casa dele e eu achei uma boa idéia montarmos nosso centro de comando lá. Em poucos minutos eu chegava em frente a uma casa grande numa rua sossegada. Camilo já nos esperava e ao seu lado estavam o Sr. Orlando e a Olívia, que parecia já ter chorado bastante, mas mesmo assim, nos aguardava com uma mes
“Manuela”Eu não preguei os olhos a noite inteira. Mas também, nem que eu quisesse, o Sr. Cândido ronca como um escapamento furado, nunca vi uma coisa dessas. Quando ele acordou eu estava sentada na cama de costas pra ele.- Já acordou, Manuela? Você acorda cedo. – Ele comentou e eu só conseguia pensar “ah, claro, porque eu dormi como uma rainha ouvindo os seus roncos”. Ai, que raiva desse homem!- Sr. Cândido, por favor, me deixa ir embora. Eu nunca vou me casar com o senhor, não há forma no mundo da minha mãe me convencer disso. – Me levantei e olhei pra ele.- Garota, garota, eu vou te amansar. – Ele riu como um apalermado. Eu queria jogar qualquer coisa na cabeça dele, para ver se ele acordava desse delírio. - Olha, Manuela, vou te dizer uma coisa, eu conheço a Rita há muito tempo... – Ele começou a falar.- Ah, claro, o senhor até já foi amante dela! Realmente, o senhor com certeza a conhece há muito tempo e a conhece muito bem. – Eu estava possessa de raiva, nem sabia de onde sa
“Camilo”Que noite infernal que nós passamos. Meu pai estava arrasado, a Olívia estava nervosa, o Flávio estava a ponto de explodir. Nenhuma notícia da Manu até agora e já era meio do dia. Os policiais saíram durante a madrugada para patrulhar a cidade e verificar os endereços que eu passei das propriedades do Cândido, mas o Flávio ainda não tinha dado notícia.Nem meu pai e nem eu conseguimos ir para o trabalho, eu não tinha cabeça para a empresa, apenas informei a secretária que era para adiar tudo. Meu celular tocou, olhei no visor e era o próprio demônio me ligando. Atendi no viva voz para que meu pai e a Olívia pudessem ouvir, mas fiz sinal para que ficassem em silêncio.- O que você quer, Rita? – Perguntei ao atender.- Ora, falar com você, lógico, pra quê que se liga para uma pessoa? – Ela estava bancando a esperta comigo.- Rita, eu não tenho tempo e ainda que tivesse, não perderia falando com você. – Testei para ver o que ela falaria.- Pois eu se fosse você arrumaria tempo.
“Manuela”Eu estava encolhida naquele sofá, chorando e pedindo por um milagre. Meu corpo inteiro já doía, da surra que eu levei da Rita mais cedo. Mas, para minha tristeza, a Rita não demorou muito a voltar. Provavelmente já sabia o que queria e voltou para me aterrorizar mais uma vez.- Voltei, ratinha! E adivinha só, o seu irmãozinho Camilo quer negociar comigo. – Ela sorriu satisfeita. – Sabe o que significa? Significa que eu vou ter tudo o que eu quero.Ela riu e me deu mais um tapa no rosto.- Sabe, Manuela, eu vou sentir falta de te bater, é tão relaxante. – Ela riu e me deu outro tapa.Mas ela não estava satisfeita, ela nunca estaria. Ela se sentou de frente pra mim e cruzou as pernas.- Sabe, Manuela, cuidar de você todos esses anos foi a coisa mais chata e cansativa que eu já fiz na vida. – Ela olhava as unhas.- Você nunca cuidou de mim. – Já que ela estava sendo sincera, eu também seria.- Quê isso, garota? Não seja atrevida. – Rita riu. – Sabe, a minha maior felicidade foi
“Flávio”Chegamos ao lugar que o Jeferson indicou. Era um pequeno sítio no limite da cidade. A casa mais próxima estava à duzentos metros de distância, mas na lateral se percebia uma rua estreita de terra batida que chegava até a rodovia, provavelmente era por ali que o rapaz passava voltando da faculdade e por isso viu a movimentação.Ao estacionarmos a certa distância, ainda pudemos ver o tal Cândido entrando na casa. Rapidamente cercamos aquele lugar inteiro e entre estacionarmos e os capangas estarem rendidos não demorou cinco minutos. Então adentramos a casa. A porta estava destrancada, a empurrei e vi o Cândido e a Rita de pé na sala.- O que você fez, Rita? – Ele gritava com ela no momento em que abrimos a porta.- Vocês dois, mãos para cima, caminhem devagar para a parede. – Falei alto.- Mas que palhaçada é essa? Quem são vocês? – O Cândido perguntou e enquanto ele prestava atenção em mim, dois policiais chegavam por trás e rendiam a ele e a Rita, que abriu um sorriso frio.-
“Cândido”Mas a menina Manuela era realmente muito bonita. Eu estava cavalgando pela plantação e pensando na sorte que eu tive. A Rita não valia nada mesmo, estava vendendo a garota. Quando ela me procurou e propôs casar a Manuela com o meu filho, eu achei que seria uma boa saída, quem sabe ele sossegaria e pararia com a gastança do meu dinheiro nas farras e bordéis dos arredores. Mas quando eu vi aquela menina, eu não tive dúvida, eu é que me casaria com ela. Agora eu estava ansioso como um garoto. Quer saber, eu ia apressar esse casamento para o dia seguinte, a Rita que esperneasse pra lá.Voltei para a cidade, mas antes de chegar ao cartório encontrei o delegado. Aquele pau mandado, só fazia o que a mulher mandava e o que o meu dinheiro comprava. Era bom que ele fosse assim, pois o meu filho vivia metido em confusão e eu também tinha as minhas para encobrir, principalmente dos fulanos que eu precisava me livrar.- Cândido, que bom que eu o encontrei. – O delegado Rogério falou.- O