Logo mais, estarei colocando mais um capítulo.
DEENAAcordo com uma sensação de aconchego que há muito tempo não sentia. Abro os olhos e tento erguer os braços para me espreguiçar, quando percebo um braço pesado sobre minha barriga. Uma sensação de pânico percorre meu corpo. Não quero que ele me veja acordar.— Que droga! — resmungo.Vou me arrastando para o lado, com a esperança de que ele não note, mas quando penso que estou livre, seus braços me puxam e ele beija o topo da minha cabeça.— Dessa vez você não pode fugir, Boneca. Você está na sua casa e eu não vou a lugar algum. — suas palavras saem roucas e quase ininteligíveis.Não me viro para ele, estou com vergonha de olhá-lo nos olhos e receosa de que queira algo mais.Após nos aconchegarmos na noite anterior, caímos no sono. E isso foi tudo.Me viro para ele, com a cabeça apoiada em minha mão. Ele faz o mesmo, mas mantem um dos braços sobre minha cintura.— Você me chamou de Boneca? — provoco com os olhos semicerrados.— Tudo bem, Srta. Hoyth. Não vai fugir de mim. — diz me
HENRY— Deena... eu só... só não posso agora. — digo, antes de ver a porta se fechar.Talvez eu seja mesmo como todos os outros homens, burro e impulsivo.Que me*da eu acabei de fazer? Ontem eu era um louco apaixonado, metido a herói e hoje, quem sou eu? Um covarde fujão.Eu não sei nada sobre crianças, mesmo que tenha me afeiçoado a Eve, não saberia como ser um pai, não saberia como ser seu pai. E tem mais: Eu nem sei o que está acontecendo entre mim e Deena, só sei que ela me enlouquece e depois que essa loucura passa, nunca sei o que fazer. Caminho o mais rápido que eu posso para a saída da fazenda, deixando a ainda mais a impressão de que estou fugindo, mas a realidade é que enquanto me preocupo com meus passos, menos penso na me*da que eu acabei de fazer. Caminhar não sendo suficiente, começo a correr e só quando alcanço a porteira que me dou conta de que não chamei Otto.Não costumo chamar Otto aos domingos, mas hoje não tenho alternativas. Poderia mandar uma mensagem, mas prefir
DEENAAssim que fecho a porta, sinto um buraco se abrindo no meu peito. Quantas decepções! Volto para a pequena cozinha, desolada.— Querida, você está bem? — Judith dispara, ao me ver.Meneio a cabeça negativamente e desabo sobre a mesa, soluçando.— Vou chamar o Henry pra você. —Eve diz deslizando da cadeira para o chão.— Ele teve que ir embora. — respondo rapidamente, tentando me recuperar.— Por isso que você está chorando?Limpo minhas lágrimas, sem conseguir responder.— Ele volta amanhã, mamãe. — ela diz muito séria e caminha em direção a sala.Espero que ela esteja distraída para me voltar para as minhas amigas que já ocupam as cadeiras a minha frente e ao meu lado.— A Eve é demais para ele. — desabo.— Ele disse isso? — pergunta Lana. Meneio a cabeça negativamente e respondo:— Não precisa nem dizer. Prometeu o mundo pra mim e saiu correndo assim que Eve o chamou de papai.As duas respiram fundo e se entreolham.— O que foi?— Você também não se assustaria? — Judith redargui
HENRY— Ela não sabe destrancar? Chame ela! — digo, como se tudo fosse muito simples, porém, ela me lança um olhar irritado e bufa impaciente.— Ela ainda vai fazer quatro anos, sabia?— Ela já alcança a maçaneta? Acho que é o básico, o resto a gente vai ensinando.— Cala a boca! — ela exclama, forçando a maçaneta seguidamente. Me aproximo, procurando algum vão no batente.— Dá para se afastar? — Olho para baixo e percebo que estou grudado as costas dela, que ainda tenta a maçaneta. Pigarreio e me afasto. Decido dar a volta na casa a procura de Eve pelas janelas. Vejo que ela está embaixo da janela da sala, entre o braço do sofá e a parede. Está escondida.— Eve, é o Henry. Eve! Eu e a mamãe estamos trancados para fora de casa, só você pode nos ajudar. — ela se encolhe ainda mais. — Eve! Por favor, querida, vá até o hall. Eve!— Não posso ir, estou escondida! — ela diz meio que cantarolando.— Querida, não vamos conseguir te encontrar se estamos aqui fora.Ela parece pensar um pouco,
DEENAContra a vontade de Eve, acabo de colocá-la para dormir e me dirijo a sala, onde Henry já me espera. Ele está sentado no sofá, relaxado com as pernas abertas e os braços abertos apoiados em cada lado do sofá como asas, parece que meu sofá é pequeno demais para ele, espaçoso e folgado como é. Paro a sua frente e ele me dirige aquele sorrisinho vitorioso, que dá vontade de desmanchar na pancada.— No que você estava pensando, quando resolveu enganar a minha filha novamente?— Eu não...— Não o quê? Eu e minhas amigas tínhamos acabado de conversar com ela, para não te chamar de pai, você quer brincar com a minha cabeça, então brinque. Eu sei lidar com isso, mas Eve... — meus olhos começam a esquentar. — ela só tem três anos e um pai biológico horrível que ela não sabe quem é.Ele recolhe os braços do encosto do sofá e fita o carpete.— Me desculpe! — diz finalmente em um suspiro.O quê? Eu estou ouvindo direito? Só me desculpe?— Só me desculpe? Só isso que tem a dizer?Ele bufa e s
HENRYOuvir “Bom dia, papai!” e ter que responder foi uma faca no coração. Mas, tenho que confessar que essa coisa de pai de família, me conquistou. Esse sorriso gratuito de Eve, logo cedo iluminou meu dia.— Vamos! — Escuto a voz seca e apressada de Deena as minhas costas, mas logo ela passa a nossa frente. Estou de mãos dadas com Eve, o que me exige um pouco de curvatura, mas tudo bem. Hoje, minha garota está uma fera, mas eu sei que essa irritação toda vem do fato de que ela não consegue me resistir. Eu percebi como ficou vermelha quando peguei em seu joelho e como se atrapalhou toda quando acariciei sua mão. Por que é tão difícil para essa mulher aceitar carinho?— Evelyne... sem gracinhas hoje, hein! Hoje é um dia de muito trabalho e não podemos nos atrasar.— Evelyne? Você se chama Evelyne? — pergunto, divertido para a menina, que assente sorrindo. Evelyne, que estranho nome para uma criança, não sei por que, mas tive uma sensação de ser um nome muito sério para uma garotinha tã
DEENANão deveria ter dito aquilo, deveria expulsá-lo da minha vida de uma vez por todas e ao invés disso, acabei rastejando para ele. Como me odeio por isso!Assim que ganho o campo pela porta de trás do galpão, o vento gélido me atinge, por isso, fecho meu casaco com as mãos, enquanto sinto minhas bochechas queimarem pelo frio. Me concentro no clima e nas montanhas no horizonte para não deixar as lágrimas subirem aos meus olhos.Sinto o celular vibrando no bolso de trás da calça. É meu advogado.— Pronto! — atendo.— Srta. Hoyth?— Sim.— Aqui é o Sr. Nohwals...— Eu sei. — corto impaciente, já com as mãos suando de ansiedade. Suas ligações nunca significavam boas coisas. — Pode ir direto para o assunto?Ouço sua respiração pesada do outro lado da linha e um farfalhar de papéis.— Srta. Hoyth, sinto dizer que a ordem de restrição que você pediu só pode se aplicar a você. Com relação a Evelyne, isso não é possível, já que ela é filha biológica do seu ex-marido, ele tem todo o direito
HENRYChego algum tempo depois de Deena e, quando abro a porta sou preenchido pelo aroma de xampu e sabonete que paira no ambiente. Isso nunca aconteceria no meu apartamento. O máximo que conseguiria seria o cheiro estéril do pinho usado na limpeza. Não esse cheiro doce, cítrico e convidativo que estou sentindo agora.— Deena? — chamo. — Deena?Ela não deve estar me ouvindo por causa do chuveiro.— Papai? — escuto quando estou me desvencilhando dos meus tênis. Ainda é difícil para mim ser chamado dessa forma. Eu gosto muito dessa garotinha, de verdade, quero protegê-la de qualquer coisa ruim, mas esse mesmo carinho é o que me machuca, porque eu sei que não tenho a menor condição moral para assumir este lugar e quando eu “pisar na bola” e eu sei que eu vou em algum momento, ela pode se machucar muito, e só de pensar nisso, “cara” ! Me corta lá no fundo da alma. Respiro fundo antes de responder.— Olá, bonequinha! — olho para ela: olhos brilhantes e cheios de expectativas emoldurados pel