“Flávio”Nunca fiz uma viagem tão longa, por mais que eu imprimisse velocidade no carro parecia que eu nunca chegaria àquela cidade. E quando finalmente cheguei na entrada daquela cidade eu parei, desci do carro e liguei de novo para o Camilo.- E então, Camilo? – Perguntei aflito.- Nem sinal dela, Flávio. Não tem nenhum movimento na casa da Rita. Está tudo apagado, como se ela já tivesse ido dormir. – Camilo me informou.- O Breno já chegou?- Sim, já tem um tempo que eles estão aqui. Ele sugeriu que nós nos reuníssemos em outro lugar, disse que um dos policiais que veio com ele vai ficar aqui de olho.- É uma boa idéia. Eu estou na entrada da cidade...Camilo sugeriu que fôssemos para a casa dele e eu achei uma boa idéia montarmos nosso centro de comando lá. Em poucos minutos eu chegava em frente a uma casa grande numa rua sossegada. Camilo já nos esperava e ao seu lado estavam o Sr. Orlando e a Olívia, que parecia já ter chorado bastante, mas mesmo assim, nos aguardava com uma mes
“Manuela”Eu não preguei os olhos a noite inteira. Mas também, nem que eu quisesse, o Sr. Cândido ronca como um escapamento furado, nunca vi uma coisa dessas. Quando ele acordou eu estava sentada na cama de costas pra ele.- Já acordou, Manuela? Você acorda cedo. – Ele comentou e eu só conseguia pensar “ah, claro, porque eu dormi como uma rainha ouvindo os seus roncos”. Ai, que raiva desse homem!- Sr. Cândido, por favor, me deixa ir embora. Eu nunca vou me casar com o senhor, não há forma no mundo da minha mãe me convencer disso. – Me levantei e olhei pra ele.- Garota, garota, eu vou te amansar. – Ele riu como um apalermado. Eu queria jogar qualquer coisa na cabeça dele, para ver se ele acordava desse delírio. - Olha, Manuela, vou te dizer uma coisa, eu conheço a Rita há muito tempo... – Ele começou a falar.- Ah, claro, o senhor até já foi amante dela! Realmente, o senhor com certeza a conhece há muito tempo e a conhece muito bem. – Eu estava possessa de raiva, nem sabia de onde sa
“Camilo”Que noite infernal que nós passamos. Meu pai estava arrasado, a Olívia estava nervosa, o Flávio estava a ponto de explodir. Nenhuma notícia da Manu até agora e já era meio do dia. Os policiais saíram durante a madrugada para patrulhar a cidade e verificar os endereços que eu passei das propriedades do Cândido, mas o Flávio ainda não tinha dado notícia.Nem meu pai e nem eu conseguimos ir para o trabalho, eu não tinha cabeça para a empresa, apenas informei a secretária que era para adiar tudo. Meu celular tocou, olhei no visor e era o próprio demônio me ligando. Atendi no viva voz para que meu pai e a Olívia pudessem ouvir, mas fiz sinal para que ficassem em silêncio.- O que você quer, Rita? – Perguntei ao atender.- Ora, falar com você, lógico, pra quê que se liga para uma pessoa? – Ela estava bancando a esperta comigo.- Rita, eu não tenho tempo e ainda que tivesse, não perderia falando com você. – Testei para ver o que ela falaria.- Pois eu se fosse você arrumaria tempo.
“Manuela”Eu estava encolhida naquele sofá, chorando e pedindo por um milagre. Meu corpo inteiro já doía, da surra que eu levei da Rita mais cedo. Mas, para minha tristeza, a Rita não demorou muito a voltar. Provavelmente já sabia o que queria e voltou para me aterrorizar mais uma vez.- Voltei, ratinha! E adivinha só, o seu irmãozinho Camilo quer negociar comigo. – Ela sorriu satisfeita. – Sabe o que significa? Significa que eu vou ter tudo o que eu quero.Ela riu e me deu mais um tapa no rosto.- Sabe, Manuela, eu vou sentir falta de te bater, é tão relaxante. – Ela riu e me deu outro tapa.Mas ela não estava satisfeita, ela nunca estaria. Ela se sentou de frente pra mim e cruzou as pernas.- Sabe, Manuela, cuidar de você todos esses anos foi a coisa mais chata e cansativa que eu já fiz na vida. – Ela olhava as unhas.- Você nunca cuidou de mim. – Já que ela estava sendo sincera, eu também seria.- Quê isso, garota? Não seja atrevida. – Rita riu. – Sabe, a minha maior felicidade foi
“Flávio”Chegamos ao lugar que o Jeferson indicou. Era um pequeno sítio no limite da cidade. A casa mais próxima estava à duzentos metros de distância, mas na lateral se percebia uma rua estreita de terra batida que chegava até a rodovia, provavelmente era por ali que o rapaz passava voltando da faculdade e por isso viu a movimentação.Ao estacionarmos a certa distância, ainda pudemos ver o tal Cândido entrando na casa. Rapidamente cercamos aquele lugar inteiro e entre estacionarmos e os capangas estarem rendidos não demorou cinco minutos. Então adentramos a casa. A porta estava destrancada, a empurrei e vi o Cândido e a Rita de pé na sala.- O que você fez, Rita? – Ele gritava com ela no momento em que abrimos a porta.- Vocês dois, mãos para cima, caminhem devagar para a parede. – Falei alto.- Mas que palhaçada é essa? Quem são vocês? – O Cândido perguntou e enquanto ele prestava atenção em mim, dois policiais chegavam por trás e rendiam a ele e a Rita, que abriu um sorriso frio.-
“Cândido”Mas a menina Manuela era realmente muito bonita. Eu estava cavalgando pela plantação e pensando na sorte que eu tive. A Rita não valia nada mesmo, estava vendendo a garota. Quando ela me procurou e propôs casar a Manuela com o meu filho, eu achei que seria uma boa saída, quem sabe ele sossegaria e pararia com a gastança do meu dinheiro nas farras e bordéis dos arredores. Mas quando eu vi aquela menina, eu não tive dúvida, eu é que me casaria com ela. Agora eu estava ansioso como um garoto. Quer saber, eu ia apressar esse casamento para o dia seguinte, a Rita que esperneasse pra lá.Voltei para a cidade, mas antes de chegar ao cartório encontrei o delegado. Aquele pau mandado, só fazia o que a mulher mandava e o que o meu dinheiro comprava. Era bom que ele fosse assim, pois o meu filho vivia metido em confusão e eu também tinha as minhas para encobrir, principalmente dos fulanos que eu precisava me livrar.- Cândido, que bom que eu o encontrei. – O delegado Rogério falou.- O
“Flávio”Chegamos a casa do Camilo e ao ver a expressão de desânimo em meu rosto ele já se deu conta de que não havíamos encontrado a Manuela. Deixei o meu corpo cair sobre uma cadeira, eu ia enlouquecer, precisava encontrá-la.- O que aconteceu, Flávio? – O Sr. Orlando se aproximou e se sentou ao meu lado.- Ela não estava lá. – Respondi desanimado. – Mas eu tenho certeza que ela estava. A forma como as coisas estavam por lá. Eles devem tê-la tirado de lá antes que chegássemos.- É exatamente o que eu penso. – Albano se sentou também. – O negócio é o seguinte Flávio, o delegado abordou o policial que estava de vigia na casa da Rita e o levou para a delegacia. Ele se identificou e contou o motivo de estar ali.- Foi assim que ela saiu sem que nós soubéssemos. O policial foi tirado do local e ela pôde sair sem que nós fôssemos avisados. – Concluí.- Isso mesmo, já mandei esse policial voltar para a minha cidade, ele é novato, inexperiente. Foi um erro meu trazê-lo. Ele disse que pensou
“Cândido”Depois que saí lá do sítio eu fui lá na casa das meninas da Soninha, era um bordel que ficava nos arredores da cidade. As meninas eram boas de serviço, muito boas. E a Soninha me ajudaria com o que eu precisava.- Cândido! Chegou cedo hoje. – Soninha riu.- Soninha, preciso de ajuda com um assunto.- E o que eu ganho com isso?- Pode botar o seu preço, eu pago, sei que sua ajuda nunca é de graça. – Ela apenas sorriu. – Preciso que você compre umas coisas de mulher pra mim.- Ora, Cândido, o que é isso, a essa altura da vida, um homem viril como você, vai mudar de gosto? – Soninha era uma puta debochada.- Está me estranhando, Soninha? É pra minha noiva.- Você vai se casar? – Ela estatelou os olhos.- Vou sim. – Eu estava bem satisfeito. – Mas fica tranquila, vou continuar sendo seu cliente.- E por que você não manda a sua noiva mesmo ir fazer as compras?- Isso não é da sua conta. – Ela apenas deu de ombros. – Você vai comprar um vestidinho branco simples para o casamento