A noite foi terrível. Não consegui dormir direito. Passei as horas observando Raed dormindo. Acho lindo a forma como ele segura o travesseiro. Fico reparando em suas pestanas e como elas são perfeitas, compridas. A luz do luar banhando o corpo dele, revelando seus braços fortes e poderosos, suas costas largas, musculosas.Quando eu estou quase pegando no sono, ele se mexe e seus braços me procuraram para um abraço. Aconchegada a eles eu fecho os olhos e finalmente consigo dormir.Acordo dez para às oito. Raed ainda dorme. Os minutos passam. Aos poucos Raed começa a abrir os olhos e logo eles procuram meus olhos.—Sabāha l-ḫair (Bom dia). —Eu digo, com um leve sorriso.Raed me dá um sorriso fraco e me puxa para os seus braços.— Sabāha l-ḫair. Allah! Como eu dormi!Ele me afasta e me olha.—Sim, desde ontem à tarde. —Digo.—E você? Deitou cedo ontem? Você parece abatida.Eu enceno um sorriso.—Demorei para pegar no sono. Depois que você dormiu, fui até a sala de música e brinquei de to
Pensei em várias possibilidades de senha, tentando conectar datas importantes ou combinações óbvias. Desisti por ora e fui para a sala de jantar, onde Hamira apareceu.— Quer mais alguma coisa?— Não, obrigada. Quando Raed ligar, quero falar com ele.— Está certo.De volta ao quarto, comecei a arrumar uma bolsa com roupas leves. Precisava ser prática. Estava finalizando quando Hamira bateu à porta.— O príncipe.Peguei o telefone na sala, sabendo que ele mantinha o aparelho longe de mim como um lembrete de minha falta de liberdade.— Raed?— Consegui marcar sua consulta para hoje à tarde, às 13 horas. Já falei com Hamira, e ela irá com você — informou Raed, com sua habitual voz firme e calma.— Raed, eu preciso de algumas coisas. Preciso de dinheiro — interrompi, tentando soar neutra.Do outro lado da linha, o silêncio foi palpável. Eu sabia que havia mexido em um terreno delicado.— O que você precisa? Eu mando comprar para você — ele respondeu, com um tom levemente defensivo.Era ex
RaedDepois do telefonema de Hamira volto para casa como um louco. Dirigindo pelas ruas como se tivesse participando de um racha com alguém. Estaciono meu carro e salto dele o deixando com a porta aberta. Ofegante, entro no palácio. Hamira já me espera, ela sentiu como eu estava nervoso ao telefone quando ela me ligou dizendo que Isabella tinha sumido.—Por Allah! Hamira. Explique-me isso direito. —Esbravejo. — Como Isabella foi embora? Como?Ela chora.—Depois do procedimento, ela simplesmente me deu um beijo e saiu. Eu fiquei aturdida olhando ela ir embora, sem entender seu gesto. —Então vocês chegaram a ir ao médico?—Sim. —Hamira me olha ofegante. —Ela perdeu o bebê.Eu estremeço.—Como assim, ela perdeu o bebê? Se ela tivesse perdido, nós saberíamos, não saberíamos?Hamira aperta as mãos em aflição.—Nem sempre. Ela pode ter perdido o bebê e não ter falado nada. A ultrassom revelou que havia tecidos placentários apenas. Eu até me admirei com a atitude dela, era como se ela já e
PrólogoTrabalhar para a realeza já é, por si só, uma tarefa árdua. Agora, trabalhar para uma realeza árabe? Multiplique isso por dez. Desde o início, tive que assumir uma postura séria, controlar sorrisos e me adaptar às rígidas regras de conduta. Meu chefe é um Sheik, e estou neste emprego há apenas seis meses.Na cultura ocidental, a palavra "sheik" remete a status social, riqueza, fama e poder. Mas essa visão é apenas a ponta do iceberg. Ser Sheik é ocupar uma posição de respeito e destaque, algo muito mais profundo.O título é reservado aos chefes de famílias árabes, clãs ou tribos, geralmente seguidores fervorosos de Maomé. Em sua essência, o título de Sheik é passado de pai para filho em sociedades patriarcais. No caso de Youssef, ele é líder de uma aldeia árabe. Forte, generoso, devoto em ajudar os pobres – mas, também, incrivelmente machista. Isso explica meu atual guarda-roupa: roupas sóbrias, tons escuros, coberturas completas.Tenho 22 anos e fui contratada como intérprete
— Como assim?Minha voz sai trêmula, e o peso daquelas palavras de Raed parece esmagar o ar ao meu redor.— Isabela, você não é o tipo de garota que meu pai sonha para o meu irmão. Quando ele souber que Zein está interessado em uma humilde assistente, ele irá contra esse relacionamento. E Zein não vai aguentar a pressão. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco: o seu.Sinto um calor subir pelo meu rosto, uma mistura de indignação e desconforto.— Você está enganado. Zein...— Zein é um fraco — Raed me interrompe, a voz cortante como uma lâmina. — Depende de meu pai para tudo. Ele não faz nada sem a orientação dele. Eu até me surpreendi quando ele falou de você.Tento segurar o que restou da minha compostura. Meu coração martela no peito enquanto me levanto abruptamente do sofá.— Bem, obrigada por vossa preocupação.Raed se levanta também, um movimento calculado, mas firme.— Por favor, não me leve a mal. Mas, quando ele me contou tudo, senti a necessidade de avisá-la.Eu o encaro
Meu coração dá um salto de esperança com a palavra "solução", mas logo a realidade me atinge como um balde de água fria. Raed nunca faz nada sem um motivo oculto.— Você me ajudará a fugir? — pergunto, minha voz carregada de uma esperança tola, quase infantil.Raed ri, e o som me desconcerta. Seu rosto se suaviza por um instante, e ele parece ainda mais charmoso. No entanto, há algo na maneira como ele ri que me faz sentir pequena, tola. Sinto uma pressão crescente na cabeça, enquanto tento adivinhar qual será sua resposta.— Não. Claro que não!Minha esperança se despedaça, e aperto os lábios para conter a frustração.— Se não vai me ajudar a sair daqui, o que você tem a propor? — pergunto, tentando manter a voz firme.Ele me encara por um momento, os olhos sérios, como se estivesse pesando cada palavra antes de proferi-la.— Você se casará comigo e, assim, poderá ser a mãe legítima de seu filho.Fico estupefata.— Mas eu sou a mãe! — exclamo, incapaz de esconder minha incredulidade.
— Você está se sentindo bem agora? — A voz de Raed é grave, mas há uma suavidade inesperada nela enquanto ele passa a mão pela minha testa, afastando a fina camada de suor frio.Meu coração se aperta quando encontro o olhar intenso dele. Aqueles olhos, sempre tão impenetráveis, agora parecem carregar algo que não consigo decifrar. Engulo em seco, desconcertada.Ele retira a mão com calma, e eu me sento contra os travesseiros, tentando recuperar algum controle sobre mim mesma.— Sim, foi só um mal-estar. — Minha voz sai mais fraca do que eu gostaria. — O Sheik não está estranhando sua atitude de vir toda hora ao meu quarto?Um leve sorriso curva os lábios de Raed, mas não alcança seus olhos.— Você não está no palácio dele, mas no meu.Piscar é a única reação que consigo esboçar.— No seu?— Sim.— Por... por que no seu? — minha voz treme de surpresa.— Porque achei melhor assim. — A resposta é seca, firme, sem espaço para perguntas. — O clima está muito ruim lá, e você precisa de paz,
A luz do quarto me desperta aos poucos, forçando meus olhos a se abrirem. O cheiro suave do perfume de Raed paira no ar, denso e perturbador, como se ele tivesse deixado sua marca ali. Isso é suficiente para me tirar de qualquer estado de letargia.Levanto-me e o procuro com o olhar. Ele está na sacada, de costas para mim, encarando o horizonte. Seu terno cinza chumbo, impecavelmente ajustado, parece uma extensão de sua personalidade controladora.Limpo a garganta, quebrando o silêncio. Ele se vira lentamente, e minha atenção é atraída para seus cabelos penteados para trás com perfeição. A camisa cinza clara combina com o terno e a gravata preta que carrega tons sutis de cinza. Tudo nele é um exemplo de ordem e controle, uma contradição ao caos dentro de mim.— Sabah alkhayr. — Minha voz soa mais firme do que me sinto.— Sabah alkhayr.Ele dá um passo em minha direção, e sinto meu corpo se preparar para o impacto de sua presença. Não consigo evitar o instinto de quase me encolher, mas