O cheiro a sândalo, mel e algo mais. A mistura, demasiado doce, entonteceu a consciência de Nebraska, que se debatia entre acordar ou permanecer inconsciente. -Quanto tempo tencionas dormir? Uma voz profunda e masculina fê-lo pôr os pés no chão e abrir os olhos com um sobressalto, apenas para se encontrar num quarto, ainda mais luxuoso do que aquele em que estava a dormir. Ao contrário, este lugar ela não conhecia, nem parecia ter o estilo elegante de Hades. Sentou-se no chão frio e o peso dos grilhões à volta de um dos seus tornozelos fê-la estremecer, de tal forma que teve de usar toda a sua força de vontade para não vomitar. Pareces um cachorrinho à beira do colapso- ouviu-o rir-se dela, e ela puxou das garras, pronta a defender-se. Infelizmente para ela, a grilheta que a aprisionava era mais pesada do que as que conhecia de antigamente e dolorosamente mais apertada. A sensação do metal contra a sua pele fê-la recordar todos os momentos que passara naquela masmorra, os dias s
Nebraska olhou, incapaz de se concentrar, de Layan para o lobo e de volta, com uma cara incrédula. -Estão a brincar comigo? -O lobo levantou uma sobrancelha ao ouvir o volume alto da voz dela. Layan soltou um bufo e levantou os ombros em sinal de desinteresse. -Como achas que ficaria a minha reputação se a notícia de que a minha irmã enlouqueceu se espalhasse? -respondeu ele com ironia, apelando à inteligência do ómega. -Não estás a ser honesto,- Nebraska sentiu que havia algo mais por detrás daquelas palavras. Por detrás da armadura que tinha construído, este lobo escondia uma verdade que não queria revelar. Mesmo assim, ele não achava que poderia ajudá-la nesse ponto de loucura. Os lobos, quando chegavam à loucura, só tinham uma opção, serem aniquilados por alguém mais forte, era quase sempre o alfa que recebia essa tarefa. Os únicos que podiam reverter esse estado ou ajudar os outros eram os ómegas, um tão forte como ela. A loba rosnou novamente e começou a avançar na direção
O Nebraska estava muito calmo. Demasiado silenciosa para o gosto e preocupação de Layan. Ela não havia tocado na comida que fora levada para seu quarto, e também não havia sinal de fuga. O alfa bateu com o dedo na mesa, um sinal claro de inquietação. -¿Y? -perguntou ao seu beta, que estava do outro lado com as mãos atrás das costas. -Ela não fala, fica apenas sentada na cama, sem fazer nada a não ser olhar para o vazio. Olhar para o vazio era algo que ela fazia de certeza, pensou Layan. Era do conhecimento geral a dificuldade que ela possuía no olhar, mas algo mais, ela precisava de algo mais. Ele tinha a certeza que ela não ficaria de braços cruzados, enquanto ele a tivesse emprestada, como ele dizia. Ela levantou-se do seu lugar com tanto ímpeto que o derrubou. Ele também não podia ficar a pensar na razão pela qual a tinha ali. Tinham passado dois dias desde que a trouxera, e de certeza que a alcateia de prata tinha notado a sua ausência, e a dele. Por enquanto, ele não se imp
Nebraska avançou pelo corredor. Ela estava grata por sua boa memória, algo que se desenvolveu ainda mais por causa de sua falta de visão, então encontrar onde ela estava indo era apenas uma questão de tempo. Nas suas costas, ouviu os passos de Layan e, pouco depois, de Hades, que aparentemente se tinha vestido, pois o som do tecido na sua pele estava presente. Ela ainda estava surpresa consigo mesma por ser capaz de lidar com dois alfas, e não apenas dois alfas quaisquer, dois que tinham tantos anos a mais que ela não ousava contá-los. Quando se ligou a Rudoc, foi capaz de controlar a situação até certo ponto, mas o auge do auge foi ter estado presa durante tanto tempo. Demasiados anos em cativeiro tinham-na mudado ao ponto de ela própria se sentir assustada. Já não tinha o medo e a indecisão que escondia por detrás da sua cara séria, tinha uma família para cuidar e por quem não hesitaria em pôr as mãos no fogo. Parou em frente à porta enorme e respirou fundo. Esperava não estar en
Ele ouvia vozes e não sabia de onde. A escuridão envolveu-o e todo o seu corpo se recusou a responder-lhe. Estranhamente, não sentia qualquer dor. Apenas a exaustão estava presente. Não gostava de não saber onde estava ou o que tinha acontecido, não gostava de não ter o controlo da situação. Mal se lembrava dos acontecimentos após o início do seu cio. Primeiro, o calor, depois a necessidade e o estremecimento do seu corpo para reclamar uma fêmea, e saber que tinha uma à sua espera tinha sido a pior tortura, ao ponto de quase perder o controlo. Depois, aquele cheiro doce que o levava a correr e a apanhá-lo, a devorá-lo por inteiro. Seguiu-se uma dor no braço, e as cicatrizes da sua própria mordidela, que não se apagariam, como nenhuma marca destinada a ser ligada o faria; mesmo que perdesse o seu efeito, a não ser que fosse na nuca. Enquanto a paixão abraçadora do desejo que o devorava diminuía, notícias que o faziam correr sem se importar com o que deixava para trás. A sensação dos
Layan sorriu para o outro alfa sentado à sua frente. Depois de quase meia hora a contar-lhe a história oculta da sua irmã, e apesar dos grunhidos de Hades, ele tinha concluído satisfeito. -Tens alguma ideia do que o resto do Conselho vai dizer quando souberem que a tua irmã esteve sempre debaixo dos seus narizes? -Hades comentou, preocupado com a calma do outro, algo que lhe dava um mau pressentimento. -Se não disseres nada, eles não precisam de saber o que realmente aconteceu- encostou o queixo à mão, -tenho algumas coisas na manga e acho que ninguém me vai refutar, a não ser que te vires contra mim e me denuncies- sublinhou as últimas palavras. Devia- Layan fez uma careta perante a sua resposta, -Pegaste em alguém meu e puseste-o em perigo. Isso não é razão suficiente, e nem sequer estou a tocar no pequeno pormenor de que a condenaste à morte- Hades fez uma careta. O sorriso do ruivo tinha desaparecido completamente do seu rosto. -Conheces as nossas leis acima de tudo, tu, mais
Nebraska andou vários passos à frente de Hades. A forma como ela movia os ombros e a cabeça para um lado e para o outro indicava ao alfa que ela, em vez de estudar a paisagem à sua volta, fazia retratos dos sítios que a rodeavam, como se alguma vez perdesse a visão e precisasse de confiar nos outros sentidos. Embora ela não estivesse a sorrir, o seu cheiro dizia-lhe que ela estava mais do que feliz, grata e satisfeita por poder apreciar, mais uma vez, tudo com clareza. Ele, por outro lado, não estava nem perto de estar meio feliz. A gota de dúvida do que Layan tinha feito a Nebraska ainda lhe picava e picava no seu orgulho, e mais ainda quando ela o arrastou para longe, esquivando-se à conversa. Conhecendo-o, o lobo ruivo não tinha feito nada de acordo com o protocolo, a forma como ambos reagiram provava-o. Nebraska- chamou-a, a sua voz autoritária e grave. Mas a ómega simplesmente ignorou-o e continuou a andar, desta vez com as costas direitas e tensa. Ela tinha-o ouvido, mas ign
Há uma frase que diz: -Fui conquistada pelo Cupido- e foi exatamente isso que Nebraska pensou quando ouviu Hades. Virou a cara para o outro lado com um ligeiro sorriso. Isso a pegou de surpresa e com as defesas baixas. -Nebraska,- o lobo chamou-a quando reparou na sua mudança de atitude. -Nada,- acenou-lhe com a mão para disfarçar, mas o rubor não diminuía e, se ele reparou, não disse nada. Pensou que ele só a aceitaria a ela e aos filhos, mas para ele adoptá-los era completamente diferente. Posso fazer-te algumas perguntas? -Desta vez era o alfa que queria fazer a pergunta. Não era eu que as podia fazer?- o tom zombeteiro, raro para ela, encheu-o de prazer. -Amavas o Rudoc? -A ideia de o matar estava fora de questão, só que, se ela lho pedisse, ele cederia. Ele tinha-lhe feito o inimaginável, mas continuava a ser o lobo que outrora ocupara o seu lado. O seu semblante manteve-se descontraído, embora a sua voz saísse apertada. -Só porque estamos casados com alguém e essa pessoa