No interior do escritório, dois homens conversavam. — Esta garota está achando que sou algum idiota. — Quem cara? — A Aurora! — Tem paciência com ela, cara, a coitada passou a madrugada toda com o menino no pronto-socorro. — Ela se esqueceu de que sou o patrão, eu que mando aqui! — O que ela te disse para você ficar tão nervoso assim, hein? Perdi alguma coisa enquanto estava fora? — Falou, se sentando na poltrona do escritório. — Deixa aquela pirralha para lá… —Oliver também se senta e abre o notebook. — Foi você quem começou falando dela.— Saulo zomba. — Me diz, onde você estava para encontrar a Aurora na estrada de madrugada? — Admirando a perfeição da vila. — Riu descaradamente. — Conta outra, Saulo. — Revirou os olhos. — Sério Oliver, a vila São Caetano é perfeita, cara, você projetou cada coisa ali como se morasse lá. — Mas moro de certo modo. — O mercado, o pronto-socorro, a farmácia, o banco, a escola e o bar. — Se animou. — Cara, aquele bar lá é bom demais, quando
Acordei com um raio de sol em meu rosto, mais uma vez esqueci de fechar as cortinas da janela para dormir. Estava me sentindo bem, apesar de ter um roxo horrível em minha testa. Fiz tudo que precisava fazer com o Noah, o coloquei no sling e saí para nosso passeio matinal. O jardim estava alegre, algumas flores estavam desabrochando e a grama parecia chegar a brilhar de tão verdinha que estava. Encontrei Denise no fundo da casa, ela saía de uma pequena casinha, que era ligada à casa principal, que parecia uma dependência. — Bom dia, Denise. — Bom dia, Aurora. — Respondeu com um largo sorriso. — Está linda hoje. — Denise não estava com o uniforme do trabalho e sim com um vestido longo florido, salto Anabela, brincos grandes de argola e uma bolsa muito linda, que parecia ser de grife. — Obrigada, hoje é dia de folga, vou aproveitar que é sábado e vou para a capital, fazer algumas comprinhas. — Que legal. — E você, não vai tirar o dia de folga? — Ah, não, meu serviço é em tempo in
Sentamos num banco que ficava embaixo de uma árvore enorme, cheia de flores. O lugar estava tranquilo, pois ainda era cedo da manhã. — Primeiro, quero que você me prometa que não vai contar ao patrão que eu te disse isso e nem a ninguém, nem a meu tio, nem a Saulo, nem a... — Tudo bem, Denise, eu já entendi, eu não vou contar a ninguém, eu prometo. — A interceptei. — Olha, espero que você não tenha pressa, viu? Pois a história é longa. — Ai, Denise, fala logo, porque estou ficando mais curiosa! — Você é igual a mim. — Riu — Mas é normal mesmo, quem não gosta de uma boa fofoquinha? E, afinal, eu imagino como está a sua cabeça, ao chegar numa casa e encontrar um recém-nascido sem a mãe. — Ainda bem que você me entende, Denise. Cadê a mãe do Noah? Ela faleceu? — Não, minha querida, a mãe do Noah está vivinha da Silva. — E onde ela está? — Perguntei curiosa. — Estou te falando que a história é grande, para você entender, tenho que te contar do início. — Então, começa logo, mulher
— Como assim as coisas pioraram, Denise? — Ah, foi o seguinte. Dona Liana contou da gravidez para o Oliver, ele ficou tão contente que até desfez o luto. Para comemorar, mandou fazer um festão na vila, chamou banda famosa e convidou a região toda, foi a festa mais linda que eu já vi. Teve um momento em que o Oliver subiu no palco com o microfone e comunicou a todos que iria ser pai. Não se falava outra coisa na vila, todos estavam contentes, pois, após a morte do senhor Caetano, nós não ouvíamos uma notícia alegre há muito tempo. E passaram-se os meses, a barriga da Liana só crescia. Ainda não sabiam se era menino ou menina, mas todos viam que ela não estava tão contente assim. Até que um dia falou para a Bia, que era uma funcionária pessoal dela, que estava se sentindo horrível com o corpo, que o maldito bebê estava estragando a sua beleza, e ela usou essas palavras mesmo, viu! — Meu Deus! — Fiquei abismada com a declaração de Denise. — E a Bia era um tipo de dama de companhia, sa
Denise era uma pessoa que me transmitia muita verdade, ela parecia muito confiável, jamais contaria a alguém o que ela estava me confidenciando. — Eu e o Saulo, sabe? — Disse, demonstrando timidez. — Temos um caso já faz bastante tempo, para ser mais exata, há quase dois anos. Quando ele vem para a fazenda, a gente sempre fica junto, mas sou bem pé no chão nas minhas coisas. Uma hora ou outra ele pode ir embora, arrumar alguém da mesma classe social dele, ou simplesmente achar que eu seja um passatempo, não sei, sabe? Mas enquanto ele está aqui, a gente se aproveita ao máximo, eu gosto dele, não negarei, mas se ele dizer que não quer mais, eu sigo minha vida bem de boa. — Percebi uma intimidade entre vocês mesmo. — Disse, um pouco sem jeito. — Tudo bem, todos já sabem, porém, às vezes, Saulo me conta algumas coisas. — O que você quer dizer com isso? — Ele não falou diretamente, sabe? Mas acho que o senhor Oliver tentou contra a própria vida quando trouxe o menino para a casa, tant
Após sairmos do shopping, Joaquim nos buscou e fez uma mini tour em alguns pontos turísticos da capital. Passamos praticamente o dia fora. Quando chegamos à fazenda, já ia dar sete da noite, como era fim de semana, Denise não ficaria por lá. Então, quando cheguei na casa e encontrei tudo escuro, saí acendendo todas as luzes até chegar em meu quarto, posicionei Noah na cama e comecei a preparar seu banho. Após dar banho, mamadeira e o ninar para dormir, tomei meu banho. Já era quase meia-noite, estava com fome e fui para a cozinha preparar algo para comer. Levei a babá eletrônica comigo, assim fazia as coisas de olho no Noah. Preparava uma sopa na cozinha, pois estava com tanta fome que um lanchinho apenas não resolveria. Eu estava comendo muito mal ultimamente, devia já ter perdido uns cinco quilos. Enquanto cozinhava, pensei em tudo que Denise me falou. Toda a conversa visitava a minha mente, eu, que não tinha relação alguma com a história, estava tão chateada, imagina como estaria
O homem da ponte tinha a mesma estatura de Oliver e sua voz também se parecia a dele. Eu não posso acreditar, não mesmo, isso não seria verdade, não podia ser ele, de modo algum! Como não o reconheci no primeiro dia? Talvez por estar cheia de medo e enfrentando meus próprios problemas, não pude focar em sua verdadeira identidade, ainda mais depois da notícia da morte do outro homem. Acreditei fielmente que se tratava da mesma pessoa. Que coincidência estranha. Lembrei do que Denise disse. “Ele tentou tirar a própria vida, mas na hora algo aconteceu e o fez pensar melhor, voltando para casa” Seria possível serem a mesma pessoa? Mas será que ele também não havia me reconhecido no outro dia? A interrogação da minha cabeça durou a madrugada toda, eu não dormi nem um segundo. Pela manhã, me lembrei de algo. O homem daquela noite possuía um carro esportivo vermelho, com o símbolo de um cavalo. Lembrei também que, quando cheguei a primeira vez aqui, vi que na garagem havia um carro cobert
Estava em casa sozinha, já que Oliver havia saído e Saulo se mudou para a dependência dos fundos. Noah havia acordado, o trouxe para a cozinha e resolvi fazer o almoço, já que minha sopa foi devorada. Não sabia que horas Oliver chegaria, então faria comida que daria para duas pessoas. Preparei uma macarronada, com tudo dentro. Depois, descasquei algumas batatas e coloquei para fritar na fritadeira elétrica. Era quase meio-dia e estava nublado, por este motivo não fiz o passeio matinal com Noah, nem fui até a vila, já que tudo indicava que iria cair uma tremenda chuva. Não demorou muito, um raio caiu e ouvi um estrondo de um trovão. Noah começou a chorar, peguei-o no colo e o abracei, dando muitos beijinhos na sua cabeça, assim o acalentava e fazia com que se sentisse seguro. Ele já havia parado de chorar, mas continuava com o carinho, comecei a cantar uma música bem baixinho, mesmo estando sozinha na casa. 🎵 Se é tempestade, todo medo, se for arrependimento, por favor, tira daí,