Ranjo os dentes, minha paciência sendo testada mais uma vez. Uma mistura de decepção e amargura toma conta de mim, mas me esforço para parecer indiferente.— Não. E não quero saber. — Minto sem hesitar.Ela não parece convencida, mas não insiste.— Ele já sabe, né? Que vamos nos casar?Minha mandíbula trava. As palavras dele com certeza foram mais que diretas, e eu sei que ele já fez seus próprios planos. Mas não posso deixar Isabela perceber isso.— Sabe. — Admito. — E é por isso que precisamos seguir em frente, sem nos preocuparmos com o que ele pensa ou quer.Ela observa meu rosto por um longo momento, como se tentasse entender o que está por trás das minhas palavras. Finalmente, assente levemente, e vejo uma faísca de confiança em seus olhos.E nesse instante, faço um juramento silencioso: eu não vou falhar com ela.Os olhos verdes de Isabela se fixam nos meus, um brilho relutante os tornando ainda mais hipnotizantes. Ela acena com a cabeça, um gesto simples, mas carregado de sign
Sento-me na minha cama, jogando meu corpo para trás, como se o peso do passado pudesse ser aliviado com esse gesto simples. Mas não é tão fácil. Imagens tristes e intensas invadem minha mente, rasgando o véu de controle que tento manter. Quando Isabela me disse que estava grávida, não fazia ideia da profundidade de sua ligação com Zein. Era um mistério que me torturava silenciosamente. Então, como se o destino já não fosse cruel o suficiente, Zein morreu, e a árdua tarefa de contar a ela recaiu sobre mim.Engoli minha própria dor, sufocando emoções que ameaçavam escapar. Peguei o telefone e, com a voz mais firme que consegui, pedi que ela fosse ao hotel. Numa sala reservada, ao lado do saguão principal, esperei. O tempo parecia uma entidade cruel, arrastando-se enquanto meu coração martelava com angústia. Estava arrasado, nervoso, e uma tristeza sufocante pairava como uma névoa densa.Quando ela entrou no saguão, levantei-me imediatamente. Meu corpo se moveu com a determinação de quem
O jatinho, parte da frota real das Organizações Ibrahim, corta o céu com elegância enquanto decola. Isabela está sentada de frente para mim, com os olhos apertados em apreensão. Tento suavizar o ambiente, oferecendo um sorriso que espero transmitir confiança, mas ela mantém sua expressão indecifrável, quase desafiadora.Seu peito arfa levemente, mas suas palavras são silenciadas por uma barreira que parece intransponível. Sei que, apesar de estar grata por eu tê-la tirado das garras do meu pai, ela ainda sente a tensão de estar sob o meu domínio. Esse desapontamento nos olhos dela é como uma agulha constante na minha consciência.Preciso mudar isso. Ela precisa sentir que pode ser ela mesma ao meu lado, tão à vontade que até esqueça o peso de ser, em essência, minha cativa.— Quer comer algo? Beber algo? — Pergunto, acenando para o comissário de bordo.— Sim, estou com sede.Eu fungo levemente, a frustração escorrendo em minha voz.— Por que não me disse? Quero que se sinta à vontade
Respiro fundo e aceito o jornal que o comissário me oferece, tentando ocupar a mente. As palavras dançam na minha frente, mas nenhuma delas me prende. Viro uma página atrás da outra, até que uma matéria sobre a morte de Zein surge diante de mim.Uma onda de desgosto me invade, e empurro o jornal para longe. As imagens de Zein, sempre sorridente, exibindo seus carros esportivos com aquele ar de invencibilidade, invadem minha mente sem permissão. A dor é aguda, não pela perda em si, mas por tudo que ficou entre nós — as palavras não ditas, as mágoas não resolvidas.Eu e Zein nunca fomos unidos. Nossa relação era... conturbada, para dizer o mínimo. Desde crianças, havia uma tensão constante, como se estivéssemos em lados opostos de uma batalha invisível. Zein sempre se comportou como o centro do universo, e nosso pai, junto com minha madrasta, reforçava essa ideia a cada oportunidade.Ele era o "bom filho" — a fachada perfeita de obediência e carisma. Mas eu conhecia a verdade por trás d
Já passa das seis horas da noite quando o Camaro vermelho alugado por Raed finalmente estaciona em frente a uma residência que parece saída de um sonho. Majestosa e imponente, a casa é rodeada por varandas adornadas com jardineiras cheias de flores. Gerânios e jasmins misturam-se ao perfume de primaveras roxas, que se agarram a um pergolado de madeira vermelha na entrada, criando um cenário quase etéreo.Raed desliga o motor e olha para mim por um breve momento antes de sair do carro. Assim que abro a porta, um vento suave traz o aroma das flores, como se a própria casa estivesse nos dando as boas-vindas.A porta da frente se abre, revelando uma senhora idosa de cabelos grisalhos cuidadosamente presos. Ela é rechonchuda e irradia calor humano. Para no topo da escada com um sorriso largo.— Venha, vamos conhecer Donatela, a governanta. — Raed diz, segurando minha mão. O toque dele é firme, mas me surpreendo ao perceber uma sensação de conforto em seus gestos.— Vossa excelência, que bo
— Sim, estava tudo muito gostoso. — Respondo, a sensação de estar cheia de mais uma boa comida aquecendo minha alma.— Donatela cozinha muito bem. — Ele diz com um sorriso, claramente satisfeito.Donatela entra na sala de jantar com um sorriso, provavelmente feliz com o elogio.— Que bom que gostaram. — Ela diz, os olhos brilhando com a satisfação de um trabalho bem feito.Raed sorri descontraído para ela, e eu noto que, mesmo após um jantar simples, ele consegue ficar ainda mais bonito. Há algo nele quando sorri sem reservas, uma leveza que contradiz a sua postura controlada de sempre. Esse sorriso, descontraído e genuíno, é como se ele revelasse uma outra faceta de si mesmo, uma que é difícil de ignorar.— Vem, vamos até a varanda? — Ele me convida, estendendo a mão, e a oferta de continuar a noite fora parece um convite irresistível, uma forma de prolongar aquele momento que ainda parece ter tanto por revelar.A expressão em seu rosto me demonstra que ele está com receio da minha r
IsabellaAs sobrancelhas dele quase se unem, a boca se forma numa linha quase reta, o maxilar fica tenso quando ele ouve do outro lado. Eu dou um tempo, mas a curiosidade é grande e me levanto, entro para dentro, me enveredando pelos cantos da casa. Raed está na sala de jantar, e mesmo à distância, sinto a tensão em seu corpo.— Camily, não insista. Eu vou me casar, está resolvido. — A voz dele está mais firme, mas, mesmo assim, posso ouvir o desconforto no tom. Ele se cala por um momento, e a pressão no ar aumenta. — E daí que vou me casar por causa da criança? Ela precisa de um pai, uma família normal que eu não tive. Foi meu pai que te pediu para me ligar, não foi? Não me liga mais. Eu vou bloquear esse número e todos que você usar para me ligar. Aliás, eu vou mudar de linha. Khara! — A última palavra sai entre dentes, como um veneno amargo.Eu fungo, respirando fundo enquanto me encaminho até a sacada. O vento parece me acalmar um pouco, mas as palavras de Raed ainda ressoam em mi
— Você questiona demais! Deveria ter se questionado assim antes de abrir suas pernas para o meu irmão.As palavras caem como uma bomba, uma explosão que destrói qualquer vestígio de confiança que ela pudesse ter em mim. Ela fica vermelha, o rosto se tornando um reflexo de sua ira. Eu vejo a frustração em seus olhos, e de repente me dou conta de que só piorei as coisas. Eu sou incapaz de ver o que ela realmente precisa, de perceber os limites entre nós.Ela se vira para sair, mas algo dentro de mim a puxa de volta. Eu avanço em sua direção, meu corpo tenso, e a seguro pelo braço. Ela tenta se livrar da minha mão, mas meus dedos se fecham como garras, incapazes de soltá-la.— Isabela.— Me solta! — ela grita, sua voz agora cheia de desespero. Eu vejo o medo, a raiva e a frustração se misturando, mas não consigo deixar de segui-la, de manter essa proximidade que me consome.Eu respiro de forma irregular, a tensão em meu corpo quase me quebrando. Mas não posso permitir que ela me fuja. El