Clarisse Grigio— Quero que você me deixe em paz! — exclamei com os olhos fixos no par de safiras afiadas que consomem a minha face. Sentimentos como ódio, raiva, surpresa e inconformidade refletem no seu par de orbes tão profundas como uma montanha congelada.Ainda assim, não vacilo ou hesito, mantendo a firmeza das minhas palavras como a minha expressão.— A empresa do meu futuro sogro tem uma parceria de anos com a família Albuquerque e essa parceria é extremamente significativa para o escritório e eu espero que nossa conversa hoje, não prejudique essa parceria. — Alfonso semicerrou os olhos — Acredito que o senhor não seja rancoroso ou mesquinho, contudo, quero enfatizar que se você fizer algo contra a parceria do meu noivo por conta das minhas palavras, irei denunciar você!O silêncio perdurou longos segundos.Não me importo que as minhas palavras frustrem as suas expectativas. Pelo contrário, quero que Alfonso tenha completa consciência que independente do que ele faça, não será
Nicolas AbreuUltimamente a minha mente segue um estado de cansaço constante como em uma tempestade. Além disso, a demanda do escritório contribuía para a minha exaustão, onde as horas seguiam se arrastando enquanto tentava lidar com prazos apertados e decisões difíceis. Cada reunião parecia um jogo de xadrez, onde eu sempre precisava estar um passo à frente. E, claro, havia também a pressão constante do casamento. A casa que comprei para morar com Clarisse ainda estava em reforma e as coisas não estavam saindo como eu esperava. As paredes nuas e os móveis empilhados em um canto me lembravam constantemente do quanto eu precisava realizar antes de podermos chamar local de lar.Se todas essas questões não fossem o suficiente, ainda tem a questão daquela noite.“Clarisse, está tudo bem?” — minha voz saiu mais suave do que eu esperava. Clarisse assentiu ao ser amparado por meus braços. Mesmo que os seus lábios e seu rosto dissessem uma coisa, os seus olhos verde-esmeralda diziam exatament
Clarisse GrigioParada diante do espelho do banheiro, encaro o meu reflexo após quase uma hora debaixo da água escandante. Após uma pausa para reorganizar a minha mente, sinto-me melhor. “Bip”Alcanço o celular para ver de quem era a mensagem e meu coração palpita de felicidade. Respondo dizendo esta — tudo bem — finalizo enviando alguns emojis de coração. Nicolas e eu havíamos combinado de nos encontrarmos hoje e ele dormiria novamente aqui, contudo, não será possível. — Sai logo desse banheiro, Clarisse! — Isabella ralhou do outro lado da porta. Puxo a maçaneta dando de cara com minha melhor amiga — Achei que desceria pelo ralo do banheiro, vamos, eu quero saber tudo que aquele imbecil fez contigo antes que Nicolas chegue e você me expulse. — Isabella murmurou se jogando nos meus lençóis.Meneio a cabeça em negação enquanto caminho até o closet.— Você não será expulsa… Nicolas tem um compromisso importante, tem a ver com o escritório. — dou de ombros vestindo meu pijama com estam
[TRÊS SEMANAS DEPOIS]Clarisse GrigioEnfim, a normalidade havia retornado para a minha vida. Conforme as semanas passavam, o mês para o meu casamento se aproximava e o meu coração se inflamava de ansiedade, medo, nervosismo, expectativa para o grande dia. Contudo, dois meses separaram o grande dia.A casa onde residirei com Nicolas estará pronta em algumas semanas, a data de entrega é daqui a três meses e duas semanas antes da data do nosso casamento.Depois daquele dia, nunca mais tive de encontrar-me pessoalmente com aquele homem. Toda a informação que recebo é por meio de fofocas. Aparentemente o mesmo segue realizando suas orgias na fazenda da sua família, mesmo que um compromisso com uma prima distante tenha se tornado público.Segundo os rumores, após o seu casamento ele retornará para Europa. Um alívio, na verdade.Porém, toda calmaria, traz consigo a tempestade e recentemente Gabriel se envolveu em um problema delicado.Na semana passada durante a madrugada, a porta da nossa
Alfonso AlbuquerqueA rejeição é um sentimento difícil de ser digerido. E agora, infelizmente sigo mediante as ondas desse conflito, na qual, apenas uma pessoa podia sanar.— Clarisse. — seu nome é projeto junto a fumaça do meu charuto.Quero esta mulher.É o único pensamento que reside em abundância na minha mente.No momento em que pus os meus olhos nela, sabia que a teria em meus braços, mas agora, esse desejo parece tão distante. Mesmo utilizando dos meus esforços, isso não parece alcançar a simpatia de Clarisse.Ao som de Chopin, a minha mente divaga e lentamente a lembrança de Clarisse começa a tomar forma em minha mente.O sorriso largo naqueles lábios pequenos no formato de coração faz surgir em meu peito o desejo de poder alcançar aquele sorriso. A sensação angustiante é como se o meu coração estivesse sendo envolvido por um emaranhado de ramos espinhosos, que pelo aperto, fazem o meu coração sofrer profundamente.Quando os seus olhos surgem e posso contemplar a profundidade
Clarisse Grigio A atmosfera de viagem estava presente em todos assim como em mim. Os sentimentos como ansiedade e desejo eram translúcidos nos olhos dos alunos, assim como nos meus. Fazer essa viagem de ônibus até a cidade de Petrópolis desperta muitos sentimentos em mim e um deles é a nostalgia. Contudo, assim como estar nostálgica fez reviver algo positivo, o sentimento negativo também se fez presente, pois na época em que fiz o passeio para Petrópolis foi exatamente duas semanas antes do acidente que acarretou a morte dos meus pais. Observo meus alunos com atenção na tentativa de dissipar os sentimentos desagradáveis do meu coração. Alguns dos rostinhos estão felizes, enquanto outros seguem adormecidos, mas vê-los passando por essa experiência desperta felicidade no meu interior. — Tia Clari, falta muito? — Bárbara que segue ao meu lado pergunta com a voz sonolenta. Afago seus fios antes de lhe responder. — Um pouco… continua dormindo e quando chegarmos eu te acordo. — minha a
Clarisse GrigioMeus olhos quase saltaram ao perceber que Alfonso estava diante da porta do meu quarto. Observo sua mão sobre a chave fixa na maçaneta da porta diante de mim, sendo um sinal de que ele estaria hospedado no mesmo local que eu.— Senhorita Grigio. — Alfonso proferiu encarando os meus olhos. Sua voz soou despretensiosamente, como se houvesse cansaço em seu corpo ou falta de entusiasmo em suas ações.— Senhor Albuquerque. — sem emoção o cumprimentei.O par índigo oscilou do meu rosto até os meus pés, só então me dei conta do que havia acontecido.— Meu Deus. — exclamei recolhendo a cesta junto os itens espalhados pelo chão. Houve um longo silêncio entre nós.Reorganizei os itens na cesta com rapidez.Os sapatos de Alfonso mantiveram-se dentro do meu campo de visão, porém, não se moveram como eu imaginava. Pelo contrário, parados eles permaneceram até eu retornar a minha postura à posição anterior e novamente, Alfonso e eu, nos encaramos.— Vejo que chegou em segurança. —
Clarisse Grigio “Isso realmente está acontecendo?” — minha mente me sonda pela centésima vez, uma pergunta na qual não sou capaz de responder. Desde o começo estava fadada a encontrar-me com Alfonso durante essa viagem? Não! Essa é apenas mais uma das infinitas coincidências que evitarei no futuro. Desvio do meu olhar de Alfonso que permanece de pé próximo da escadaria do hotel. Mesmo distante é nítido o brilho das suas safiras. Olhos estes que insistem em reivindicar minha atenção, porém evito encará-lo uma segunda vez. — Clarisse. — a mão de Luana toca meu braço chamando minha atenção — Você está bem? — assenti. — Estava pensando em algo. — retruquei forçando o melhor dos meus sorrisos. — Seu casamento, eu aposto. — menti, assentindo com fervor — Tenho certeza que você ficará linda no seu vestido de noiva. Já está tudo pronto ou falta algo? — Não falta nada. — vasculhei os detalhes em minha mente — Tudo está praticamente pronto, na realidade, só falta chegar o dia da