— A Sophie ligou dizendo que vocês saíram no soco então eu vim. Me deixe ver isso — pedi levando minha mão até seu rosto mas ele recuou, desviando do meu toque.Encarei Tyler um tanto ofendida. O que mais ele queria? Além de protagonizar cenas com seu irmão, ia também se fazer de difícil e intocável? Ah, faça-me o favor!— Você não deveria estar aqui.Bufei dando um passo para trás. Tyler só podia estar de brincadeira com a minha cara. Sério que eu não deveria estar ali? Ele achava mesmo que eu não sabia disso?— É, eu não deveria estar aqui. Mas adivinha só? Estou aqui porque eu me preocupo com você, seu idiota! — Empurrei seu peito nu contudo, sua postura continuou a mesma.Tyler olhou para os próprios pés, a ferida aberta voltou a pingar sangue e pude ver uma gota generosa escorrer por seu rosto, o manchando e deixando tudo ainda mais caótico.— Me desculpe. Não queria te fazer voltar só por causa de uma briga idiota com o meu irmão.Ri sem muita emoção, ainda encarando o homem
>Tyler, aos 12 anos.
— Como está a minha florzinha linda, hum?Minha raiva foi alimentada ainda mais quando senti o cheiro forte de bebida impregnado em sua roupa. Ele ainda tinha a capacidade de chegar perto de uma bebê mesmo se encontrando naquele estado deprimente?!— Você está fedendo, pai — Benedict soltou levando a mão até o nariz para não sentir o cheiro.Os olhos claros se voltaram para o meu rosto e após ajeitar a postura ele apenas fez um gesto com a cabeça em um cumprimento silencioso. Aquele não era o meu pai, não tinha como ser. Não o pai amoroso que ia até mim quando chegava do trabalho todos os dias e me jogava em suas costas para brincar de "cavalinho". Não aquele que pegava Benedict nos braços e corria pela casa com uma bola de basquete nas mãos, buscando algo como alvo para ser a "cesta" deles.Aquele homem em minha frente era só um bêbado que por algum motivo ficou traumatizado com algo no trabalho e acabou se enfiando em álcool para tentar mudar a situação. Mudou, para pior.— Vam
— Nada no mundo vai mudar o que aconteceu, e eu sei, sei que ele me culpou todos os dias que se seguiram depois disso. Ele disse isso na minha cara, disse que a culpa era minha. E eu acredito, sabe? Eu acredito que se não tivesse insistido, que se tivesse deixado ele ficar em casa, que se tivéssemos ido ver os patos, nada daquilo teria acontecido. Foi minha culpa? Talvez. Os três morreram? Sim. Essa era a nossa realidade. Meus pais e nossa irmãzinha morreram, e o Bene achava que eu era o culpado.Engoli em seco secando as lágrimas que insistiam em cair. Aquilo me pegou em cheio, de um jeito difícil de engolir. Não porque eu pensava como Benedict, mas porque… porra! Um bebê. Os pais deles, e… Era algo pesado demais.Agora eu entendia.— Ty, não é sua culpa. Não… Não pode ser sua culpa, entende? Você só queria um passeio, queria ter uma tarde legal com a sua família, e…O quê? Como eu o convenceria de que não deveria se culpar de tal forma?O homem sentado no chão assim como eu, encar
— As brigas são por isso então?Tyler suspirou e me olhou tristonho. Senti a dor em seu olhar e quis pela milésima vez só naquela meia hora, o abraçar e dizer que de alguma forma, tudo ficaria bem.— Todas as vezes eu sinto que ele relembra e desconta a raiva em mim. Eu sei que ele sofre muito, até hoje. A Chloe cuidou muito bem de nós, principalmente do Bene, mas o ódio dele por mim parece permanecer. Não sei explicar, eu só sinto que ele nunca vai ser capaz de me perdoar por completo.— Mas não há o que ser perdoado, Ty. Foi uma fatalidade, foi horrível e muito triste, deve ter sido uma dor enorme para vocês, mas não foi você quem causou a tragédia. Você só tinha doze anos. Não sabia que um caminhão ia perder os freios e ia colidir com o carro de vocês. Ninguém sabia.— Não é assim que o Benedict pensa — murmurou com os olhos cheios de lágrimas.Merda. Foda-se o que o Benedict pensava! Eu só queria confortar Tyler.— Azar o dele então. Quem vai remoer isso tudo sozinho vai ser ele.
Soltei um riso nasalado olhando para o lindo céu estrelado acima de nós.Se queria fazer aquilo mesmo? Se queria conhecer Tyler de verdade? O Tyler machucado por traumas do passado e consequências do presente?— Sei lá. Já imaginou se nós não nos conhecêssemos? — Fiz a pergunta enquanto ainda admirava o céu noturno. — Se você fosse só um cara que eu encontrei machucado e resolvi ajudar? Se você estivesse contando sua história para uma mulher qualquer, explicando tudo o que há de errado na sua vida e que precisa melhorar? Me parece uma coisa interessante…Voltei a encarar o homem e ele soltou meus dedos para cruzar o braços, talvez com o intuito de se proteger um pouco do vento gelado, e também por estar pensativo sobre o que falei.— Então é o que quer fazer? Quer me conhecer de verdade sem um contrato para nos obrigar a fazer isso?Balancei a cabeça em um "talvez". Nem sim, e nem não.— Eu quero um dia olhar para o passado e pensar que me apaixonei por alguém de uma forma natural. Qu
Três taças de champanhe e eu já estava sorrindo mais que o normal. Deveria estar bebendo? Não. Pretendia parar na terceira taça? Também não.Inquieta, observei todo o ambiente à minha volta. A galeria era terrivelmente charmosa. A decoração estava impecável, e a quantidade de pessoas tinha ultrapassado o esperado.Bom, o que eu estava fazendo em uma galeria de arte? Nem eu sabia dizer ao certo.Desde o divórcio com Tyler precisei me virar. Tínhamos um acordo, eu e ele, mas agora não envolvia um contrato e nenhum outro tipo de documento. Agora éramos só pessoas normais que desejavam viver uma vida dentro do limite do normal.Pedi um tempo para que eu pudesse me situar e resolver a minha vida. Tentei falar com Benedict na noite em que brigaram e a verdade é que não obtive sucesso algum nessa tentativa. Ele estava odiando eu e seu irmão por saber que nosso casamento tinha sido uma mentira, e todo o progresso que tiveram com o tempo foi por ralo abaixo com essa revelação. Nossa sor
Deixei de sorrir porque minhas vontades eram várias. Queria chorar talvez porque estava de TPM, mas também queria gritar com ele por ter demorado tanto, e também desejava o abraçar muito e depois disso queria arrancar toda sua roupa, o jogar em uma cama e depois passaria os meus dedos por toda a extensão de sua pele, tocando cada tatuagem perfeita que me deixava ainda mais bobinha.— Hope? — Estalou os dedos na frente do meu rosto e então acordei.Engoli em seco e sorri sem graça para o homem.— Me desculpe, preciso resolver uma coisa. — Apontei em direção a qualquer outra coisa e saí deixando ele parado ali sem entender.Desviando de um e outro corpo, fui me aproximando lentamente de onde eu tinha visto o homem. Aquele desgraçado planejou ir até a exposição e não me disse nada? Bom, nós não estávamos nos falando muito, e talvez isso até tivesse dedo de Sophie, que devia proclamar minha vida para todos os seus familiares a fim de não deixar nenhum deles se esquecer de mim.No meu p