Thomas de AlbuquerqueNão tem melhor expressão para ver no rosto de César do que essa de espanto ao olhar para mim vestido apenas em uma cueca boxer e sua filha do outro lado, deitada na cama apenas enrolada em um lençol. Paula, ao ouvir o gritinho de susto de Cecília, também entra no quarto e olha para nós dois com os olhos arregalados.— Ah, meu Deus. O que está acontecendo aqui?— Acho que você sabe muito bem, Paula. — Antes que eu possa prever, a mulher se aproxima de mim e acerta um tapa muito forte na minha cara.— Mamãe! — Cecília grita, mas a mulher permanece me olhando enquanto levo a mão até o rosto, chocado.Como ela ousa?— Você pode ter a briga que for com o meu marido, vocês dois podem se odiar e fazerem o que quiserem da vida, mas quem você pensa que é para tocar na minha filha? O que você fez com ela? Ela é uma menina!Olha como você fala comigo, Paula — falo e aperto o maxilar paraconter a raiva que sinto.— Vou falar do jeito que eu quiser, porque te considerei meu
Quando entro no centro aquático abafado pelo vapor do aquecedor e das piscinas, eu vejo o movimento e logo os fios ruivos submergindo na água enquanto o pequeno corpo nada. Ando até lá devagar e ela solta um pequeno gritinho quando me vê.— O que está fazendo aqui? Aqui já devia estar fechado — pergunto e ela suspira, passando a mão pelos fios para jogá-los para trás.— Eu pedi para um dos funcionários. Aparentemente eles têm medo de você e sabem que eu sou.Aceno, olhando para a criatura à minha frente. Eu me xingo mentalmente. Me xingo muito e chuto a minha bunda na cabeça, porque…— Por que está me olhando assim? — ela pergunta baixo e percebo que seus olhos estão vermelhos demais, mais do que o normal para ser só a água da piscina.— Por que estava chorando? O que o seus pais fizeram?— Não quero falar disso.Ela me ignora e volta a nadar, me deixando ali na beira da piscina falando para o nada. Chega na outra extremidade, longe de mim.— Cecília, você pode, por favor, ser um pouc
Cecília Magalhães— O que está acontecendo com você, querida?Aperto os joelhos e não consigo olhar para a minha mãe porque tudo que eu sinto é vergonha. Eu sou uma idiota, mas disso eu já sabia. Dói muito ela estar me olhando com essa cara de quem sabe a grande estúpida que eu sou.— Eu não sei — falo baixinho e aperto ainda mais os joelhos. — Eu só…Olho para ela, mas não consigo ver nada porque meus olhos estão a ponto de transbordar com as lágrimas. Ela e papai chegaram há dois dias e tem sido um festival de gritos e xingamentos para todos os lados. Thomas e meu pai estão a ponto de se matar. E toda vez que papai diz que vai me levar embora, tenho vontade de vomitar.— Eu não quero ir, mãe — digo e mordo o lábio. — Quero terminar a faculdade e ficar aqui com…— Com Thomas? — ela pergunta chocada. — Com o homem que vai te forçar a se casar com ele para se vingar do seu pai? Cecília, onde você está com a cabeça?Faço que não com a cabeça e não falo nada, porque não sei nem como expl
As coisas ficaram um pouco esquisitas depois que meus pais foram embora, por um tempo. Não sei o que Thomas e meu pai resolveram, porque eu mal falei com papai no tempo em que eles estavam aqui. Mamãe me liga quase todo dia para saber como eu estou, mas também não fala mais nada sobre toda essa confusão. E eu não tomei coragem de perguntar se aquele contrato ainda está valendo, porque as coisas mudaram tanto que eu nem sei mais o que tudo isso significa.A gente não conversou sobre nada disso, mas aquela cena do Thomas acariciando meu cabelo até eu dormir se repetiu toda noite desde então. E quase toda noite também nós dois transamos antes de dormir. Ou de manhã antes de ir para o trabalho. Às vezes, os dois. Já se passaram mais alguns meses agora e o prazo de tudo já está quase acabando.Minha festa de formatura é nesse fim de semana, e se o contrato ainda estiver valendo, vai ser quando eu vou ter que voltar para o Brasil com ele. Para me casar com ele e virar a esposinha de cristal
Cecília MagalhãesKelly está a ponto de me bater porque não consegue terminar a minha maquiagem.— Não quero ficar parecendo um palhaço — reclamo quando ela volta com o pincel com a sombra para olhos para perto de mim.— Não vai! — ela grita comigo e me dá um tapa. — Fica quieta e me deixa te maquiar em paz. Você só não está acostumada a usar maquiagem.— Eu não gosto! — eu reclamo, mas ela me ignora e continua me maquiando.— Não me interessa — ela responde e pega um batom vermelho. — Fica quieta. O Thomas vai gostar de te ver assim.Sinto meu pescoço pegar fogo e o sorriso que Kelly me dá me prova que estou mesmo toda corada.— Ele não liga — eu respondo e dou de ombros. Kelly revira os olhos.— Acha que eu não vejo o jeito que ele te olha? — ela implica. — Elesó falta te comer no meio da rua todas as vezes.— Claro que não! — protesto. Ela me ignora, tampa o batom e abre um sorriso.— Você está linda, Cecília.Kelly me ajuda a me levantar e eu me olho no espelho com a boca aberta.
Consigo sentir os olhos de Thomas me queimando a noite inteira. Onde quer que eu olhe, ele está lá. Mas ele não se aproxima e me deixa me divertir com os meus amigos de curso, dançar, beber, gritar até ficar rouca. Meu coração se aquece por isso. Kelly já está mais para lá do que para cá, e eu estou há algumas horas já tentando fugir de Josh, que também já bebeu mais do que devia e insiste em vir atrás de mim.E a festa não está nem longe de acabar.A cerimônia da formatura aconteceu há algumas horas. Depois da entrega do diploma, todos os pais foram fazer outra coisa e a festa é só para os formandos. Então o pessoal está realmente perdendo a linha e comemorando com tudo que tem direito.Quando a música muda para uma música lenta, começo a olhar ao redor para tentar encontrar Thomas. Antes que eu consiga, Josh me acha e tenta me puxar para dançar.— Não, eu não quero — digo, sorrindo para tentar ser educada, mas ele insiste e me puxa. Solto um “ai” baixinho porque o aperto no meu braç
Thomas de AlbuquerqueQuando eu e César chegamos no lugar indicado na mensagem, vejo que é uma casa escura e isolada. Faço um sinal para que ele fique do lado de fora, na lateral. Espero alguns minutos para que dê tempo de os seguranças chegarem porque não sou idiota de entrar em um lugar desconhecido sem saber com quem e onde estou me metendo. Assim que os homens aparecem, sei que preciso agir rápido, antes da polícia. Não confio em ninguém para manter Cecília em segurança, não depois dessa.Eles ficam escondidos, com as armas em mãos, enquanto vou para a frente da casa. Mal bato e um homem grisalho abre. Ele abre um sorriso imenso ao me ver e faz um gesto para que eu entre, como se eu fosse um convidado ali.Observo a tudo com atenção e procuro mais homens, com armas e capuzes na cara como os filmes que a gente vê, mas está só o homem ali.— Ela não está aqui, Thomas. Cadê o dinheiro? Você não está com nada.— Você acha que sou idiota de andar por aí com aquela quantia em dólares. Q
Após duas horas, nós finalmente fomos liberados depois de um interrogatório detalhado. Ainda bem que é o desgraçado não morreu, porque isso ia ser só uma pedra no meu sapato. Também não vou ser indiciado por agressão porque até mesmo em um país como esse existe certa… facilidade em escapar de certas situações quando se tem dinheiro. Eles alegaram legítima defesa e me liberaram.Cecília já foi para casa antes que eu, porque ela estava cansada e passou por traumas demais por hoje. Saio dali e encontro César do lado de fora da delegacia me esperando.Ele se aproxima devagar, com as mãos nos bolsos.— Obrigado. Nunca vou conseguir te agradecer. Não sei o que seria de mim sem ela.— Tudo bem. O importante é que Cecília fique bem — falo e suspiro. Ainda estou sentindo uma adrenalina e uma raiva absurdas só pela ideia de perder aquela garota. — Cuida dela.Aceno e começo a me afastar, mas César me chama.— O que fez você confiar nela? — pergunta e eu franzo a testa, sem entender o que o home