O vento entrava pela janela do carro enquanto cruzava a avenida da orla de Nápoles. O céu estava uma divisão visível entre o azul-escuro e alaranjado, criando uma sensação nostálgica com as belas luzes da cidade.
— Coloque as mãos para dentro, é perigoso — instruí Anna, que estava sentada no banco de trás balançando a mão no vento e curtindo a sensação de liberdade.
— Deixa de ser chato, é apenas o vento — reclamou.
— Sou responsável até se um mosquito picar
— Ouvi que os Ferro di Cavallo como você passam uma temporada treinando para o serviço secreto. É verdade? — Sentada no banco de trás do carro, com as pernas cruzadas e um decote revelador na blusa vermelha, Anna perguntou.Era ainda o início da tarde quando ela resolveu almoçar com suas amigas de faculdade — e outras garotas da sociedade secreta —, motivo pelo qual Giancarlo estava dirigindo devagar e eu mantinha os olhos atentos pelas ruas. Por cima, pela janela, vi um drone liderando o caminho e analisando o trânsito. Você não dá nada para essas bugigangas voadoras, mas, de repente, elas funcionam superbem!— F
A terceira garrafa de cerveja estava pela metade e eu tinha escolhido uma mesa mais para o fundo, perto de antigas cabines telefônicas que agora serviam para turistas tirarem fotos ou se beijarem contra as luzes vermelhas.Tamborilei os dedos na mesa e rapidamente passei os olhos pelo pub movimentado. Os irmãos Berovic estavam na mesa de bilhar, rindo e conversando com Trevor de um jeito muito descontraído e que era um contraste com o senhor de cabelos brancos e pele sulcada pelas dificuldades que a vida apresentou. Daniel e Karen conversavam no balcão do bar. De vez em quando olhavam para mim, o isolado.Deslizei as mãos pelos cabelos loiros para prendê-los em um rabo
O ar estava preso no recinto e o cheiro de flores velhas rondava o ambiente como um lembrete de que a morte estava perto. Em cima de uma mesa, imponente e branca, a guirlanda de flores funerárias se destacava como uma ameaça vigente.— Descanse em paz. — Anna rangeu os dentes e puxou a fita branca de uma coroa de flores, reparei em seus esmaltes pretos. — E a data é de hoje. Que audácia! O que vocês fizeram além de trocar as janelas? — Levantou os olhos azuis lívidos na minha direção.— Estamos averiguando o que houve. — Arrumei a postura, cruzando os braços na frente do corpo, segurei o relógio com
A pele de Daniel tem aroma de canela, ao mesmo tempo ardente e sensual, como uma lareira na sala em pleno outono. O único motivo que me leva a dizer isso é o fato de que quando desci do prédio e contornei a Land Rover, aquela visível semiereção que eu tinha estava raspando no zíper da calça jeans, colaborando para que o tesão queimando minhas veias ficasse ainda mais intenso.Parado em pé na calçada não muito limpa, ao lado do veículo preto, Daniel me esperava com a case de violão modificada. Seus olhos tempestuosos me atingiram com sua habitual impaciência em forma de um raio elétrico capaz de alterar as batidas no meu coração. Foram apenas dez minutos de atraso, relaxa!, eu quis diz
— Perdonami, Padre, perché ho peccato. — Com as mãos em prece e um terço de madrepérola entre os dedos, não tive coragem de encarar a janela do confessionário. Ouvi o barulho da madeira deslizando. Mantive os olhos fechados. Respirei fundo o cheiro de pó das cortinas. — Tenho tido pensamentos impuros nos últimos dias.... Não, anos! Sobre um colega de trabalho. — O padre tossiu. Senti uma coceira no bigode. É constrangedor, mas eu me colocava diante dele com humildade em saber os erros e estar disposto a não cometê-los mais. — Tentei me afastar, padre, mas parece que quanto mais eu evito pensar na questão, mais ela fica cutucando a minha mente. Mesmo com vontade, eu não fiz nada... Só fiquei passando vontade mesmo. E me masturbei três vezes só hoje, duas vezes p
Meu corpo estava dolorido de um jeito bom. Com os olhos preocupados esquadrinhei o estacionamento do pub antes de saltar da Land Rover, conferindo se tudo estava em perfeita segurança. A sola da bota chocou-se contra as minúsculas pedras cinzentas do chão e acertei as calças no corpo. Tirei a jaqueta e o coldre, coloquei a pistola para dentro do porta-luvas. Fechei a porta, travei o carro e segui para a entrada.Saí do transe mecânico e relaxei um pouco. A brisa que vinha do mar era refrescante, afastando a sensação de calor que imperava sobre a cidade nos últimos dias. Guardei a chave no bolso da calça e adentrei o local, empurrando as portas duplas de madeira e vidro com as mãos. Ouvi passos na escada que separava o mezanino da suíte e interrompi minhas flexões diárias. Meu corpo estava bastante suado e o calor que atravessava pela janela era a promessa de um dia quente. Deslizei a mão na testa para limpar o suor e sequei na calça de algodão cinzenta; eu tinha uma ereção, que tentava aplacar com o esforço físico. Era muito cedo para Daniel estar de pé, de qualquer maneira. A noite tinha sido complicada para ele, mas não estranhei sua pontualidade, é o tipo de pessoa que leva o serviço ao extremo.— Como você está se sentindo? — perguntei encarando Daniel, que descia as escadas devagar como se carregasse o peso do mundo nas costas. Ele estava com uma camiseta azu Capítulo 10: Tarde demais
Adentrei a suíte e percebi a televisão ligada no mesmo canal que estava quando saí. A noite entrava pela janela junto com o calmante som do mar e tirei o paletó, caminhando até a sala.Daniel estava no sofá, dormindo, ele parecia especialmente cansado, com os cabelos molhados de suor. Estranhei um pouco que ele ainda estivesse dormindo, mas vi a caixa de analgésicos aberta em cima da mesa de centro e contei os comprimidos da cartela. Por que raios ele estava tomando tantos? Estava com dor?Olhei para os lados, desconfiado, vi a pistola em cima da prateleira, mas a posição não era a mesma que eu deixei. Maldito desleixado! O meu sorriso desa