Emma Emma.~~~°~~~— E por um acaso eu tenho outra opção? — pergunto, me esforçando para não revirar os olhos. Thomas me encara com aquele semblante sério que já conheço bem. Definitivamente, ele não está disposto a brincadeiras.— É claro que sim. — Sua voz é firme, quase fria. — Assim que sair desta sala, pode pegar suas coisas, passar no RH e nunca mais colocar os pés nesta empresa.A ideia não parece tão ruim. Não ter que olhar para o brutamontes à minha frente, que parece prestes a explodir, seria um alívio. O problema é que Thomas ainda não digeriu o fato de eu ter saído da casa dele há um mês, depois do desastre na casa de Santiago. Faz duas semanas que voltei ao trabalho, e desde então estamos nesse embate constante. Ele, claro, tem vantagem: é o chefe.Mas se acham que isso vai me intimidar, estão muito enganados. A situação, no entanto, ficou mais complicada quando alguém enviou à mídia fotos de nós dois entrando no carro dele, na época em que ainda morava na casa dele. Se
Emma~~•~~~Desço do carro após me despedir de Thomas, sentindo o vento frio da noite tocar minha pele, arrepiando-me instantaneamente. Dou uma olhada rápida para trás e noto que ele não dá partida. Seu carro permanece parado em frente à minha casa, os faróis apagados, como se ele estivesse esperando por algo. Talvez para garantir que eu entre em segurança. Ou talvez... estivesse apenas me observando naquele vestido.Abro a porta e entro, fechando-a em seguida. Já passa das 23h45, e meu corpo clama pela cama. Me livro dos saltos que me torturaram a noite inteira, deixando-os na sapateira ao lado da porta, e subo as escadas para o andar de cima.No banheiro, tomo um longo banho morno. A água escorre pela minha pele, levando consigo a tensão acumulada. Cada músculo relaxa, mas minha mente continua alerta, dividida entre os eventos do jantar e o homem lá fora. Após o banho, passo meus cremes, visto algo confortável e prendo os cabelos em um coque frouxo. Estou prestes a deitar quando o s
Thomas ~~~•~~~Eu costumava recorrer a carros velozes e ao som dos motores rugindo para esquecer do mundo. Era minha válvula de escape, um pedaço de liberdade crua que fazia todo o resto parecer suportável. Tudo parecia mais simples antes — antes da presidência, antes de ser forçado a sustentar essa maldita máscara de homem “mudado”, antes de me tornar o rosto e as garras da Black Corporation.Não me arrependo das minhas escolhas, nem por um segundo. Cada uma delas me moldou no homem que sou hoje, um homem que aprendeu a endurecer o coração e calar a consciência. Mas, por Deus, eu lamento ter confiado nas pessoas erradas. Lamento as consequências dessas escolhas. Lamento cada rosto que carrego na memória. Só que uma coisa é certa: jamais, jamais vou me arrepender das corridas ilegais, da adrenalina queimando como um vício nas minhas veias, da sensação inigualável de controle enquanto eu dominava o asfalto como se fosse minha própria arena.Sim, eu lamento aquelas mortes. Lamento não
Emma~~~•~~~Respiro fundo ao colocar a última mala na sala. Três malas: duas grandes e uma menor. Não exagerei na bagagem porque, embora eu esteja indo para Londres, ainda não é definitivo. Vou precisar voltar para vender a casa, e, honestamente, encontrar um comprador tem sido mais difícil do que deveria. Mas não importa. Vai dar certo. Precisa dar certo.Pego o celular e chamo um táxi pelo aplicativo. O voo sai em uma hora e meia, e ainda tenho que lidar com todo o inferno burocrático de check-in e segurança. Apesar disso, não consigo conter o sorriso. Estou finalmente saindo desse lugar sufocante.Me sento no sofá, tentando aproveitar esses últimos momentos antes de partir. O silêncio da casa parece mais pesado do que nunca. Talvez porque agora, mais do que nunca, sei que estou prestes a deixá-lo para trás. Fecho os olhos, tentando me concentrar no que vem pela frente, mas a campainha interrompe meus pensamentos.Estranho. O aplicativo não mostra o motorista perto, e, mesmo que es
Emma~~•~~Ando de um lado para o outro no meu quarto, sentindo a raiva consumir cada parte do meu ser, misturada com o peso das palavras não ditas. Cinco anos. Foram cinco anos acreditando que tinha perdido tudo, que minha vida não passava de uma sombra do que um dia foi. Cinco anos tentando, a cada aniversário daquela maldita noite, encontrar um fim para essa dor insuportável.E agora, no final de tudo, meu irmão simplesmente aparece, vivo, inteiro, dizendo que Thomas foi o bom samaritano que o encontrou por acaso e pagou pelo seu tratamento. A história parecia saída de um roteiro barato, tão absurda que se tornava ridícula. E o pior de tudo? Eu não sabia com quem estava mais magoada. Com Thomas, por infernizar minha vida ao longo dos anos, ou com Daniel, que parecia disposto a colaborar com essa farsa.O choque inicial de vê-lo de volta já havia passado, e agora, o que girava na minha mente era outra coisa: até que ponto a história contada por eles era verdade?Respiro fundo. Eu pr
Emma~~••~~— Isso é bizarro, pequena. — A voz de Luke ecoa pelo quarto enquanto ele me entrega uma taça de vinho. — Cinco anos se passaram, ninguém sabia que seu irmão estava vivo... e agora ele simplesmente reaparece. E ainda por cima com o homem que causou aquele acidente?— Pode acreditar, estou tão surpresa quanto você. — Tomo um gole do vinho, sentindo o líquido quente descer pela garganta.Assim que saímos de casa, Luke me ajudou a me acalmar. Íamos jantar fora, mas acabamos no hotel onde ele está hospedado pelos próximos dias. E antes que tirem conclusões precipitadas: não, não aconteceu nada. E nem vai acontecer. Desde que nos conhecemos, Luke sempre me tratou com respeito absoluto. Apesar da diferença de idade — sete ou oito anos — ele é como um irmão para mim.Luke tem um jeito descontraído, às vezes até charmoso, mas nunca houve essa tensão entre nós. E nunca haverá.— Você acha que é verdade? — Ele me encara com curiosidade genuína.Solto um suspiro pesado, sentindo o pes
Emma~~••~~Aqui está a versão melhorada, Eu não esperava chegar à empresa esta manhã e ser diretamente enviada para a sala de reuniões. Mas, vejam só que ironia: cá estou eu, sentada em uma das cadeiras, enquanto Thomas e seus advogados analisam o contrato que esperam que eu assine.O mais engraçado é que cada cláusula parece um novo surto, e estou me segurando para não rir. Se Thomas realmente acha que vou aceitar tudo o que está sendo proposto, ele está muito enganado.Franzo o cenho ao ouvir a última cláusula. Agora sim, isso era uma verdadeira piada.— E, por último — diz um dos advogados, cujo nome não me dei ao trabalho de memorizar —, este contrato terá duração de dez anos, não podendo ser dissolvido antes disso. Além disso, é essencial o nascimento de um futuro herdeiro ou herdeira para dar continuidade ao legado da família Mitchell.A risada escapa antes que eu possa me conter.— Você só pode estar brincando, Thomas. — Cruzo os braços e encaro seu rosto rígido, enquanto seu
Emma ~~••~~Uma semana depois.O silêncio que precede uma explosão sempre tem um gosto metálico no ar. Thomas está à minha frente, olhos faiscando, mandíbula cerrada, pronto para cuspir fogo. São exatas 09h42 de uma terça-feira chuvosa, e estamos no escritório dele, presos no olho de um furacão de vozes elevadas e farpas afiadas.O motivo?A maldita cerimônia de casamento.Para mim, isso é um teatro barato, um espetáculo patético para os tolos que acreditam em finais felizes. Para ele, é uma peça essencial no grande jogo de manipulação que ele acha que controla.— Eu só quero que você tenha o casamento dos seus sonhos, Emma. — A voz dele sai entre dentes, carregada de uma fúria contida.— Então você vai continuar solteiro, porque eu nunca quis me casar. — Ironizo, deixando minha própria raiva se infiltrar no tom.Os olhos dele se estreitam, escuros como tempestade. Raiva. Ódio. Ressentimento. Sei lá, talvez um misto dos três. O que importa é que ele quer me dobrar. Quer me ver ceder.