Um esboço de sorriso ameaça aparecer nos lábios de Hector, mas ele se contém rapidamente. Afinal, ele meio que esperava essa reação. Sabia que, assim que Ava recuperasse totalmente a memória, o orgulho e a vergonha a dominariam, impedindo-a de encarar os pais e admitir que havia errado.No entanto, ele se finge de desentendido.— O que quer dizer com isso?Ela se aproxima novamente da mesa em que ele está sentado e comenta:— Já está muito tarde, e eu não acho uma boa ideia sair daqui a uma hora dessas.Balançando a cabeça em sinal de negação, Hector passa a mão pelo cabelo, num gesto que denota nervosismo.Embora ele faça isso de modo automático, Ava não deixa de notar sua beleza. Desde que assumiu a presidência da empresa da família, ela conhecia a reputação de Hector Moreau como um homem poderoso e temido. Imaginava um senhor idoso e ranzinza, mas ao encontrá-lo pessoalmente e serem apresentados, sua surpresa foi imensa. Nunca esperava que ele fosse tão jovem e atraente. Engolindo
Percebendo que Ava fica nervosa com a proximidade, Hector decide provocá-la mais ainda.— Não acho que você tenha algo que me interesse — diz ele, notando a surpresa no olhar dela, assim que ouve a sua resposta.— Como assim? — questiona incrédula. — Se esqueceu de que sou uma pessoa muito influente? Vamos, seja sincero! — insiste.— Eu não estou nem aí para a sua influência — rebate.— Mas… — O rosto atordoado de Ava mostra um certo descontentamento, pois achava que Hector cederia.Hector se afasta e vira-se sorrindo por perceber que a deixou confusa. Enquanto a notava sem palavras, ele pensava sobre o que poderia pedi-la em troca por ajudá-la. Se não tivesse comprado as ações da empresa dela, poderia negociá-las naquele momento, o que seria um ótimo acordo, mas ele não precisava mais disso, já que as detinha em sua mão.O que mais ele poderia querer de Ava?Ela realmente era uma mulher bem-sucedida, com um futuro e carreira promissoras, também tinha muita influência no mundo corpora
— Casamento?Nada supera o choque estampado no rosto de Mark no instante em que Hector revela a proposta que fez para Ava. É como se, por alguns segundos, ele nem soubesse o que dizer — apenas arregala os olhos, com a boca semiaberta, tentando processar o absurdo que acabava de ouvir.Sentados em um bar discreto da cidade, longe dos olhares curiosos, Mark empurra a cerveja sem álcool para o lado e encara Hector como se ele tivesse enlouquecido de vez.— Me diz que é brincadeira, Hector — ele solta, com um fio de voz.Hector apenas dá de ombros, como se estivesse comentando algo tão banal quanto a previsão do tempo.— Foi a única coisa que pensei — responde, relaxando na cadeira e levando o copo de uísque aos lábios com calma.Apoiando os cotovelos na mesa, Mark inclina-se para frente e sussurra, sério:— Pedir a mulher em casamento? A mulher que você manteve escondida e enganada até perder a paciência?— Exagero seu — Hector rebate com um sorriso enviesado. — Eu a protegi… à minha man
Com a ponta do nariz, Hector desliza lentamente pela pele exposta da mulher, inspirando seu perfume como se estivesse provando o perigo. A moça fecha os olhos, arrepiada, enquanto ele coloca a mão firme em sua cintura, puxando-a discretamente para mais perto.Mark assiste à cena, balançando a cabeça em descrença, mesmo que não gostasse de se meter na vida do amigo, decide comentar:— Cuidado — provoca com um sorriso. — Dizem que o pecado sempre cobra seu preço.Hector apenas sorri de canto, com os olhos agora queimando como um predador que queria devorar a sua presa.— Que venha a conta… — sussurra ele, antes de deixar seus dedos deslizarem lentamente pela linha da coluna da mulher. — Qual é mesmo o seu nome?— Me chamo Kelly e a minha amiga, Dulce — ela responde.Sentindo que já tinha Hector em suas mãos, Kelly se inclina ainda mais, roçando propositalmente os seios nele. Com um sorriso malicioso, sussurra em seu ouvido:— Que tal irmos para um lugar mais… reservado? — questiona Kell
Dulce sai da mesa e caminha pelo bar como uma predadora, seu vestido curto molda cada curva de seu corpo. Ela caminha até a mesa de James e seu acompanhante com a autoconfiança de quem já sabe que vai vencer.Assim que chega, ela se inclina com um sorriso descarado e apoia as mãos na mesa, fazendo questão de exibir ainda mais o decote generoso.— Boa noite, rapazes — sua voz sai melosa, quase num sussurro. — Espero não estar interrompendo nada importante.Levantando o olhar surpreso, James deixa que seus olhos deslizem lentamente pelo corpo dela. Ao notar a sua presença, rapidamente esboça um sorriso forçado — daqueles que se dá para manter as aparências em público. Afinal, o bar estava movimentado e, mesmo em uma área reservada, havia olhares curiosos por todo canto.O acompanhante de James, no entanto, cruza os braços e a observa com desconfiança, claramente incomodado com a intromissão.— Podemos ajudar em alguma coisa? — James pergunta, num tom suave, enquanto joga o braço despreo
— Não acredito, eu vou ser mãe!Ava mal podia acreditar no que estava vendo. Em frente ao espelho do banheiro de seu escritório, lá estava ela, segurando um teste de gravidez com o resultado positivo que tanto sonhou.Desde que perdeu seu primeiro bebê num aborto espontâneo, o médico disse que seria bem difícil engravidar de novo. Mas agora, olhando para o resultado positivo nas suas mãos, tinha certeza de que estava vivendo um milagre.As lágrimas começaram a cair sem controle. Era um misto de alegria e alívio depois de tanto tempo tentando.— Não posso guardar essa notícia só para mim — ela murmura, já imaginando a cara de surpresa do seu noivo.Ajeitando a maquiagem borrada e a roupa elegante que usava, ela sai do escritório com a postura altiva, que sempre teve diante de seus funcionários.Quem não a conhecia pensava que ela não passava de uma herdeira poderosa que tinha o mundo inteiro em suas mãos, E, bom, ela meio que tinha.Mas… a sua vida pessoal era bem diferente do que apar
O som insistente de um bip de um aparelho médico desperta Ava, que se esforça para abrir os olhos, no entanto, está excessivamente debilitada para fazê-lo.Com dificuldade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas não reconhece o lugar onde está. Com um esforço extra, tenta mais uma vez abrir os olhos por completo e, após algum tempo, consegue.— Como você está se sentindo? — uma voz masculina ecoa pelo ambiente. Virando o rosto em direção ao lugar de onde vem a voz, Ava avista um homem sentado numa poltrona ao lado da cama.— Onde eu estou? — murmura, com a voz fraca.— Eu te perguntei como está se sentindo — O homem insiste, um pouco mais firme. Reunindo a pouca força que lhe resta, Ava abre os olhos completamente e encara o homem ao seu lado. Ele está vestido em um elegante terno preto e a observa com um olhar intenso e sério, aguardando ansiosamente por uma resposta. — Estou sentindo muita dor, em todo o meu corpo — responde. — Mas a minha cabeça é a que mais dói — acres
A pergunta de Ava pega Hector tão de surpresa, que ele fica inquieto por alguns milésimos de segundo.Mesmo com a falta de memória, ele nota que Ava continua inteligente e perspicaz. O que lhe atrai a atenção. No entanto, Hector também é um homem astuto, por isso, formula rapidamente uma desculpa que possa convencê-la.— Meu amor, você está sob cuidados médicos. O médico recomendou que evitássemos usar qualquer coisa que pudesse transmitir bactérias, inclusive alianças — explica. — Se notar a sua mão direita, verá que também está sem o anel.A resposta parece convencê-la por um momento. Contudo, para Ava, já não bastava estar atordoada por não conseguir se lembrar de nada da sua vida, agora estava diante de um homem totalmente estranho, que diz ser seu noivo. Aquilo soa mais assustador do que imagina.— O doutor supôs que você poderia não se recordar do que aconteceu — comenta Hector, tocando levemente a mão dela, aproveitando-se da situação vulnerável que ela enfrentava. — Então vim