Chloe e Sophie me contaram sobre o ritual. Era algo que há décadas eles faziam. Sabia que Scott tinha herdado uma ilha de seu pai, uma gigantesca ilha chamada Kodar, e era lá que eles realizavam o tal do ritual. Minha sogra disse que era importante para o casal, que depois de realizar com Scott, tudo entre eles passou a ser mais intenso.Nunca fui religiosa, nas poucas vezes em que me ajoelhei para rezar e pedir algo à alguém maior que eu, não obtive muitas respostas. Eu clamava para que minha mãe deixasse de me bater, para que me visse com bons olhos, ou para que pelo menos deixasse de chorar tanto, só que não funcionava.Talvez eu não soubesse fazer direito. Talvez eu não era tão pura a ponto de ser ouvida. Não sei. Às vezes só não fiz com tanta fé, e então não consegui alcançar lugar algum. Mas quanto à família Legard e suas tradições simbólicas, bom, eu assinei um contrato onde dizia que eu precisaria me submeter às crenças deles, então não tinha como fugir.Eu e Tyler tería
Talvez Tyler tenha ficado bravo por me ouvir tocando no assunto, mas fazer o quê?! Eu queria mesmo escutar a versão dele e entender o quanto ainda doía.— Há algo a ser dito sobre isso? Meu irmão fez sexo com a mulher que eu amava, Hope. É isso.— E dói? A lembrança te machuca?Tyler riu engolindo em seco e se remexeu incomodado.— Não me importo com o que ela fez, apesar de todos dizerem que ela é quem deveria ter sido fiel a mim. Na minha cabeça, a maior decepção é que o meu irmão foi lá, nos últimos minutos, e transou com ela ignorando o quanto isso ia me machucar.Balancei a cabeça em compreensão. Dava para entender.— E o que ele diz?Tyler deu de ombros.— Ele alegou que não sabia como me mostrar que ela era infiel, então armou para que fossem pegos no erro. Mas o que você acha, Hope? Acha que foi a primeira vez? Acha que ele fez do melhor jeito? Ele diz que eu não ia acreditar se só me contasse, mas no fim, o Benedict apenas queria me atingir e me colocar em um buraco bem fund
Aquilo não estava certo. Não tinha como estar.Enquanto eu passava uma boa camada de corretivo para esconder as olheiras, Tyler escovava os dentes ao meu lado, descontraído e sem camisa. Sem nada, para ser mais exata.A cueca branca para mim era a mesma coisa de nada. Podia ver cada parte de seu corpo bem marcada, e jurava que o volume extra não se dava pela ereção matinal, visto que havíamos acordado há bons minutos e ele já tinha usado o banheiro duas vezes.Voltei a abusar no corretivo e após pegar o pincel para espalhar, Tyler finalizou sua escovação.— Quer uma carona até a Calisto hoje?Olhei para o homem de relance e balancei a cabeça em um não. Definitivamente, não.— Eu jamais vou andar no mesmo carro que a Lolla por livre e espontânea vontade. Só em caso de vida ou morte mesmo.Ele riu, guardou a escova de dentes no potinho do meu banheiro e se aproximou por trás de mim. Seus braços rodearam minha cintura, o calor de seu corpo me aqueceu de imediato, e todos os pelos do m
— A Sophie foi sequestrada? — Entrei em alerta de imediato.Tyler se deu conta do que fez e ergueu as mãos as chacoalhando no ar.— Não, não, não! Não agora, Hope! Quando eram pequenos.Soltei o ar de meus pulmões, aliviada, e fiz uma cara de brava para aquele alarde desnecessário. Claro que eu poderia ter interpretado da forma correta, mas era coisa demais para uma cabeça só, em um único dia. Muita coisa…— Sério que a Sophie já foi sequestrada? Que horror! Eu não me lembro de ouvir muito sobre isso.Ele deu de ombros, parecendo não muito confortável.— Foi o meu pai biológico quem ajudou a encontrar eles dois, ele era o investigador responsável pelo caso. Dessa forma acabamos conhecendo os Legards quando pequenos.Ia questionar muito mais porque me pareceu super interessante, mas Susan apareceu com uma bolsinha térmica nas mãos e me ofereceu.— Seu café da manhã, senhora Legard.Rolei os olhos pelo "senhora" só que não a repreendi. Parecia que nada faria ela parar de me chamar da
Um silêncio absurdo se apossou da sala.Todos permanecemos quietos e a única coisa que me fez querer sorrir foi ver Tyler Legard vestido em um terno maravilhoso, com toda aquela postura de dono da porra toda, segurando uma bolsinha cor de rosa com os meus lanches dentro.Foi tipo, a coisa mais fofa que eu poderia ver no dia.Benedict limpou a garganta e estendeu a mão para um cumprimento. Eu quase caí para trás ao ver Tyler se aproximando com passos calmos e apertando a mão do irmão mais novo com uma visível estabilidade emocional e educação. Atitude de ambos que me deixou embasbacada.— Desculpe por interromper, só fiquei preocupado porque não jantou muito bem nas últimas noites e também não tomou café. Achei que ia precisar disso. — Estendeu a bolsa para mim e eu a peguei, sorrindo pequeno.— Hope voltou a fazer greve de fome mais uma vez? — A voz de Benedict soou como um trovão.Quase estremeci olhando feio para ele. Linguarudo do caralho.— Ela costuma fazer isso? Ficou sem se al
— Você está enfiando o nariz onde não deveria, Hope! O que aconteceu com os meus pais não é do seu interesse! Não vai mudar nada na sua vida medíocre. Pode ter mudado na minha, mas na sua? De mulher do CEO da Hayans? Um dos mais poderosos de Nova Iorque? Não muda porra nenhuma! Então se limite a ser apenas minha funcionária ou então saia da Calisto imediatamente!Sua voz potente e sua fúria repentina me causaram uma sensação ruim.Já havíamos discutido antes quando nossos pontos de vista eram diferentes, mas ouvir Benedict falando tão rude, com palavras tão afiadas e tão pesadas ao me atingirem, doeu.Foi como se a dor dele, toda ela, batesse em minha cara. Cada palavra proferida me atacou como golpes certeiros e então o clima bom que ali estava, sumiu de imediato. Não por culpa de Tyler, não por uma briguinha idiota deles, mas sim por minha causa. Minha e da boca que não consegui deixar fechada.— Eu não quero ser enxerida, só queria muito entender o porquê de agirem assim, de um mo
Dedos macios se afundaram nos meus fios de cabelo e então fechei os olhos permitindo todas as lágrimas quentes caírem, escorrendo por minha face até ter fim nas coxas da mulher que estavam sob minha cabeça.Ela continuou cantarolando uma música antiga que eu não sabia o nome mas que me agradava muito no timbre dela, e então de pouco em pouco fui sentindo a calmaria de estar com Arti.Desejei que isso nunca acabasse, que apesar da correria diária e da nossa distância no dia a dia, sempre que precisássemos uma da outra, pudéssemos correr para colos quentinhos e amorosos.— É o casamento? — perguntou baixinho, com certo receio.Balancei a cabeça de um lado para o outro, esperando que ela entendesse que não. Não era apenas o casamento.Se pudesse dizer, de pudesse contar que era a mentira, que era o medo, a culpa e a dor de saber que praticamente abri mão da vida que eu tinha por causa de dez milhões, ficaria bem mais leve ao desabafar.Porém, mesmo sabendo que Arti jamais seria capaz de
A sorte de Arti era que não havia nenhum móvel para ser derrubado, pois da forma como ele entrou na casa, se tivesse algo em seu caminho, o homem teria levado junto.Tyler me olhou com uma preocupação que me deixou preocupada. Revirei os olhos mais uma vez porque aquilo era ridículo. Em todos os sentidos da coisa, ridículo.O que seria então? Eu ia correr para a minha melhor amiga para desabafar e tentar extrapolar sem falar demais, e então o causador de uma grande parte dos problemas ia aparecer na minha frente? Tudo porquê mesmo?Ah, claro. Ele era meu marido.— O que aconteceu? Eu vim o mais rápido que pude.O homem se aproximou do sofá onde eu estava sentada toda desajeitada e simplesmente ficou de cócoras ali de frente para mim.Arti cruzou os braços se encostando na parede que dividia a sala da cozinha e suspirou como uma boba, observando a cena deprimente que aconteceria, tudo porque ela achou que era uma boa ideia falar com meu marido.Traidora!— Estou bem, Tyler. Foi só uma