Cidade de “FT”, 14 de janeiro, terça-feira.
Minutos depois, a mulher tornou a abrir a porta.
→ Entre.
Seguiu a mulher por um estreito corredor.
Entraram numa espécie de sala de estar, com sofá, estante e tapete. Dali podia ver a cozinha. A porta que dava acesso ao lado sul da casa, no entanto, estava fechada.
Um homem alto e magro, que usava barba, apesar da calvície acentuada, estava sentado numa poltrona, diante da TV ligada.
Vestia-se completamente de branco. Devia ter mais de setenta anos. Não se levantou.
→ Sente-se, por favor → a mulher disse, baixinho.
Sentou-se no sofá.
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Cidade de “FT”, 14 de janeiro, terça-feira. Naquela noite, visitou o bar Lintox. Conversou com o dono. Mostrou a foto de “Ameba”. → Lembro dele, sim. Ele havia se afastado da cabine do “caixa”. Conversavam sentados numa mesa, num recinto dos fundos. Estendeu uma cédula, que o homem pegou. → Vinha sozinho? → Geralmente sim. Só uma vez veio acompanhado de duas mulheres e um homem. Todos usavam roupas brancas, no estilo dos enfermeiros, entende? → Pode descrevê-los? → A primeira mulher era branca, alta e gostosa. Tinha uns peitões de respeito. A segunda era branca
Cidade de “FT”, 15 de janeiro, quarta-feira. Na delegacia, começou a digitar o relatório. Marcos se aproximou: → Como está seu caso? → Tenho dois suspeitos. → Sério? Algo quente? → Acredito que sim. Provavelmente irei pedir a expedição de um mandado de prisão nos próximos dias. Só preciso tirar umas dúvidas. Pode ser que eles escapem de uma condenação. Mas tenho quase certeza de que são culpados. → Entendo. Boa sorte. → Obrigado. Tendo concluído a primeira parte do relatór
Cidade de “MJ”, 16 de janeiro, quinta-feira. Prosseguiu na missão. As dúvidas martelavam sua mente: para onde aquele C3 estaria indo? Quem estaria lá dentro? Meia hora depois, o C3 saiu da BR e começou a percorrer as ruas e avenidas. Subitamente, estava numa rua deserta → de duas faixas → e pessimamente asfaltada, com um denso matagal de ambos os lados. As luzes dos postes iluminavam a área. Vez ou outra um sítio ou fazenda surgia. Pôde ver uma das placas de identificação. Lá estava escrito: rua Miranda Hiller, do bairro “MJ-5.13”. Somente os dois carros na estrada. 
Cidade de “MJ”, 16 de janeiro, quinta-feira. Contou dezoito pessoas na espaçosa sala. Todos usavam roupas pretas. Todos de pé. Alguns com copos de bebidas na mão. O velho Sérgio estava lá. O dono do bar Lintox. A Viviane Selly → conhecida como Branca → também. O que estava acontecendo? De repente, um homem entrou na sala. Segurava uma taça de vidro. Todos abriram passagem para ele. Sentiu o arrepio do medo corroer suas entranhas! → Boa noite, Macto. → ele disse. Homem moreno, magro e alto, que aparentava ter entre quarenta e cin
Cidade de “MJ”, 16 de janeiro, quinta-feira. Tudo se resumiu a uma sucessão de dores. Primeiro, os pregos! Quando rasgaram sua carne → devido às marteladas → gritou tão alto que sentiu suas cordas vocais tremerem! Gritou como nunca tinha gritado em toda a sua vida! O sangue jorrava dos ferimentos. Segundo, prenderam sua cintura de encontro à cruz por uma corda de nylon. Tiraram as outras cordas. Notou que seus pés → unidos pelo gigantesco prego → estavam apoiados numa espécie de plataforma, fixada na parte inferior da cruz. Dessa forma, seu corpo era sustentado pelos pés e pela cintura, o que atrasaria em dias a sua morte.&nbs
Cidade de “MJ”, 16 de janeiro, quinta-feira. Acordou nas trevas! Calculou ser nove ou dez horas de uma noite de vento brando, com a temperatura na faixa dos vinte e seis graus. A fazenda às escuras. A vontade de beber água ou qualquer líquido era insuportável. Suas mãos estavam horrivelmente inchadas. O sangue lhes dava um aspecto doentio. Seu rosto... pálido! Pálido como se não tivesse uma gota de sangue sequer! Pálido e quase em pânico. Sua pele evidenciava pequenas feridas, devido às queimaduras provocadas pelo sol. Defecou na fralda. Foi obrigado a se acostumar com o fedor. 
Cidade de “MJ”, 17 de janeiro, sexta-feira. Sozinho! A dificuldade de respirar aumentava. Em delírio → com o cérebro atrofiado → já não sentia mais nada, não via mais nada, não pensava em mais nada. Sentiu o tenebroso manto da morte se acercando... o tétrico manto do verdugo negro... realizando um reconhecimento... analisando as possibilidades... cheirando seu corpo... cutucando sua alma... lambendo seu espírito... num frenesi alucinado!!! E não tinha forças para lutar contra ele! Seria o fim? O fim... o fim... o fim... As dores no estômago aumentaram! Urinou novamente
Cidade de “FT”, 18 de janeiro, sábado. Não sonhou. Não teve pesadelos. A escuridão → no entanto → permanecia ao seu redor, profunda, sinistra, dominando o ambiente. Mansidão. Imobilidade. As dores diminuíram. Cidade de “FT”, 19 de janeiro, domingo. Saiu da UTI, sendo conduzido a um dos quartos. Abriu, enfim, os olhos. Pôde perceber o quarto; os aparelhos; as paredes brancas. Havia bandagens em quase todo o seu corpo. Parecia uma múmia, como nos tempos medievais. Além do mais, foi obrig