César, o médico-chefe da Alcateia de Prata, examinava o seu paciente com uma carranca dolorosa, proferindo maldições abafadas de vez em quando. -Como é que ele está? -Hades mantinha-se à distância, ansioso, e sem notícias há algum tempo. -Agora não, alfa, deixa-me acabar o meu trabalho- disse mais bruscamente do que pretendia, deitando fora a sua raiva acumulada, -Por favor, vá-se embora- pediu mais calmamente, afinal de contas, estava a dirigir-se ao seu alfa. Hades limitou-se a acenar com a cabeça e saiu da sala para ir ao encontro dos rostos amargos de Nicholas e Liam, que, apesar das ligaduras no corpo, tinham insistido em estar ali. Não se incomodou com o tom de César. O lobo tinha quase 300 anos de idade e ele sabia que reagir daquela forma era uma indicação de que a situação estava para além da sua compreensão. Rosnou interiormente, sentindo a raiva a invadir-lhe lentamente o ser. Ainda se lembrava da sensação da forma dos ossos na pele da loba, quando ele a carregava nos
Os três lobos olharam para ele em choque. -O estado dela é terrível, mesmo para tratar. Pelo estado do seu corpo, deve ter sido alimentada duas vezes por ano, no máximo, só para se manter viva. A sua pele está cheia de lacerações e feridas, algumas muito infestadas, e sem comida era impossível que ela se curasse sozinha. Os pulsos e os tornozelos estão muito ulcerados, quase até ao osso, devido à ferrugem das grilhetas, que atacou o tecido circundante. Os sentidos dela estão tão afectados que tive de lhe pôr uma solução especial nos olhos para tentar dilatar a pupila, de modo a que ela possa, pelo menos, recuperar gradualmente a visão, mas, por enquanto, vai ficar quase cega- cada palavra tirava a cor dos rostos dos homens. O que mais me preocupa é o estado hormonal desta ómega- César terminou com outra bomba. O sangue de Hades gelou. -O que é que queres dizer? -Ele mal conseguia articular-se. Como sabes, uma loba comum entra no cio uma vez a cada 100 anos, um ómega até três no me
Filhote de cachorro, ela era apenas um filhote de cachorro. Hades repetiu para si mesmo várias vezes enquanto via o corpo deitado ali, muito diferente da menina que tinha em sua mente. Era verdade que ela tinha atingido a maioridade há muito tempo, e que era agora mãe de cinco filhos; isso não invalidava o facto de, aos seus olhos, ela ser ainda demasiado nova para ele. Leoxi olhava para ele, estavam metidos num grande sarilho. Um dia ele era um alfa solitário, sem esperança de ter uma família, e agora tinha cinco crias e quase outra ao seu cuidado. O seu gémeo tinha um olhar de -Tu querias cachorros, agora não te queixes-. -E qual é o método? -Liam voltou a falar com o médico como se não se importasse com mais nenhum problema para além de salvar a sua rainha. -Ela precisa de sangue alfa- foi categórico. Um silêncio cortante invadiu a sala. -Dessa forma, o sangue poderoso e estrangeiro fará o trabalho que o sangue desgastado dela não consegue- explicou. Hades apenas acenou novam
Hades pousou o documento na mesa, passando a mão pela cabeça, escovando inutilmente para trás as madeixas onduladas de cabelo que lhe caíam sobre o rosto. Ele enrugou a ponte do nariz e Leoxi, sentado à sua frente, olhou-o com preocupação. -Porque não vais descansar, pareces exausto? O alfa abanou a cabeça e continuou a ler. -Há demasiadas coisas que tenho de fazer para dormir agora- respondeu, respirando fundo, o cansaço não se dissipava. -Duas ou três horas não vão fazer diferença- insistiu o gémeo, sentindo o cansaço do seu par. Eu faço-o mais tarde, quando a for ver. Depois de lhe dar sangue, posso dormir um par de horas. Ser um viciado em trabalho vai matar-te um dia,- disse Leoxi pouco convencido. -Se não o fez já, duvido que o faça no futuro- o alfa sentia que o trabalho era uma necessidade vital para a sua existência. -Diga o que disser, no fim de contas é inútil discutir consigo - Leoxi bebeu um gole da sua bebida - Bem, gosta dele? -De quem? -Hades olhou para ele co
Siran só podia reagir de uma forma quando viu o seu alfa no chão, com sangue a jorrar do pescoço. Transformou-se num enorme lobo cor de areia, agarrou o agressor pelas costas, rasgando-lhe a pele, e atirou-o, com toda a força, contra a parede oposta. Não se importava com quem era, não se importava com as consequências, só sabia que o seu alfa tinha sido agredido e isso era imperdoável. Depois de um forte baque contra a mobília da parede e de um grito de dor, Siran viu a loba debater-se, mas levantar-se com firmeza. A sua boca borbulhava e os seus olhos eram de um carmim potente, sem pupila. Ela estava fora de controlo. Abanou a cabeça à procura da ameaça que a ameaçava, guiada pelo ligeiro instinto que permanecia latente nela, estava totalmente dominada pelo seu lado selvagem e pela sua loucura, e isso era perigoso. Afastou-se rapidamente quando dois lobos arrastaram Hades para fora, e fechou a porta, antes de sentir o corpo do animal bater com força contra a madeira. Um segundo de
Hades tocou no pescoço, onde a pele se tinha regenerado, mas ainda estava sensível. Ele rosnou, irritando a pele dos presentes. César fecha a sua pasta depois de dois dias a guardar o seu alfa. Leoxi acabara de regressar, sentindo uma sensação estranha que não augurava nada de bom. A ligação entre eles era mesmo física. Quando ele chegou, suas suspeitas nasceram. Agora, Hades estava de muito, muito, muito mau humor. Tinha sido mordido por uma ómega, uma simples ómega, rainha e tudo o que quisessem, mas ómega e ele tinha estado à beira da morte, depois de a ter salvo. Algumas coisas tinham de ser postas no seu lugar e mostrar quem mandava. Que se lixe o medo dos alfas. Ele tinha-lhe salvo a vida. Adoptou-a na sua alcateia. Tinha-lhe dado o seu próprio sangue e era assim que ele estava a retribuir-lhe. Ele sentou-se, puxando a camisa de seda que encontrou nas costas de uma cadeira, deixando-a aberta. -Onde pensas que vais? -Caesar colocou-se à sua frente e calou-se ao encontrar os
Apesar de estar em cima dela, Hades apoiava a maior parte do seu peso nas patas. A loba era fraca, magra, quase como uma pétala de flor que pode murchar, mas lutava e tentava agarrar um dos seus membros e rasgá-lo. Ela não estava muito feliz por estar naquela posição. Ele não se importava. Precisava de a controlar agora, para segurança de todos e dela própria. Ele inclinou o nariz para o pescoço dela e cheirou-o, lambendo até à orelha e deixando um aperto na nuca, não para a magoar, mas com força suficiente para a fazer perceber que ele estava ali. A fêmea estremeceu e soltou um gemido de pena. Ela não estava a desistir, apesar de estar em desvantagem, ela não gostava disso e isso notava-se. Hades voltou a lamber-lhe o pescoço, procurando a zona mais sensível, enquanto sentia o sangue dela a bater-lhe nos ouvidos, perfurando-os. Ele estava a gostar mais do que imaginava, fazendo-o perder a concentração na sua ação por um momento. O seu cio estava próximo e ele estava mais sensível
Hades não podia acreditar. Ela tinha-se atirado. Sem pensar. Sem saber onde ele estava. Ele transformou-se tão depressa que até doeu. Correu para a beira da varanda, olhando para baixo e vendo a loba cair do primeiro andar para o primeiro, sobre o tapete que devia ter amortecido um pouco a queda. Pela primeira vez, sentiu-se grato por a sua mansão ter apenas dois andares, ou poderia ter sido morto se estivesse mais alto. Em todo o caso, a queda tinha sido brutal para o seu estado. Não sabia o que tinha doído mais, o choque de a ver cair ou a rejeição total dele. Não que ele fosse promíscuo, nem procurasse aventuras aqui e ali, mas as poucas mulheres que tinham estado nos seus braços tinham-no acompanhado até à cama com grande vontade. Viu-a levantar-se devagar, como se nada tivesse acontecido, e correr em qualquer direção para sair daquele lugar, coisa que ele não conseguiria. Em primeiro lugar, por causa da segurança da mansão e, em segundo lugar, porque ela não conseguia ver