CARMINEÉ como o primeiro dia de aula. Todos os olhares são em minha direção. Meus pais me trouxeram, não tive coragem de pedir ao Raoul que viesse me buscar com o motorista, não depois de ter mentido que não estava em casa naquele dia. Ele deve estar puto.De longe vejo minhas amigas de sala. Aceno para elas, mas elas andam rapidamente para longe de mim. É como naqueles filmes em que a garota popular perde a popularidade, com a única diferença que nunca fui popular, era só alguém. E parece que nem isso sou mais.Não me atrevo a acenar para mais ninguém. Todos me ignoram como se eu fosse uma pessoa com doença contagiosa. Parece que todas as amizades que cultivei aqui eram falsas. Nem mesmo Nick, que eu considerava minha amiga de verdade, se aproxima. Ela apenas me olha de longe e foge quando estou perto.Nada de Raoul. Talvez ele nem venha hoje. Por mais que eu tenha medo de saber o quanto ele está puto com meu “tempo”, ainda quero muito vê-lo, falar com ele. Sinto tanta falta do meu
Estou quase tendo um infarto de ansiedade por causa desse luau... quer dizer, pelo que pretendo fazer nesse luau.O motorista do Raoul me deixa na porta de casa depois da aula. E ele me faz prometer, pela enésima vez, que vou ao luau.Quando finalmente entro em casa, encontro minha mãe e meu pai no sofá aos beijos. Comportados, mas aos beijos. Acho lindo como eles se amam, como demonstram esse carinho.— Estão de férias, casal da minha vida?Eles se afastam rapidamente quando me escutam. É meio engraçado de se ver. Como dois adolescentes pegos no flagra.— Não, querida. Aproveitei meu banco de horas pra olhar um local onde pode ser a sorveteria. — Mamãe responde. Enquanto papai se ajeita no sofá.— E ai, gostaram?— É perfeito. Tem uma vista linda pro mar, mas é bem salgado o aluguel.— Eu tenho quase dez anos de mesada rendendo na conta do Nate. Acha que ajuda? — ofereço.Os dois me olham como se eu tivesse dito um absurdo.— Como assim, filha? Não usou nossa mesada? — papai question
RAOULTudo ficou mais claro e no lugar certo depois de finalmente ver Carmine sorrir para mim outra vez. Ouvir sua risada é como ter um lenço imaculado limpando a minha alma suja.E para deixar o dia ainda mais divertido, meu pai permitiu minha presença no resgate a Florian. Alguém invadiu a clínica onde meu irmão passa a maior parte do tempo, tentando lidar com suas personalidades.Henry não está muito contente. Além de ter nosso irmão em risco ainda atrapalhamos a foda dele com seu novo brinquedinho.Adam parece maior do que a última vez que o vi, semanas atrás.— Vai levar o moleque? — ele questiona ao nosso pai, como se eu não estivesse presente.Só pelo moleque, eu atiro perto do seu pé. O fera nem se mexe, parece não temer morrer. O cara é foda, tem meu respeito.— Mais uma dessas e você fica. — Já meu pai, está puto com meu gesto.— Não farei nada parecido — digo, antes que Amaymon decida que sou jovem demais até para resgatar meu irmão.Quando chegamos na clínica, o caos está
RAOUL— Bora? — Felipe aparece diante da cama depois que digo que ele pode entrar.Estou deitado, apenas com a calça do moletom, pensando nos últimos acontecimentos.Olho para ele e vejo que está com uma roupa de quem está pronto para uma partida de basquete.— Já é!Rapidamente coloco uma roupa parecida e descemos até a quadra de basquete, depois das piscinas.— Você parece feliz ou é impressão minha? — comento enquanto nos aquecemos.— Eu senti a Aurora segurar a minha mão. O médico diz que é impressão minha, mas eu sei o que senti — responde empolgado.— Espero que ela desperte em breve.— Ela irá, maninho. Sinto que irá.Jogamos por horas, em um silêncio confortável, diferente de Henry, Felipe é mais calado. E eu gosto disso nele, nem sempre quero ou sei o que conversar. Na maioria das vezes prefiro o silêncio.Depois do jogo cada um seguiu seu caminho.E ao lembrar que Bela viria em casa e de uma conversa em que ouvi Henry falando que ela seria entregue a Adam, os dois querendo o
CARMINESabe aquelas cenas ridículas de gente treinando declaração na frente do espelho... protagonizei várias. Paguei até o mico de minha mãe gravar, claro que sem minha permissão, só notei porque ela caiu na gargalhada e fugiu com o celular pelo corredor. Corri atrás, mas não alcancei a tempo. Ela entrou no quarto e se trancou. Ainda preciso fazer ela apagar o vídeo antes que ele apareça em algum telão em algum momento decisivo da minha vida. Aniversário, formatura... sei lá. Seria o desastre da vergonha.Por enquanto vou atrás de tentar pelo menos lembrar qualquer coisa que ensaiei. O frio na barriga torna minha mente uma bagunça.Sim. Aqui estou eu, saindo do Uber com uma saída de praia vermelha e um biquini colorido, além de muita ansiedade. Não sei o que Raoul quer me contar, e isso me mata de curiosidade e medo, por isso eu quero ser a primeira a falar. Ou o que ele disser pode me fazer desistir. Preciso conversar sobre meus sentimentos com Raoul de uma vez por todas.Chego na
Eu sou muito idiota mesmo de achar que Raoul pelo menos entenderia que eu precisava de sua colaboração, para não sair como a ridícula dessa cena lastimável.Se nem um beijo ele conseguiu me dar... Essa é a resposta para a minha declaração não feita? Ele não sente nada mais que amizade por mim?Por que eu fiz isso? Devia ter conversado com ele em particular, mas acabei me deixando levar pela raiva daquelas pessoas falsas e passando essa vergonha. Como vou encarar Raoul agora? Que merda! Que humilhação!Nunca mais volto naquela escola. Aposto que serei o comentário nos próximos dias, o motivo das piadas. Nunca mais vou sair de casa.Não, eu vou me mudar para um lugar isolado no fim do mundo sem sinal de nada. Só não pode ser a Sibéria, ou corre o risco de encontrar Raoul lá.Que vergonha! Literalmente corro enquanto o ouço me chamar.— Carmine, espera.Agora não, Raoul. Corro mais rápido.Obvio que ele me alcança com a maior facilidade e segura meu braço.— Por que fez aquilo? Por que
RAOULSim, vamos conversar depois. Alguma coisa mudou nos nossos sentimentos, sei disso. E eu não vou voltar atrás. Gosto mais do que sinto por ela agora. E aquele beijo... Porra, o que foi aquilo? Ainda sinto o gosto de Carmine em mim. Só de lembrar meu pau fica duro.— Já voltaram? — Só percebo que já cheguei em casa quando meu pai pergunta.— Só eu voltei. Espero que isso não aumente meu castigo.— Algum problema?Abro a boca para falar, mas vejo que ele parece pronto para sair.— Esquece. Vá no seu compromisso, seja lá qual for.— Meu único compromisso é com meus filhos. Vamos sentar e falar sobre isso.Dou de ombros.Vinte minutos depois meu pai já tinha arrancado tudo de mim.— Vocês estão complicando demais essa história. — É tudo o que ele diz antes de me brindar com um silêncio de reflexão.Depois de um tempo, pergunto:— Pai, o senhor está saindo com alguém?Ele engasga. Isso é um claro sim.Sorrio.— Calma, velho. Não é uma acusação.— Estou conhecendo uma pessoa. É complic
RAOULLigo para Carmine mais de dez vezes. Nada.Me pergunto se ela vai fugir depois do beijo do mesmo jeito que fugiu depois de me encontrar arrebentando o babaca do Kaio.Ela não vai continuar nos afastando assim. Se não vai me atender, vou sem avisar. Chega de dar tempo a essa teimosa.Como acabei de sair do banho, coloco o primeiro jeans e camiseta que encontro.Saio da casa rapidamente, mas encontro meu pai no caminho.— Onde pensa que vai, meu filho castigado?Esqueci completamente do detalhe do castigo.— Posso ver a Carmine, pai? — peço.— Esqueceu que está de castigo?— Não esqueci. — Droga! — Eu espero até no colégio — digo já voltando.— Pode ir.Eu realmente ouvi isso? Olho para ele com minha melhor expressão de “o que?”.Ele ri. Significa que realmente deu permissão.Começo a andar antes que mude de ideia, e ele me chama.— Filho — olho para ele —, seja mais teimoso quando te proibirem de ter o que te faz feliz.— Mesmo quando o senhor diz não?— Exatamente.Apenas sorrio