Aquilo não estava certo. Não tinha como estar.Enquanto eu passava uma boa camada de corretivo para esconder as olheiras, Tyler escovava os dentes ao meu lado, descontraído e sem camisa. Sem nada, para ser mais exata.A cueca branca para mim era a mesma coisa de nada. Podia ver cada parte de seu corpo bem marcada, e jurava que o volume extra não se dava pela ereção matinal, visto que havíamos acordado há bons minutos e ele já tinha usado o banheiro duas vezes.Voltei a abusar no corretivo e após pegar o pincel para espalhar, Tyler finalizou sua escovação.— Quer uma carona até a Calisto hoje?Olhei para o homem de relance e balancei a cabeça em um não. Definitivamente, não.— Eu jamais vou andar no mesmo carro que a Lolla por livre e espontânea vontade. Só em caso de vida ou morte mesmo.Ele riu, guardou a escova de dentes no potinho do meu banheiro e se aproximou por trás de mim. Seus braços rodearam minha cintura, o calor de seu corpo me aqueceu de imediato, e todos os pelos do m
— A Sophie foi sequestrada? — Entrei em alerta de imediato.Tyler se deu conta do que fez e ergueu as mãos as chacoalhando no ar.— Não, não, não! Não agora, Hope! Quando eram pequenos.Soltei o ar de meus pulmões, aliviada, e fiz uma cara de brava para aquele alarde desnecessário. Claro que eu poderia ter interpretado da forma correta, mas era coisa demais para uma cabeça só, em um único dia. Muita coisa…— Sério que a Sophie já foi sequestrada? Que horror! Eu não me lembro de ouvir muito sobre isso.Ele deu de ombros, parecendo não muito confortável.— Foi o meu pai biológico quem ajudou a encontrar eles dois, ele era o investigador responsável pelo caso. Dessa forma acabamos conhecendo os Legards quando pequenos.Ia questionar muito mais porque me pareceu super interessante, mas Susan apareceu com uma bolsinha térmica nas mãos e me ofereceu.— Seu café da manhã, senhora Legard.Rolei os olhos pelo "senhora" só que não a repreendi. Parecia que nada faria ela parar de me chamar da
Um silêncio absurdo se apossou da sala.Todos permanecemos quietos e a única coisa que me fez querer sorrir foi ver Tyler Legard vestido em um terno maravilhoso, com toda aquela postura de dono da porra toda, segurando uma bolsinha cor de rosa com os meus lanches dentro.Foi tipo, a coisa mais fofa que eu poderia ver no dia.Benedict limpou a garganta e estendeu a mão para um cumprimento. Eu quase caí para trás ao ver Tyler se aproximando com passos calmos e apertando a mão do irmão mais novo com uma visível estabilidade emocional e educação. Atitude de ambos que me deixou embasbacada.— Desculpe por interromper, só fiquei preocupado porque não jantou muito bem nas últimas noites e também não tomou café. Achei que ia precisar disso. — Estendeu a bolsa para mim e eu a peguei, sorrindo pequeno.— Hope voltou a fazer greve de fome mais uma vez? — A voz de Benedict soou como um trovão.Quase estremeci olhando feio para ele. Linguarudo do caralho.— Ela costuma fazer isso? Ficou sem se al
— Você está enfiando o nariz onde não deveria, Hope! O que aconteceu com os meus pais não é do seu interesse! Não vai mudar nada na sua vida medíocre. Pode ter mudado na minha, mas na sua? De mulher do CEO da Hayans? Um dos mais poderosos de Nova Iorque? Não muda porra nenhuma! Então se limite a ser apenas minha funcionária ou então saia da Calisto imediatamente!Sua voz potente e sua fúria repentina me causaram uma sensação ruim.Já havíamos discutido antes quando nossos pontos de vista eram diferentes, mas ouvir Benedict falando tão rude, com palavras tão afiadas e tão pesadas ao me atingirem, doeu.Foi como se a dor dele, toda ela, batesse em minha cara. Cada palavra proferida me atacou como golpes certeiros e então o clima bom que ali estava, sumiu de imediato. Não por culpa de Tyler, não por uma briguinha idiota deles, mas sim por minha causa. Minha e da boca que não consegui deixar fechada.— Eu não quero ser enxerida, só queria muito entender o porquê de agirem assim, de um mo
Dedos macios se afundaram nos meus fios de cabelo e então fechei os olhos permitindo todas as lágrimas quentes caírem, escorrendo por minha face até ter fim nas coxas da mulher que estavam sob minha cabeça.Ela continuou cantarolando uma música antiga que eu não sabia o nome mas que me agradava muito no timbre dela, e então de pouco em pouco fui sentindo a calmaria de estar com Arti.Desejei que isso nunca acabasse, que apesar da correria diária e da nossa distância no dia a dia, sempre que precisássemos uma da outra, pudéssemos correr para colos quentinhos e amorosos.— É o casamento? — perguntou baixinho, com certo receio.Balancei a cabeça de um lado para o outro, esperando que ela entendesse que não. Não era apenas o casamento.Se pudesse dizer, de pudesse contar que era a mentira, que era o medo, a culpa e a dor de saber que praticamente abri mão da vida que eu tinha por causa de dez milhões, ficaria bem mais leve ao desabafar.Porém, mesmo sabendo que Arti jamais seria capaz de
A sorte de Arti era que não havia nenhum móvel para ser derrubado, pois da forma como ele entrou na casa, se tivesse algo em seu caminho, o homem teria levado junto.Tyler me olhou com uma preocupação que me deixou preocupada. Revirei os olhos mais uma vez porque aquilo era ridículo. Em todos os sentidos da coisa, ridículo.O que seria então? Eu ia correr para a minha melhor amiga para desabafar e tentar extrapolar sem falar demais, e então o causador de uma grande parte dos problemas ia aparecer na minha frente? Tudo porquê mesmo?Ah, claro. Ele era meu marido.— O que aconteceu? Eu vim o mais rápido que pude.O homem se aproximou do sofá onde eu estava sentada toda desajeitada e simplesmente ficou de cócoras ali de frente para mim.Arti cruzou os braços se encostando na parede que dividia a sala da cozinha e suspirou como uma boba, observando a cena deprimente que aconteceria, tudo porque ela achou que era uma boa ideia falar com meu marido.Traidora!— Estou bem, Tyler. Foi só uma
Agora eu era Hope Lisbon Legard, gostando disso ou não, eu ia fazer jus ao sobrenome.Benedict assim como eu tinha direito de escolha. Optou por ser um maldito filho da puta comigo, então que agora soubesse lidar com as consequências disso também.Não fui eu quem conseguiu os convites para o jantar? Não foi Tyler quem correu atrás e conseguiu a permissão para cobrir o evento? Então seria eu quem faria também a Hayans ter novos investidores. Se eu era a primeira dama, seria uma muito boa e competente.— Vamos para casa? Deixe o seu carro aqui, mando alguém buscar mais tarde. Só me deixa te levar, pode ser? Tomamos um belo banho, comemos alguma coisa e deixamos nossas mentes tranquilas. O que acha?Ergui os olhos para Tyler e de imediato sua boca me atraiu como um maldito imã.A vontade de beijá-lo foi enorme, mas me contive e só balancei a cabeça para confirmar que sim, era uma ótima ideia.Ele me soltou apenas para que eu fosse até Arti me despedir. Agradeci a gentileza de sair do s
Há erros que cometemos uma única vez e aprendemos a lição rapidamente. Nossa cabeça consegue armazenar com facilidade que não devemos repeti-lo, caso contrário, as consequências não são nem um pouco agradáveis.Bom, há erros que eu jamais voltaria a repetir, como por exemplo, confiar em uma mulher de peitos enormes, ou acreditar cegamente nas palavras de um jogador de futebol americano. Mas também, há erros em que vou querer me perder mais e mais vezes, disso eu sempre soube.Tyler Legard foi um erro. Ele foi o meu maior erro, porém, foi o mais gostoso também, em literalmente tudo.Ter seus lábios macios tocando meu pescoço com tamanha delicadeza, me deixava ainda mais perdida. Se achava que poderia encontrar um caminho para andar em linha reta com uma luz bem no fim sinalizando o destino certo, com Tyler me tocando sem pudor eu passava a caminhar no escuro, de olhos vendados, em um completo breu.Meu erro. Meu maior erro tinha sido ele, e mesmo assim continuava errando. Mesmo assi