Entendendo o que Denise acabara de falar, Angelina sorriu entusiasmada.— Eu sabia! — Exclamou. — Desde ontem que te conheci, notei que havia algo diferente em você.— Está tão na cara assim? — Denise perguntou tímida.— Não tão, confesso, mas algumas atitudes suas denunciaram, ontem você passou a mão na barriga umas duas vezes, desse mesmo jeito que fez agora, eu até ponderei perguntar antes, mas, aconteceu tudo aquilo tão rápido e foi aquele reboliço todo. Me diz, como o Saulo reagiu à notícia?— Ele ainda não sabe. — Denise fez uma cara triste. — Eu descobri dois dias antes de viajarmos para cá, não esperava, e confesso que fiquei surpresa, já que sempre me cuidei, mas como dizem por aí, nenhum método contraceptivo é cem por cento confiável, foi o que aconteceu comigo, porque sempre planejei um filho bem mais para frente, após o casamento para ser mais exata. Como já estava de viagem marcada para conhecer os pais dele, e nos casarmos em seguida, decidi que farei uma surpresa, no di
Três anos e meio atrás.Eram seis da tarde quando o ônibus que Denise estava, chegou à capital, seu tio Joaquim já a esperava ansioso na rodoviária, a vinda da sobrinha para a fazenda era de grande expectativa, já que ele gostava muito da garota, como se fosse sua própria filha.— Tio Joaquim, que saudade! Quando Denise desceu do ônibus e viu o tio, não conseguiu segurar a emoção, ela o considerava muito e o abraçou como se estivesse encontrando o próprio pai.— Meu Deus, como você cresceu menina! Se não fosse por esse cabelo enorme, não te reconheceria. — O tio elogiava a sobrinha de longos cabelos pretos, aquilo era como se fosse sua marca registrada.Desde pequena, Denise sempre teve ciúme de seu cabelo, nunca deixava que a mãe cortasse, apenas aparava as pontas. Seu cabelo era sua paixão, não importava como se vestia, se o cabelo estivesse arrumado e sedoso, tudo estava bem.O tio já foi pegando as malas da sobrinha e pôs no carro.— Que carrão é esse tio, seu salário é tão bom a
Ainda não acreditava no que via, no carro, estava um homem tão loiro, que seus cabelos chegavam parecer grisalhos e seus olhos pareciam o oceano, de tão azuis, não percebeu o quanto estava hipnotizada naquele ser, e se duvidasse, estava babando.Em sua cabeça, só se passava uma coisa.“Quero mergulhar no azul dos seus olhos.”— Moça, você está bem? — O homem perguntou, vendo que a mulher estava paralisada.Voltando em si, Denise percebeu que aquele homem era mesmo real.— Ah, sim, estou ótima, melhor impossível. — Falava sem jeito, nunca se sentiu tão tímida e tão boba na vida, em frente a uma pessoa.— Precisa de uma carona? Estou vendo que houve algo com seu chinelo.— Ah, não preciso, obrigada! — Sentiu-se constrangida.— Mas está muito quente, seus pés irão queimar desse jeito. — Insistiu.Denise queria sair daquele sol, seus pés assavam como batatas, mas tinha medo de entrar num carro de um estranho, além disso, aquele homem estava muito arrumado para trabalhar no canavial, nem t
Após desfazer o mal-entendido com a pobre funcionária, que estava temendo o pior, Saulo e Oliver foram até o canavial, levando mais três homens para ajudar a tentar achar essa tal Rosa misteriosa, já que não havia mais nenhuma outra funcionária, ou moradora na vila com esse nome.— Tem certeza que isso não foi coisa de sua cabeça? — Oliver perguntava ao amigo, que já havia descrito a aparência de mulher uma cem vezes.Estava escurecendo e nenhum daqueles homens estava tendo sucesso no resultado das buscas.— Eu não sou doido Oliver, pensa numa morena linda, dos cabelos longos, pretinhos igual carvão, ela tinha um chapéu na cabeça e carregava o chinelo quebrado na mão, usava um shortinho jeans pequeno, revelando belas coxas.— Tudo bem, já chega! Do jeito que você já falou tanto dela, é perigoso eu vê-la também, como uma aparição na minha frente, seja lá quem for essa mulher, já deve ter ido embora daqui, daremos por cancelada essa busca, com certeza ela conseguiu achar o caminho de ca
Assustada ao ver o homem à sua frente, tentou se recompor.— E você, além de andar armado, fica de tocaia esperando uma vítima? — Nada melhor do que usar a defensiva para aliviar o susto e a vergonha. — Você não me deixou explicar, eu não sou nenhum maníaco, sou advogado, e a arma é para defesa pessoal. — Aproximou se explicando. — Se serve de consolo, a minha corrida ontem a tarde, também foi para defesa pessoal. — Explicou. O homem caiu na gargalhada. — Você é meio doidinha assim mesmo? — Se aproximou mais, a examinando de perto, estava louco para vê-la outra vez, pois a moça havia dominado seus pensamentos a noite toda, e quando dormiu, ela apareceu em seus sonhos. — Meu Deus, que coisa mais linda você é, além disso, tem um senso de humor incrível. Denise ficou sem jeito, não esperava ouvir um elogio, então resolveu ignorar o homem e continuar o seu caminho. — Já que desfizemos o mal-entendido, eu vou me embora. — Saiu dando passos largos e sem jeito, parecia até que se esqu
A noite, após o jantar, Denise ajudava arrumar a cozinha na casa da tia e aproveitava para perguntar sobre a conversa que ouviu do senhor Caetano mais cedo.— Por que ele não gosta da namorada do filho, tia? — A curiosidade era maior, queria saber de tudo que se passava naquela casa.— Porque ela é muito metida, não queira nem conhecer a criatura, já se acha a dona do lugar, sem ao menos ter se casado com o senhor Oliver ainda.— E como ela é? — Estava interessada. — De aparência, ela é muito bonita?— Você quer mesmo conhecê-la? Amanhã vá à farmácia, ela trabalha lá, finja que vai comprar alguma coisa, só para vê-la, a bicha é linda que só, mas é um poço de arrogância.— Ela é filha de alguém rico ou influente da região tia, por isso se comporta assim?— Que nada. — Lucia ria. — Ela veio num caminhão, com muitos peões procurando emprego, sua sorte, foi que o Oliver bateu o olho nela e a achou bonita, se não estava limpando galpão como a maioria das outras mulheres, empregadas aqui, n
Denise se sentiu muito ofendida com o que havia acabado de escutar, como aquele senhor teria coragem de insinuar uma coisa tão nojenta daquelas? Sem deixar que ele pensasse alguma coisa errada ao seu respeito, ela já o respondeu.— Está me estranhando por acaso? — Perguntou num tom mais elevado. — O senhor tem idade para ser meu pai, e, além disso, eu não sou esse tipo de pessoa não! — Disse direta, não daria liberdade para aquele velho safado.O homem por sua vez, se sentiu surpreso, não esperava que a moça respondesse mal a sua investida, pensou, que por ela ter uma cara de menina simples e meio matuta, achou que ela ficaria caladinha.Tentando reverter a situação, o homem se desculpou.— Você deve ter interpretado mal a nossa conversa, eu não quis dizer isso, você que entendeu errado, menina, olha! Vamos deixar isso de lado, tudo bem? Fica no refeitório mesmo, eu vou te encaminhar para lá. — Túlio suava frio. — E que esse mal-entendido morra aqui, está me ouvindo? — Perguntou deses
No caminho para o canavial, Denise e Saulo riam ao lembrar a primeira vez que se viram.— Não acredito que chamaram homens para me procurar. — Denise gargalhava.— Fiquei preocupado demais, esse canavial tem quilômetros de extensão.— Você achou que eu tinha algum problema de cabeça é?— Para ser bem sincero, até hoje acho. — Dessa vez, foi Saulo que gargalhou, vendo que Denise fez uma cara nada boa. — Estou brincando, fiquei preocupado porque você saiu sem direção e sem me escutar, me sentiria culpado se acontecesse algo com você.— Você seria culpado mesmo, aliás, por sua culpa machuquei meus pés.— Então a pomada para frieira é para isso? — Riu, desligando o carro, pois haviam chegado num ponto específico, que só daria para ir caminhando, já que era próximo ao rio.— Eu não comprei pomada, engraçadinho, comprei isso aqui. — Denise tirou o hidratante labial da bolsa, aproveitou que o carro estava parado, usou o espelho do quebra-sol para passar o hidratante de morango nos lábios.—