Sim, eu sabia que ela e minha tia não se davam nada bem e que fugiam uma da outra porque compartilharam um passado ruim, contudo, eu precisava abrir mão de Nicole Clark e para isso, não podia mais ter ela como uma preocupação todos os dias. Sendo assim, ofereci uma boa mesada para que sua irmã se encarregasse de fazer o mínimo. Minha mãe ia permanecer por mais alguns meses na casa de repouso, mas após isso, se não encontrasse o seu final ali mesmo, teria que encontrá-lo com minha tia.— Onde está o seu pai? Como conseguiu achar ele? Vocês estão se falando? Aquele desgraçado, filho da puta! Ele abandonou nós duas e você consegue olhar para a cara daquele porco asqueroso? — perguntou iniciando seus gritos. — Você é uma merda, como ele é, Hope! Você puxou tudo para ele. É nojenta como ele. Deve ser tão asquerosa quanto ele! Me diz, aquele maldito ainda gosta de comer bunda de homem?Entendendo que a conversa não chegaria a nenhum lugar interessante, respirei fundo olhando para ela com
O barulho dos meus saltos se chocando contra o piso reluzente ecoava por todo o ambiente vazio. Os funcionários da Calisto já não estavam mais lá, as mesas estavam todas vazias e uma grande parte das luzes estavam apagadas, da maneira como deveria estar às oito da noite.Corri apressada em direção a sala de reuniões. A única coisa que o segurança me disse foi que os dois se pegaram no último andar e que foi preciso intervir para separá-los. Quis demonstrar surpresa com a informação mas era impossível. Eu já estava preparada, sempre estava. Era super normal para mim aquilo, por mais que agora soava um tanto estranho visto que os dois andavam se entendendo ultimamente pelo que me foi informado. Enfim…A cada passo mais rápido podia sentir meu coração mais acelerado. Talvez fosse porque eu estava prestes a intervir mais uma vez, mas também podia ser porque estar na Calisto me causava sensações incríveis. Sentia um certo tipo de nostalgia por me recordar dos meus dias atuando como s
— A Sophie ligou dizendo que vocês saíram no soco então eu vim. Me deixe ver isso — pedi levando minha mão até seu rosto mas ele recuou, desviando do meu toque.Encarei Tyler um tanto ofendida. O que mais ele queria? Além de protagonizar cenas com seu irmão, ia também se fazer de difícil e intocável? Ah, faça-me o favor!— Você não deveria estar aqui.Bufei dando um passo para trás. Tyler só podia estar de brincadeira com a minha cara. Sério que eu não deveria estar ali? Ele achava mesmo que eu não sabia disso?— É, eu não deveria estar aqui. Mas adivinha só? Estou aqui porque eu me preocupo com você, seu idiota! — Empurrei seu peito nu contudo, sua postura continuou a mesma.Tyler olhou para os próprios pés, a ferida aberta voltou a pingar sangue e pude ver uma gota generosa escorrer por seu rosto, o manchando e deixando tudo ainda mais caótico.— Me desculpe. Não queria te fazer voltar só por causa de uma briga idiota com o meu irmão.Ri sem muita emoção, ainda encarando o homem
>Tyler, aos 12 anos.
— Como está a minha florzinha linda, hum?Minha raiva foi alimentada ainda mais quando senti o cheiro forte de bebida impregnado em sua roupa. Ele ainda tinha a capacidade de chegar perto de uma bebê mesmo se encontrando naquele estado deprimente?!— Você está fedendo, pai — Benedict soltou levando a mão até o nariz para não sentir o cheiro.Os olhos claros se voltaram para o meu rosto e após ajeitar a postura ele apenas fez um gesto com a cabeça em um cumprimento silencioso. Aquele não era o meu pai, não tinha como ser. Não o pai amoroso que ia até mim quando chegava do trabalho todos os dias e me jogava em suas costas para brincar de "cavalinho". Não aquele que pegava Benedict nos braços e corria pela casa com uma bola de basquete nas mãos, buscando algo como alvo para ser a "cesta" deles.Aquele homem em minha frente era só um bêbado que por algum motivo ficou traumatizado com algo no trabalho e acabou se enfiando em álcool para tentar mudar a situação. Mudou, para pior.— Vam
— Nada no mundo vai mudar o que aconteceu, e eu sei, sei que ele me culpou todos os dias que se seguiram depois disso. Ele disse isso na minha cara, disse que a culpa era minha. E eu acredito, sabe? Eu acredito que se não tivesse insistido, que se tivesse deixado ele ficar em casa, que se tivéssemos ido ver os patos, nada daquilo teria acontecido. Foi minha culpa? Talvez. Os três morreram? Sim. Essa era a nossa realidade. Meus pais e nossa irmãzinha morreram, e o Bene achava que eu era o culpado.Engoli em seco secando as lágrimas que insistiam em cair. Aquilo me pegou em cheio, de um jeito difícil de engolir. Não porque eu pensava como Benedict, mas porque… porra! Um bebê. Os pais deles, e… Era algo pesado demais.Agora eu entendia.— Ty, não é sua culpa. Não… Não pode ser sua culpa, entende? Você só queria um passeio, queria ter uma tarde legal com a sua família, e…O quê? Como eu o convenceria de que não deveria se culpar de tal forma?O homem sentado no chão assim como eu, encar
— As brigas são por isso então?Tyler suspirou e me olhou tristonho. Senti a dor em seu olhar e quis pela milésima vez só naquela meia hora, o abraçar e dizer que de alguma forma, tudo ficaria bem.— Todas as vezes eu sinto que ele relembra e desconta a raiva em mim. Eu sei que ele sofre muito, até hoje. A Chloe cuidou muito bem de nós, principalmente do Bene, mas o ódio dele por mim parece permanecer. Não sei explicar, eu só sinto que ele nunca vai ser capaz de me perdoar por completo.— Mas não há o que ser perdoado, Ty. Foi uma fatalidade, foi horrível e muito triste, deve ter sido uma dor enorme para vocês, mas não foi você quem causou a tragédia. Você só tinha doze anos. Não sabia que um caminhão ia perder os freios e ia colidir com o carro de vocês. Ninguém sabia.— Não é assim que o Benedict pensa — murmurou com os olhos cheios de lágrimas.Merda. Foda-se o que o Benedict pensava! Eu só queria confortar Tyler.— Azar o dele então. Quem vai remoer isso tudo sozinho vai ser ele.
Soltei um riso nasalado olhando para o lindo céu estrelado acima de nós.Se queria fazer aquilo mesmo? Se queria conhecer Tyler de verdade? O Tyler machucado por traumas do passado e consequências do presente?— Sei lá. Já imaginou se nós não nos conhecêssemos? — Fiz a pergunta enquanto ainda admirava o céu noturno. — Se você fosse só um cara que eu encontrei machucado e resolvi ajudar? Se você estivesse contando sua história para uma mulher qualquer, explicando tudo o que há de errado na sua vida e que precisa melhorar? Me parece uma coisa interessante…Voltei a encarar o homem e ele soltou meus dedos para cruzar o braços, talvez com o intuito de se proteger um pouco do vento gelado, e também por estar pensativo sobre o que falei.— Então é o que quer fazer? Quer me conhecer de verdade sem um contrato para nos obrigar a fazer isso?Balancei a cabeça em um "talvez". Nem sim, e nem não.— Eu quero um dia olhar para o passado e pensar que me apaixonei por alguém de uma forma natural. Qu