“Manuela”O Flávio entrou na sala e parecia que voltava de uma batalha. Seus olhos estavam cansados e ele parecia abatido. Eu estava preocupada com ele, seja o que for que ele tenha ouvido naquela ligação, com certeza não era bom. Corri até ele e o abracei, eu tinha urgência em saber se ele estava bem.- Mais ou menos, baixinha. Vamos nos sentar, eu preciso falar uma coisa para vocês. – Flávio me levou até o sofá e se pôs a falar com voz solene. – Meu amigo que está me ajudando a investigar essa história toda me ligou. Eles prenderam a Gisele, ao que tudo indica, foi ela quem fez o parto da sua primeira esposa Sr. Orlando.- Isso é uma boa notícia não é? – Camilo perguntou incerto.- É sim. – Flávio deu um sorriso fraco.- Mas como vamos ter certeza de que foi essa mulher quem a empregada chamou aquele dia? – Meu pai parecia incerto.- Meu amigo está na delegacia onde ela está detida, ele vai conversar com ela. – Flávio explicou.- E qual é o problema, Flávio? – Meu pai quis saber, po
“Gisele”Como foi que eu vim parar aqui, dentro dessa cela minúscula e fétida? Não é possível que uma das minhas clientes tenha me denunciado. E onde estava aquele policial idiota que eu pagava para me dar informações sobre as investigações? Ele me levava um bom dinheiro todo mês. Mas ele não estava no meio dos que me prenderam. Alguma coisa tinha dado errado, mas o que era? De qualquer forma, eu tinha que pensar em um jeito de sair daqui rápido.- De cara na parede e mãos para trás. – Um policial falou ao se aproximar da cela.Fiz o que ele mandou sem questionar, eu ainda não tinha dito uma palavra e continuaria sem dizer e era melhor não criar caso. Ele me algemou e me levou para uma sala, onde já estavam dois homens sentados esperando, um era o delegado que me prendeu, com um sorrisão no rosto, como se tivesse ganhado na loteria, o outro não estava entre os que me prenderam, quem seria ele?- Dona Gisele! Que prazer em tela na minha humilde delegacia. Espero que esteja gostando da
“Breno”Fiquei observando a Gisele enquanto ela falava ao telefone, sem dúvida nenhuma ela era uma bandida cheia de truques. Não nego, a curiosidade me corroia. Para quem ela teria ligado? A minha aposta é que ela estivesse avisando a tal de Rita sobre o interesse repentino de um policial nos fatos de tempos atrás, mas eu não poderia ter certeza disso, pois o telefone que ela usou era um aparelho antigo, do tipo que não havia nem a possibilidade de rediscagem. Me surpreendeu que aquilo ainda funcionasse.Tão logo ela saiu da sala, expressei minha curiosidade ao delegado.- Eu estou aqui me perguntando para quem essa mulher ligou. – Falei ainda olhando para a porta.- Meu amigo, essa mulherzinha é um tipinho bem ordinário, se acha muito esperta, mas se esqueceu que está em uma delegacia. Eu também quero saber se ela ligou para algum cúmplice. – O delegado sorriu e caminhou até a mesa.O delegado abriu a primeira gaveta da mesa e me chamou. Havia ali um identificador de chamadas que ele
“Manuela”Já era domingo à tarde e eu ainda não havia voltado a tocar no diário. No dia anterior, minha família saiu e voltou já bem tarde para casa, dando ao Flávio e a mim um tempo a sós. O Flávio acabou me convencendo a deixar tudo de lado um pouco e aproveitar a visita da minha família, que já iria voltar para a nossa cidade no fim do dia, de modo que ele juntou todas aquelas coisas e guardou dizendo que teríamos um domingo tranquilo. Mas não foi muito.Melissa havia ligado no dia anterior e depois de uma longa conversa e de eu garantir que estava bem, apesar do choque, ela disse que passaria para me ver no domingo, pois também queria ver a Olívia. Rick e Lisa vieram almoçar conosco e ela encantou o meu pai com todo aquele jeito alegre dela de ser. No meio da tarde a Melissa e o Nando se juntaram a nós e pouco depois deles chegarem a campainha voltou a soar e o Flávio foi atender a porta.- Pessoal, esse aqui é o Breno, o policial que está nos ajudando. – Flávio anunciou ao entrar
“Diário da Rose – Novembro/2005”A Rita tinha razão, acabar com a primeira esposa e a filha do Orlando deixou os pais dele arrasados. Os velhos adoravam a nora, a tratavam como filha, e agora estão aí pelos cantos chorando a morte da mulher e do bebê, estão de luto. Foi a melhor vingança contra aquele velho, ele tirou o meu trabalho e eu tirei a nora e a neta dele. Isso foi muito bom. Me divirto vendo os dois chorando por aí. E bem feito para aquele pirralho chato do Camilo, agora que a Rita foi morar com eles, acabou a vidinha de príncipe daquele garoto chato. A mãe mimava muito aquele menino, agora, se bobear, a Rita vai colocá-lo pra esfregar o chão.Mas, mesmo que eu esteja muito feliz com o resultado disso, eu estou com medo de que descubram uma hora ou outra que eu ajudei a acabar com aquela mulher. Eu é que não vou para a cadeia. A Rita deu um bom dinheiro para aquela mulher que disse que era parteira sumir no mundo, ela pode me dar um bom dinheiro também, aí eu desapareço. Só
“Rita”Desde que aqueles três voltaram de Porto Paraíso eles estão mudos, não ouvi falar nada deles. E eu que pensei que eles iriam direto para a minha casa me aborrecer por causa do que eu fiz com aquela ratinha. Mas é melhor assim, melhor mesmo eles não mexerem comigo.Hoje é o dia da audiência do divórcio, finalmente vou me livrar desse chato do Orlando e vou levar metade de tudo o que ele tem, porque boba eu não sou, casei com comunhão de bens. Quando nos casamos ele até queria casar com separação de bens, mas eu fiz um escândalo e jurei que se não fosse como eu queria, eu ia sumir no mundo com a menina. Ele estava chorando ainda por causa da outra filha e acabou cedendo a tudo o que eu queria. Outra filha... ah, se ele soubesse...Cheguei ao fórum na hora da audiência e o Orlando já estava lá. Me olhou com uma cara de desgosto, mas eu ignorei. O juiz chamou, nós entramos na sala e nos sentamos frente a frente. O juiz perguntou se havia possibilidade de reconciliação e nós dissemo
“Camilo”Nós havíamos descoberto tantas coisas nos últimos dias e ainda tinha tanto que eu queria saber, que minha cabeça estava cheia de preocupações e dava voltas de ansiedade. Ainda bem que eu tinha a Olívia para me apoiar e me ajudar com tudo. As coisas estavam mudando de uma forma que afetava a todos nós, mas no final seria tudo melhor. Era o que eu esperava.Meu pai já estava divorciado daquela bandida da Rita e tudo foi como queríamos, ela ficou com a casa, aquele lugar onde a Manu e eu sofremos tanto e ficou com aquele carro pomposo que ela tem. Eu nem achava isso justo, mas também não estava nem aí. Pra mim estava ótimo tirar essa cobra da nossa família e o meu pai ficou feliz em sair desse casamento, o qual ele só manteve por causa da minha irmã. Se com ele por perto a Rita fez o que fez com a Manu, imagine se meu pai não tivesse se casado com ela, eu nem quero imaginar o que teria acontecido.Agora que o meu pai estava liberto dessa bandida, nós precisávamos cuidar da Manu,
“Camilo”A mulher que me interpelava tinha mais de quarenta anos, os modos muito simples e com os olhos banhados em lágrimas. Ela torcia nas mãos um pequeno lenço e ao seu lado um jovem rapaz a amparava.- Desculpe a minha mãe, mas é que desde que o policial foi lá em casa ela está inquieta e nervosa. – O jovem falou.Eu me aproximei dela e segurei as suas mãos com gentileza. Havia tanta dor naqueles olhos, parecia que eles já choravam há muito tempo, as marcas ao seu redor diziam isso. Minha avó dizia que o coração de uma mãe que perde o seu filho nunca poderia ser consolado.- Eu lamento tanto! – Foi o que eu consegui dizer, antes de me emocionar também. Eu sabia que aquele bebê poderia ser a filha dela ou a minha irmã, havia uma dor nos unindo naquele momento. – Podemos conversar um pouco, vocês têm tempo? – Ela apenas fez que sim com a cabeça.Saímos do cemitério e nos sentamos em uma lanchonete que tinha ali perto. Meu pai e ela se entenderam na dor que compartilhavam, nas tragéd