RAOUL— Pai — chamo. Aproveito a ausência do meu irmão para falar da parte que acho mais séria em tudo que aconteceu nesses dias. Ele só me olha, esperando enquanto bebe seu café puro. — Quase matar aquele idiota não foi a única coisa que fiz — confesso.— O que houve?— Eu levei a Carmine para uma festa e nossas bebidas foram batizadas. — Meu pai espera, sabe que nada de bom sairá dos meus lábios. — Alguém abusou dela.— O que? — ele levanta tão bruscamente que seu café derrama sobre a mesa. Agora é ele que parece pronto para cometer um assassinato. — Me conta isso direito, Raoul.— Eu não sei mais que isso. Ela não quer mais falar comigo e não me lembro de muita coisa daquela noite. — Passo as mãos nos cabelos. — Eu só faço merda. O Henry está certo. Eu devia colocar fogo naquela fraternidade e queimar com eles.— Não diga merda.— Merda é o que sempre faço, pelo jeito.— Você quase matou um cara por causa da sua amiga. Não tem culpa da merda que aconteceu naquela festa se suas bebi
CARMINEComo não preciso ir ao colégio, acordei mais tarde hoje. É uma surpresa encontrar meu pai com a roupa de trabalho, sentado diante da mesa da cozinha com o notebook aberto.— Bom dia, pai.— Bom dia, minha querida.Olho o site aberto e vejo que é sobre vagas de emprego.— Eles já te demitiram?Eu sabia que iria acontecer algo assim, só não esperava que fosse tão rápido.— Alegaram cortes. — Ele dá de ombros.— O senhor Seven vai se responsabilizar por isso, pai. Da mesma forma que você e a mamãe fariam se fosse eu no lugar do Raoul.— Não precisa disso, minha querida. Seu pai não está tão por fora das tendências ainda. E não sei se quero me envolver nos trabalhos daquela família.E eu também não quero isso.— Me sinto tão culpada.— Sem motivo. — Aponta a cadeira a sua frente. — Agora tome seu café antes que chegue o horário do almoço, dorminhoca.Obedeço o meu pai e aproveito que nós dois estamos de “folga” para passar o dia com ele.Somos tão amigos que raramente me lembro qu
RAOULDesço do carro na frente da fraternidade, onde Leslie me avisou que estaria. Preciso conversar com ela e tentar entender o que aconteceu naquela festa.Olho o maldito local e minha vontade de colocar fogo só aumenta.— Oi, meu lindo! — Leslie pula no meu pescoço e rouba um beijo. Nem notei sua aproximação.Seguro os braços dela e a afasto.— Sabe que não gosto disso.Com um bico emburrado ela se afasta e começa a andar rebolando a bunda no short jeans. Isso até me excitaria, em uma outra vida. A vida antes de descobrir quem é a única mulher que meu corpo deseja.— Tudo bem. Achei que isso tenha mudado depois da festa. — Me olha e me chama, ao perceber que ainda estou parado no mesmo lugar. — Venha.Caminho devagar em sua direção. O dia está tão quente que sinto suor molhando minha camisa azul. Preciso de um banho de mar e água de coco.— Por que achou isso?Ela franze a testa enquanto abre a porta de vidro.— Não se lembra do que houve? — pergunta.Pelo jeito mais desastres acon
CARMINEÉ como o primeiro dia de aula. Todos os olhares são em minha direção. Meus pais me trouxeram, não tive coragem de pedir ao Raoul que viesse me buscar com o motorista, não depois de ter mentido que não estava em casa naquele dia. Ele deve estar puto.De longe vejo minhas amigas de sala. Aceno para elas, mas elas andam rapidamente para longe de mim. É como naqueles filmes em que a garota popular perde a popularidade, com a única diferença que nunca fui popular, era só alguém. E parece que nem isso sou mais.Não me atrevo a acenar para mais ninguém. Todos me ignoram como se eu fosse uma pessoa com doença contagiosa. Parece que todas as amizades que cultivei aqui eram falsas. Nem mesmo Nick, que eu considerava minha amiga de verdade, se aproxima. Ela apenas me olha de longe e foge quando estou perto.Nada de Raoul. Talvez ele nem venha hoje. Por mais que eu tenha medo de saber o quanto ele está puto com meu “tempo”, ainda quero muito vê-lo, falar com ele. Sinto tanta falta do meu
Estou quase tendo um infarto de ansiedade por causa desse luau... quer dizer, pelo que pretendo fazer nesse luau.O motorista do Raoul me deixa na porta de casa depois da aula. E ele me faz prometer, pela enésima vez, que vou ao luau.Quando finalmente entro em casa, encontro minha mãe e meu pai no sofá aos beijos. Comportados, mas aos beijos. Acho lindo como eles se amam, como demonstram esse carinho.— Estão de férias, casal da minha vida?Eles se afastam rapidamente quando me escutam. É meio engraçado de se ver. Como dois adolescentes pegos no flagra.— Não, querida. Aproveitei meu banco de horas pra olhar um local onde pode ser a sorveteria. — Mamãe responde. Enquanto papai se ajeita no sofá.— E ai, gostaram?— É perfeito. Tem uma vista linda pro mar, mas é bem salgado o aluguel.— Eu tenho quase dez anos de mesada rendendo na conta do Nate. Acha que ajuda? — ofereço.Os dois me olham como se eu tivesse dito um absurdo.— Como assim, filha? Não usou nossa mesada? — papai question
RAOULTudo ficou mais claro e no lugar certo depois de finalmente ver Carmine sorrir para mim outra vez. Ouvir sua risada é como ter um lenço imaculado limpando a minha alma suja.E para deixar o dia ainda mais divertido, meu pai permitiu minha presença no resgate a Florian. Alguém invadiu a clínica onde meu irmão passa a maior parte do tempo, tentando lidar com suas personalidades.Henry não está muito contente. Além de ter nosso irmão em risco ainda atrapalhamos a foda dele com seu novo brinquedinho.Adam parece maior do que a última vez que o vi, semanas atrás.— Vai levar o moleque? — ele questiona ao nosso pai, como se eu não estivesse presente.Só pelo moleque, eu atiro perto do seu pé. O fera nem se mexe, parece não temer morrer. O cara é foda, tem meu respeito.— Mais uma dessas e você fica. — Já meu pai, está puto com meu gesto.— Não farei nada parecido — digo, antes que Amaymon decida que sou jovem demais até para resgatar meu irmão.Quando chegamos na clínica, o caos está
RAOUL— Bora? — Felipe aparece diante da cama depois que digo que ele pode entrar.Estou deitado, apenas com a calça do moletom, pensando nos últimos acontecimentos.Olho para ele e vejo que está com uma roupa de quem está pronto para uma partida de basquete.— Já é!Rapidamente coloco uma roupa parecida e descemos até a quadra de basquete, depois das piscinas.— Você parece feliz ou é impressão minha? — comento enquanto nos aquecemos.— Eu senti a Aurora segurar a minha mão. O médico diz que é impressão minha, mas eu sei o que senti — responde empolgado.— Espero que ela desperte em breve.— Ela irá, maninho. Sinto que irá.Jogamos por horas, em um silêncio confortável, diferente de Henry, Felipe é mais calado. E eu gosto disso nele, nem sempre quero ou sei o que conversar. Na maioria das vezes prefiro o silêncio.Depois do jogo cada um seguiu seu caminho.E ao lembrar que Bela viria em casa e de uma conversa em que ouvi Henry falando que ela seria entregue a Adam, os dois querendo o
CARMINESabe aquelas cenas ridículas de gente treinando declaração na frente do espelho... protagonizei várias. Paguei até o mico de minha mãe gravar, claro que sem minha permissão, só notei porque ela caiu na gargalhada e fugiu com o celular pelo corredor. Corri atrás, mas não alcancei a tempo. Ela entrou no quarto e se trancou. Ainda preciso fazer ela apagar o vídeo antes que ele apareça em algum telão em algum momento decisivo da minha vida. Aniversário, formatura... sei lá. Seria o desastre da vergonha.Por enquanto vou atrás de tentar pelo menos lembrar qualquer coisa que ensaiei. O frio na barriga torna minha mente uma bagunça.Sim. Aqui estou eu, saindo do Uber com uma saída de praia vermelha e um biquini colorido, além de muita ansiedade. Não sei o que Raoul quer me contar, e isso me mata de curiosidade e medo, por isso eu quero ser a primeira a falar. Ou o que ele disser pode me fazer desistir. Preciso conversar sobre meus sentimentos com Raoul de uma vez por todas.Chego na