Capítulo 2
O cheiro de Ivy impregnava Carl, o que deixou minha parte de loba furiosa. Virei a cabeça e, como esperado, Ivy estava encostada de maneira frágil atrás dele. Os dois carregavam sacolas de presentes requintadas, uma grande bolsa com itens de uso diário e um bolo.

Pareciam um casalzinho prestes a comemorar algo juntos.

Minha tia Amanda descia justamente naquele momento para me receber e, ao se deparar com a cena, abriu a boca para cobrá-los, mas eu a interrompi.

— As coisas compradas para você chegaram. Use como quiser, em vez de deixá-las guardadas em casa.

Durante todo o tempo, não lancei sequer um olhar para Carl. Desta vez, no entanto, ele fez questão de se explicar:

— Blair, não me entenda mal. A região onde Ivy morava antes tem muitas alcateias de lobos renegados vindos da fronteira, não é um lugar seguro. Só ajudei a encontrar um lugar mais adequado para ela morar. Eu não fazia ideia de que sua tia também morava aqui.

Ele então lançou um olhar rápido para as sacolas cheias de produtos de luxo que eu carregava e perguntou:

— Mas por que comprou tantas coisas?

Enquanto orientava o motorista a levar os pacotes para o andar de cima, respondi sem muito interesse:

— Não precisa me contar sobre o seu trabalho. Foi minha mãe quem comprou. Como não sabe quando virá de novo, resolveu comprar logo bastante coisa.

Quando percebeu que eu não havia se sentido irritada sobre ele e Ivy, Carl soltou um suspiro de alívio.

— Na verdade, esse lugar nem fica tão longe de onde moramos. Quando quiser vir, é só me avisar.

Carl claramente ainda não sabia que eu já havia decidido ir embora e tampouco sabia sobre o casamento arranjado pela minha família que estava prestes a acontecer. E eu também não tinha intenção de contar.

Minha tia parecia prestes a falar alguma coisa, mas, ao notar a maneira atenta como Carl protegia Ivy, sua expressão se fechou.

O silêncio constrangedor entre os quatro durou um tempo, até que Ivy reclamou de cansaço.

Assim que ela falou, Carl imediatamente pediu ao motorista que parasse de descarregar os pacotes.

Disse que suas coisas eram poucas e que ele usaria o elevador primeiro.

Olhei para as sacolas que ele carregava, cheias de itens essenciais para casais. Em uma delas, dava até para ver uma caixa de preservativos.

Afastei-me para dar passagem.

Carl me lançou um olhar surpreso antes de entrar apressado no elevador.

Quando a porta se fechou, por um breve momento, vi em Ivy o reflexo do meu antigo eu.

Na época em que minha tia havia acabado de se mudar, Carl também se desdobrava para me ajudar. Corria para cima e para baixo, carregando minhas malas para dentro da casa dele, e dizia com um sorriso radiante que estava recebendo a futura dona do lar.

Minha tia suspirou, lamentando:

— Tem certeza de que não quer que eu pergunte nada? Vocês se conhecem há tanto tempo… Seria uma pena se terminassem por um mal-entendido.

Balancei a cabeça.

— Não precisa. Nunca houve mal-entendidos entre nós. Carl jamais deixa uma dúvida persistir por muito tempo. Se ele não explicou, então essa já é a resposta.

Na verdade, as compras de Carl e Ivy não eram tantas assim. Bastava uma única vez para levá-las todas para cima.

Mas, mesmo depois que terminei de entregar as coisas da minha tia e me despedi dela, não vi Carl sair do prédio.

Por educação, peguei o celular e enviei uma mensagem perguntando a que horas ele voltaria.

Logo depois, ele me respondeu com um áudio.

Quando abri, ouvi a voz animada de Ivy:

— Blair, querida! O chefe Carl está me ajudando a arrumar a parte elétrica da casa. Esse apartamento nunca foi habitado antes, então tem muitas coisas para organizar. Você deve estar ocupada, né? Pode ir sem preocupação, não quero tomar seu tempo!

Eu ia fechar o celular para chamar um carro, mas outra mensagem dela chegou.

— Ah, e não pense besteira, viu? O chefe Carl só está me ajudando com umas coisinhas. Afinal, eu vim sozinha da alcateia, não entendo nada e preciso muito de alguém que me ajude…

Ouvindo isso, me segurei para não explodir de raiva.

Pensei na minha própria vida, em como desde pequena vivi separada dos meus pais. Até mesmo na semana passada, para garantir que Carl tivesse sucesso na negociação comercial com a alcateia da fronteira e se tornasse Alfa, fui eu quem correu de um lado para o outro para resolver tudo.

E agora, o grande Carl, que sempre dizia estar ocupado se preparando para se tornar Alfa, estava ali, consertando a fiação da casa de sua assistente.

Ridículo.

Entrei no carro e, pouco depois, recebi uma ligação dele.

— Blair, que diabos deu em você hoje? — Sua voz soava baixa e impaciente. — Ivy é só uma loba vinda da fronteira. O que tem eu ajudá-la a encontrar um lugar para morar? A alcateia ainda nem definiu uma residência fixa para ela. Como futuro Alfa, cuidar dos mais fracos não é minha obrigação?

Ele fez uma pausa antes de continuar, irritado:

— Além disso, quero conversar sobre o assunto no seu aniversário. Que tipo de atitude foi aquela? Ficou com aquela cara fechada, disse que não estava se sentindo bem e foi embora. Eu ainda nem falei nada sobre isso e agora você vem com essa birra de novo?

No fundo da ligação, dava para ouvir os soluços abafados de Ivy.

Agora tudo fazia sentido.

Ela queria se passar por uma vítima frágil na frente de Carl enquanto me provocava nas entrelinhas. Era impressionante como ela conseguia mudar de postura com tanta facilidade.

Respirei fundo, entendendo finalmente seu joguinho.

Mas não me dei ao trabalho de me defender.

— Hmm. Tudo bem. A culpa foi minha. Só queria saber que horas você voltava. Mas já estou em casa, não precisa se preocupar.

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