RAOULMeu fim de semana foi uma merda. Não me lembro de porra nenhuma da noite que me deixou cheio de marcas de unhas e mordidas. A única coisa que me lembro é de empurrar moveis contra uma porta. Isso não faz o menor sentido. Já estive naquela fraternidade e as portas têm chaves.Além disso, ainda tive que aguentar meu pai e meus irmãos zoando que Felipe me levou para o quarto no colo. Meu pai me fez prometer nunca mais beber.E estou pensando seriamente em cumprir. Não gostei nada desse apagão na minha memória.O desgraçado do Felipe me gravou bêbado, agarrado ao travesseiro e chamando por Carmine. Foi um prato cheio para piadinhas durante todo o fim de semana, e tenho certeza que ainda vai render. Afinal, a foto do grupo da família agora sou eu abraçado ao travesseiro. Virei figurinha, meme e tudo que se pode virar. Até Adam decidiu me zoar pelo grupo. Bando de idiotas!Na segunda-feira, encontro uma Carmine aérea. Ela dispensou o motorista para ir com os pais para o colégio.— Ain
CARMINEDe longe eu vi Kaio entrando no banheiro masculino. É a primeira vez que o vejo desde o incidente lá em casa. Só de lembrar de suas ameaças me sobe a ira e nem ligo para o que vai acontecer quando entro no banheiro masculino para o confrontar.Estranho.Aparentemente o local está vazio. Entro mais e noto barulhos vindo de uma cabine meio aberta.Penso em voltar. Pode ser que ele esteja transando com alguém, porém, congelo no lugar com a voz conhecida.— Morre, seu merda!Eu sei que não vou gostar do que vou ver, sinto isso no fundo das minhas entranhas.— Raoul?Ainda assim minha pernas tremulas me levam até diante da cena onde Raoul está cercado por sangue e afogando alguém na privada. E esse alguém é Kaio.Minhas pernas perdem as forças e tudo começa a ficar embaçado...E não vejo mais nada.Assim que acordo encontro Raoul sentado ao meu lado em uma das cadeiras desconfortáveis da enfermaria. Ele está digitando no celular e não percebe que acordei.Noto as coisas ao meu redo
RAOULSinceramente não sei o que vim fazer nessa porra de baile. Sem Carmine está tudo chato.Ainda não consigo entender o que aconteceu? Sei que ela não gostava tanto daquele imbecil. Ele é um maldito escroto que merece o que recebeu.Não insisti depois que ela disse que não viria ao baile. Não sou o tipo que insiste, mas começo a me arrepender.Ela perdeu quase uma semana de aula.De uma coisa eu sei. Se ela não for na segunda, eu vou buscá-la arrastada pelos cachos em sua casa.Outra coisa que não consigo entender é por que ainda não chamaram meu pai na escola. Porque eu sei que se tivesse chamado ele já estaria fazendo churrasco com o meu fígado.Estou quase desistindo desse baile chato e subindo para o meu quarto quando meu irmão apresenta a noiva. Ele parece confuso e se afasta com ela.— Aquela não é a Bela — meu pai comenta ao se aproximar de mim. Ele é o único aqui em casa que já viu a filha do Dubois. Disse que a viu uma vez e que ela não se parece em nada com a loira que sa
Deixo a mensagem de voz e rio olhando o teto. Rio da minha própria atitude.— Covarde! Isso não foi uma despedida. Isso foi implorar.Fico nessa mesma posição por horas. O quarto vai ficando mais claro e percebo que a luz da lua foi substituída pela luz do sol.Levanto da cama e saio do quarto. Ainda estou com a roupa do baile e com sangue seco na mão. O corte superficial parou de sangrar sozinho.Antes que eu possa questionar o motivo de estar fazendo isso, meu punho fechado já atinge a porta do quarto do meu irmão.Ninguém abre a porta. Estou prestes a bater novamente quando ela se abre e Henry aparece quase nu.— Que visão horrível para se ter de manhã. — Cubro meus olhos teatralmente— Que horas são, Raoul? O que você quer? — ele se mostra mal humorado.Olho no relógio e respondo:— São 7:45hs. E eu não dormi ainda. Não consigo parar de pensar em uma coisa e você precisa me ajudar. Quero saber por que alguém fica com raiva se você mata alguém que a ofendeu.Primeiro vou perguntar
RAOUL— Pai — chamo. Aproveito a ausência do meu irmão para falar da parte que acho mais séria em tudo que aconteceu nesses dias. Ele só me olha, esperando enquanto bebe seu café puro. — Quase matar aquele idiota não foi a única coisa que fiz — confesso.— O que houve?— Eu levei a Carmine para uma festa e nossas bebidas foram batizadas. — Meu pai espera, sabe que nada de bom sairá dos meus lábios. — Alguém abusou dela.— O que? — ele levanta tão bruscamente que seu café derrama sobre a mesa. Agora é ele que parece pronto para cometer um assassinato. — Me conta isso direito, Raoul.— Eu não sei mais que isso. Ela não quer mais falar comigo e não me lembro de muita coisa daquela noite. — Passo as mãos nos cabelos. — Eu só faço merda. O Henry está certo. Eu devia colocar fogo naquela fraternidade e queimar com eles.— Não diga merda.— Merda é o que sempre faço, pelo jeito.— Você quase matou um cara por causa da sua amiga. Não tem culpa da merda que aconteceu naquela festa se suas bebi
CARMINEComo não preciso ir ao colégio, acordei mais tarde hoje. É uma surpresa encontrar meu pai com a roupa de trabalho, sentado diante da mesa da cozinha com o notebook aberto.— Bom dia, pai.— Bom dia, minha querida.Olho o site aberto e vejo que é sobre vagas de emprego.— Eles já te demitiram?Eu sabia que iria acontecer algo assim, só não esperava que fosse tão rápido.— Alegaram cortes. — Ele dá de ombros.— O senhor Seven vai se responsabilizar por isso, pai. Da mesma forma que você e a mamãe fariam se fosse eu no lugar do Raoul.— Não precisa disso, minha querida. Seu pai não está tão por fora das tendências ainda. E não sei se quero me envolver nos trabalhos daquela família.E eu também não quero isso.— Me sinto tão culpada.— Sem motivo. — Aponta a cadeira a sua frente. — Agora tome seu café antes que chegue o horário do almoço, dorminhoca.Obedeço o meu pai e aproveito que nós dois estamos de “folga” para passar o dia com ele.Somos tão amigos que raramente me lembro qu
RAOULDesço do carro na frente da fraternidade, onde Leslie me avisou que estaria. Preciso conversar com ela e tentar entender o que aconteceu naquela festa.Olho o maldito local e minha vontade de colocar fogo só aumenta.— Oi, meu lindo! — Leslie pula no meu pescoço e rouba um beijo. Nem notei sua aproximação.Seguro os braços dela e a afasto.— Sabe que não gosto disso.Com um bico emburrado ela se afasta e começa a andar rebolando a bunda no short jeans. Isso até me excitaria, em uma outra vida. A vida antes de descobrir quem é a única mulher que meu corpo deseja.— Tudo bem. Achei que isso tenha mudado depois da festa. — Me olha e me chama, ao perceber que ainda estou parado no mesmo lugar. — Venha.Caminho devagar em sua direção. O dia está tão quente que sinto suor molhando minha camisa azul. Preciso de um banho de mar e água de coco.— Por que achou isso?Ela franze a testa enquanto abre a porta de vidro.— Não se lembra do que houve? — pergunta.Pelo jeito mais desastres acon
CARMINEÉ como o primeiro dia de aula. Todos os olhares são em minha direção. Meus pais me trouxeram, não tive coragem de pedir ao Raoul que viesse me buscar com o motorista, não depois de ter mentido que não estava em casa naquele dia. Ele deve estar puto.De longe vejo minhas amigas de sala. Aceno para elas, mas elas andam rapidamente para longe de mim. É como naqueles filmes em que a garota popular perde a popularidade, com a única diferença que nunca fui popular, era só alguém. E parece que nem isso sou mais.Não me atrevo a acenar para mais ninguém. Todos me ignoram como se eu fosse uma pessoa com doença contagiosa. Parece que todas as amizades que cultivei aqui eram falsas. Nem mesmo Nick, que eu considerava minha amiga de verdade, se aproxima. Ela apenas me olha de longe e foge quando estou perto.Nada de Raoul. Talvez ele nem venha hoje. Por mais que eu tenha medo de saber o quanto ele está puto com meu “tempo”, ainda quero muito vê-lo, falar com ele. Sinto tanta falta do meu