“Flávio”Quando o delegado pisou na praça eu fiquei alerta. Eu já imaginava que a mulher fosse chamá-lo. Ele chegou para salvar a Rita da humilhação pública e ele faria qualquer coisa que a mulher mandasse. Só que ele não contava que eu estava pronto para rebatê-lo. Eu havia recebido pouco antes um breve relatório enviado pelo delegado Bonfim. O secretário de segurança não gostou de saber que o delegado controlava a cidade como se ainda estivesse nos tempos do coronelismo e fez uma rápida investigação sobre o mesmo, mas que foi suficiente para saber o quanto ele estava transgredindo a lei e extrapolando a sua função.- Ih, pronto, mais um se achando importante! – Melissa debochou e o delegado ficou roxo de raiva.- Estão todas presas. – Quando ele deu um passo em direção a elas e fez sinal para os policiais que o acompanhavam eu interferi.- Encosta em um único fio de cabelo delas e o secretário de segurança vai vir pessoalmente prender você por todos esses anos de prevaricação, corru
“Rita”Cheguei ao cartório e o Cândido já estava lá, todo garboso, se achando o noivo do ano. Conversava com o tabelião e eu vi o momento em que lhe passou um envelope bem gordo, com certeza o dinheiro pelo casamento duvidoso que ia realizar.- Cândido! Onde ela está? – Perguntei ao me aproximar.- Calma, Fofa! Minha noiva está chegando. – Cândido estava muito tranquilo.- Você deveria ter marcado isso na sua casa ou na fazenda, assim aqueles policiais não poderiam atrapalhar. – Eu não entendi porque ele quis fazer isso no cartório.- Olha, Fofa, eu também preferiria, mas o tabelião não poderia ir hoje e como eu tenho pressa em resolver isso, nós estamos aqui. Mas ninguém vai nos incomodar. – Cândido não demonstrava nenhuma preocupação.- Para de me chamar de Fofa. – O alertei e ele riu, era um cretino mesmo. – Como você tem tanta certeza que não vão nos encontrar aqui antes desse casamento?- Mandei o delegado resolver isso e ele mandou aqueles idiotas lá pros lados da grota. Até vol
“Flávio”Enquanto o Rick dirigia loucamente de volta para a cidade eu peguei o meu celular para ligar para o delegado Albano, mas o meu telefone havia descarregado e eu não tinha percebido. Camilo me emprestou o dele e eu fiz a ligação, pois por sorte o Camilo havia salvo o número do Albano no seu próprio celular.- Albano, aqui é o Flávio. – Falei assim que ele atendeu.- Flávio, que bom que você ligou. Eu não consegui falar com você. Já sabemos onde está a Manuela, estamos a caminho. – Albano me informou.- Que bom! Liguei justamente por isso. Nos encontramos no cartório então. – Eu já ia desligar, quando ouvi a pergunta do Albano.- Que cartório? Flávio, nós estamos indo pra grota, a Manuela está escondida numa casa lá. – Albano explicou.- Quem passou essa informação pra você? – achei estranho.- Foi um dos policiais da cidade. Ele veio até mim e disse que o delegado está ajudando o Cândido, mas que ele não concordava, enfim, me deu a informação, inclusive está nos acompanhando. A
“Flávio”O delegado Rogério praguejou e pressionou a arma na minha cabeça.- Pra quê fazer isso, delegado Albano? Hã? Nós dois somos aqui da região, sabemos como são as coisas por aqui. – O delegado Rogério tentava argumentar com o Albano.- Rogério, solta essa arma. Isso acaba aqui. Eu não sei onde você pensa que vive, mas de onde eu venho as coisas não são resolvidas com privilégios e vista grossa. Você vendeu sua alma ao diabo e desfrutou de privilégios aqui por bastante tempo, agora vai pagar um preço por isso. – Albano respondeu ao outro.- Pode até ser, mas vou levar esse merdinha pro inferno comigo, porque se não fosse por ele, minha vida estaria tranquila como sempre foi. – Rogério ameaçou e pressionou ainda mais o cano da arma na minha cabeça.- Você não vai fazer isso, Rogério. Porque se fizer, vai só piorar as coisas para você. – Albano tentava negociar com o Rogério.Pelo canto do olho vi o Breno se deslocar na sala lentamente. Eu sabia o que ele ia fazer e tinha que ficar
“Flávio”Já tem dois dias que a Manu está aqui nessa cama de hospital, dois longos dias dormindo. De acordo com os médicos a Rita injetou na Manu uma medicação muito forte usada geralmente em hospitais para induzir a sedação. Pelo que me disseram foi por muito pouco que ela não teve uma overdose fatal. Mas eu ainda não estou aliviado, só vou me tranquilizar quando a minha baixinha abrir os olhos novamente.- Flávio, você precisa descansar, está há dois dias nesse hospital, não sai desse quarto nem para tomar um café. Vai lá pra casa um pouco, eu fico com a Manu. – Olívia entrou no quarto mais uma vez tentando me convencer a sair do hospital.- Obrigado, Olívia, mas eu não vou deixar a minha baixinha. Só saio desse hospital com ela. – Falei pela décima vez só essa manhã, pois já havia tido um desfile de pessoas por aqui tentando a mesma coisa.- Mas quando ela puder sair do hospital você estará doente! – Rick entrou a tempo de ouvir o que eu dizia. Atrás deles entraram os nossos amigos
“Flávio”Saí da delegacia e fui direto para o hospital, que ficava na mesma cidade. Cheguei e as garotas estavam conversando animadas e fazendo planos. Catarina contava sobre as peripécias dos quadrigêmeos, que haviam ficado aos cuidados dos avós.- Ah, já voltou, Flávio?! – Melissa pareceu decepcionada com a minha chegada, ela estava acabando de pintar as unhas da Manu, que, pelo que pude ver, ainda não havia acordado.- O que você está fazendo, maluca? – Perguntei e ela sorriu.- Pintando as unhas da Chaveirinho. Com tudo o que ela passou, ela precisava de uma nova esmaltação. – Melissa borrifou um spray nas unhas da Manu enquanto falava.- Ficou bom. – Concordei. – Meninas, eu agradeço, mas vocês já podem ir. Como podem ver e sentir, eu tomei banho.- Agora sim é o meu irmão lindo e cheiroso! – Lisa levantou e me abraçou. Retribuí o seu abraço e dei um beijo no topo da sua cabeça.- Ah, mas a gente está se divertindo tanto! – Catarina reclamou.- Foi o programa mais adulto que eu f
“Manuela”Depois de mais um dia e todos os exames possíveis, eu recebi alta do hospital, não havia nenhum dano mais grave que demandasse a minha internação, mas eu deveria manter repouso até me recuperar. Os médicos disseram que o medicamento que a Rita me aplicou já havia saído do meu organismo, mas que eu ainda poderia me sentir estranha por mais uns dias e que era normal. Então, do hospital o Flávio me levou para a casa do Camilo.Nossos amigos voltaram para Porto Paraíso depois que eu acordei, o Alessandro disse que eu não me preocupasse, pois a Catarina me substituiria por uns dias. O PH me ligou e eu tive que consolá-lo e acalmá-lo, pois ele estava se culpando pelo que aconteceu, com certeza no dia em que me visse teria outra crise de choro. Mas até então ninguém havia me contado nada.Quando chegamos a casa do Camilo, havia uma recepção para mim, meu pai, meu irmão e minha cunhada me aguardavam com faixas e balões coloridos me dando as boas vindas. Olívia havia preparado um alm
“Manuela”Descobrir toda a história sobre a minha família, sobre mim mesma, foi libertador, foi algo que me mudou para sempre, eu já não era mais a ratinha assustada, como a Rita gostava de me chamar, eu tinha me transformado na borboleta de asas coloridas que saiu do casulo.Descobrir sobre a minha verdadeira mãe me deu um sentimento de pertencimento e até de merecimento do que eu tinha, e eu nem falo sobre o dinheiro, eu falo sobre o amor e as pessoas que eu tinha a minha volta, da família amorosa e gentil que me protegeu a vida inteira. Mas ao mesmo tempo, me deixou chocada com o nível de maldade que alguém pode atingir. O plano da Rita foi algo tão horrível, tão assustador, e ela fez tudo o que fez unicamente por dinheiro, unicamente por ganância.O Flávio estava insistindo comigo que eu deveria descansar, mas eu não queria, eu me sentia cheia de energia e queria fazer algumas coisas o mais rápido possível e uma delas era conhecer a dona Teresa, aquela mãe que perdeu a filha de fo