(Himal) A longe avistei a loira que sempre vinha me visitar, antes da partida de sua rainha. Ernest usava um vestido azul oceano, suas camadas pareciam mais pesadas com cada passada que ela dava, pois o tecido balançava e ela vacilava com o esforço. “Ela não parece bem.” Parei o que fazia, observando a loira de cabelos trançados para um lado, de olhos baixos e expressão abatida, perdendo o brilho habitual. Seus dias na presença da rainha eram repletos de luz e sorrisos, os quais pensei serem impossíveis de serem apagados. Mas a alguns metros do pátio, estava essa mesma lady, usando uma coleira invisível. Minhas mãos ficaram de cada lado das ferramentas que usava, enquanto prestava atenção na loira. Seu vestido não tinha mangas longas, eram curtas e redondas, mostrando a sua pele clara. Sua vestimenta ressaltava seu desinteresse em conversar comigo, pois não sairia na neve sem casaco ou capa. Levantei os olhos para o céu, quase nunca visível pela queda da neve. Um floco caiu quas
(Esmen) A minha estadia no reino I não foi a melhor. Diziam que era assim como se era chamado, não porque foi o primeiro, mas por ser governado apenas por um. Um homem ambicioso, tanto que não se casou para não dividir o trono ou a palavra e não quis sua princesa, eu. O antecessor de Vitorian foi praticamente a mesma coisa, mas este sabia da importância dos herdeiros. — O pai de Vitorian, seu avô, foi mais sábio. Se me perdoar dizer! — disse o homem que estava entre os soldados no dia da morte de Vitorian. Deixei que ele continuasse a história, eu queria apagá-la mais tarde, mas era impossível, então mudaria a forma que as pessoas viam o presente. — Seu avô deu um dos filhos para o reino de Tau, onde você agora é rainha. Pois nenhum poderia ser rainha, só tinha garotos. — Ele o quis de volta? — fiquei curiosa. Preocupada de ter alguma aliança sanguínea com Tauron. — Não, mas o garoto teve de retornar, pois o primeiro filho quase morreu em batalha, batalha essa que deveria ter si
(Esmen) Me encontrava no salão vazio, na sala do trono, onde muitas coisas aconteceram durante os anos. Como a morte de um homem que seria justo e faria um reino prosperar. A morte de seu assassino por alguém que conviveu e sentiu a dor da perda pelo homem que deveria ter sido o rei e construído uma aliança de paz entre reinos. As lideranças ruins que se sentaram ali, assim como decisões egoístas e medíocres tomadas pelos homens cuja cabeça carregava a mesma coroa que agora eu insistia em ignorar, sobre o trono. Encarava a paisagem fora da imensa janela aberta. O tempo não era tão frio lá fora como era no reino de Tauron, era uma mistura de fim de inverno com início da próxima estação. "Eu adoraria ter minha mãe aqui." Apertei minha palma fechada sobre a outra mão, dentro dela. "Eu cuidaria de você. Você seria a rainha deste lugar. Mandaria em todos esses cretinos que a expulsaram e a fizeram baixar a cabeça mais vezes do que poderia contar." Como queria que minha mãe tivesse vi
(Esmen) O frio intenso parecia querer despedaçar o teto velho, feito de telhas de barro sobre nossas cabeças, pois vinha acompanhado de um vento forte, capaz de arrepiar qualquer corpo mal vestido. Busquei minha mãe pela pequena casa e a encontrei perto do fogão a lenha, onde havia uma panela completamente cheia de sopa, em sua última fase, quase pronta para ser servida. Seu corpo magro, como o meu, envolto em roupas surradas e finas, era aquecido pelo calor do fogo, ao qual ela se mantinha próxima, mexendo na sopa. O único casaco de pele quentinho que possuíamos estava sobre meus ombros. Eu o daria a ela quando se sentasse à pequena mesa junto comigo. Por hora, me aferrava a ele como se fosse a salvação da minha vida. Com o capuz cobrindo meus cabelos castanhos escuros, ainda sentia minhas bochechas queimando. O frio intenso passava pelas fissuras na madeira desgastada da porta estreita, soprando diretamente no meu rosto. Deixei apenas os olhos verdes, como esmeraldas, de fora
(Esmen) Não recuei. Havia mais soldados de todos os lados, e eu ainda tinha esperança de que ele estivesse errado sobre a paternidade. Quando se aproximou o suficiente, ele me dirigiu a palavra: — Você é minha filha. Abri a boca para contestar, mas soube pelo seu olhar reprovador que não era tudo o que ele tinha a dizer. — E será preparada para casar com o rei Tauron, hoje à noite. Meus olhos saltaram. Agora não havia permissão ou tradição alguma que me fizesse ficar calada. — Como? — Você, Esmen, será a mulher do rei Tauron. — Ele não parou de me fitar. Parecia estar vendo minha mãe em mim; seu olhar pesava como uma tonelada, trazendo algo como frustração e satisfação ao mesmo tempo. Provavelmente por me vender como mercadoria para alguém. — Eu não... — me interrompeu com um erguer de mão, que chegou perto demais do meu rosto frio. Diferente de mim, que tinha roupas surradas e finas, como um vestido longo verde desbotado, sapatos gastos e apenas os cabelos alinhad
(Esmen) — Por que ele fez isso? — perguntei, enquanto ajustavam o corpete do vestido, apertando minha cintura fina. — Sua majestade? — Sim — encarei cada uma delas. A maioria fingia não ouvir a conversa com a colega enquanto trabalhava. — Dizem que foi um erro. Apenas isso. Aquilo não poderia ser verdade, mas elas não sabiam. "Como alguém mata outro e chama isso de erro?" — Apenas um erro? — encarei a mulher que havia falado. Ela baixou os olhos por alguns segundos, fingindo estar alisando o tecido do vestido. Alguém sempre sabia mais do que deixava transparecer, e rumores sempre corriam com pedaços maiores de verdade. Estavam dispostas a me manter no escuro, mesmo sabendo que jogavam "sua alteza" diretamente na boca do leão. "Não vão me tratar bem nesse novo reino." "Antes, nem sequer me tratavam como uma delas. Agora, estou aqui para servir de moeda de troca, mas não tenho importância para ninguém. Estou apenas salvando suas cabeças." Estava decidido. Na primei
(Esmen)Repousando a mão sobre minha barriga, fiz cara de desconforto. Não havia comido nada mesmo.— Não comi nada hoje. — Fiz cara triste.— Minha barriga dói por falta de um desjejum. Como posso ser apresentada para o rei Tauron tão fraca? E se não aguentar a viagem?Nesse momento, um deles, depois de novamente trocar olhares, me perguntou se queria algo em especial.— Apenas me mostrem a cozinha. — A desconfiança não os deixou.— Serei rápida. Não quero passar vergonha diante do rei vizinho. — Fiz minha melhor cara de timidez, ciente de não ter o rosto completamente visto por causa do véu de rendas floradas.— Vamos mostrar... — Fiz uma jogada de mão descartando a possibilidade.— Não precisa, apenas me mostrem o caminho.— Não podemos. A vossa alteza irá fugir. — Disse um deles.— Eu irei comer. Como posso fugir de barriga vazia? — Encarei ambos.Um franziu o cenho, e, trocando olhares novamente, me apontaram a direção:— É por ali. — Lancei uma cara de satisfação na direção dele
(Esmen) Por sorte não cheguei a mais que balançar para frente. Equilibrando-me capturei novamente os lados do traje, me obriguei a ser mais resistente. — Volte princesa! “Loucos!” Corria como nunca, a neve me atrapalhava mais do que poderia ter pensado, o vestido longo estava completamente frio, me impedindo de ser mais rápida. O peso de todo aquele tecido atrapalhava muito a persistência que queria adquirir. O véu ainda estava sobre os meus fios negros. O ar saía como fumaça por entre meus lábios, a cada respiração. Podia ouvir os cavalos relincharem sob os gritos dos soldados a perseguir-me. Mas eu não desistiria, eu iria até onde não conseguisse mais correr. Já tinha corrido por horas, de repente tropecei novamente, desta vez, caindo de cara na neve. Tentei me levantar, mas as pernas e braços não obedeciam, apenas pude virar meu rosto. Estava queimando. Minha face queimava em contato com a neve, a renda do véu parecia fundir-se com a minha pele. “Não posso morrer a