Parte 1...
Carolina - 24 anos
Bem que eu gostaria de terminar esse bolo hoje, mas não vai dar. Vou ter que esperar até voltar para casa e aí sim, terminar o mais rápido possível. Ainda bem que eu já tinha acertado com a cliente de só passar aqui em casa depois das dezoito horas.
Pedi a dona Célia que me liberasse hoje mais cedo e ela foi uma pessoa muito boa. Como sempre, aliás.
Eu já trabalho na casa dela há dois anos como babá da sua primeira filha, Júlia. Uma criança muito fofa e que eu gosto muito de cuidar. Júlia é fofinha, gorduchinha e com um sorriso lindo. Adoro a risada dela.
Quando consegui escapar da casa m*****a, ainda fiquei um tempo pelas ruas, até que encontrei Nilce, que é a pessoa que eu considero minha mãe. Eu não a chamo assim, mas tenho um grande carinho e gratidão por ela.
Se não fosse por Nilce, eu nem sei se estaria aqui hoje. É muito difícil a vida sozinha e nas ruas é mais ainda. É um jogo de sobrevivência que nunca sabemos como vai terminar. Eu pelo menos acho que consegui vencer.
Hoje eu tenho onde morar, tenho um emprego que gosto, estudo e ainda estou aos poucos evoluindo no que eu gosto de fazer e que pretendo que seja minha segurança para o futuro.
Olho o relógio na parede descascada da pequena cozinha. Quase seis horas da manhã. Eu ainda tenho tempo para pegar o ônibus e chegar no meu horário na casa da Célia.
— A que horas você levantou hoje?
Eu me viro e vejo Célia, em sua camisola creme, parada ao lado da porta, com sua bengala na mão. Ela sempre acorda cedo também e nos últimos dias está dormindo pouco. O remédio dela acabou e precisa de uma receita médica para comprar, só que o médico do posto só vai poder atender na semana que vem.
Às vezes eu a levo em médico particular, mas é muito caro, então só quando dá uma folguinha mesmo. O plano de saúde dela não cobre tudo e nem pode fazer várias visitas ao mesmo médico mais de duas vezes ao mês.
— Pouco depois das quatro - mexi de leve o ombro — Eu queria começar o bolo, mas só vou poder confeitar quando voltar à tarde. Depois do meio- dia.
— E já avisou no trabalho que vai precisar sair para entregar essa encomenda?
— Já sim. A Célia é muito compreensiva com isso.
— É bom que ela seja mesmo - Nilce torceu a boca — Do jeito que você cuida da filha dela.
— Nilce, isso faz parte do meu trabalho - peguei a bandeja redonda para o bolo — Ela sabe que eu estou fazendo meu curso e que minha vontade é um dia ter meu próprio negócio.
Coloquei o bolo com cuidado na bandeja redonda e cobri com a tampa transparente. Quando chegar vou correr para confeitar e entregar no tempo certo que marquei com a cliente.
Minha cozinha aqui é bem pequena, fica tudo muito amontoado, mas aos poucos começo a ter retorno do tempo e dinheiro que estou investindo para criar meus bolos. Não é fácil, tem que ter muita força de vontade e dedicação. Mas eu consigo.
Sei que posso, só é mais complicado e demorado do que para algumas pessoas. Eu já sei que para mim as coisas sempre são um pouco mais complicadas. É a história da minha vida.
— Deixa isso aí que eu vou arrumar para você. Vai trocar de roupa para não chegar atrasada. Sabe que esses ônibus quando chegam lotados, logo saem.
É verdade. Eu tenho que andar duas quadras até o ponto de ônibus mais próximo aqui de casa. Não me incomodo de ir andando até lá, só quando tenho que chegar um pouco mais tarde à noite, porque tenho medo de assaltos.
Na verdade, eu tenho medo pela manhã também, mas pela noite é mais perigoso. E já fui roubada duas vezes, então fico desconfiada, olhando para todos os lados.
Só quem já passou por uma situação dessa, sabe como é ruim a sensação de impotência que a pessoa fica quando é abordada por alguém querendo se aproveitar de você. E hoje em dia, um roubo simples é até algo menos ruim, se é que eu posso falar isso, do que outras coisas que fazem.
Eu agradeço por Nilce ter me tirado das ruas, mas um dos meus sonhos é poder tirá-la daqui também. Apesar da vila onde moramos ser até bonitinha e organizada, com poucas casinhas, o bairro não é nada bom.
Deixei tudo que iria usar na volta, já separado. Depois fui me trocar enquanto a Nilce faz um um café quentinho. Eu gosto do café dela, que é bem forte e me desperta na hora.
Coloquei a roupa de babá dentro da bolsa, deixei separado o ticket para o ônibus e terminei de me arrumar. Fiz uma trança grande e prendi com uma borrachinha. É mais prático trabalhar assim com o cabelo preso.
* O livro é completo. Um romance com drama, carinho e superação.
Acompanhe a história desse casal. Deixe seu like e comentário.
Deborah Bland
Parte 2...Júlia é uma menina muito ativa e uma coisa que ela ama, é puxar meu cabelo. Depois de uns dias cuidando dela, aprendi que se quero manter meus fios, a melhor coisa é fazer uma trança que dificulta mais pra ela.Sorri olhando meu reflexo no espelho. Eu gosto muito de cuidar da Júlia, mas não quero ser babá por muito tempo. Esse foi o melhor emprego que consegui, diante da situação que o país está. E não reclamo, Célia paga muito bem e também é uma ótima patroa. Ela não me trata mal e nem como se eu fosse inferior.Graças a Deus, de vez em quando eu encontro pessoas pelo meu caminho que me fazem acreditar que ainda existe esperança para o ser humano.Torci a boca. Minha mente insiste em me puxar de volta a algumas cenas de meu passado que gostaria de esquecer, mas que ao mesmo tempo é importante que me lembre, para não cair de novo em um erro como aquele.— Carol! - escuto Nilce me chamando da cozinha.— Já estou indo - gritei de volta. Peguei a bolsa e fechei o armário — Só
Parte 3...Eu fiquei nervosa e só fiz que sim com a cabeça, agarrando minha mochila. Meu pai disse que um tio vinha me buscar, mas eu não sabia quem era. Eu nunca tive um tio antes.Ele voltou para o carro e saiu sem olhar para mim. A última vez que eu vi meu irmão Mateo foi naquele carro, quando ele se virou e colocou a mão no vidro de trás, olhando para mim com cara de choro, enquanto o carro desaparecia pela avenida.Eu nunca mais vi ninguém da minha família. E depois de um tempo, eu até acabei esquecendo de que tive uma família um dia. Me acostumei com a ideia de que eu era sozinha e de que ninguém gostava mesmo de mim.E foi assim que eu cresci.Demorei um bom tempo, passando por muitas coisas, para então entender que eu tinha sido abandonada naquele dia. Por meu próprio pai, que foi embora levando meu irmão.Ele não me queria. Ao Mateo e aos meus outros irmãos sim, mas por algum motivo que me magoou por muitos anos, a mim ele não queria. E eu tentei entender, tentei arranjar mo
Parte 1...Lucas - 35 anos“Carolina é uma menina bem difícil de esquecerAndar bonito e um brilho no olharTem um jeito adolescente que me faz enlouquecerE um molejo que eu não vou te enganarMaravilha feminina, meu docinho de pavêInteligente, ela é muito sensualTe confesso que estou apaixonado por vocêÔ, Carolina, isso é muito naturalÔ, Carolina, eu preciso de vocêÔ, Carolina, eu não vou suportar não te verCarolina, eu preciso te falarÔ, Carolina, eu vou amar vocêDe segunda a segunda, fico louco pra te verQuando eu te ligo, você quase nunca estáIsso era outra coisa que eu queria te dizerNão temos tempo, então melhor deixar pra láA princípio, no domingo, o que você quer fazer?Faça um pedido, que eu irei realizarOlha aí, amigo, eu digo que ela só me dá prazerEssa mina Carolina é de abalar, oi.”** ** ** ** ** ** ** ** **Nossa, hoje o dia parece que vai ser daqueles de pelar. Logo cedo já faz calor. Diz o termômetro na parede que está trinta graus, mas eu não creio nis
Parte 2...Eu achei estranho porque ela era muito novinha pra ficar sozinha ali na esquina. Meus pais são esquisitos. Minha mãe só vive ocupada e o meu pai está sempre pela rua. Ainda assim, eu acho que eles não iam me mandar ficar em uma esquina esperando por alguém. É um pouco perigoso, mesmo sendo cedo.Ela olhou pra mim e seus olhos tinham uma certa mágoa. Eu não entendia, mas achei que ela não deveria estar ali. Me levantei e estiquei a mão para ela.— Você quer vir comigo para minha escola?A minha ideia era levá-la comigo e pedir ajuda a uma professora para descobrir quem ela era mesmo e onde morava. Na escola tem psicólogos e também a diretoria tem contato com a polícia. Isso poderia ajudar. Pelo menos ela não ia ficar ali sozinha.Ela me deu um sorriso delicado e levantou, segurando minha mão, mas antes que eu falasse mais alguma coisa, senti uma mão forte em meu ombro, me puxando para trás.— Você é maluco garoto?Eu me virei para olhar para trás e até ergui as sobrancelhas.
Parte 3...E eu já tive outros casos desse tipo, onde a parte mais forte, no caso com poder financeiro, acaba se safando de ter a punição merecida e a vítima fica abandonada e dependendo do que seja feito, a própria vítima acaba sendo julgada como culpada.A vida é muito cruel.Eu sei bem disso porque quase caí nesse mundo da injustiça e por pouco abandonei meus sonhos de ter uma boa vida. Foi bem difícil, tive que apanhar um pouco da vida, mas aprendi, lutei e consegui ser forte para me posicionar do outro lado.Com a família tóxica que eu tive, seria de se esperar que eu estivesse preso a essa altura ou então morto. É muito difícil você conseguir ter um caminho certo, quando as pessoas que deveriam estar ao seu lado, lhe dando impulso, são as que mais te puxam para baixo e sem motivo nenhum, apenas porque você não pode ser mais do que eles mesmos.Me viro e vejo um pequeno sachê de alfazema em cima da prateleira na estante, ao lado de meu primeiro livro de direito. Me aproximo e o p
Lucas - 35 anosEu estava em um ponto de ônibus com minha irmã Célia. Ela tinha um teste para fazer, na escola de balé. Como nossos pais não podiam ir, então eu a levei. Eu ainda não tinha recebido minha carteira de motorista, mas estava ansioso por isso. Estava com dezoito anos e Célia com quatorze. Era muito bonita e chamava atenção. Alta e magra e tinha uma postura muito elegante devido as aulas de balé.Eu fazia vários trabalhos para conseguir grana, já que meus pais não davam a mínima para minhas necessidades ou de minha irmã. Como ela conseguiu uma bolsa para estudar no municipal, que era muito procurado, eu ajudava a pagar com o pouco que ganhava nos trabalhos que fazia.Se ela fosse depender dos nossos pais, coitada, nem teria ficado um mês na escola. Eu até hoje não entendo porque certas pessoas resolvem ter filhos.Se você não tem mesmo vontade de ter uma obrigação pra vida toda, independente da idade do filho, apenas não tenha. É melhor, mais simples e evita causar problem
Parte 1...Carolina - 24 anos Eu estava lendo uma história em quadrinhos para a Júlia. Ela adora quando eu leio para ela e sempre que pode, ela anda pela casa com algum livrinho ou então uma revistinha que a mãe compra e às vezes o pai também.Célia está enrolada com o pai da Júlia. Eles estão em um processo de separação, mas ainda sentem algo um pelo outro, dá para perceber. Humberto é um pai muito bom para a Júlia. A menina adora quando ele está em casa e sempre que vai embora, eu percebo que ele vai com o coração pesado.Não me meto na vida das pessoas, menos ainda na vida de quem paga meu salário, mas pelo que vejo, os dois ainda se amam, porém não conseguem lidar com o erro de Humberto.Nunca perguntei nada sobre o que houve, mas ouvindo uma coisa aqui e outra ali, comecei a entender que houve uma traição da parte dele, o que causou todo o problema. Célia não aceitou isso e ficou bastante magoada. O que é bem normal.Suzana pelo jeito é do lado de Célia. Toda vez que Humberto c
Parte 2...Lucas estava bonito, cabelo mais curto e dirigia um carro que parecia novo. Isso tinha sido mais ou menos uns dois anos antes. Eu o reconheci, assim como aconteceu da outra vez, em que estava no fundo da pick-up e não tive tempo de pedir ajuda a ele, porque o carro saiu rápido e eu tive que me segurar para não ser jogada de um lado para outro.Dessa vez eu estava na calçada e ele no carro, mas fiquei com vergonha de chamá-lo. Talvez porque ele parecia tão feliz e estava acompanhado, que me senti mal de estar com uma roupa velha e suja. Não queria que ele me visse daquele jeito.— Pronto, podemos ir - eu disse sorrindo.— Ainda bem, você demora demais para arrumar as coisas. É só jogar tudo dento da mochila e pronto.Ele pega minha mão e sai me puxando. Sempre apressado. Somos assim. Eu sou calma e ele é agitado. Acho que por isso que começamos a ser amigos e depois ficamos juntos.Eu observo as novas tatuagens que ele tem no braço. Lucas adora tatuagens e resolveu que vai t