“Breno”Fiquei observando a Gisele enquanto ela falava ao telefone, sem dúvida nenhuma ela era uma bandida cheia de truques. Não nego, a curiosidade me corroia. Para quem ela teria ligado? A minha aposta é que ela estivesse avisando a tal de Rita sobre o interesse repentino de um policial nos fatos de tempos atrás, mas eu não poderia ter certeza disso, pois o telefone que ela usou era um aparelho antigo, do tipo que não havia nem a possibilidade de rediscagem. Me surpreendeu que aquilo ainda funcionasse.Tão logo ela saiu da sala, expressei minha curiosidade ao delegado.- Eu estou aqui me perguntando para quem essa mulher ligou. – Falei ainda olhando para a porta.- Meu amigo, essa mulherzinha é um tipinho bem ordinário, se acha muito esperta, mas se esqueceu que está em uma delegacia. Eu também quero saber se ela ligou para algum cúmplice. – O delegado sorriu e caminhou até a mesa.O delegado abriu a primeira gaveta da mesa e me chamou. Havia ali um identificador de chamadas que ele
“Manuela”Já era domingo à tarde e eu ainda não havia voltado a tocar no diário. No dia anterior, minha família saiu e voltou já bem tarde para casa, dando ao Flávio e a mim um tempo a sós. O Flávio acabou me convencendo a deixar tudo de lado um pouco e aproveitar a visita da minha família, que já iria voltar para a nossa cidade no fim do dia, de modo que ele juntou todas aquelas coisas e guardou dizendo que teríamos um domingo tranquilo. Mas não foi muito.Melissa havia ligado no dia anterior e depois de uma longa conversa e de eu garantir que estava bem, apesar do choque, ela disse que passaria para me ver no domingo, pois também queria ver a Olívia. Rick e Lisa vieram almoçar conosco e ela encantou o meu pai com todo aquele jeito alegre dela de ser. No meio da tarde a Melissa e o Nando se juntaram a nós e pouco depois deles chegarem a campainha voltou a soar e o Flávio foi atender a porta.- Pessoal, esse aqui é o Breno, o policial que está nos ajudando. – Flávio anunciou ao entrar
“Diário da Rose – Novembro/2005”A Rita tinha razão, acabar com a primeira esposa e a filha do Orlando deixou os pais dele arrasados. Os velhos adoravam a nora, a tratavam como filha, e agora estão aí pelos cantos chorando a morte da mulher e do bebê, estão de luto. Foi a melhor vingança contra aquele velho, ele tirou o meu trabalho e eu tirei a nora e a neta dele. Isso foi muito bom. Me divirto vendo os dois chorando por aí. E bem feito para aquele pirralho chato do Camilo, agora que a Rita foi morar com eles, acabou a vidinha de príncipe daquele garoto chato. A mãe mimava muito aquele menino, agora, se bobear, a Rita vai colocá-lo pra esfregar o chão.Mas, mesmo que eu esteja muito feliz com o resultado disso, eu estou com medo de que descubram uma hora ou outra que eu ajudei a acabar com aquela mulher. Eu é que não vou para a cadeia. A Rita deu um bom dinheiro para aquela mulher que disse que era parteira sumir no mundo, ela pode me dar um bom dinheiro também, aí eu desapareço. Só
“Rita”Desde que aqueles três voltaram de Porto Paraíso eles estão mudos, não ouvi falar nada deles. E eu que pensei que eles iriam direto para a minha casa me aborrecer por causa do que eu fiz com aquela ratinha. Mas é melhor assim, melhor mesmo eles não mexerem comigo.Hoje é o dia da audiência do divórcio, finalmente vou me livrar desse chato do Orlando e vou levar metade de tudo o que ele tem, porque boba eu não sou, casei com comunhão de bens. Quando nos casamos ele até queria casar com separação de bens, mas eu fiz um escândalo e jurei que se não fosse como eu queria, eu ia sumir no mundo com a menina. Ele estava chorando ainda por causa da outra filha e acabou cedendo a tudo o que eu queria. Outra filha... ah, se ele soubesse...Cheguei ao fórum na hora da audiência e o Orlando já estava lá. Me olhou com uma cara de desgosto, mas eu ignorei. O juiz chamou, nós entramos na sala e nos sentamos frente a frente. O juiz perguntou se havia possibilidade de reconciliação e nós dissemo
“Camilo”Nós havíamos descoberto tantas coisas nos últimos dias e ainda tinha tanto que eu queria saber, que minha cabeça estava cheia de preocupações e dava voltas de ansiedade. Ainda bem que eu tinha a Olívia para me apoiar e me ajudar com tudo. As coisas estavam mudando de uma forma que afetava a todos nós, mas no final seria tudo melhor. Era o que eu esperava.Meu pai já estava divorciado daquela bandida da Rita e tudo foi como queríamos, ela ficou com a casa, aquele lugar onde a Manu e eu sofremos tanto e ficou com aquele carro pomposo que ela tem. Eu nem achava isso justo, mas também não estava nem aí. Pra mim estava ótimo tirar essa cobra da nossa família e o meu pai ficou feliz em sair desse casamento, o qual ele só manteve por causa da minha irmã. Se com ele por perto a Rita fez o que fez com a Manu, imagine se meu pai não tivesse se casado com ela, eu nem quero imaginar o que teria acontecido.Agora que o meu pai estava liberto dessa bandida, nós precisávamos cuidar da Manu,
“Camilo”A mulher que me interpelava tinha mais de quarenta anos, os modos muito simples e com os olhos banhados em lágrimas. Ela torcia nas mãos um pequeno lenço e ao seu lado um jovem rapaz a amparava.- Desculpe a minha mãe, mas é que desde que o policial foi lá em casa ela está inquieta e nervosa. – O jovem falou.Eu me aproximei dela e segurei as suas mãos com gentileza. Havia tanta dor naqueles olhos, parecia que eles já choravam há muito tempo, as marcas ao seu redor diziam isso. Minha avó dizia que o coração de uma mãe que perde o seu filho nunca poderia ser consolado.- Eu lamento tanto! – Foi o que eu consegui dizer, antes de me emocionar também. Eu sabia que aquele bebê poderia ser a filha dela ou a minha irmã, havia uma dor nos unindo naquele momento. – Podemos conversar um pouco, vocês têm tempo? – Ela apenas fez que sim com a cabeça.Saímos do cemitério e nos sentamos em uma lanchonete que tinha ali perto. Meu pai e ela se entenderam na dor que compartilhavam, nas tragéd
“Rita”Eu estava tendo dias muito ruins e eu ainda não tinha conseguido pensar em como conseguir tirar um dinheiro do Orlando. A empregada entrou apressada na sala, resfolegando e gesticulando, como uma doida.- Ô, dona Rita, tem três homens aí na porta. Três, dona Rita! Um quer falar com o menino Juliano, diz que é oficial de justiça e os outros dois, cá pra nbós muito mal encarados, querem falar com a senhora, dizem que foi o Sr. Cândido que mandou. – Essa mulher falava alto demais.- Oficial de justiça me procurando porque, Cida? – Juliano vinha entrando na sala e ouviu.- Não sei, ele disse que só fala com o senhor. – A empregada respondeu.- Ah, manda todo mundo entrar de uma vez. – Respondi irritada com aquele falatório.A empregada voltou até a porta e disse para os três homens entrarem e logo eles estavam diante de mim na sala.- O que o senhor quer, oficial? – Eu não conhecia esse oficial, mas eu sabia que era ele até pelas roupas que usava e ausência de um chapéu.- Sr. Juli
“Manuela”Era tão engraçado, minha vida estava prestes a mudar completamente, mas ao mesmo tempo tudo ficaria igual. Eu estava horrorizada com tudo o que fiquei sabendo nos últimos dias. Estava chocada com o que li naquele diário. E havia ainda a possibilidade de eu não ser filha da Rita, o que não era ruim, explicava muita coisa, mas me deixava angustiada.O Flávio estava cheio de atenções comigo, as garotas me ligavam todos os dias para saber como eu estava, a Lisa e o Rick ficavam de olho em mim o tempo todo no escritório e até o Paulo Henrique, meu amigo da faculdade, estava preocupado comigo.No meio de tudo isso ainda teve o divórcio dos meus pais, ou daqueles que eu achava que eram meus pais. Meu pai disse que a Rita está uma fera por causa do dinheiro. Mas é sempre o dinheiro. Pra começar, que se não fosse pelo dinheiro ela nunca teria se aproximado do meu pai e a primeira esposa dele ainda estaria viva. Se não fosse pelo dinheiro, ela não estaria tão louca assim para me levar