"Capítulo Quatro."

Harper Ricciardi

Enquanto me vejo sozinha, naquele quarto silencioso, não consigo evitar pensar em tudo que aconteceu. Seis anos atrás, aquele terrível pesadelo que se tornou minha realidade, um incêndio que destruiu minha vida, matando meus pais e quase me matando também. Eu estava prestes a desistir quando ele apareceu, como um anjo da guarda sombrio, me salvando daquele inferno em chamas.

Mas agora, aqui estou eu, diante dele, como sua esposa por contrato. Ele não se lembra de mim, não faz ideia do que passamos juntos naquela noite fatídica. E talvez seja melhor assim, talvez seja mais fácil para ele lidar com o que faz se não se lembrar das pessoas que salvou.

Mas para mim, é difícil esquecer. É difícil olhar para ele e não ver o homem que me salvou, que me deu uma segunda chance. E é ainda mais difícil aceitar que, para ele, eu seja apenas mais uma peça em seu jogo de poder e conveniência.

Enquanto me enrolo nos lençóis, lutando contra as lágrimas que ameaçam escapar, prometo a mim mesma que um dia ele vai se lembrar. Um dia, ele vai ver além das formalidades e lembrar da garota que ele salvou da escuridão. E até lá, eu continuarei a ser sua esposa por contrato, mantendo meu segredo e minha esperança guardados no mais profundo dos meus pensamentos.

Respiro fundo enquanto as memórias do passado me invadem. Seis anos atrás, minha vida era completamente diferente. Morávamos em um luxuoso apartamento com meus pais em um dos bairros mais nobres da cidade. Nossa família era conhecida pela fortuna e influência na sociedade, meu pai apesar de se um homem de posses,

A noite do incêndio ainda assombra meus sonhos. O caos, o fogo devorando tudo ao meu redor, os gritos de desespero ecoando pelos corredores. Foi então que o vi, Cold, surgindo da escuridão como um salvador em meio ao inferno. Meu coração disparou ao vê-lo, uma mistura de medo e fascínio me envolvendo enquanto ele me resgatava da morte iminente.

Desde aquele momento, me vi apaixonada por ele, embora nunca tivesse tido a chance de admitir isso em voz alta. Cold se tornou meu herói, minha esperança em meio ao desespero. Mesmo após perder meus pais naquela tragédia, encontrei consolo na ideia de que, de alguma forma, ele estava lá para me salvar.

Mas o tempo passou e as circunstâncias mudaram. Eu o via, às vezes, no cassino Infinite Money, sempre rodeado por uma aura de mistério e perigo. Ele parecia afundar em um abismo de decadência, enquanto eu, o via infeliz e muitas vezes triste.

Mesmo assim, não desisti dele. Eu o buscava no cassino, esperando por ele nas sombras da noite, pronta para oferecer-lhe uma mão amiga, dirigindo e o levando para sua casa, mesmo que ele não me olhasse, não falasse comigo e nem soubesse o quanto o amava em segredo.

E então, havia a dor da morte de meus pais naquela mesma noite. Uma tragédia inexplicável que assombrava meus pensamentos, deixando-me com mais perguntas do que respostas. Não conseguia entender como um incêndio tão devastador poderia ter acontecido, e porque meus pais nunca conseguiram escapar.

Levanto-me da cama com um suspiro pesado e vou até o closet dele. Observo as roupas penduradas, meticulosamente organizadas, cada peça parecendo ter sido escolhida com cuidado. Sinto o cheiro dele impregnado no ambiente, um aroma que me envolve e me faz sentir uma mistura de nostalgia e desejo.

Caminho entre as roupas, passando os dedos pelos tecidos, tentando capturar um vislumbre da pessoa por trás da máscara de frieza e distância. Cada item ali parecia contar uma história, uma parte do que ele era, ou do que ele queria que os outros vissem.

Fecho os olhos por um momento, deixando-me envolver pelo perfume que permeia o ar. É como se ele estivesse ali comigo, mesmo estando longe. E por um instante, permito-me sonhar com um futuro onde não somos apenas estranhos unidos por um contrato, mas sim duas almas ligadas pelo destino.

Mas então, a realidade volta a me atingir e eu me afasto do closet, deixando para trás as ilusões e os desejos não correspondidos. Ainda tenho muito a descobrir sobre ele, sobre nós e sobre o que o futuro reserva. E enquanto o cheiro dele continua a me envolver, eu me lembro do propósito que me trouxe até aqui: um casamento por contrato com data de validade, assim como um utensilio que tem a data da fabricação e do vencimento.

Pego a minha mala, abro e guardo as minhas roupas no closet, em seguida tomo um banho, coloco um pijama e me deito na cama dele, que estava totalmente perfumada pelo aroma marcante dele.

Tento dormir, mas não consigo, após duas horas me virando de um lado para outro, me levanto e vou até a janela, vejo um carro se aproximar da mansão e logo o vejo sair, ele tinha retornado, a Eloise que estava ao que parecia o esperando aparece diante dele e toca nele, como se tivesse se insinuando.

Eu saio rapidamente do quarto, desço as escadas e apareço na porta da mansão e digo:

— Amor, que bom que já retornou, estava o aguardando, podemos subir? — perguntei, forçando um sorriso enquanto meu coração martelava no peito. Ver Eloise tão próxima de Cold sempre mexia com meus nervos.

Eloise virou-se para mim, seus olhos faiscando de raiva. — Ah, claro, "amor". Não me surpreende que esteja tão ansiosa para tê-lo de volta. Afinal, acredita que ele é todo seu, não é mesmo?

Tentei manter a compostura, ignorando o veneno em suas palavras. — Eloise, por favor... Está tarde, melhor todos irmãos dormir.

Mas ela continuou, dirigindo-se diretamente a mim. — Você pode até ser a esposa dele, mas todos sabemos que a minha irmã é a única no coração dele, e eu sou a única capaz de entende-lo. Você nunca será capaz de saber o que ele sente, como eu sei.

—No momento, eu só estou pensando em satisfazê-lo e isso Eloise, você nunca será capaz de fazer.—digo e Cold vira me encarando, fazendo com que eu eu tenha a sua atenção.

A sensação de inadequação e ciúmes inundou meu peito. Eu sabia que Cold via Eloise apenas como uma irmã, mas a forma como ela o tocava e provocava me corroía por dentro. Olhei para Cold em busca de apoio, desejando que ele pudesse sentir a turbulência de emoções que eu enfrentava naquele momento.

Continua...

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