Edgar pegou as chaves do carro e saiu cantarolando, dirigiu até uma clareira na floresta onde estacionou o carro longe da propriedade, apanhou um punhal e clorofórmio no (porta) luvas, passou a mão no rosto e deu um sorriso satisfeito enquanto via seu reflexo no espelho do retrovisor. Seguiu o restante do caminho até a mansão a pé, arrumou-se para reencontrar Charlotte, planejava cortaria seu pescoço, mas não antes de sentir aquele corpo infantil novamente, isso era o que desejava mais-que-tudo, não importava nem mesmo sua vida ou liberdade, sentia-se preso a filha como uma mosca presa na teia, ela era sua maior fonte de obsessão, seu trabalho incompleto, precisava matá-la e completar seu ciclo.
— Alan, não estou vendo os policiais lá embaixo, as viaturas estão e eles não, será que foram andar pelo terreno?
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Por mais que tentassem conversar, e sorrir naturalmente, existia lá no fundo do peito, um sentimento preso, sufocado, afiando suas garras, esperando o momento certo para emergir. Nos primeiros dias em casa, Charlotte teve muitos pesadelos onde ficava presa em uma espécie de dança da morte, as sombras saiam do chão e a levavam arrastada por correntes de fogo, sempre acordava gritando e com falta de ar. A história se espalhou e todos os jornais ligavam para marcar entrevistas, no portão do prédio sempre tinha algum jornalista escondido, batendo fotos, e a menina que sempre sonhou ser invisível agora era vista por todos, isso fez com que se trancasse cada vez mais, em seu próprio mundo, sentava na varanda e observava o tempo, presa em uma apatia que nada nem ninguém conseguia colocar um fim. Alan sentava ao seu lado em silêncio e passavam horas sem fazer um único barulho, seus abismos se conectavam de uma maneira impossível de compreender, era quase c
Ao voltar para casa, Charlotte tomou um banho demorando, sentindo a água em cada parte do seu corpo. Quando bateram à porta, ela saiu do banheiro enrolada na toalha, para atender, já sabendo ser Alan, seu perfume inundou o ambiente, muito bem-vestido e cheiroso, ela tinha que admitir que ele mexia com sua libido e provocava todos os tipos de pensamentos sexuais. Ela queria se perdoar e voltar a viver, embora muitas vezes a velha culpa tivesse feito morada em seu coração, ela afastou esses pensamentos, sorriu e disse:— Oi! Pode entrar.Alan, com um semblante tranquilo, perguntou:— Como foi seu dia? — Já sabendo a reposta, pois colocou um detetive para segui-la 24h.— Foi bom, dei uma volta, refleti sobre umas coisas, precisamos conversar.Alan senta e volta toda sua atenção para a garota, olhando em seus olhos e, enrol
De pé no vão da porta, Charlotte observava atentamente a chuva que caia e molhava o asfalto, olhou a hora no celular e pensou “ainda é cedo para dormir”, tomou um banho demorado sem se preocupar com o tempo passando, afinal, ela podia sair e voltar a hora que quisesse, pois, morava sozinha. Abriu o guarda-roupa e pensou “Que indecisão, o que eu visto? ” E, mesmo estando muito frio, optou por uma roupa ousada, pois amava o modo como o frio percorria o seu corpo, como se mãos invisíveis a tocassem por todas as partes, fazendo sua pele e sua mente ficarem inertes, congelando suas lembranças. Então, ela podia viver o agora e deixar o que passou bem trancado em sua caixa imaginária. Enquanto seus monstros estivessem presos lá dentro, nada poderia atingi-la, nada poderia feri-la, nemfazer sangrar o seu coração. Puxou a primeira roupa que viu em sua frente e, para sua sorte, era uma combinação perfeita para a noite em questão: bermuda de cintura alta preta, com a barra desfia
No dia seguinte, Charlotte acordou tardiamente, já passava das três da tarde, pegou o celular e tinha três chamadas perdidas de Alan, ignorou. Buscou comida na cozinha e sentou em sua varanda, perto de suas flores e cactos. Sempre havia mariposas voando, amava esses animais, aquele era um delicioso fim de tarde, ela tomava chá de cidreira, que servia tanto para aquecer as suas tardes frias quanto para trazer acalanto a sua alma inquieta e solitária. Desde o último inverno, as tardes dela eram assim, ora sua mente vagava além dos altos prédios, ora ficava simplesmente observando as mariposas que pousavam tão tranquilas próximas de sua poltrona, é que, apesar de muito frio, ela estava lá sentava em sua varanda, trajando um leve vestido azul-claro, como sempre descalça, pois gostava de sentir o frio nos pés, sentia-se mais viva, ou talvez apenas tivesse se acostumado com a dor, porque era a dor que sentia em seu coração. Naquela tarde em especial, sentia-se nostálgica d
Na manhã seguinte, o celular de Alan despertou pontualmente. Ele, porém, já estava de banho tomado e pronto para sair, pegou uma mochila com algumas roupas, alguns pertences e saiu depressa para não pegar muito trânsito. No caminho, parou em uma padaria, comprou tudo de apetitoso que viu e foi para a casa de Charlotte, queria chegar antes dela acordar, bateu na porta três vezes e esperou, sem resposta e já impaciente, bateu outras três vezes seguidas, com força, até finalmente ouvir algum barulho vindo de dentro do apartamento. Ela abriu a porta, de cara amassada e ainda com a mesma roupa do outro dia, ele imediatamente disse, antes que a garota ainda sonolenta pudesse manda-lo embora: — Bom dia, trouxe um lanche. Ela ficou perplexa com a quantidade de comida e ainda mais com a hora, eram apenas oito horas da manhã de um pleno sábado. — O que está fazen
Naquele momento, nada realmente importava, tampouco fazia sentido, ela tinha os pés no chão e não acreditava em destino, e sim em ações e consequências. Até então, ainda estava lentamente absorvendo a péssima notícia da soltura do seu pai, que estava preso já tinha muito tempo, ela nem queria imaginar se ele fosse atrás dela, sua cabeça doía, ela lembrava com detalhes o que aconteceu. Era tarde da noite, ela acordou e se deu conta que seu pai não foi até seu quarto, sentiu um alívio que logo foi interrompido por gritos vindos do andar de baixo, parecia o grito de uma criança. Ela saiu correndo, pelo longo corredor escuro e desceu descalça, pela escada fria, ouvindo mais barulhos vindos do porão, quando abriu a porta, se deparou com uma menina loira, nua e toda ensanguentada. Seu pai estava por cima dela, abrindo suas pernas com violência o máximo que conseguia e a menina gritava muito, com as mãos amaradas sem poder se defender. Charlotte ficou lá na porta parada sem
— Alô, Charlotte, me desculpa pela hora, mas tenho notícias. Que pode te alegrar ou não, dependendo do teu estado de espírito, Edgar está morto, o corpo foi encontrado pela polícia, provavelmente tenha sido algum outro preso, ouve uma tentativa de fuga, e ele parece que estava envolvido, você terá que vir para decidir o que fazer com o corpo e os bens, sabe como é, todos esses transmites legais, já que você é a única herdeira. — Tem certeza que é ele? — Não se tem dúvidas, quando você pode vir? – Perguntou o advogado insistentemente, com uma voz seca. — Eu tenho que ir realmente? O senhor não pode cuidar de tudo? — Sim, você precisa vim, não tenha medo, ele não está mais aqui, ele
Enquanto isso, em São Paulo, Alan passava por um processo de quase luto, sentindo a necessidade da presença de Charlotte mais forte e constante. Trancado dia e noite em seu apartamento não conseguia acreditar que ela estivesse tão bem escondida, nem os seus investigadores conseguiam encontrá-la. Esperava ansioso por notícias que nunca chegavam, o celular dela dava desligado e, no trabalho, ninguém sabia de nada, os dias passavam e ele ia ficando cada vez mais transtornado, saia com mulheres e voltava para casa mais vazio do que antes, nada mais era igual, ele precisava encerrar o ciclo, ter Charlotte novamente em sua vida e depois decidiria o que fazer. Seu piano solitário, ele não tocava mais, suas mãos tremiam como um dependente químico, ansioso por sua droga.Enquanto isso da janela do seu quarto, Charlotte tinha uma vasta visão para a floresta e principalmente do pequeno riacho que ficava