“Rita”Desde que aqueles três voltaram de Porto Paraíso eles estão mudos, não ouvi falar nada deles. E eu que pensei que eles iriam direto para a minha casa me aborrecer por causa do que eu fiz com aquela ratinha. Mas é melhor assim, melhor mesmo eles não mexerem comigo.Hoje é o dia da audiência do divórcio, finalmente vou me livrar desse chato do Orlando e vou levar metade de tudo o que ele tem, porque boba eu não sou, casei com comunhão de bens. Quando nos casamos ele até queria casar com separação de bens, mas eu fiz um escândalo e jurei que se não fosse como eu queria, eu ia sumir no mundo com a menina. Ele estava chorando ainda por causa da outra filha e acabou cedendo a tudo o que eu queria. Outra filha... ah, se ele soubesse...Cheguei ao fórum na hora da audiência e o Orlando já estava lá. Me olhou com uma cara de desgosto, mas eu ignorei. O juiz chamou, nós entramos na sala e nos sentamos frente a frente. O juiz perguntou se havia possibilidade de reconciliação e nós dissemo
“Camilo”Nós havíamos descoberto tantas coisas nos últimos dias e ainda tinha tanto que eu queria saber, que minha cabeça estava cheia de preocupações e dava voltas de ansiedade. Ainda bem que eu tinha a Olívia para me apoiar e me ajudar com tudo. As coisas estavam mudando de uma forma que afetava a todos nós, mas no final seria tudo melhor. Era o que eu esperava.Meu pai já estava divorciado daquela bandida da Rita e tudo foi como queríamos, ela ficou com a casa, aquele lugar onde a Manu e eu sofremos tanto e ficou com aquele carro pomposo que ela tem. Eu nem achava isso justo, mas também não estava nem aí. Pra mim estava ótimo tirar essa cobra da nossa família e o meu pai ficou feliz em sair desse casamento, o qual ele só manteve por causa da minha irmã. Se com ele por perto a Rita fez o que fez com a Manu, imagine se meu pai não tivesse se casado com ela, eu nem quero imaginar o que teria acontecido.Agora que o meu pai estava liberto dessa bandida, nós precisávamos cuidar da Manu,
“Camilo”A mulher que me interpelava tinha mais de quarenta anos, os modos muito simples e com os olhos banhados em lágrimas. Ela torcia nas mãos um pequeno lenço e ao seu lado um jovem rapaz a amparava.- Desculpe a minha mãe, mas é que desde que o policial foi lá em casa ela está inquieta e nervosa. – O jovem falou.Eu me aproximei dela e segurei as suas mãos com gentileza. Havia tanta dor naqueles olhos, parecia que eles já choravam há muito tempo, as marcas ao seu redor diziam isso. Minha avó dizia que o coração de uma mãe que perde o seu filho nunca poderia ser consolado.- Eu lamento tanto! – Foi o que eu consegui dizer, antes de me emocionar também. Eu sabia que aquele bebê poderia ser a filha dela ou a minha irmã, havia uma dor nos unindo naquele momento. – Podemos conversar um pouco, vocês têm tempo? – Ela apenas fez que sim com a cabeça.Saímos do cemitério e nos sentamos em uma lanchonete que tinha ali perto. Meu pai e ela se entenderam na dor que compartilhavam, nas tragéd
“Rita”Eu estava tendo dias muito ruins e eu ainda não tinha conseguido pensar em como conseguir tirar um dinheiro do Orlando. A empregada entrou apressada na sala, resfolegando e gesticulando, como uma doida.- Ô, dona Rita, tem três homens aí na porta. Três, dona Rita! Um quer falar com o menino Juliano, diz que é oficial de justiça e os outros dois, cá pra nbós muito mal encarados, querem falar com a senhora, dizem que foi o Sr. Cândido que mandou. – Essa mulher falava alto demais.- Oficial de justiça me procurando porque, Cida? – Juliano vinha entrando na sala e ouviu.- Não sei, ele disse que só fala com o senhor. – A empregada respondeu.- Ah, manda todo mundo entrar de uma vez. – Respondi irritada com aquele falatório.A empregada voltou até a porta e disse para os três homens entrarem e logo eles estavam diante de mim na sala.- O que o senhor quer, oficial? – Eu não conhecia esse oficial, mas eu sabia que era ele até pelas roupas que usava e ausência de um chapéu.- Sr. Juli
“Manuela”Era tão engraçado, minha vida estava prestes a mudar completamente, mas ao mesmo tempo tudo ficaria igual. Eu estava horrorizada com tudo o que fiquei sabendo nos últimos dias. Estava chocada com o que li naquele diário. E havia ainda a possibilidade de eu não ser filha da Rita, o que não era ruim, explicava muita coisa, mas me deixava angustiada.O Flávio estava cheio de atenções comigo, as garotas me ligavam todos os dias para saber como eu estava, a Lisa e o Rick ficavam de olho em mim o tempo todo no escritório e até o Paulo Henrique, meu amigo da faculdade, estava preocupado comigo.No meio de tudo isso ainda teve o divórcio dos meus pais, ou daqueles que eu achava que eram meus pais. Meu pai disse que a Rita está uma fera por causa do dinheiro. Mas é sempre o dinheiro. Pra começar, que se não fosse pelo dinheiro ela nunca teria se aproximado do meu pai e a primeira esposa dele ainda estaria viva. Se não fosse pelo dinheiro, ela não estaria tão louca assim para me levar
“Flávio”Ainda não estava na hora de buscar a baixinha, mas me deu uma vontade de ir buscá-la mais cedo. Eu sentia falta dela e com tudo o que vinha acontecendo eu estava inseguro com ela indo para a faculdade, um lugar onde eu não podia fazer muito além de deixar uma viatura na porta.- O que foi, maninho? – Lisa estava parada na minha frente com as mãos na cintura.- Nada, por quê? – Perguntei, levantando a cabeça. Eu estava sentado na sala com o rosto enterrado nas mãos.- Porque você parece tenso e está bufando. – Lisa me olhou e se sentou.- É tudo isso com a Manu, Lisa, e ela indo para a faculdade à noite. Eu não vou mentir, estou muito preocupado. – Acabei desabafando com a minha irmã.- Todos nós estamos, mas a Manu está bem lá. Ela tem o PH e tem a viatura que você deixou. Mas você, pelo visto, está mais inquieto hoje do que de costume. – Lisa me avaliou rapidamente, com a clareza de quem me conhecia muito bem.- É, eu estou me sentindo inquieto mesmo. – Refleti. – Quer saber
“Flávio”Respirei fundo e tentei colocar minhas idéias em ordem mais uma vez. Olhei ao redor da sala.- PH, você conhece a garota que falou com aquele homem? – Foi a primeira coisa que eu quis saber.- Sim, ela é novata, está um semestre atrás da Manu, veio transferida de outra faculdade, o nome dela é Karen, sala 313. – PH informou.- Coordenador, eu quero falar com essa garota agora e também quero falar com o seu segurança da entrada, porque eu tive que me identificar quando cheguei, mas para o homem que levou a minha namorada ele fez vista grossa. – Eu não estava para brincadeira e o coordenador percebeu.- Sua namorada, delegado? – Ele engoliu em seco.- Pois é, minha namorada. E se alguma coisa acontecer com ela, você e essa faculdade estarão com sérios problemas e eu nem preciso te dizer que corre o risco do seu segurança sair daqui preso hoje, não é mesmo. Então é bom que aquele merda daquele segurança fale tudo o que eu quiser saber. – O coordenador mandou chamar o segurança e
“Flávio”Saímos da faculdade e os policiais estavam me esperando encostados na viatura. Eu mal registrei a Lisa e o Paulo Henrique atrás de mim. Me aproximei dos policiais, eu estava a ponto de explodir de raiva.- Como é, qual dos dois tem certeza que a Manuela não saiu do prédio? – Parei em frente a eles irritado.- Delegado, nós não vimos a senhorita sair. – O policial que havia falado comigo no telefone insistiu.- Que porra vocês estavam fazendo que não abordaram aquele homem? – Perguntei sentindo vontade de quebrar a cara daqueles dois.- Delegado, nós não achamos necessário. – O policial continuou insistindo.- Não achou necessário? Vocês estão aqui para protegê-la, ela estava sob ameaça de sequestro e vocês vêem um sujeito estranho, mas não abordam? – Reclamei e vi o outro policial passar a mão nos cabelos nervosamente.- Você. – Apontei para o outro. – É bom me falar o que aconteceu aqui ou eu vou mandar os dois para a corregedoria e pedir a exoneração dos dois por prevaricaç