Em casa, Mike caminhava com os passos pesados, como se o peso das decisões que ele não tomara o estivesse sufocando. A noite com Clara havia sido a última gota, e ele sabia que não havia mais espaço para fugir de seus próprios sentimentos. Sua cabeça girava, ainda tentando organizar a confusão de emoções e responsabilidades, e, por um momento, ele parou diante de sua escrivaninha. O silêncio de seu apartamento parecia pesado, como um eco de seus próprios pensamentos.Ele olhou para a gaveta, que estava ligeiramente entreaberta, e, instintivamente, se aproximou. Dentro dela, havia uma pequena caixinha de veludo preto. Ele hesitou, sentindo um aperto no peito, mas, ainda assim, puxou a gaveta e retirou o objeto que guardava ali há meses. A caixinha era a mesma que ele havia feito o pedido de casamento a Melissa e ela havia recusado, antes de tudo virar um turbilhão de confusão e incertezas. Ele a abriu lentamente, revelando o anel brilhante que, por tanto tempo, representou sua promessa
— Mike... — disse ela, com uma voz baixa, mas com uma leveza que ainda carregava a familiaridade de sua presença.Ele ficou parado por um momento, admirando a cena, a dor e a alegria misturadas no mesmo lugar. Ele sabia que aquilo não seria simples, mas o que ele sentia por ela, o que ele ainda sentia, precisava ser dito.— Melissa... — Ele finalmente falou, a voz tremendo um pouco. — Eu... eu não sei nem como começar.Ela o observava com atenção, os olhos buscando alguma explicação. Sabia que havia algo em sua expressão, algo que havia mudado nele. Mas o que era?— Mike, você não precisa dizer nada. Eu sei que as coisas foram... complicadas entre nós — ela disse, tentando suavizar a situação, mas sua voz ainda carregava um toque de tristeza.Mike deu um passo à frente se aproximando dela. Ele olhou para ela com uma sinceridade crua, como se as palavras que estavam prestes a sair fossem as únicas coisas que importavam naquele momento.— Não, Melissa. Eu preciso dizer. Eu passei tanto
Um ano se passou, e a dor que eu carregava pela perda de Afonso começou a desaparecer lentamente, uma peça de cada vez. Aquelas cicatrizes ainda estavam lá, mas, aos poucos, o peso delas se tornava mais leve. O tempo, como sempre, tinha um jeito peculiar de curar, embora eu soubesse que não esqueceria nunca. O luto havia sido longo e tumultuado, mas a vida seguia seu curso, implacável e cheia de novas possibilidades.A morte de Gerônimo, com sua surpresa amarga, foi o que realmente fez as coisas se encaixarem, ou melhor, começarem a fazer algum sentido. Desde aquele momento, as peças que antes pareciam perdidas começaram a se alinhar. Eu já sabia que, no fundo, havia algo estranho naquela história, algo que nunca foi explicado de maneira convincente. A dúvida sobre Afonso, ser Geovani e Cloé ser Luana, ainda me rondava, mas eu também sabia que não podia viver com essas questões me consumindo para sempre.A ideia de que Afonso poderia ter sido cúmplice de Cloé naquele acidente, que ela
O vento estava fresco e suave enquanto Mike dirigia pela estrada, o som da música suave preenchendo o carro, mas minha mente estava a mil por hora. Estávamos a caminho de conhecer os pais dele, um momento que, por si só, já era carregado de expectativas. Mas, o que eu não esperava, o que eu não imaginava, era a revelação que estava prestes a abalar todo o meu entendimento sobre quem Mike realmente era.Eu olhava pela janela, tentando focar nas paisagens que passavam, mas o pensamento sobre o que estávamos prestes a fazer não me deixava em paz. Mike, como sempre, parecia tranquilo, como se estivesse indo visitar os pais de alguém que vivesse a vida mais simples do mundo. E isso, para mim, era exatamente o que ele representava. Alguém de raízes profundas, sem ostentação, sempre tão simples, com um coração puro.Foi quando ele olhou para mim com um sorriso, como se fosse compartilhar uma piada interna, e disse:— Então, você sabia que meus pais... bem, eles não são exatamente "comuns".E
A viagem parecia interminável, e à medida que nos aproximávamos da casa dos pais de Mike, uma sensação desconfortável se instalava em meu peito. Eu não sabia bem o que esperar deles, ou de como me sentiria naquele novo mundo, com suas regras e expectativas. O fato de eles serem bilionários, por mais que Mike tentasse minimizar, me deixava ansiosa. Eu me sentia uma intrusa em uma realidade que nunca havia sido minha.A casa deles era imensa, com jardins bem cuidados, uma arquitetura moderna e sofisticada que só me fazia sentir ainda mais deslocada. Era claro que Mike vinha de um mundo muito diferente do meu, mas, ao mesmo tempo, sentia que ele não se identificava com esse mundo. Algo em mim queria acreditar nisso, queria acreditar que, apesar de tudo o que sua família representava, ele ainda era o homem simples e genuíno de quem me apaixonei.Quando entramos na casa, os pais de Mike estavam lá para nos receber com um sorriso caloroso, mas também havia uma tensão no ar, uma expectativa
— Eu estava pensando em algo grandioso, talvez um castelo na França, ou algo mais intimista, mas que ainda tivesse aquela sensação de um conto de fadas, sabe? Eu sou uma romântica, Melissa, e acredito que o casamento deve ser um evento inesquecível. Quero que seja perfeito para vocês — ela disse, empolgada, como se estivesse no controle de cada pequeno detalhe, como se o casamento fosse uma obra-prima sendo moldada por suas mãos.Eu a ouvia, tentando manter o sorriso no rosto, mas dentro de mim, uma sensação de desconforto crescia a cada palavra. As opções de castelos, os vestidos deslumbrantes, os detalhes extravagantes... Tudo isso parecia tão distante de mim, tão fora de lugar. Eu havia imaginado um casamento simples, algo que representasse o que realmente importava para Mike e para mim. Mas ali, naquele momento, eu percebia que para Antonela, o que realmente importava era algo muito diferente.— Eu estava pensando em algo mais simples — disse ela, de repente, interrompendo meus pe
Estávamos instalados na casa dos pais de Mike. Ainda me sentia abalada pela conversa que havia escutado entre ele e seu pai. Como alguém pode julgar o outro dessa forma? Mike e eu lutamos tanto para chegar até aqui, e a decisão de me casar com ele não foi fácil. Agora, eu precisava provar ao seu pai que estava pronta, que eu sabia o que estava fazendo, que eu amava Mike de verdade.Enquanto me perdia no turbilhão de emoções e incertezas que tomavam conta de mim, fui despertada pelo som do meu celular tocando. Era uma ligação de Valentina.Fazia tempo que não falava com ela. Desde que desisti de procurara por Afonso, há um ano, nossa amizade havia esfriado. Ela ficara magoada quando eu disse que não ia mais correr atrás dele, que precisava seguir minha vida, e eu sabia que, naquele momento, a nossa conexão havia mudado para sempre. Afonso desapareceu sem deixar rastros, e isso me causou uma dor imensa, mas eu sabia que recomeçar era a melhor decisão. Ele tinha feito a sua escolha e eu
Acordei com os primeiros raios de sol invadindo o quarto, iluminando tudo ao meu redor. O brilho intenso me fez fechar os olhos por um momento, sentindo o calor da manhã. Levantei-me lentamente, tentando deixar para trás os pensamentos confusos da noite passada. O cansaço do dia anterior ainda me pesava, mas uma sensação de renovação me acompanhava. O dia estava começando e eu precisava estar pronta para o que fosse acontecer.Tomei um banho rápido, o vapor quente me ajudando a relaxar. Quando saí do banheiro, já me sentia mais centrada. Peguei uma escova e comecei a pentear meus cabelos com cuidado. Foi quando ouvi uma leve batida na porta.— Bom dia, senhora Melissa! A senhora está acordada? Perguntou a empregada.— Bom dia… Sim, estou. Pode entrar.A porta se abriu devagar e a empregada entrou com um sorriso gentil no rosto, sempre tão educada. Ela me olhou com um toque de simpatia, como se soubesse o quão difícil era esse momento para mim.— Dona Antonela está esperando a senhora