Já haviam se passado dias, eu me tranquei neste quarto, não saía de modo algum. Estava mergulhada na tristeza, sentia saudades do Oliver e do Noah. Ah, o Noah! Como meu pedacinho de gente deveria estar? Hoje, ele completaria mais um mês de vida e começaria a introdução alimentar. Estava contando com esse dia, me sentaria com ele no jardim, ofereceria seu primeiro pedaço de fruta. Me sentia um caco, pensei em várias vezes ligar para a fazenda, mas tinha tanto medo de Liana descobrir e fazer algo com meu pequeno bebê. A dor no meu peito era dilacerante, eu não conseguia comer ou dormir, ou me levantar e tentar fazer algo. Precisava dar um rumo à minha vida, meu dinheiro acabaria, se eu ficasse apenas definhando nesse lugar, logo o telefone do quarto tocou. — Oi… — Oi, é a Aurora? — Sim. — Desculpe incomodá-la, meu nome é Rose, eu sou aqui da recepção, é que já faz uns dias que está hospedada conosco e não vi a senhorita saindo do quarto. Queria saber se está tudo bem. — Ah, sim! M
— O que faz aqui? — Bem. — Comecei — Me desculpa. — Eu estava toda sem jeito. — Estou fazendo um teste para trabalhar aqui. — Trabalhar aqui? — Perguntou sério. — Sim, na faxina e na copa, hoje é o meu primeiro dia, sinto muito por isso. — Você é um pouco desastrada, não é? Quando ia responder, Rafaela apareceu. — Bom dia, doutor Tácio, essa é a Aurora, ela está treinando para trabalhar conosco. Eu não podia acreditar, o doutor era o mesmo homem que esbarrei há alguns dias, e que me comprou o celular. — Aurora… — pensou, antes de falar. — Por que ia saindo tão depressa? — O rapaz que acabou de fazer a entrega do café deixou a carteira cair, ia tentar alcançá-lo. — Olha aqui. — Entrou na copa e mostrou um caderno. — Sabe o que é isso? — Insinuou para o que estava em sua mão. — Isso é uma agenda, contém o número de telefone dele, não precisa correr por aqui, isso é uma clínica, há pacientes com problemas de visão, imagina esbarrar em um deles. — falou nervoso. — Me desculpa, n
Já fazia três meses que estava trabalhando no consultório. Rafaela, sempre que podia, aparecia para conversarmos, ficamos amigas e começamos a sair nos fins de semana. O doutor Tácio sempre tomava café na copa e não voltou a ser ignorante ou falar algo que me deixasse desconcertada. Na verdade, ele era bem-educado e sempre perguntava como eu estava. Acabei alugando uma pequena casa, na verdade, eram 3 cômodos que ficavam aos fundos da casa de uma mulher, tia de Rafaela, que se chamava Telma. Ela era uma mulher de 40 e poucos anos, vivia com o marido, que era motorista de ônibus, tinha uma filha de 13 anos, inteligente que só, sempre ficava conversando comigo a noite. Todos da família da Rafa eram pessoas boas, eu tive muita sorte de encontrá-los de primeira. Eu não havia comprado muitos móveis, pois estava poupando o máximo de dinheiro possível, comprei apenas uma cama de solteiro, um guarda-roupa, um fogão bem simples e uma pequena geladeira usada. A casa onde morava tinha uma sal
— Ai Rora, desculpas, eu sabia que você não bebia nada alcoólico, mas não achei que essa trufa pequenininha iria te fazer isso. — Tudo bem Rafa, nem eu imaginava que isso iria acontecer. — Toma esse copo de água. — Me estendeu a mão com um copo. — Só por causa disso, deixa que eu pago a conta hoje a noite. — Sério? — Não se acostume, ouviu? — Falou, passando a mão nas minhas costas. — Olha, eu estava pensando, a gente poderia chamar o Tácio para ir conosco. — Você está louca? Por que faríamos isso? — Ah, tudo bem, se você não quer. — Respondeu desanimada. A noite estava me arrumando, resolvi colocar a mesma calça que usei na feira agropecuária, presente da Denise, mas quando fui abotoar deu um trabalhinho. Eu estava me alimentando melhor, pois havia decidido não deixar meu corpo sofrer com meus problemas. A Rafaela buzinou de frente à minha casa, ela tinha um carro, o que era bom, pois assim a gente podia ir para lugares mais distantes, eu a ajudava sempre na gasolina, mesmo el
Após comermos e jogarmos conversa fora, era hora de ir. Estava feliz por não trabalhar na clínica aos sábados, em compensação, voltei a fazer meus lacinhos e os vendia no centro da cidade nos meus dias de folga. O telefone de Rafa tocou enquanto íamos saindo. — Tudo bem, eu só vou levar uma amiga em casa e passo aí. — Falava para a outra pessoa do outro lado da linha. — Aconteceu algo, Rafa? — Tácio perguntou preocupado. — Minha professora disse que tem algo pendente no meu TCC, e pediu que eu fosse lá imediatamente. — Então vá, não se preocupe, eu levo a Aurora em casa. Rafa se despediu de nós. E eu entrei no carro do Tácio. Me senti totalmente sem jeito. Quando a Rafaela estava junto, a nossa conversa rendia, mas quando era só nós dois, não saía muita coisa. — Quer ir a algum lugar? — Perguntou, enquanto colocava o cinto de segurança e ligava o carro. — Não, pode me deixar em minha casa mesmo. — Tem certeza? A cidade é tão grande e ainda é cedo, aposto que não a conhece total
Três meses. Havia se passado exatamente três meses desde que a Aurora se foi. Eu ainda não conseguia assimilar sua falta, a casa não parecia a mesma, toda a alegria havia ido embora, a única coisa que me deixava feliz era o Noah, que estava começando a rastejar pelo chão, e falava papai. Toda vez que me via, me chamava, o que fazia meu coração se acalmar. Eu não sei o que seria sem meu filho, serei eternamente grato à Aurora por ter me feito enxergar que ele era o ser mais puro e inocente dessa história toda. Havia colocado todas as suas coisas em meu quarto, era lá que ele dormia agora. O quarto da Aurora ficou fechado, não deixei ninguém entrar. Às vezes eu ia para lá e me deitava na cama, que ainda tinha seu cheiro, era uma forma de matar a saudade, que estava me torturando mais-que-tudo. Agora estou aqui no escritório, olhando o celular e vendo sua foto que tirei na praia. — Tão linda. Ela não respondeu mais às minhas mensagens, e seu celular sempre dava desligado. Seja lá o q
Acordei no sábado pela manhã com o estômago embrulhando, não devia ter comido aquele lanche tão gorduroso, depois que comecei a comer essas coisas, sentia minha barriga mais inchada e havia engordado um pouco mais. Tomei um remédio para enjoo e fui para o centro vender meus laços. Havia aprendido o caminho para o centro, como ia bem cedo, o sol não me queimava tanto. Eu me sentava num certo ponto de uma praça bem movimentada e colocava os laços à mostra. O local onde ficava era um ponto estratégico, onde muitas pessoas passavam, tinha dias que vendia todos, mas algumas vezes, quase nenhum. Eram quase duas da tarde e consegui vender quase todos os laços, só restaram dois, então decidi que já era hora de ir para casa. Arrumei minha bolsa e me levantei. Logo tudo ao meu redor resolveu rodar, minhas vistas se escureceram e senti meu corpo bater no chão. — Moça, você está me ouvindo? Ouvi a voz de uma pessoa me chamando. — Chamamos uma ambulância, não se preocupe. — Outra voz disse.
Saí do hospital arrasada, quando tentava assimilar a ideia da gravidez, me veio mais essa notícia. — Duas crianças? Como darei conta de duas crianças? — Eu estava em choque, se uma criança já dava trabalho, duas então. — Amiga, nesse momento, você precisa ficar calma primeiro. — Rafa, a casa em que moro mal me cabe. — Você pode arrumar outra. — Como vou dar conta de um aluguel mais caro, ainda mais com duas crianças? Meu Deus, Rafaela, dessa vez a vida pegou pesado comigo. Eu chorava de desespero. — Calma, Aurora e essa criança, quero dizer — corrigiu — Essas crianças, não são só responsabilidade sua, você precisa avisar o pai também. — Rafa, é tão complicado. — Sei que é, mesmo que você não tenha me contado sua história, eu sei que as coisas são difíceis para você, mas agora, não é mais sobre você, e sim sobre dois seres totalmente inocentes. — Você tem razão. Após chegarmos em casa, Rafaela não me deixou sozinha, preparou algo para comer, tomei um banho demorado e tentei c