— Ai Rora, desculpas, eu sabia que você não bebia nada alcoólico, mas não achei que essa trufa pequenininha iria te fazer isso. — Tudo bem Rafa, nem eu imaginava que isso iria acontecer. — Toma esse copo de água. — Me estendeu a mão com um copo. — Só por causa disso, deixa que eu pago a conta hoje a noite. — Sério? — Não se acostume, ouviu? — Falou, passando a mão nas minhas costas. — Olha, eu estava pensando, a gente poderia chamar o Tácio para ir conosco. — Você está louca? Por que faríamos isso? — Ah, tudo bem, se você não quer. — Respondeu desanimada. A noite estava me arrumando, resolvi colocar a mesma calça que usei na feira agropecuária, presente da Denise, mas quando fui abotoar deu um trabalhinho. Eu estava me alimentando melhor, pois havia decidido não deixar meu corpo sofrer com meus problemas. A Rafaela buzinou de frente à minha casa, ela tinha um carro, o que era bom, pois assim a gente podia ir para lugares mais distantes, eu a ajudava sempre na gasolina, mesmo el
Após comermos e jogarmos conversa fora, era hora de ir. Estava feliz por não trabalhar na clínica aos sábados, em compensação, voltei a fazer meus lacinhos e os vendia no centro da cidade nos meus dias de folga. O telefone de Rafa tocou enquanto íamos saindo. — Tudo bem, eu só vou levar uma amiga em casa e passo aí. — Falava para a outra pessoa do outro lado da linha. — Aconteceu algo, Rafa? — Tácio perguntou preocupado. — Minha professora disse que tem algo pendente no meu TCC, e pediu que eu fosse lá imediatamente. — Então vá, não se preocupe, eu levo a Aurora em casa. Rafa se despediu de nós. E eu entrei no carro do Tácio. Me senti totalmente sem jeito. Quando a Rafaela estava junto, a nossa conversa rendia, mas quando era só nós dois, não saía muita coisa. — Quer ir a algum lugar? — Perguntou, enquanto colocava o cinto de segurança e ligava o carro. — Não, pode me deixar em minha casa mesmo. — Tem certeza? A cidade é tão grande e ainda é cedo, aposto que não a conhece total
Três meses. Havia se passado exatamente três meses desde que a Aurora se foi. Eu ainda não conseguia assimilar sua falta, a casa não parecia a mesma, toda a alegria havia ido embora, a única coisa que me deixava feliz era o Noah, que estava começando a rastejar pelo chão, e falava papai. Toda vez que me via, me chamava, o que fazia meu coração se acalmar. Eu não sei o que seria sem meu filho, serei eternamente grato à Aurora por ter me feito enxergar que ele era o ser mais puro e inocente dessa história toda. Havia colocado todas as suas coisas em meu quarto, era lá que ele dormia agora. O quarto da Aurora ficou fechado, não deixei ninguém entrar. Às vezes eu ia para lá e me deitava na cama, que ainda tinha seu cheiro, era uma forma de matar a saudade, que estava me torturando mais-que-tudo. Agora estou aqui no escritório, olhando o celular e vendo sua foto que tirei na praia. — Tão linda. Ela não respondeu mais às minhas mensagens, e seu celular sempre dava desligado. Seja lá o q
Acordei no sábado pela manhã com o estômago embrulhando, não devia ter comido aquele lanche tão gorduroso, depois que comecei a comer essas coisas, sentia minha barriga mais inchada e havia engordado um pouco mais. Tomei um remédio para enjoo e fui para o centro vender meus laços. Havia aprendido o caminho para o centro, como ia bem cedo, o sol não me queimava tanto. Eu me sentava num certo ponto de uma praça bem movimentada e colocava os laços à mostra. O local onde ficava era um ponto estratégico, onde muitas pessoas passavam, tinha dias que vendia todos, mas algumas vezes, quase nenhum. Eram quase duas da tarde e consegui vender quase todos os laços, só restaram dois, então decidi que já era hora de ir para casa. Arrumei minha bolsa e me levantei. Logo tudo ao meu redor resolveu rodar, minhas vistas se escureceram e senti meu corpo bater no chão. — Moça, você está me ouvindo? Ouvi a voz de uma pessoa me chamando. — Chamamos uma ambulância, não se preocupe. — Outra voz disse.
Saí do hospital arrasada, quando tentava assimilar a ideia da gravidez, me veio mais essa notícia. — Duas crianças? Como darei conta de duas crianças? — Eu estava em choque, se uma criança já dava trabalho, duas então. — Amiga, nesse momento, você precisa ficar calma primeiro. — Rafa, a casa em que moro mal me cabe. — Você pode arrumar outra. — Como vou dar conta de um aluguel mais caro, ainda mais com duas crianças? Meu Deus, Rafaela, dessa vez a vida pegou pesado comigo. Eu chorava de desespero. — Calma, Aurora e essa criança, quero dizer — corrigiu — Essas crianças, não são só responsabilidade sua, você precisa avisar o pai também. — Rafa, é tão complicado. — Sei que é, mesmo que você não tenha me contado sua história, eu sei que as coisas são difíceis para você, mas agora, não é mais sobre você, e sim sobre dois seres totalmente inocentes. — Você tem razão. Após chegarmos em casa, Rafaela não me deixou sozinha, preparou algo para comer, tomei um banho demorado e tentei c
Eu iria jogar o mesmo jogo de Liana, se quisesse me ver longe dela, teria que ser astuto como a própria serpente. — Tudo bem, Liana, se você quer passar mais tempo com seu filho, eu vou deixar, direi para Denise te deixar mais à vontade com ele, e tem mais uma coisa. — O quê, Oli? — Perguntou empolgada. — Vamos sair um pouco daqui, tudo bem? Respirar outros ares além desta fazenda, esse lugar está nos causando tensão. Esses últimos meses foram só brigas entre a gente, nunca chegamos a acordo nenhum, precisamos acalmar nossos nervos e colocar nossas pendências na mesa para resolvermos. Se você concordar, arrume suas coisas que passaremos alguns dias na casa de praia da capital. — Você está falando sério, Oliver? — Sim, mas com uma condição, vamos com calma, tudo bem? Preciso saber que você está mudada primeiro e quais seus interesses daqui para frente, relacionados a nosso filho. Alguns dias na praia farão com que a gente se distraia e que fiquemos perto do Noah também. Você pode l
— Esposa? — Perguntei, gaguejando, para a mulher que estava à porta da casa de Oliver. — Sim, eles foram curtir uns dias de férias. Seria só com ele que a senhorita queria falar? — Perguntou educada. — Não, a Denise está? — Ela foi para a capital, deve chegar mais tarde. — E a Lúcia, está por aqui? — Ela foi buscar alguns produtos de limpeza na vila. — Tudo bem, obrigada. — Me fala seu nome, para avisar a ela quem a procurou. — Não precisa, eu volto mais tarde. Peguei o táxi e voltei para a capital. Eu estava arrasada, não acreditava que Oliver havia reatado com Liana. Ele a transformou em esposa? Como pôde fazer isso? E eu boba, achando que ele iria se livrar dela para ficar com o filho. Meu telefone tocou. Era a Rafaela. — Oi… Rafa. — Oi! Rora, você já chegou? — Já, sim, vou procurar um hotel para pousar esta noite. — É que aconteceu um imprevisto, o Tácio está aqui. — O quê? Você não disse que ele viajaria? — E iria, sim, mas ligaram para ele no aeroporto, cancelando
— Desculpa não ter ligado antes, é porque cheguei tarde, então não queria perturbá-lo. — Você nunca perturba, Aurora, quantas vezes tenho que te dizer isso? — Estou um pouco cansada, podemos conversar amanhã? — O que está havendo? Seu rosto está tão abatido, parece até que andou chorando. — Eu disse que estou cansada. — Eu tentava ser educada, queria apenas ficar sozinha hoje, mas Tácio tinha aquele jeito dele todo preocupado, o que estava me dando nos nervos. — Amanhã, quando chegar no trabalho, falo com você, por favor, agora preciso dormir um pouco. — Tudo bem, caso precise de algo me ligue. Após ele sair, voltei para dentro da casa, apaguei as luzes e deitei na cama. Não sei como faria as coisas, mas precisava dar um jeito na minha vida, e eu tinha poucos meses para ser mais exata. Minha mente começou a imaginar o Oliver. Não era possível que ele e Liana estivessem juntos outra vez. “Estão de férias” Ela já conseguiu arrancá-lo da fazenda. Provavelmente, nesse horário, Noah