Camélia afundou o rosto nas mãos, ansiosa e agitada.
— Eu não acredito que isso tá acontecendo.Kael deslizou a mão por suas costas, acariciando sua pele nua com a ponta dos dedos.— Relaxa, lobinha. Minha mãe vai gostar de você.Ela se virou para encará-lo, olhos semicerrados.— Não é essa a questão!Ele sorriu, puxando-a para um beijo rápido antes de roçar o nariz no dela.— Vamos. Melhor enfrentar isso de uma vez.Camélia respirou fundo e aceitou a mão dele, sentindo o coração disparado conforme desciam as escadas. Kael e Camélia desciam as escadas lado a lado. Ele mantinha a mão na cintura dela, um gesto possessivo e protetor ao mesmo tempo. Mas Camélia sentia o estômago revirar de nervoso.— Você tem certeza de que sua mãe não vai querer me matar? — murmurou baixinho, lançando um olhar de canto paraDepois de terminar o banho e se vestir, sentou-se na beira da cama, pegando a toalha para secar os cabelos. O reflexo no espelho mostrava alguém diferente daquela que chegou a Serra dos Riachos dias atrás. Então, o celular vibrou ao seu lado. 📱 Kael: "O que acha de sairmos hoje? Quero te levar para um lugar." Ela sentiu um sorriso escapar antes mesmo de perceber. 📱 Camélia: "Isso é um encontro?" 📱 Kael: "Isso é eu te sequestrando por algumas horas. Se quiser chamar de encontro, tudo bem." 📱 Camélia: "Eu poderia recusar?" 📱 Kael: "Poderia. Mas nós dois sabemos que não vai." Ela revirou os olhos, mas sentiu seu coração acelerar. O que quer que fosse aquilo entre eles, já havia sido decidido. E, para sua surpresa, ela queria ver onde aquilo os levaria. Q
O desejo era palpável, quase insuportável. Kael puxou Camélia para mais perto, as mãos deslizando pela curva de sua cintura até pousarem com firmeza em sua bunda. O aperto foi possessivo, quente, arrancando dela um suspiro entrecortado. — Você não presta, Braga — ela sussurrou, mordendo o lábio inferior dele antes de capturar sua boca novamente em um beijo faminto. Kael rosnou baixo, puxando-a contra si, sentindo os corpos se encaixarem como se fossem feitos um para o outro. As mãos dele subiram devagar, explorando suas costas nuas, traçando sua pele quente com os dedos calejados. Camélia arfou quando sentiu a ereção dele pressionando sua barriga, e um sorriso atrevido se formou em seus lábios. — Se continuar me provocando desse jeito, lobinha… — Kael começou, a voz rouca e carregada de desejo.
A casa de Kael foi esvaziando aos poucos. Primeiro Ricardo, depois os avós de Camélia, seguidos por Flor, Gustavo e Cauã. Ithan foi o último a sair, não sem antes lançar um olhar sugestivo para o irmão e revirar os olhos com diversão. — Não faz besteira, Alfa. — Ithan provocou antes de fechar a porta atrás de si. Kael bufou, balançando a cabeça, mas não respondeu. Seus olhos logo se voltaram para Camélia, que ainda estava sentada no sofá, a mente claramente distante. Ele não queria que ela fosse embora ainda. — Fica mais um pouco. — A voz dele saiu baixa, mas carregada de algo que fez Camélia erguer o olhar de imediato. Seus olhos cinza encontraram o dourado intenso de Kael, e por um instante, ela soube que ele precisava dela ali. — Tá tudo bem? — Ela perguntou, observan
O gabinete de Kael era amplo e rústico, com móveis de madeira escura e mapas espalhados pela mesa. Livros antigos sobre a história da matilha estavam empilhados em um canto, e a luz fraca da luminária lançava sombras longas pelas paredes.Tânia estava sentada na poltrona de frente para Kael, os braços cruzados, a expressão tensa. Azíria permanecia encostada na parede, observando tudo com aquele olhar distante e atento de quem sempre sabia mais do que dizia.Kael respirou fundo antes de começar.— A gente precisa conversar sobre Bianca.Tânia arqueou uma sobrancelha, o olhar se tornando desconfiado.— O que tem ela?Kael apoiou os cotovelos na mesa, mantendo a voz firme, mas controlada.— Eu acredito que ela esteja te manipulando. Desde o começo.Tânia soltou um riso curto, sem humor.— Você só pode estar brincando.— Não estou. — Kael respondeu sem hesitar. — Você já parou para pensar em como, desde sempre, ela esteve ao seu lado reforçando essa ideia da gente ser predestinados? Como
As luzes do festival reluziam no reflexo dos olhos afiados de Tânia. As barracas enfeitadas, a música e o aroma doce de especiarias pairando no ar pareciam insignificantes diante da cena à sua frente. Kael e Camélia caminhavam lado a lado. Os sorrisos eram sutis, mas naturais demais, confortáveis demais. O estômago de Tânia revirou. Merda. Ela sentiu antes mesmo de processar. Aquela pontada incômoda, aquele aperto quente dentro do peito. Algo que não deveria sentir. E Bianca percebeu. — Tá te incomodando? — A voz de Bianca deslizou como um fio de veneno macio, cheia de doçura falsa. O dom dela se espalhou no ar. Sutil, insistente. Mas Tânia já esperava por isso. Ela fingiu ceder, fingiu deixar a raiva crescer e atravessou o festival sem hesitar, indo direto até Kael e Camélia. A cidade assistiu. O Conflito
Serra dos Riachos não era uma cidade qualquer, era viva e pulsava sob os pés dos que passavam, sussurrava através das árvores, escondia segredos no reflexo dos riachos, era uma cidade que respirava. Aqui, o mundo visível e o invisível se entrelaçavam. Aqui, lendas não eram apenas lendas. Safira foi a primeira a ouvir o aviso, nas águas calmas do Bosque da Névoa, onde as guardiãs buscavam refúgio para se centralizarem, criarem amuletos e discutirem o destino da cidade. Em um desses momentos, a profecia veio até ela como um sussurro no vento, como se a própria Serra dos Riachos se materializasse. A noite estava densa, o ar carregado com o peso de algo que não podia ser visto, apenas sentido. A lua cheia pairava alta no céu, derramando sua luz prateada sobre a floresta silenciosa, que servia como testemunha de segredos antigos. No centro da clareira, um círculo de guardiãs permanecia imóvel, como se aguardassem algo. No meio delas, Safira ergueu o rosto, seu olhar intenso refletindo o
Camélia nunca gostou de perguntas sem respostas, ela era do tipo que desvendava padrões, que lia entrelinhas e desconfiava de silêncios longos demais. Cresceu sendo a pessoa que resolvia problemas, que planejava antes de agir, que não gostava de sentir que estava sendo deixada de fora de algo. E, naquele momento, algo não fazia sentido, a avó arrumando a mala com um olhar perdido. O avô mais silencioso do que o normal e o nome de uma cidade que nunca tinha ouvido antes: Serra dos Riachos. Desde pequena, Camélia sabia que sua família era diferente. Mas, em vez de histórias mirabolantes sobre o passado, havia apenas silêncio. Seu avô mudava de assunto quando questionado. Sua avó sempre dizia que o passado já havia ficado para trás. Seus pais também nunca pareceram curiosos sobre isso. Agora, aos vinte e cinco anos, Camélia percebia que aquilo nunca tinha sido normal. Seus pais, Flor e Gustavo, eram um casal equilibrado. Flor era mais reservada, dona de uma paciência invejável, mas
A primeira passagem que encontrou foi comprada sem pensar duas vezes por Cauã. Camélia arrumou suas coisas rapidamente, a tensão aumentando a cada minuto que se passava. A viagem pareceu interminável. Cada quilômetro percorrido apenas reforçava sua certeza de que algo estava errado, de que estavam atrasados para algo que ainda não compreendiam. Quando a aeronave finalmente pousou, ainda de manhã cedo, ela inalou profundamente o ar fresco, notando como ele parecia diferente. Mais puro, carregado com o frescor da vegetação e o perfume das flores espalhadas pelo vento. A névoa fina dançava entre as montanhas, como um véu separando dois mundos. O ar gelado da manhã a envolveu assim que saiu do avião, um abraço aconchegante depois de horas abafadas dentro da cabine. O cheiro de terra e grama molhada entrou em seus pulmões, como uma brisa suave e bem-vinda. Porém, algo a fez hesitar. Camélia sentiu que estava pisando em um território que carregava mistérios, e ela não sabia o porquê. Tam