“Manuela”Quando vi aqueles quatro entrando como se estivessem vindo de um velório eu logo vi que tinha alguma coisa errada, mas eu esperei para perguntar. Meu pai parecia desolado, meu irmão estava parecendo um animal feroz enjaulado, minha cunhada tentava manter aquele sorriso contemporizador que ela usava quando estávamos em meio a alguma crise e o Flávio parecia um garotinho perdido. Tinha algo errado, definitivamente.Não demorou para a Melissa ir embora. Eu a agradeci por ter passado a tarde comigo, ela me fez rir, assistimos filmes antigos, eu me abri com ela e contei coisas das quais eu não gostava de falar, nos empanturramos de sorvete e alfajores. Quando o Rick e a Lisa chegaram eles se empenharam em me fazer rir e o que aconteceu comigo se tornou uma memória que parecia distante. Mas eles saíram de fininho e ficamos apenas minha família, o Flávio e eu.- Agora desembuchem, o que está acontecendo? – Olhei séria para eles, eu não esperaria nem mais um segundo para que eles me
“Manuela”Eu estava perdida, em um mar de dúvidas e sentimentos confusos, mas de uma coisa eu não tinha nenhuma dúvida, o amor que eu tinha por esses dois homens sentados ao meu lado era genuíno e pra mim valia mais do que a marca do sangue, o que quer que acontecesse, no meu coração eles seriam sempre meu pai e meu irmão.- Eu não posso não ser sua filha! – Me agarrei àquele abraço, como se eu estivesse me afogando e ali fosse uma tábua de salvação.Me abandonei em seus braços num choro copioso e senti o Camilo se juntar ao nosso abraço refletindo a mesma emoção que nós dois. Não havia espaço para palavras naquele abraço. Deixamos as lágrimas caírem, sem reservas, aquelas lágrimas que diziam tanto, que me diziam que eles sentiam o mesmo medo que eu, medo que o nosso vínculo fosse destruído, quebrado e esquecido, simplesmente por não compartilharmos uma marca biológica, simplesmente por um DNA na estrutura celular dos nossos corpos.Mas o amor que eu sinto por eles está gravado na min
“Rita”Eu mal cheguei à igreja hoje e a Magda já veio correndo fazer fofoca. Aquela ali sabe de tudo o que acontece nessa cidade, ela deveria publicar um jornal! Mas ela me disse que o Camilo e o Orlando saíram da cidade ontem à tarde, eles só podem ter ido visitar aquela ratinha. Aposto que ela ligou reclamando com o papai que eu estive lá. Mas não estou nem aí, enquanto eu for a mãe, eu faço com aquela garota mimada o que eu quiser. E eu fui até lá só de raiva pelo que aquela estúpida da Olívia fez comigo, eu queria descontar em alguém e o meu saco de pancadas estava lá, então fui atrás dele.Só que, pensando bem, eu preciso agilizar as coisas. Preciso resolver logo esse assunto da herança e entregar a ratinha para o Cândido. Aliás, quem diria que ele se interessaria por ela. Se bem que dá até para entender, depois que ela resolveu ficar bonita, ela ficou a cara da morta, e o Cândido era louco pela morta, sofreu como um condenado quando ela morreu.O problema é que eu nunca pensei q
“Manuela”Eu não dormi nadinha essa noite. Minha cabeça ficou dando voltas e voltas nessa história da minha família. Minha família... eu nem tenho o mesmo sangue que eles, mas eles são a minha família, eu os amo sinceramente. Eu estava sentada na cozinha tomando uma xícara de café. Ainda era muito cedo e todos estavam dormindo quando eu me levantei. Aproveitei para preparar uma mesa de café bem bonita, queria agradar ao meu pai e ao Camilo. Se eu estava sofrendo com tudo isso, imagina os dois, o Camilo perdeu a mãe por causa daquela mulher!- Estou ouvindo daqui, baixinha. – Flávio interrompeu meus pensamentos. Olhei para ele sem entender e ele explicou. – As engrenagens rodando no seu cérebro, eu estou ouvindo daqui.Ele estava parado na porta da cozinha, tão lindo, usando uma calça preta e uma camisa de malha branca que evidenciava cada músculo do seu corpo embora não fosse do tipo de camiseta que ficasse grudada ao corpo.- É muita coisa, Flávio, e é tudo tão absurdo. – Ele se apro
“Breno”Eu estava de folga, pensando em ligar para o Flávio e saber se tinha novidades sobre o tal depósito do qual encontramos a chave, pois ele havia me dito que a cunhada sabia onde era o lugar e que iria até lá. Mas ainda era cedo para um final de semana, eu teria que controlar minha ansiedade. Foi então que o meu celular tocou, era o meu amigo, o que eu havia pedido para ficar de olho na tal da Gisele e investigar o que ela andava fazendo, já que ele era policial na cidade em que ela estava morando.- Fala, parceiro. – Atendi ao telefone animado. Será que ele tinha alguma novidade pra mim?- Meu amigo, Breno. Será que seu amigo delegado arruma uma vaga pra mim também na delegacia dele? – Meu amigo riu.- Depende. O que você tem pra mim? – Me animei, pois tinha certeza de que meu amigo tinha conseguido algo.- A mulher que você pediu para investigar acabou de ser presa. – Ele riu. – Acabamos de desmantelar a clínica de aborto ilegal dela.- Não brinca! – Isso me surpreendeu.- Poi
“Manuela”Entre conversar com o Camilo, que me contou mais sobre sua mãe, e o Flávio me explicar sobre cada objeto encontrado no depósito da tal de Rose, a empregada que morreu ou foi morta, a manhã passou muito rápido. Antes de começar a ler o tal diário, acabei resolvendo preparar o almoço e fazer o picadinho de carne com purê de batatas que era a comida preferida do meu pai. A Olívia foi me ajudar e cuidou da sobremesa. Estávamos mimando o meu pai.- Filha, sua avó te ensinou muito bem, você cozinha tão bem quanto ela. – Meu pai sorriu pra mim depois do almoço. – E você, minha nora, faz o melhor pudim de leite do mundo.Olívia ficou se gabando e nós estávamos rindo. Era um momento de tranquilidade em meio ao caos que nos arrebatou. O celular do Flávio tocou e ele saiu da mesa para atender, levando consigo o copo com o suco que estava bebendo.O barulho do copo quebrando na sala foi suficiente para que eu voltasse a minha atenção para o Flávio de pé no meio da sala e o copo estilhaç
“Flávio”Estávamos no olho do furacão com a situação da Manu, mas eu não pensei que esse furacão fosse me atingir ainda mais. Eu achei que a Sabrina era página virada na minha vida. Quando o Breno me falou o nome dela eu até achei esquisito, pois ele nunca soube da existência dela, mas quando ele me disse o motivo eu senti como se tivesse sido atingido por um trem e sido arremessado para outro lugar. Não senti o copo cair da minha mão, não percebi a Manu se aproximar, minha cabeça girava e meus olhos embaçaram.Meio que de forma automática pedi que ele me enviasse uma cópia dos documentos, eu precisava tirar essa história a limpo. Senti o toque leve da mão da Manu em meu braço, a olhei, mas era tudo um borrão à minha frente. Lentamente me dei conta que o copo que o copo que eu segurava já não estava em minha e o vi no chão, espatifado, fiz menção de me abaixar para juntar os cacos, mas a Manu me segurou. Ela queria saber se eu estava bem, mas eu não sabia o que responder, pedi um minu
“Manuela”O Flávio entrou na sala e parecia que voltava de uma batalha. Seus olhos estavam cansados e ele parecia abatido. Eu estava preocupada com ele, seja o que for que ele tenha ouvido naquela ligação, com certeza não era bom. Corri até ele e o abracei, eu tinha urgência em saber se ele estava bem.- Mais ou menos, baixinha. Vamos nos sentar, eu preciso falar uma coisa para vocês. – Flávio me levou até o sofá e se pôs a falar com voz solene. – Meu amigo que está me ajudando a investigar essa história toda me ligou. Eles prenderam a Gisele, ao que tudo indica, foi ela quem fez o parto da sua primeira esposa Sr. Orlando.- Isso é uma boa notícia não é? – Camilo perguntou incerto.- É sim. – Flávio deu um sorriso fraco.- Mas como vamos ter certeza de que foi essa mulher quem a empregada chamou aquele dia? – Meu pai parecia incerto.- Meu amigo está na delegacia onde ela está detida, ele vai conversar com ela. – Flávio explicou.- E qual é o problema, Flávio? – Meu pai quis saber, po