Alex sangrava muito. Segurava o pano para tentar estancar o sangue, mas parecia inútil. Capitão Silva observava o rapaz. Estava também preocupado com Marcelo. O homem se mantinha desacordado depois da surra que levara de Alex. Não que não merecesse. A questão era que Capitão Silva sabia que ele poderia ser uma testemunha importante no caso da menina que estava investigando com o doutor.
Jenifer estava inconsolável. Queria fazer alguma coisa. Ela se sentia inútil. Era como se seu mundo estivesse caindo.
Duas ambulâncias chegaram ao mesmo tempo. Os paramédicos de uma delas foram diretos atender Marcelo, caído e quase morto. Outros dois viram Alex. Ele ainda sangrava muito e parecia que a bala estava alojada.
Alex estava um pouco zonzo. Escutava os médicos falando. Não tinha forças para acordar. Sonhou. Sonhou com sua filha falecida que mais uma vez sorria para e
Amanheceu. Estela e João entraram no carro. Era o dia que combinaram com Marcelo para pegarem a menina. Estela carregava uma pequena caixa. Dentro dela, estava o vestido laranja e branca:– João, no dia em que jogaram fora, ainda bem que você conseguiu recuperar o vestido. Precisamos manter a tradição de entregar a menina com o vestido. É assim que eles sabem do que se trata e que abrem as portas para nós. Não quero dar explicações para aqueles seguranças, vamos levar a menina com o vestido.Tudo pronto. O carro começou a andar em direção a casa de Marcelo. Ali, pegariam a menina e levariam para seu chefe.Estela lembrava de várias coisas naquele dia. Abriu a caixa e olhou para o vestido.A mulher ganhara o vestido vinte anos antes. Foi o último presente que o seu pai lhe deu. Colocou nela e, depois, por conta
Estela e João foram levados para a delegacia mais próxima. Lá, foram colocados em celas separadas. Seriam ouvidos assim que o Capitão Silva chegasse, pois ele fazia questão de escutar os dois.A chegada do capitão se deu no final da tarde devido a tudo que resolvera na cidade na parte da manhã.O primeiro a ser ouvido foi João. O policial fez uma única pergunta:– Qual é o esquema, João?João olhou seriamente para o policial e respondeu de maneira fria:– O esquema é ganhar dinheiro. Ou você acha que a gente pega essas crianças para cuidar? Sabe o trabalho que é até entregarmos para o meu chefe?O policial foi incisivo:– Quem é o seu chefe?João riu, debochando do policial:– Desculpe, capitão. Eu não vou lhe entregar o homem que me ajudou a vida inteir
Antes de ir embora para a cidade onde ficava o abrigo, Alex resolveu ficar uns dias e solucionar umas pendências.Primeiro, foi na sua antiga casa com Jenifer. Lá estava ela, a casa com um quintal. Lágrimas desciam mesmo antes de entrar.– Foi aqui, Jenifer, que eu, minha esposa e minha filha fomos muito felizes. Ela brincava no quintal e nós trabalhávamos dentro de casa.Entraram. Uma mistura de nostalgia com tristeza invadiu Alex. Olhou cada canto da casa, lembrando do que passara ali. Foi a uma escrivaninha, pegou uma pasta com um monte de papéis e saiu com a menina.Encontraram com o doutor, que estava ali perto.Alex dirigiu até o cemitério com flores no carro. Deixou Jenifer e o doutor dentro e seguiu sozinho, com as flores nas mãos. Caminhou, lentamente, até chegar na lápide onde sua esposa e sua filha foram enterradas.Chorou. Lágri
– Mas... Doutor, você tem ideia do que está me pedindo? Logo para mim? Um homem alto, magro, com óculos e vestido com jaleco branco, sentado de frente para ele respondeu bem seguro: – Essa é a única opção que consegui para você. Depois de tudo o que aconteceu, não acho que você tenha muitas escolhas, meu amigo. – Mas... depois de tudo... É muito difícil. – Eu sei, Alex. Entretanto, você sabe qual é a outra opção. Alex coçou a cabeça. Estava vestindo uma calça preta, cam
Alex desceu do ônibus na frente da antiga casa que se tornara um orfanato. Viu uma placa, já apagada, escrito apenas “Abrigo”. Era uma manhã de primavera e o sol despontava sobre o lugar exibindo a beleza daquela construção. A casa pertencera a um senhor milionário que morara na rua quando criança e não queria ver nenhuma criança passando pelo que passou. Equipou a casa com quartos e salas de aula. Assim, poderia dar educação de qualidade e abrigo para todos. A casa, com 3 andares, contava com 18 quartos, 6 salas, 3 cozinhas e 8 banheiros. O primeiro andar ainda contava com a administração e a sala dos professores. A fachada lembrava uma catedral europeia do século XVII. Criara o abrigo cinquenta anos atrás, e o admin
Alex dormira mal. Tivera pesadelos. Os mesmos de sempre. Lembranças que o perseguiam e que jamais sairiam de sua mente. Eram tão intensos que acordara e sua camisa estava molhada de tanto transpirar. Tomou um banho frio. Detestava água fria, mas era o que fazia desde então. Cada gota fria em seu corpo era como se apanhasse, como se culpasse seu corpo e alma por tudo que acontecera. Escutara do doutor que não foi sua culpa e que deveria deixar o passado de lado e procurar um novo sentido para sua vida, porém era em cada banho gelado que se punia. E nada poderia fazer com que se sentisse menos culpado. Saiu, com frio, e viu o corpo com uma coloração roxa no espelho. Se secou e colocou uma roupa quente. De um dia
Amanheceu. Alex não dormira em nenhum momento. Levantou de sua cama vestindo ainda a roupa que usara no trabalho no dia anterior. Sentia-se sufocado. Tirou a roupa e entrou para seu banho gelado. Ao sair, colocou uma roupa confortável. Estava se sentindo mal ainda. Falta de ar. Sua cabeça doía. Ele se arrastou até o canto da cama, de onde pegou uma caixa de remédios. Tremia. Suas vistas estavam embaralhadas. Dentro da caixa, pegou um pequeno recipiente e pingou diretamente na boca dez gotas de um remédio. Lembrou do doutor falando: “não use mais do que duas gotas por dia”. Duas gotas. Não faziam efeito para Alex
Alex passou o dia em torno de Jenifer. Queria realmente ter a certeza de que a deixaria bem. O seu nível de preocupação com a menina era tão alto que deixou de lado até mesmo sua crise de ansiedade e seus problemas, focando somente em deixa-la bem.Assim como nos outros dias, a turma de Jenifer foi a última a ser levada para a sala. Curiosamente, Pedro chamou a menina para ser sua dupla. E ela aceitou. Alex não pode deixar de ficar feliz e encantado com as crianças, que, tão inocentes, deixaram de lado uma briga para poderem estudar e se divertir juntos naquele momento.Por outro lado, Alex conhecia a maldade humana em sua essência e não se enganava com as pessoas. Percebera que Estela e João estavam planejando algo para a menina. E não poderia deixar de se preocupar, já que a menina era pequena e inocente.Talvez nem tanto. Talvez ela tivesse algum segredo tamb&eacu