Não demorou muito para eu começar a me empanturrar de comida. O sabor era divino comparado ao lixo que nos davam no orfanato, e meu estômago guloso roncou ainda mais.Havia uma refeição completa: frutas, legumes, leite, vinho, bife... Podia-se nomear qualquer coisa. Eles tinham tudo naquela cozinha.— Quem é você?Uma das maçãs meio comidas que estava em minha mão caiu, e eu congelei. Virei-me lentamente e me deparei com um garoto de cabelos cacheados em uma cadeira de rodas. Se ele não tivesse a minha idade, seria um ou dois anos mais velho.Apesar de minha boca estar cheia até a borda, forcei um sorriso e levantei a mão no ar, desajeitada.— Oi. — Murmurei.O garoto apenas me encarou, e então seu olhar desceu até a maçã na minha mão. Sem graça, escondi a fruta atrás de mim, fixando os olhos nas rodas da cadeira dele.— Eu prometo e juro que não estou... — Comecei a falar, mas fui interrompida quando ele moveu a cadeira. No início, meu coração apertou de medo, mas ele apenas passou po
Ele me perguntou sobre o assunto e foi quando descobri que realmente gostava de design de joias. Então, ele me trouxe mais livros relacionados ao tema.Com o passar dos anos, enquanto amadurecíamos, Lucas se transformou em um jovem inteligente, e eu comecei a vê-lo como mais do que apenas um amigo. Sem perceber, comecei a me preocupar com a minha aparência sempre que sabia que o encontraria. Todos os dias, eu ansiava por vê-lo e passar um tempo ao seu lado.Quando completei dezesseis anos, tive certeza de que estava apaixonada por ele. E ele também parecia sentir algo por mim - só não sabia o quanto. Aos dezessete, Lucas e eu compartilhamos nosso primeiro beijo. Aconteceu debaixo da estante cheia dos livros sobre design de joias que ele havia me dado ao longo dos anos.Fomos um casal feliz por um tempo, até que a saúde de Lucas começou a se deteriorar. Ele desmaiava com frequência, e eu passei a vê-lo cada vez menos. A cada dia, o tempo que compartilhávamos começou a diminuir.Sempre q
PONTO DE VISTA DO MARKMeu maxilar se apertou, e senti minhas mãos tremendo ao lado do corpo antes de se fecharem em punhos ao ver aquele homem envolvendo Sydney em seus braços e apertando-a num abraço forte.Sem pensar, avancei com passos firmes, queimando de ciúmes, e puxei Sydney para longe do homem. Assim que ela estava fora do alcance, conectei meu punho ao rosto dele.O desgraçado cambaleou para trás, levando as mãos ao rosto.— Que diabos! Mark? — Ouvi Sydney gritar atrás de mim, mas isso não me deteve. Cruzei o espaço que nos separava e acertei outro soco no rosto dele. Desta vez, ao cambalear para trás, ele caiu no chão.— Mark! Saia de cima dele agora mesmo! — Era a voz da vovó, mas eu estava incontrolável.Montei sobre ele e desferi outro soco em seu rosto. Quem ele pensava que era para surgir do nada e agarrar Sydney daquele jeito?Quando puxei o braço para golpeá-lo novamente, sua palma segurou meu punho. Com a boca sangrando, ele a abriu e cuspiu as palavras mais irritant
— Sydney, você está parecendo uma adolescente apaixonada. — Provocou Grace, entrando na sala de estar com um prato cheio de morangos, enquanto mordiscava alguns.— Não sei, Grace... — Murmurei, girando o celular entre os dedos e franzindo os lábios de preocupação. — Devo ligar pra ele? Ou não devo?Depois de todo aquele alvoroço com Mark e Lucas na festa, meu momento de reencontro com Lucas havia sido abruptamente interrompido. Ele insistiu em me deixar em casa, mas parecia estar com pressa. Ainda assim, fez questão de trocarmos números de celular antes de sair apressado. Desde então, não consegui tirá-lo da cabeça. Tenho enfrentado dificuldades para me concentrar no trabalho, já que meus pensamentos estão constantemente voltados para ele.Grace revirou os olhos e se jogou no puff que havia substituído a mesa no centro da sala. Estendeu o prato de morangos na minha direção.— Quer um? — Perguntou, fechando os olhos brevemente e suspirando de forma exagerada. — Estão bem suculentos.Bal
Abri os olhos com um sorriso nos lábios. Os pensamentos sobre Lucas desapareceram, dando lugar à inspiração e à energia criativa que tanto me faltavam. Peguei meus papéis de rascunho e minha caneta, pronta para dar vida às ideias que fervilhavam na minha mente. Minhas sobrancelhas se franziram em concentração enquanto meus traços ganhavam forma no papel. De tempos em tempos, alcançava minha garrafa de água para um gole refrescante e, em seguida, esticava o braço para examinar melhor o design que acabara de esboçar diante de mim, apertando os olhos para analisar cada detalhe.Como de costume, os desenhos não pareciam algo feito às pressas ou sem cuidado. Eram meticulosos, intencionais, quase como se já existissem antes de os colocar no papel.Quando finalmente saí daquele transe criativo e olhei ao meu redor, percebi que o dia já havia se transformado em crepúsculo. O parque, antes movimentado, agora estava quase vazio, com apenas algumas pessoas dispersas aqui e ali. Comecei a arrumar
O pneu do carro rangia contra o chão enquanto ele acelerava de repente na noite iluminada pela lua. Luigi dirigia rápido, mas de forma brusca. O trajeto estava repleto de solavancos, fazendo com que nós três no carro saltássemos repetidamente em nossos assentos.Se Lucas não tivesse ajustado meu cinto de segurança, era quase certo que eu teria voado pela janela aberta.— Luigi, pelo amor de Deus, você poderia diminuir a velocidade? — Gritei, agarrando-me com força à borda do assento.Os ombros de Luigi sacudiram enquanto ele ria no banco da frente.— É claro que não. — Ele lançou um breve olhar para trás. — Eu costumava ser piloto de corrida na F4. Se eu dirigisse devagar, como uma vovozinha, meus amigos ririam de mim, e eu perderia a corrida. Não se preocupe, apenas segure firme. Com essa velocidade, vou garantir que peguemos aquele ladrão!Ele então fez uma curva fechada com um drift, e, apesar do cinto, todos nos inclinamos para o lado. Acabei caindo, descontrolada, nos braços de Lu
Abri os olhos quando uma gargalhada profunda invadiu o ambiente, trazendo consigo uma sensação de melancolia. Virei-me em direção à fonte daquele som e, com um sorriso tranquilo, Lucas me tranquilizou:— Não tenha medo, Sydney.Embora o riso já não decorresse de seus lábios, seus olhos ainda cintilavam de alegria. Ele continuou:— Luigi pode dirigir de forma brusca, mas acredite, ele é um motorista extremamente habilidoso, experiente e talentoso. Nada de mal acontecerá. Recuperaremos sua mochila com vida.Engoli seco, balancei a cabeça e, mesmo assim, mantive firme meu aperto na borda do banco.Com uma condução ríspida, ele conduziu o carro pelas ruas mal iluminadas e vielas sombrias até que, enfim, encurralamos o ladrão num beco estreito e escuro - eu jamais o teria notado se não fosse pelo feixe luminoso dos faróis. Surpreendi-me com a rapidez com que ele havia sido encurralado. Fiquei impressionada e, naturalmente, aliviada por ver a perspectiva de reaver meus pertences.O ladrão, i
Ele balançava nossas mãos entrelaçadas de um lado para o outro enquanto caminhávamos, em silêncio, pelo parque, cada um imerso em seus pensamentos e deixando-se envolver pela tranquilidade da noite.No caminho, avistei uma luz adiante, acompanhada de uma aglomeração de pessoas. Apertei os olhos para enxergar melhor e, quase num sussurro, questionei:— Será que é um food truck?Por um breve instante, lancei um olhar para Lucas, que também fixava o ponto luminoso.— Acho que sim. — Respondeu Lucas, encolhendo os ombros com um ar de resignação.À medida que nos aproximávamos, a imagem se tornava mais nítida e, sem conseguir conter a empolgação, gritei:— Sorvete!Apontei para o objeto que anunciava sua presença com canções e voltei-me para Lucas, que agora exibia um sorriso cúmplice.— Vamos! — Disse, enquanto desvinculava nossas mãos. — Vamos comprar.Sem esperar por sua confirmação, corri em direção ao food truck. Assim que meu grito ecoou, algumas crianças se voltaram para mim. Enquant