Na manhã seguinte, o celular de Alan despertou pontualmente. Ele, porém, já estava de banho tomado e pronto para sair, pegou uma mochila com algumas roupas, alguns pertences e saiu depressa para não pegar muito trânsito. No caminho, parou em uma padaria, comprou tudo de apetitoso que viu e foi para a casa de Charlotte, queria chegar antes dela acordar, bateu na porta três vezes e esperou, sem resposta e já impaciente, bateu outras três vezes seguidas, com força, até finalmente ouvir algum barulho vindo de dentro do apartamento. Ela abriu a porta, de cara amassada e ainda com a mesma roupa do outro dia, ele imediatamente disse, antes que a garota ainda sonolenta pudesse manda-lo embora:
— Bom dia, trouxe um lanche.
Ela ficou perplexa com a quantidade de comida e ainda mais com a hora, eram apenas oito horas da manhã de um pleno sábado.
— O que está fazendo aqui a essa hora? Gente rica não dorme?
Alan, com um ar autoritário, respondeu:
— Se arruma, nós vamos para Angra.
— Eu disse que não podia sair, que ideia é essa de bater na minha porta com toda essa comida? Pensou que eu me venderia por comida, é? Da próxima vez, traz diamantes, que mão de vaca. Pode ir embora, estou voltando para a cama.
Alan carregou a garota no ombro e disse:
— Tudo com você é tão difícil, vai ter que ir à força, então.
Ela se debateu em protesto, mas cansada e com fome facilitou e acabou concordando.
— Tudo bem, eu vou, deixa eu pegar umas roupas e tomar um banho pelo menos.
Ela entrou debaixo do chuveiro e deixou a porta aberta para que se sentisse convidado a participar do banho, ele entendeu o recado, mas não deu corda e ficou apenas observando enquanto seu corpo reagia com tal visão.
— Estou pronta, espero que a cama seja bem grande eu sou muito espaçosa. Disse ela toda debochada.
Alan deu um sorriso sem graça. Pegaram a estrada e a viagem seguiu tranquila, o silêncio entre eles nunca era constrangedor, pelo contrário, rolava uma conexão tão forte que dispensava palavras, como se seus pensamentos se interligassem.
Ao entrar no lugar, Charlotte já se deparou com um piano bem no meio da sala, o que significava que teria muitas surpresas com relação ao rapaz. Alan segurou seu braço com carinho e a conduziu escada acima. Enquanto iam andado, ele ia mostrando tudo. Tinha quadros por todas as paredes, era um verdadeiro apreciador de arte.
— Meu bem, você vai ficar comigo no meu quarto é claro, tem banheira, e uma vista incrível, a não ser que você prefira o quarto de hóspedes, vou sair um instante para comprar comida e volto logo, fica à vontade para bisbilhotar na minha ausência.
Ela gargalhou e respondeu.
— É muita gentileza, eu ia fazer isso de qualquer jeito, vê se não demora, o teu quarto para mim, é perfeito.
— Tem um mercado pertinho coisa de uns trinta minutos ou menos.
No supermercado, Alan estava distraído, escolhendo frutas, quando uma moça com charme de australiana entrou e ficou próxima aos legumes, a adrenalina percorreu seu corpo como um combustível queimando a sua pele. Ele controlou a respiração “Agora não, eu não posso” e saiu do lugar o mais rápido possível.
No apartamento, a moça analisava tudo com muita atenção, pensando que, evidentemente, ele não ia muito ali, pois tudo estava cuidadosamente posto em seu lugar e tinha muita poeira. Ela abriu uma porta e se deparou com o paraíso, estantes com livros em todas as paredes, do chão ao teto, ela sentiu a essência de muitas vidas presas naquela sala, os sussurros na sua cabeça fervilhavam e brigavam entre si. Ela respondeu para seu inconsciente: “Hoje não, eu preciso ficar em paz” e tudo se acalmou novamente. Pegou de uma prateleira “Sonhos de uma noite de verão”, do Shakespeare, e um gatilho disparou. Ela foi arremessada para seus dez anos, com sua mãe lhe entregando o mesmo livro dizendo: “Leia Charlotte, os livros contam segredos, revelam mistérios e aprisionam monstros, quando tudo estiver bagunçado dentro do seu peito, leia e esqueça tudo que te angustia”, sua mãe lhe deu um conselho que futuramente aprisionaria mais que monstros. Assim, a menina cresceu guardando tudo para si, ela não deixava que ninguém ficasse tempo demais, tinha medo de ser igual ao seu pai, pois todos diziam terem os mesmos olhos, mas teriam a mesma alma? Muitas vezes sentiu impulsos, mas nunca, machucou alguém, teria ela coragem para ir tão além? Isso seria uma coisa que não estava disposta a descobrir, então, sabia que o rapaz teria que partir de sua vida, antes que algo ruim acontecesse, seu medo de se relacionar era maior que sua necessidade de ser feliz.
Alan não voltou de imediato, parou na praia e ligou para sua terapeuta. Ao terceiro toque, ela atendeu.
— Alô! Alan, você não apareceu para a sessão na sexta, está tudo bem?
Ele respondeu:
— Estou viajando, não se preocupe, volto na segunda. — E desligou o celular antes que a doutora pudesse perguntar algo amais.
Como ele demorou para voltar, Charlotte deitou no sofá e acabou pegando no sono. Ela tinha pesadelos constantes e acordava diariamente sobressaltada, até se dar conta que estava em seu apartamento, segura. Ela nunca deixava ninguém dormir lá, sentia vergonha que presenciassem um de seus episódios de terror noturno, nesse momento, seu inconsciente a levou de volta à Inglaterra. Eram as férias, ela e seus pais viajaram para que ela e sua mãe conhecessem o lugar onde seu pai viveu boa parte da vida. Em seu pesadelo, ela reviveu um momento, que era frequente em suas piores lembranças.
“Ela estava deitada nua em sua cama, pois assim foi instruída sob ameaças desde o ano anterior, quando seu pai lhe visitou de madrugada pela primeira vez. Observava a neve caindo lá fora, insetos brincalhões voavam e batiam no vidro da janela. Eles queriam salvar Charlotte, eles sussurram coisas que ela não compreendia, sua mente já estava distante o suficiente, estava presa na página de algum livro, descobrindo segredos, mascarando mentiras. Ela ouviu passos no corredor e pensou que, quem sabe, naquela noite em particular seu pai desceria até o escritório que ficava no andar de baixo, próximo ao porão para terminar algum trabalho pendente, mas ela estava enganada. Ele abriu a porta e disse “Boa noite, princesinha, a mamãe já dormiu e não vai acordar até de manhã, podemos nos fazer companhia sem pressa”. Ele caminhou até a cama e observou o corpo nu da menina, percorrendo cada centímetro de sua pele branca com as mãos. Ela não chorava, nem emitia nenhum som, ela perdeu a capacidade de resistência, aprendeu a desligar-se naquele momento. Ele apertava seu corpo com violência, sempre deixando marcas na sua pele, na sua alma. Quando ele ia embora, Charlotte caminhava até o banheiro, ligava o chuveiro e deitava no chão. Ela deixava a água lavar seu corpo, deixava o frio lhe cobrir como um cobertor amigo, ela ficava lá parada até seus ossos doerem, depois voltava para a cama e olhava fixamente para o teto. Imaginava que, durante a noite, travava batalhas com monstros e vencia todas elas, prendendo as criaturas na sua caixa imaginária e, uma vez lá dentro, eles não a machucariam mais, ela só precisava capturar todos, todas as noites, assim, pela manhã, ela conseguia explicar as marcas na sua pele e seu corpo cansado. Ela ainda não sabia, mas esses se tornariam traumas que a acompanhariam até o túmulo. ”
No momento que Alan abriu a porta, ouviu gritos e correu assustado, chamando por Charlotte. Encontrando-a no sofá, se debatendo e gritando, imediatamente correu até ela e a envolveu em um abraço forte, o que fez com que ela acordasse assustada e chorando, como se tivesse lágrimas presas a vida toda, porém, não era verdade, ela chorava diariamente sozinha em sua cama. Eles ficaram lá, apenas abraçados sem dizer uma única palavra, até que ela ficou mais calma. Ele não perguntou nada, pois queria merecer sua confiança, eles comeram em silêncio. Não tinha necessidade de explicar, tinham algo forte como se tivessem se conhecido em outra vida, afinal, todos possuem segredos, e lá, no fundo da alma de cada indivíduo existem lembranças sufocadas e medos à procura de uma fenda para escapar de sua prisão inventada, Charlotte e Alan eram assim, como fantoches quebrados, encenando um ato de duas cenas, para uma plateia vazia, paixão e segredos.
— Você gosta de poesia? — Perguntou ele, já era noite e batia uma brisa inebriante vinda da praia. Eles estavam na varanda, bebendo vinho e curtindo o tempo passar, ambos não conversavam muito, mas um entendia o que o outro pensava ou sentia, ou acreditavam nisso. A verdade é que ambos tinham segredos e mentiras tão enraizadas que já não conseguiam identificar o que era real ou ilusório.
— Gosto muito. — Respondeu ela.
— Comprei um livro recentemente, talvez você goste, se chama “Interlúdio”, são poesias bem tristes, porem bonitas de uma maneira única, conhece?
— Na verdade, sim, conheço bem. — Charlotte respondeu, surpresa com a coincidência, ela comprou esse livro fazia uns dias.
— Eu passei muito tempo preso em mim, fugindo do mundo, das lembranças, do amor, cometi alguns erros na vida, busco formas de me tornar um ser humano melhor — Disse ele, olhando em seus olhos de uma maneira que a fazia sentir-se protegida.
Charlotte se aproximou na intenção de beijá-lo, porém, sem querer, derramou vinho na camisa dele, que imediatamente a retirou, deixando-a sem ar ao ver que ele tinha um corpo incrível e uma tatuagem que a deixava em um misto de desejo e nostalgia. Ela passou a mão em seu braço delicadamente e sussurrou em seu ouvido.
— Talvez só você não tenha encontrado a pessoa certa que se encaixe na tua bagunça, ele sentiu a garganta queimar e respondeu com um beijo. Beijaram-se como se o mundo tivesse parado, eram o mar um do outro, pela primeira vez ela se sentiu livre e protegida, sem culpa, seus medos não eram mais fortes que os desejos, não precisava desligar sua mente. O momento merecia ser lembrado, foi a primeira vez que ela desejou um homem de verdade, seu corpo ganhou voz, suas mãos percorriam cada parte do corpo dele, arranhava as suas costas, ao que ele gemia em retorno. Eram tudo, menos calmaria, eram mares revoltos, tempestade, furacão, os dois tocariam fogo no mundo e que tudo virasse cinzas, a noite foi curta para quem tinha fome de vida.
Cada parte daquele lugar sentiu o fogo que irradiava deles, se amaram em cima do piano, compuseram uma sonata com seus corpos e gemidos, pernas, braços e bocas. Assinaram um pacto de almas que somente a morte poderia separar e ela separaria mais cedo do que imaginavam.
Charlotte observou Alan dormir e ativou a sua linha de proteção, ela lembrou que o tempo transforma lembranças ruins em objetos pontiagudos, pequenos demais para ter importância, cortantes o suficiente para não serem esquecidos, causando hemorragias emocionais, perfurando sua pele. Ela caminhou até o quarto, vestiu sua roupa e pegou a mochila. Era hora de dizer adeus.
Quando chegou a São Paulo, já era de manhã. A viagem foi longa, ela só queria dormir, mas mal entrou e o celular começou a tocar, era Alan. Ela ignorou todas as ligações, deixou ordens especificas para que não o deixasse entrar nem à base de subornos. Algumas horas tinham se passado desde sua chegada e ela acordou sobressaltada de outro pesadelo, ligou o celular novamente, viu algumas ligações do seu advogado e pensou “Aconteceu algo, ele não ligaria por nada”, retornou à ligação imediatamente e esperou até que o advogado atendesse.
— Charlotte, que bom falar com você, não tenho boas notícias.
— O que aconteceu?
— Ele vai sair em liberdade condicional, conseguiu por bom comportamento, embora eu tenha certeza que ele subornou o juiz. Eu sinto muito. Não tem nada que eu possa fazer nesse momento. É melhor que você continue escondida, continuarei trabalhando no caso e te mantendo informada.
— Eu já estou sem dinheiro, ele vai me encontrar mais cedo ou mais tarde.
— Vou entrar com o pedido da herança da tua mãe, em breve te retorno com novidades, mantenha-se escondida.
— Tudo bem. Obrigado, Dr. Roberto.
O telefone tocou, mas ela não conseguiu levantar para atender, apenas ficou lá, estática, sem querer acreditar na notícia que acabara de receber. Mais uma vez, se esforçou para levantar a cabeça, prendeu a respiração e ficou escutando o celular tocar insistentemente, com certo esforço, conseguiu ir até o aparelho, seu corpo não queria obedecer aos seus comandos e parecia que tudo estava girando ao seu redor.
— Dona Charlotte, o senhor Alan está aqui, posso deixar subir? — Perguntou o senhor do andar térreo por mensagem.
Ela respondeu com um sim, depois caminhou devagar até a porta e a destrancou, mau conseguindo respirar. Nesse momento, tudo ficou escuro e, quando recobrou a consciência, estava deitada no chão, com Alan chamando por ela, abriu os olhos, tentando se familiarizar novamente com o ambiente.
— Está tudo bem, eu só tive uma tontura.
— As pessoas, quando estão bem, não desmaiam. Você já comeu algo?
— Eu vim embora sem avisar, você não está com raiva?
— Na verdade, não, mas gostaria sim, de saber o motivo, porém, primeiro, vou te alimentar. Consegue levantar? — Perguntou, muito preocupado e já indo para a cozinha ver o que tinha para comer. — Caramba! Só tem biscoito aqui! Gosta de comida japonesa?
Por um momento Alan, esqueceu que não era obra do destino Charlotte estar em sua vida, esqueceu totalmente que a viu no bar em que trabalhava, uns dois meses antes, e que, desde então, a estava seguindo, observando seus passos, anotando seus gostos, adentrando em sua mente. Ele viu quando ela saiu e a seguiu de longe em seu carro. Ela caminhava entre as buzinas e as pessoas, ele desejava que ela nunca descobrisse seus segredos, seus medos, seus pecados, e sorrisos feitos de poeira e mofo. Ele desejava passar muito tempo ao lado dela.
— Eu posso ficar aqui, se você quiser, não quero te deixar sozinha.
— Não precisa, muito obrigado por tudo, de verdade, eu agi de uma maneira escrota e você só foi legal comigo o tempo todo.
— Então, porque fugiu de mim?
— Eu não fugi, lembrei que tinha coisas para fazer e voltei para casa.
— Meu bem, é muito óbvio que está acontecendo algo, você não é obrigada a me contar, mas também não tem porque passar por nada sozinha, eu posso pelo menos tentar te ajudar? — Perguntou, muito solidário e amoroso.
— Certo, quer saber mesmo? Você estava dormindo e eu gostei muito do que vi, quanto mais te conheço mais parece que você foi retirado de um livro, de tão perfeito, e isso é assustador, eu nunca tive uma relação saudável com ninguém, e nunca deixei que ninguém ficasse tempo demais, sinto muito por isso.
— Eu estou muito longe de ser perfeito, pelo contrário, só estou tentando fazer você gostar de mim.
— Alan, eu não posso ter ninguém na minha vida, eu não quero isso, tem coisas que eu preciso resolver comigo mesma, não consigo gostar de ninguém, me desculpa, é melhor não nos vermos mais.
— Eu vou te dar um tempo, mas não vou desistir, tem uma coisa muito forte aqui. Não se joga isso fora, eu vou embora agora, mas se você precisar de algo me chama, não pensa duas vezes por favor. Podemos ser amigos, mas não me afasta assim. E afinal, qual o nome do senhor dos manjericões?
— É o seu Paulo.
Naquele momento, nada realmente importava, tampouco fazia sentido, ela tinha os pés no chão e não acreditava em destino, e sim em ações e consequências. Até então, ainda estava lentamente absorvendo a péssima notícia da soltura do seu pai, que estava preso já tinha muito tempo, ela nem queria imaginar se ele fosse atrás dela, sua cabeça doía, ela lembrava com detalhes o que aconteceu. Era tarde da noite, ela acordou e se deu conta que seu pai não foi até seu quarto, sentiu um alívio que logo foi interrompido por gritos vindos do andar de baixo, parecia o grito de uma criança. Ela saiu correndo, pelo longo corredor escuro e desceu descalça, pela escada fria, ouvindo mais barulhos vindos do porão, quando abriu a porta, se deparou com uma menina loira, nua e toda ensanguentada. Seu pai estava por cima dela, abrindo suas pernas com violência o máximo que conseguia e a menina gritava muito, com as mãos amaradas sem poder se defender. Charlotte ficou lá na porta parada sem
— Alô, Charlotte, me desculpa pela hora, mas tenho notícias. Que pode te alegrar ou não, dependendo do teu estado de espírito, Edgar está morto, o corpo foi encontrado pela polícia, provavelmente tenha sido algum outro preso, ouve uma tentativa de fuga, e ele parece que estava envolvido, você terá que vir para decidir o que fazer com o corpo e os bens, sabe como é, todos esses transmites legais, já que você é a única herdeira. — Tem certeza que é ele? — Não se tem dúvidas, quando você pode vir? – Perguntou o advogado insistentemente, com uma voz seca. — Eu tenho que ir realmente? O senhor não pode cuidar de tudo? — Sim, você precisa vim, não tenha medo, ele não está mais aqui, ele
Enquanto isso, em São Paulo, Alan passava por um processo de quase luto, sentindo a necessidade da presença de Charlotte mais forte e constante. Trancado dia e noite em seu apartamento não conseguia acreditar que ela estivesse tão bem escondida, nem os seus investigadores conseguiam encontrá-la. Esperava ansioso por notícias que nunca chegavam, o celular dela dava desligado e, no trabalho, ninguém sabia de nada, os dias passavam e ele ia ficando cada vez mais transtornado, saia com mulheres e voltava para casa mais vazio do que antes, nada mais era igual, ele precisava encerrar o ciclo, ter Charlotte novamente em sua vida e depois decidiria o que fazer. Seu piano solitário, ele não tocava mais, suas mãos tremiam como um dependente químico, ansioso por sua droga.Enquanto isso da janela do seu quarto, Charlotte tinha uma vasta visão para a floresta e principalmente do pequeno riacho que ficava
Após três garrafas de tequila, Charlotte dormiu ao sofá, acordando por volta do meio-dia com a campainha tocando. Levantou sobressaltada, se perguntando quem seria, se aproximou da porta, mas antes olhou pelo vidro da janela, era uma moça muito bonita.— Oi! Tem alguém em casa? É a vizinha, Emily. — Charlotte, meio sonolenta, abriu a porta. — Oi! Desculpa pela insistência. — Disse a garota, que era uma ruiva de olhos azuis, a pele cheia de sardas, de uma beleza exótica que dava inveja. O tipo de mulher que agradaria ao Guilherme.— Tudo bem, o que você deseja?— Eu sou a vizinha nova, sabe, da casa no in&iacut
Edgar tomava uma taça de vinho, muito calmo e ansioso pelo encontro com a filha, ele pensou nela cada segundo em que esteve preso, farejava o ar como um animal buscando pela presa. Agora que a menina já era uma mulher feita, ele devia terminar o que começou anos atrás, ela foi a única que viveu, pelo simples fato de que foi preso antes de concluir seus planos, seu legado estava estampado nos lindos olhos da filha, mas ele manteve por tempo demais o gosto dela em seus lábios, estava na hora de dizer adeus, usaria de toda sua criatividade para matá-la, afinal, ela era muito especial. Por hora, se livraria da sua cúmplice, que não tinha mais serventia, e possuía uma alegria que o incomodava, com aqueles olhos vibrantes que ele sentia vontade de arrancar com as próprias mãos.— Demorou para abrir a porta.— Ela est&aacut
Edgar pegou as chaves do carro e saiu cantarolando, dirigiu até uma clareira na floresta onde estacionou o carro longe da propriedade, apanhou um punhal e clorofórmio no (porta) luvas, passou a mão no rosto e deu um sorriso satisfeito enquanto via seu reflexo no espelho do retrovisor. Seguiu o restante do caminho até a mansão a pé, arrumou-se para reencontrar Charlotte, planejava cortaria seu pescoço, mas não antes de sentir aquele corpo infantil novamente, isso era o que desejava mais-que-tudo, não importava nem mesmo sua vida ou liberdade, sentia-se preso a filha como uma mosca presa na teia, ela era sua maior fonte de obsessão, seu trabalho incompleto, precisava matá-la e completar seu ciclo.— Alan, não estou vendo os policiais lá embaixo, as viaturas estão e eles não, será que foram andar pelo terreno?&mda
Por mais que tentassem conversar, e sorrir naturalmente, existia lá no fundo do peito, um sentimento preso, sufocado, afiando suas garras, esperando o momento certo para emergir. Nos primeiros dias em casa, Charlotte teve muitos pesadelos onde ficava presa em uma espécie de dança da morte, as sombras saiam do chão e a levavam arrastada por correntes de fogo, sempre acordava gritando e com falta de ar. A história se espalhou e todos os jornais ligavam para marcar entrevistas, no portão do prédio sempre tinha algum jornalista escondido, batendo fotos, e a menina que sempre sonhou ser invisível agora era vista por todos, isso fez com que se trancasse cada vez mais, em seu próprio mundo, sentava na varanda e observava o tempo, presa em uma apatia que nada nem ninguém conseguia colocar um fim. Alan sentava ao seu lado em silêncio e passavam horas sem fazer um único barulho, seus abismos se conectavam de uma maneira impossível de compreender, era quase c
Ao voltar para casa, Charlotte tomou um banho demorando, sentindo a água em cada parte do seu corpo. Quando bateram à porta, ela saiu do banheiro enrolada na toalha, para atender, já sabendo ser Alan, seu perfume inundou o ambiente, muito bem-vestido e cheiroso, ela tinha que admitir que ele mexia com sua libido e provocava todos os tipos de pensamentos sexuais. Ela queria se perdoar e voltar a viver, embora muitas vezes a velha culpa tivesse feito morada em seu coração, ela afastou esses pensamentos, sorriu e disse:— Oi! Pode entrar.Alan, com um semblante tranquilo, perguntou:— Como foi seu dia? — Já sabendo a reposta, pois colocou um detetive para segui-la 24h.— Foi bom, dei uma volta, refleti sobre umas coisas, precisamos conversar.Alan senta e volta toda sua atenção para a garota, olhando em seus olhos e, enrol