De pé no vão da porta, Charlotte observava atentamente a chuva que caia e molhava o asfalto, olhou a hora no celular e pensou “ainda é cedo para dormir”, tomou um banho demorado sem se preocupar com o tempo passando, afinal, ela podia sair e voltar a hora que quisesse, pois, morava sozinha. Abriu o guarda-roupa e pensou “Que indecisão, o que eu visto? ” E, mesmo estando muito frio, optou por uma roupa ousada, pois amava o modo como o frio percorria o seu corpo, como se mãos invisíveis a tocassem por todas as partes, fazendo sua pele e sua mente ficarem inertes, congelando suas lembranças. Então, ela podia viver o agora e deixar o que passou bem trancado em sua caixa imaginária. Enquanto seus monstros estivessem presos lá dentro, nada poderia atingi-la, nada poderia feri-la, nem fazer sangrar o seu coração.
Puxou a primeira roupa que viu em sua frente e, para sua sorte, era uma combinação perfeita para a noite em questão: bermuda de cintura alta preta, com a barra desfiada e blusa preta em tela transparente. Com isso, acabou decidindo usar seu sutiã mais bonito, e um cinto preto com uma fivela prata em forma de caveira. Amava usar roupas diferentes, tinha um estilo próprio, usando o que dava vontade conforme o seu humor. Escolheu um coturno preto de cano curto, se sentindo muito ousada, mas também capaz de dar um soco em alguém, já que estava de mau-humor, flagrou o recém-namorado na cama com outra. Na verdade, ela não se importava com a traição, mas gostaria de ter feito primeiro, pois não ligava para relacionamentos nem acreditava em felizes para sempre, preferia viver enquanto podia, era a definição mais linda e perfeita de um espírito livre, deixando a porta aberta para quem quisesse entrar ou sair sem danos. Por fim, pegou a bolsa mais discreta e saiu.
Morava em um pequeno apartamento alugado, em São Paulo, o lugar possuía um charme de coisa antiga misturada com modernidade, que fazia Charlotte se sentir em uma capsula do tempo, o apartamento foi recém-reformado no estilo industrial, o proprietário era um senhorzinho muito simpático, que mancava de uma perna devido a um acidente que sofreu quando era mais novo, no auge de sua juventude e imprudência, ele morava no andar térreo e plantava manjericão em sua janela, aos domingos preparava sua famosa macarronada ao molho do manjericão, sempre levava uma poção da comida para Charlotte, e ela lhe oferecia uma xícara com café, então os dois sentavam na varanda, ela gostava de passar horas ouvindo suas infindáveis histórias de mocidade. Ao lado, morava com um rapaz, uma moça muito triste, eles brigavam o tempo todo, certa madrugada Ingride bateu na porta de Charlotte pedindo para usar o telefone, o rosto dela estava praticamente deformado devido a uma surra que levou do marido, nesse dia o prédio todo ficou acordado vendo o desfecho da história, a polícia foi chamada, porém, os dois acabaram fazendo as pazes.
O prédio era muito agitado, e todos sabiam sempre o que estava acontecendo, quando ela se mudou tinha apenas uma mochila com poucas roupas, a cama, o fogão e a geladeira já estavam no imóvel, o restante foi comprando gradualmente, fazia questão de viver entre monstros de concreto e sentir a cidade pulsante como um coração, chamando seu nome, sussurrando como um fantasma debochado em seu ouvido, ansiava por movimento. Seu apartamento possuía dois cômodos, sendo um quarto e uma cozinha que também era sala, o aluguel era barato e tinha uma varanda inspiradora onde, às vezes, ela sentava e escrevia poemas que nunca mostraria para ninguém.
Caminhava entre os bares, sentindo-se viva, a cidade tinha mãos, pulmão, lábios e, de todos os lugares que já morou, São Paulo era onde ela mais se sentia próxima dela mesma, como se a personalidade da cidade combinasse com a sua própria. Parou em um bar que estava tocando música ao vivo, daqueles que os clientes podem escolher o que os cantores vão apresentar, pediu um Martíni duplo, bebeu e pensou em como tinha sorte em poder desfrutar a liberdade daquele instante, já que a vida é tão incerta, amava estar sozinha, não considerando solidão, mas sim escolha. A noite possuía um ar inebriante, ela molhou o dedo no Martíni e depois levou a boca, de maneira provocativa, um homem muito bonito se aproximou, e perguntou a hora, ele mordeu os lábios e seus olhos eram assustadoramente sedutores, ela pensou “até parece que ele não sabe”, porém, respondeu:
— Não sei, se você descobrir, volta e me conta por favor. Deixando o álcool falar por si, já que a ousadia não fazia parte da sua personalidade, podia olhar a hora em seu celular que estava na bolsa, mas quis saber o que o destino preparou para aquela noite.
O rapaz tinha um ar aristocrático e também sombrio que chamou a atenção de Charlotte, como um personagem de filme antigo, aquela categoria de psicopata que a personagem principal acaba se apaixonando na trama, a imaginação de garota ia longe, ela era uma leitora voraz, sorriu e olhou fixamente para ele por demorados minutos, o que o deixou sem graça, mas retribuiu o olhar de uma maneira firme e ousada, até que ela cansou do jogo de encarar e sussurrou em seu ouvido:
— Me paga uma bebida ou vai embora.
Ele foi até o palco e escreveu em um papel, depois chamou o garçom e pediu uma garrafa de Johnnie Walker Blue Label 1805, ela observou virou os olhos e disse:
— Exibido, o que você foi fazer no palco?
Ele sorriu discretamente e respondeu:
— Eu Sei Que Vou Te Amar...
— Tom Jobim e Vinícius de Moraes, gosto dessa música, especialmente nessa versão onde ambos cantam.
— Sempre que ouvir tenta lembrar de hoje, é um dia importante para mim.
— E qual o motivo dessa importância?
— É o dia em que eu te conheci.
Independentemente da situação ou do momento, ela sabia até onde iam os seus limites, suas linhas imaginárias não podiam ser ultrapassadas, não se permitia criar vínculos e nem permitia que criassem expectativas que ela não tinha interesse de corresponder.
— Você quer viajar comigo amanhã?
— Viajar para onde? Embora seja meu dia de folga, tenho algumas coisas para fazer, além disso, eu não vou viajar com um estranho. — Respondeu.
— Coisas do tipo dormir o dia todo ou são coisas reais?
— Ok, me pegou, vou dormir o dia inteiro. — Charlotte pensou nos seus limites, e mesmo sentindo vontade de aceitar o convite, respondeu — Amanhã realmente não vou poder. Preciso ir agora, mas aceito uma carona com possíveis segundas intenções.
— Te levo com prazer, quanto as segundas intenções, você está bêbada, eu jamais me aproveitaria disso. Vem, meu carro está logo ali. A propósito, me chamo Alan Rodrigo de Albuquerque Viana, você não perguntou, mas é melhor saber antes de entrar no carro de um estranho. Disse debochado e, em simultâneo, galanteador.
— Charlotte Jones, muito prazer, seu confiado, eu não mereço isso, justo hoje conhecer o último puritano do planeta.
— Ei, Guilherme, quanto tempo, deixa eu te apresentar minha quase namorada. — Disse Alan enquanto acenava para um rapaz que acabava de entrar no bar. — Essa é a Charlotte, e esse é o Guilherme, estudamos juntos, ele é um mulherengo, mas é meu melhor amigo.
— Muito prazer, Charlotte. Não precisa me detonar não quero roubar tua mulher. Então, vocês já estão indo? — Perguntou Guilherme, após dar um beijo no rosto da garota.
— Já sim. Você pode ficar se quiser, Alan, eu pego um táxi. — Disse ela, educadamente, vendo que talvez ele preferisse ficar e se divertir com o amigo.
— Não, eu te levo, o meu carro está logo ali. Despediram-se de Guilherme e seguiram.Ela foi o caminho todo calada, olhando pela janela do carro, curtindo a brisa e sentindo-se embriagada devido à bebida. Estava tocando uma de suas músicas favoritas, “Jaded”, do (Aerosmith), e ela teve que admitir que ele tinha um bom gosto musical. As imagens foram passando e ela foi transportada para a sua infância, o choro abafado, os gritos, então, ela se sobressaltou, assustada.
— Chegamos, você está bem? Não queria te assustar.— Está tudo bem, só me distraí um pouco. A noite foi melhor que imaginei, você é muito gentil e obrigado por me trazer.
Olhando bem nos olhos dela, com aquele velho ar sério e protetor, tocou seu rosto gentilmente, e falou daquela maneira calma, que fazia Charlotte se sentir vulnerável.
— O tempo é curto para quem tem fome de vida, isso não precisa terminar assim e, certamente, não agora.
Sentiu a pele se arrepiando de desejo e teve vontade de segurar os cabelos negros de Alan e morder seus lábios até sangrar, seus desejos e extintos selvagens explodiam dentro dela de uma maneira tão evidente, ela nunca teve essa conexão com o antigo namorado. Ele a puxou e deu um beijo cheio de desejo, seus corpos queimavam a cada toque, então parou repentinamente, recuperando o folego antes que fizesse algo que se arrependeria mais tarde, disse que precisava ir embora, pois tinha algo importante para resolver. Charlotte não entendeu e nem acreditou na desculpa, sentiu-se frustrada, porém, concordou, trocaram os contatos e ele partiu ainda ofegante e desejoso.
Ela ligou o celular, viu a hora e lembrou que não tinha realmente nada para fazer pela manhã, ouvir portas batendo ao mesmo tempo, e percebeu que seria o assunto do prédio pelo resto da semana, entrou em seu apartamento ainda escuro, e caminhou até a geladeira sem esbarar em nada, ela conhecia cada centímetro daquele lugar como sua capsula protetora, pegou uma garrafa de vinho e caminhou até o quarto, abriu a terceira gaveta do criado mudo, e a primeira coisa que viu foi uma já muito desgastada foto da sua mãe sorrindo. Foi inevitável não sentir uma onda de tristeza, mesmo assim desviou seus pensamentos, pegou seu caderno, caneta foi até a varanda, sentou em sua poltrona comprada em uma venda de garagem, como boa parte das suas coisas estranhas, fechou os olhos, sentiu o ar frio da madrugada, sentiu a embriaguez, deixou as vozes se acalmarem e escutou atentamente as palavras ressoando e tomando forma. Ela pensou em Alan e na noite que poderiam ter tido.
“Naquele exato momento que seus lábios
Tocaram os meus,
Senti sua mão deslizar até minha cintura
E me apertar de maneira abrupta sobre seu corpo,
Deslizei meus dedos em suas costas,
Arranhando-o levemente
Sussurros em meu ouvido
Chupou-me a língua e minhas pernas
Ficaram tremulas,
Deixei-me envolver,
Nada mais impostava,
Só queria sentir cada vez mais”
Ela ficou pensando que a noite poderia ter terminado assim, mas não importava, ela sabia imaginar e também sentia sono, decidindo ir dormir de uma vez, afinal, estava embriagada demais para discutir com sua mente barulhenta e confusa.
Alan chegou ao seu apartamento e deitou no sofá, ainda confuso e agitado com tudo que aconteceu. Ele sabia que não devia, mas não conseguiu resistir. O momento, o vento, a beleza dela, tudo estava propício e perfeito, o mistério em torno daquela bela mulher, o modo como o vento movia seus cabelos, ele sentiu um desejo incontrolável de conquista-la, uma noite com ela seria bom, mas estragaria a conquista, o prazer da sedução. Ele respirou fundo, precisava se acalmar, foi até o piano e tocou “Réquiem”, de Mozart, como se gotas do seu sangue escorressem em cada tecla do piano, como se sua alma tivesse se retirado do corpo, puxado uma cadeira e dito em voz alta “vai lá, meu amigo, se despeça dessa vida ingrata”.
Suas mãos tremiam, tocou repetidas vezes até sentir dor na ponta dos dedos, lembrava do sorriso, do som da voz, dos olhos dela e apertava as unhas com força em seu peito, querendo arrancar pedaços de sua própria pele.
Em seu braço esquerdo, uma tatuagem que Charlotte não viu, pois, ele usava uma camisa de mangas compridas e a tatuagem era uma frase que dizia “Há um homem tocando um violino cujas cordas são os nervos do próprio braço”, uma citação de “O corvo”. Sentia-se um homem entre o querer e o poder, tudo que ele desejava conseguia, pensava em quais segredos ela escondia, seus olhos eram melancólicos e diziam mais que suas palavras, quanto mais pensava na garota, mais se sentia preso em uma teia, tomou cinco comprimidos de uma só vez e esperou fazer efeito, dormiu o sono dos injustos e pecadores, dormiu bem, como há muito tempo não conseguia
No dia seguinte, Charlotte acordou tardiamente, já passava das três da tarde, pegou o celular e tinha três chamadas perdidas de Alan, ignorou. Buscou comida na cozinha e sentou em sua varanda, perto de suas flores e cactos. Sempre havia mariposas voando, amava esses animais, aquele era um delicioso fim de tarde, ela tomava chá de cidreira, que servia tanto para aquecer as suas tardes frias quanto para trazer acalanto a sua alma inquieta e solitária. Desde o último inverno, as tardes dela eram assim, ora sua mente vagava além dos altos prédios, ora ficava simplesmente observando as mariposas que pousavam tão tranquilas próximas de sua poltrona, é que, apesar de muito frio, ela estava lá sentava em sua varanda, trajando um leve vestido azul-claro, como sempre descalça, pois gostava de sentir o frio nos pés, sentia-se mais viva, ou talvez apenas tivesse se acostumado com a dor, porque era a dor que sentia em seu coração. Naquela tarde em especial, sentia-se nostálgica d
Na manhã seguinte, o celular de Alan despertou pontualmente. Ele, porém, já estava de banho tomado e pronto para sair, pegou uma mochila com algumas roupas, alguns pertences e saiu depressa para não pegar muito trânsito. No caminho, parou em uma padaria, comprou tudo de apetitoso que viu e foi para a casa de Charlotte, queria chegar antes dela acordar, bateu na porta três vezes e esperou, sem resposta e já impaciente, bateu outras três vezes seguidas, com força, até finalmente ouvir algum barulho vindo de dentro do apartamento. Ela abriu a porta, de cara amassada e ainda com a mesma roupa do outro dia, ele imediatamente disse, antes que a garota ainda sonolenta pudesse manda-lo embora: — Bom dia, trouxe um lanche. Ela ficou perplexa com a quantidade de comida e ainda mais com a hora, eram apenas oito horas da manhã de um pleno sábado. — O que está fazen
Naquele momento, nada realmente importava, tampouco fazia sentido, ela tinha os pés no chão e não acreditava em destino, e sim em ações e consequências. Até então, ainda estava lentamente absorvendo a péssima notícia da soltura do seu pai, que estava preso já tinha muito tempo, ela nem queria imaginar se ele fosse atrás dela, sua cabeça doía, ela lembrava com detalhes o que aconteceu. Era tarde da noite, ela acordou e se deu conta que seu pai não foi até seu quarto, sentiu um alívio que logo foi interrompido por gritos vindos do andar de baixo, parecia o grito de uma criança. Ela saiu correndo, pelo longo corredor escuro e desceu descalça, pela escada fria, ouvindo mais barulhos vindos do porão, quando abriu a porta, se deparou com uma menina loira, nua e toda ensanguentada. Seu pai estava por cima dela, abrindo suas pernas com violência o máximo que conseguia e a menina gritava muito, com as mãos amaradas sem poder se defender. Charlotte ficou lá na porta parada sem
— Alô, Charlotte, me desculpa pela hora, mas tenho notícias. Que pode te alegrar ou não, dependendo do teu estado de espírito, Edgar está morto, o corpo foi encontrado pela polícia, provavelmente tenha sido algum outro preso, ouve uma tentativa de fuga, e ele parece que estava envolvido, você terá que vir para decidir o que fazer com o corpo e os bens, sabe como é, todos esses transmites legais, já que você é a única herdeira. — Tem certeza que é ele? — Não se tem dúvidas, quando você pode vir? – Perguntou o advogado insistentemente, com uma voz seca. — Eu tenho que ir realmente? O senhor não pode cuidar de tudo? — Sim, você precisa vim, não tenha medo, ele não está mais aqui, ele
Enquanto isso, em São Paulo, Alan passava por um processo de quase luto, sentindo a necessidade da presença de Charlotte mais forte e constante. Trancado dia e noite em seu apartamento não conseguia acreditar que ela estivesse tão bem escondida, nem os seus investigadores conseguiam encontrá-la. Esperava ansioso por notícias que nunca chegavam, o celular dela dava desligado e, no trabalho, ninguém sabia de nada, os dias passavam e ele ia ficando cada vez mais transtornado, saia com mulheres e voltava para casa mais vazio do que antes, nada mais era igual, ele precisava encerrar o ciclo, ter Charlotte novamente em sua vida e depois decidiria o que fazer. Seu piano solitário, ele não tocava mais, suas mãos tremiam como um dependente químico, ansioso por sua droga.Enquanto isso da janela do seu quarto, Charlotte tinha uma vasta visão para a floresta e principalmente do pequeno riacho que ficava
Após três garrafas de tequila, Charlotte dormiu ao sofá, acordando por volta do meio-dia com a campainha tocando. Levantou sobressaltada, se perguntando quem seria, se aproximou da porta, mas antes olhou pelo vidro da janela, era uma moça muito bonita.— Oi! Tem alguém em casa? É a vizinha, Emily. — Charlotte, meio sonolenta, abriu a porta. — Oi! Desculpa pela insistência. — Disse a garota, que era uma ruiva de olhos azuis, a pele cheia de sardas, de uma beleza exótica que dava inveja. O tipo de mulher que agradaria ao Guilherme.— Tudo bem, o que você deseja?— Eu sou a vizinha nova, sabe, da casa no in&iacut
Edgar tomava uma taça de vinho, muito calmo e ansioso pelo encontro com a filha, ele pensou nela cada segundo em que esteve preso, farejava o ar como um animal buscando pela presa. Agora que a menina já era uma mulher feita, ele devia terminar o que começou anos atrás, ela foi a única que viveu, pelo simples fato de que foi preso antes de concluir seus planos, seu legado estava estampado nos lindos olhos da filha, mas ele manteve por tempo demais o gosto dela em seus lábios, estava na hora de dizer adeus, usaria de toda sua criatividade para matá-la, afinal, ela era muito especial. Por hora, se livraria da sua cúmplice, que não tinha mais serventia, e possuía uma alegria que o incomodava, com aqueles olhos vibrantes que ele sentia vontade de arrancar com as próprias mãos.— Demorou para abrir a porta.— Ela est&aacut
Edgar pegou as chaves do carro e saiu cantarolando, dirigiu até uma clareira na floresta onde estacionou o carro longe da propriedade, apanhou um punhal e clorofórmio no (porta) luvas, passou a mão no rosto e deu um sorriso satisfeito enquanto via seu reflexo no espelho do retrovisor. Seguiu o restante do caminho até a mansão a pé, arrumou-se para reencontrar Charlotte, planejava cortaria seu pescoço, mas não antes de sentir aquele corpo infantil novamente, isso era o que desejava mais-que-tudo, não importava nem mesmo sua vida ou liberdade, sentia-se preso a filha como uma mosca presa na teia, ela era sua maior fonte de obsessão, seu trabalho incompleto, precisava matá-la e completar seu ciclo.— Alan, não estou vendo os policiais lá embaixo, as viaturas estão e eles não, será que foram andar pelo terreno?&mda