Capítulo 3
A bronca que ele ainda não tinha terminado de fazer ficou presa em sua garganta com a minha resposta fria e indiferente.

Desliguei o telefone no exato momento em que o carro parou em frente à casa onde Carl e eu morávamos.

Assim que desci, as notificações do grupo de trabalho da empresa de Carl começaram a pipocar uma atrás da outra.

Quando abri o aplicativo, já havia mais de 99 mensagens não lidas.

No topo, havia uma foto enviada por Ivy, mostrando Carl agachado no chão, com o rosto coberto de suor, consertando um circuito elétrico para ela.

— Nosso chefe Carl vale bilhões e ainda por cima é o futuro Alfa da Alcateia! Como pode ser tão atencioso?!

— Com um chefe assim, eu venderia minha alma para essa empresa para sempre! Cadê o contrato vitalício? Quero assinar agora!

— Se um Alfa desses mandasse em mim, eu serviria à Alcateia pelo resto da vida sem hesitar!

O resto das mensagens seguiam o mesmo tom, cheias de admiração e brincadeiras dos funcionários.

— Ouvi dizer que o chefe tinha TOC com limpeza, mas olha só ele aí! Não parece nem um pouco!

— Meu Deus, ele sem terno é muito gato! Vou casar com um homem assim, ninguém me segura!

— A foto foi postada pela nossa futura Luna, então acorda, querida, sua única saída é continuar trabalhando.

Antes, quando Carl ainda não tinha dinheiro para contratar um assistente, eu era seu braço direito, administrando tudo para ele. Mas desde que Ivy assumiu meu lugar, seu olhar se voltou para ela, e minha presença foi gradativamente esquecida.

Eu já devia ter saído desse grupo há muito tempo.

Li todas as mensagens e, sem hesitar, apaguei o histórico e saí do grupo.

Já estava decidida a ir embora, então ver de antemão como seria a vida deles depois do casamento já não parecia tão doloroso.

Lembrei-me de quando Carl fundou a empresa. Naquela época, ele postava todos os dias no grupo fotos minhas trabalhando.

As fotos tiradas às escondidas me mostravam preparando café ou organizando a agenda.

Todos na empresa sabiam que ele me amava como a própria vida.

O apoio do amor tornava até um trabalho sem salário mais doce.

Mas, conforme a empresa cresceu e os negócios se multiplicaram, Carl começou a me achar inexperiente para os grandes projetos.

Foi direto contratar Ivy, recém-formada, e ela assumiu todas as minhas funções.

Carl proibiu qualquer menção a mim no grupo da empresa.

Passou a favorecer, de maneira escancarada, sua nova secretária.

Um colega, que se dava bem comigo, comentou uma vez que Ivy não trabalhava tão bem quanto eu. Na mesma hora, Carl cortou o bônus anual dele.

No fim, fui eu quem, em segredo, transferiu cinco mil para ele, para evitar que saísse do emprego no calor do momento.

Carl parecia se esquecer de que fui eu quem ficou ao seu lado do começo ao fim, conseguindo para ele inúmeros contatos por meio da minha família.

Ao voltar para aquela casa onde morei por dez anos, mas que sempre me pareceu estranha, comecei a arrumar minhas coisas.

Separei apenas o essencial e, ao olhar para a estante, vi um álbum grosso coberto por uma fina camada de poeira.

Peguei-o com cuidado, sentei-me na cama e abri na primeira página.

As fotos dentro dele registravam todos os presentes que Carl havia me dado ao longo dos anos, todos relacionados a coelhos.

Desde os primeiros bonecos e pingentes, passando por cartões-postais de coelhos do mundo inteiro, esculturas artesanais raras e até pinturas de artistas pouco conhecidos com o mesmo tema.

Ele sempre dizia, sorrindo:

— Vou encontrar tudo no mundo que tenha a ver com coelhos, para que, todos os dias, ao acordar, você veja suas coisas favoritas.

Dez anos atrás, ele me prometeu que, quando reunisse 9999 presentes de coelhos, nos casaríamos.

Disse que usaria esses presentes para me subornar, para que eu aceitasse ser sua esposa de bom grado.

O álbum foi feito sob medida para acomodar exatamente 9999 fotos.

Mas, ao chegar na última página, ainda havia um espaço vazio.

Fiquei olhando para aquela lacuna por um longo tempo, até que um sorriso irônico surgiu em meus lábios.

No fim, não importava o quanto eu me esforçasse. Tudo acabou sendo em vão.

Peguei o álbum e desci as escadas, caminhando até um espaço aberto.

Do bolso, tirei um isqueiro e risquei a chama.

O fogo se espalhou rapidamente pelas bordas do álbum.

Uma a uma, as fotos foram devoradas pelas chamas, transformando-se em cinzas e desaparecendo completamente.

Aquelas lembranças testemunharam os dez anos da minha juventude e, agora, estavam sendo consumidas pelo fogo.

Quando Carl chegou, encontrou essa cena.

Seu rosto empalideceu de imediato, os olhos arregalados de choque e incredulidade.

Ele correu na minha direção e me empurrou, tentando salvar o álbum do fogo.

Mas as chamas estavam fortes demais. Assim que se aproximou, o calor o obrigou a recuar.

O fogo lambeu sua mão, queimando-a até ficar vermelha. Ele chiou de dor, inspirando bruscamente.

Sem alternativa, deu alguns passos para trás e tentou, desesperado, pisar nas chamas para apagá-las.

Mas foi inútil.

Ele só pôde assistir, impotente, enquanto aquelas fotos — testemunhas de dez anos de história — viravam pó diante de seus olhos.

— Você enlouqueceu?! — Ele se virou para mim, os olhos ardendo com uma fúria ainda maior do que o fogo, a voz carregada de raiva e incredulidade.

— Você simplesmente queimou tudo? Esses presentes levaram dez anos para serem reunidos. Você tem ideia do que isso significa?!

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