“Manuela”Eu estava encolhida naquele sofá, chorando e pedindo por um milagre. Meu corpo inteiro já doía, da surra que eu levei da Rita mais cedo. Mas, para minha tristeza, a Rita não demorou muito a voltar. Provavelmente já sabia o que queria e voltou para me aterrorizar mais uma vez.- Voltei, ratinha! E adivinha só, o seu irmãozinho Camilo quer negociar comigo. – Ela sorriu satisfeita. – Sabe o que significa? Significa que eu vou ter tudo o que eu quero.Ela riu e me deu mais um tapa no rosto.- Sabe, Manuela, eu vou sentir falta de te bater, é tão relaxante. – Ela riu e me deu outro tapa.Mas ela não estava satisfeita, ela nunca estaria. Ela se sentou de frente pra mim e cruzou as pernas.- Sabe, Manuela, cuidar de você todos esses anos foi a coisa mais chata e cansativa que eu já fiz na vida. – Ela olhava as unhas.- Você nunca cuidou de mim. – Já que ela estava sendo sincera, eu também seria.- Quê isso, garota? Não seja atrevida. – Rita riu. – Sabe, a minha maior felicidade foi
“Flávio”Chegamos ao lugar que o Jeferson indicou. Era um pequeno sítio no limite da cidade. A casa mais próxima estava à duzentos metros de distância, mas na lateral se percebia uma rua estreita de terra batida que chegava até a rodovia, provavelmente era por ali que o rapaz passava voltando da faculdade e por isso viu a movimentação.Ao estacionarmos a certa distância, ainda pudemos ver o tal Cândido entrando na casa. Rapidamente cercamos aquele lugar inteiro e entre estacionarmos e os capangas estarem rendidos não demorou cinco minutos. Então adentramos a casa. A porta estava destrancada, a empurrei e vi o Cândido e a Rita de pé na sala.- O que você fez, Rita? – Ele gritava com ela no momento em que abrimos a porta.- Vocês dois, mãos para cima, caminhem devagar para a parede. – Falei alto.- Mas que palhaçada é essa? Quem são vocês? – O Cândido perguntou e enquanto ele prestava atenção em mim, dois policiais chegavam por trás e rendiam a ele e a Rita, que abriu um sorriso frio.-
“Cândido”Mas a menina Manuela era realmente muito bonita. Eu estava cavalgando pela plantação e pensando na sorte que eu tive. A Rita não valia nada mesmo, estava vendendo a garota. Quando ela me procurou e propôs casar a Manuela com o meu filho, eu achei que seria uma boa saída, quem sabe ele sossegaria e pararia com a gastança do meu dinheiro nas farras e bordéis dos arredores. Mas quando eu vi aquela menina, eu não tive dúvida, eu é que me casaria com ela. Agora eu estava ansioso como um garoto. Quer saber, eu ia apressar esse casamento para o dia seguinte, a Rita que esperneasse pra lá.Voltei para a cidade, mas antes de chegar ao cartório encontrei o delegado. Aquele pau mandado, só fazia o que a mulher mandava e o que o meu dinheiro comprava. Era bom que ele fosse assim, pois o meu filho vivia metido em confusão e eu também tinha as minhas para encobrir, principalmente dos fulanos que eu precisava me livrar.- Cândido, que bom que eu o encontrei. – O delegado Rogério falou.- O
“Flávio”Chegamos a casa do Camilo e ao ver a expressão de desânimo em meu rosto ele já se deu conta de que não havíamos encontrado a Manuela. Deixei o meu corpo cair sobre uma cadeira, eu ia enlouquecer, precisava encontrá-la.- O que aconteceu, Flávio? – O Sr. Orlando se aproximou e se sentou ao meu lado.- Ela não estava lá. – Respondi desanimado. – Mas eu tenho certeza que ela estava. A forma como as coisas estavam por lá. Eles devem tê-la tirado de lá antes que chegássemos.- É exatamente o que eu penso. – Albano se sentou também. – O negócio é o seguinte Flávio, o delegado abordou o policial que estava de vigia na casa da Rita e o levou para a delegacia. Ele se identificou e contou o motivo de estar ali.- Foi assim que ela saiu sem que nós soubéssemos. O policial foi tirado do local e ela pôde sair sem que nós fôssemos avisados. – Concluí.- Isso mesmo, já mandei esse policial voltar para a minha cidade, ele é novato, inexperiente. Foi um erro meu trazê-lo. Ele disse que pensou
“Cândido”Depois que saí lá do sítio eu fui lá na casa das meninas da Soninha, era um bordel que ficava nos arredores da cidade. As meninas eram boas de serviço, muito boas. E a Soninha me ajudaria com o que eu precisava.- Cândido! Chegou cedo hoje. – Soninha riu.- Soninha, preciso de ajuda com um assunto.- E o que eu ganho com isso?- Pode botar o seu preço, eu pago, sei que sua ajuda nunca é de graça. – Ela apenas sorriu. – Preciso que você compre umas coisas de mulher pra mim.- Ora, Cândido, o que é isso, a essa altura da vida, um homem viril como você, vai mudar de gosto? – Soninha era uma puta debochada.- Está me estranhando, Soninha? É pra minha noiva.- Você vai se casar? – Ela estatelou os olhos.- Vou sim. – Eu estava bem satisfeito. – Mas fica tranquila, vou continuar sendo seu cliente.- E por que você não manda a sua noiva mesmo ir fazer as compras?- Isso não é da sua conta. – Ela apenas deu de ombros. – Você vai comprar um vestidinho branco simples para o casamento
“Manuela”Acordei dentro de um carro, levei o maior susto, fiquei confusa, tudo doía e minha cabeça girava um pouco. Com certa dificuldade me sentei e olhei para o motorista pelo retrovisor. Era o mesmo que tinha dirigido o carro de Porto Paraíso até aqui.- Pode ficar calma, moça. Não vou fazer nada de mal com você. – Ele se apressou em dizer.- Você já me fez muito mal. Me trouxe pra esse inferno. – Olhei o meu rosto no retrovisor, estava horrível, as lágrimas correram. – Olha pra mim, olha o que aquela mulher fez.- Moça, eu só cumpro ordens e as ordens do Sr. Cândido a gente não discute. – Ele tentou se justificar, mas evitou me olhar. – Olha, por favor, não me crie problemas. Eu vou te levar pra minha casa, minha mulher vai cuidar de você e você vai ficar lá até o Sr. Cândido dar outra ordem, lá ninguém vai te bater. Acho que o patrão não vai deixar aquela doida se aproximar de você de novo não, ele ficou furioso com ela.- Você não vai me deixar ir embora, não é?! – Eu já sabia
“Rita”Foi por muito pouco que aqueles policiais não encontraram a Manuela. Sorte minha! Aliás, sorte do Cândido que ficou sabendo disso a tempo. Mas agora eu precisava pensar em como resolver esse negócio do dinheiro e da empresa. Mas será que o Camilo conseguiu mesmo dar um jeito pra eu não colocar as mãos na herança da Manuela? Ele não me mostrou nenhum papel, pode ser tudo mentira. Será? E tem outra coisa, ele queria negociar comigo a liberdade da ratinha. Talvez eu tire proveito disso. Vou atrás daquele imbecil.- MÃE! MÃE! – Juliano entrou em casa aos berros. – Ah, você está aí!- Para de gritar, garoto! O que você quer? – O que deu nesse garoto para chegar gritando assim?- Mãe, eu fui na casa do Cândido, fui falar com ele que ele é meu pai. Mas ele disse que não é o meu pai. Então, mãe, você me deve explicações, eu quero saber, e sem mentiras, quem é o meu pai? – Juliano perguntou irritado, se aproximando de mim.- Eu disse para você não ir atrás dele. Eu avisei! – Mas não era
“Flávio”Voltamos para a casa do Camilo depois de falar com aquela mulher, a irmã da madrinha da Rita. Foi uma conversa difícil, o Sr. Orlando ficou desolado com tudo o que lhe foi revelado. Confesso que era uma trama das mais perversas que eu já vi na vida, cada coisa que aquela senhora contou era surpreendente e inacreditável. O Sr. Orlando fez todo o caminho de volta em silêncio, estava completamente perdido nos próprios pensamentos. Aproveitei para saber com o delegado Albano se tinha alguma novidade e eles ainda não sabiam de nada, nem a mínima idéia de onde a Manuela poderia estar.- Pai! Flávio! Como foi? – Camilo nos recebeu e parecia ainda mais aflito.- Camilo, foi difícil, mas ainda não temos nenhuma pista sobre a Manu. – Falei enquanto me sentava. Camilo me olhou desanimado.- Eu confesso que tinha esperança de que vocês iriam encontrá-la. – Camilo lamentou. – O jeito vai ser fazer o que a Rita quer.- Como assim? – Olhei para ele curioso.- Ela esteve aqui, fazendo exigên