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Capítulo 02: Marcas

Com os lábios finos segurando o canudo, Daniel assoprou e fez bolhas levantarem em sua soda italiana com essência de maçã verde. Deslizei as mãos no rosto sentindo o cansaço passar como um rolo compressor pelos meus ombros.

São seis horas da manhã e você já está com esse humor? — resmunguei, jogando as costas para o encosto estofado e vermelho de uma lanchonete com tema de anos 50. — Deveríamos estar na estrada.

Cale-se — Daniel me repreendeu, pegou uma batata frita da porção no meio da mesa, mergulhou na maionese temperada com ervas finas e colocou na boca. — Não posso passar por um lugar desses e não comer no maldito lugar. Aqui é perfeito.

Dio mio, Daniel...

Então — ele cortou o assunto, fazendo aquela drástica mudança para outro que é especialmente estratégica; no caso, ele queria evitar que eu pulasse em seu pescoço de cisne e arrancasse o sangue pela jugular. — Quem é a menina que vamos proteger? Bonita? — Em resposta àquela provocação, lancei um olhar mortal. — Importante, suponho?

Correto — respondi soltando um suspiro vencido e peguei a soda dele, dando um gole refrescante. Empurrei o copo de volta e chamei a garçonete de patins. Ela estava virada da madrugada, com a maquiagem acabada e sem humor. Rolou para perto de mim, explodiu na boca o chiclete de tutti-frutti e ficou esperando com a caneta em cima do bloquinho de papel. — Um café puro.

E por que a Srta. Importante precisa de proteção?

Porque ela é importante.

Fala sério — arfou aborrecido e empurrou o corpo para o lado mais perto da janela. Fez o mesmo com a porção de batatas e a maionese, me deixando sozinho na outra ponta.

Daniel...

Não estou ouvindo. — Apoiou o cotovelo na mesa e ficou olhando para a janela, me dando o tratamento do silêncio. Arfei exalando ar pela boca e arrastei o corpo para ficar de frente para ele. Daniel me encarou por dois segundos e empurrou tudo para o outro lado. Eu me arrastei mais uma vez. — Pare. Apenas pare.

Você que está agindo como uma criança.

Sabe, prefiro você dormindo no banco do carona, pelo menos é mais agradável de conviver — ofendeu. Seus olhos me encaravam firmes, tensos, eu sabia que ele estava sendo sincero.

Acho que mereci isso. — Revirei os olhos. — Mas sua opinião não conta.

A garota — exigiu, pegando outra batata.

Anna Torsello. Eu não a conheço e nunca a vi, mas a família dela está sob ataques pesados. Provavelmente é alguém de fora, não costumamos usar esse tipo de estratégia quando alguém de dentro sentencia a morte de outrem — revelei.

Que estratégia usam?

Contratam homens como eu. — Por cima da mesa, girei o anel da ferradura. Daniel levantou as duas sobrancelhas, absorvendo a informação, e deu um sorriso de canto, de deboche. — O que é?

Você, sendo tão convicto com essa teoria fantasiosa, já descartando que seja alguém de dentro — debochou, pegou outra batata e mordeu.

Não é fantasiosa. Sei como as coisas de dentro funcionam. Existem regras.

Claro. Imagino que quando se quebram as regras, chamam homens como você para controlar a situação.

Com certeza.

Bem, se eu fosse alguém de dentro que soubesse como funcionam as regras da casa, se quisesse tirar as suspeitas de cima de mim, faria por fora das regras para parecer alguém de fora. — Deu de ombros, o que me fez estreitar os olhos. — Só estou dizendo.

Vamos trabalhar nas duas linhas.

Você não fica com essa decisão.

Sou o encarregado da operação, claro que fico. — Bati o anel na mesa comprida. — Sua agência é terceirizada.

Mas eu não sou seu subordinado. — Girou o canudo e deu um gole.

Fiquei quieto, mas passei a língua nos dentes para segurar a vontade que eu tinha de dar um soco nele. Era o pior dos cenários, ter que trabalhar com Daniel Kovaliev não fazia parte dos meus planos de vida; em fato, se eu pudesse nunca mais ter que encontrá-lo, seria melhor, seria mais fácil.

Vamos combinar uma coisa. Você cuida e decide todos os aspectos de sua operação e pode explodir o que quiser. Eu cuido da investigação e de Anna Torsello. — Bati mais uma vez o anel no dedo.

Combinado. — Ele deu de ombros.

A garçonete serviu o café, tomei em um gole só e segui para o lavabo. Enxaguei o rosto e a boca com um pouco de sabão da pia e voltei para o restaurante. Daniel pagou a conta e me esperou do lado de fora, fumando um cigarro.

Respirei fundo e empurrei as portas da lanchonete. O Maserati de Armani estava inteiro, pelo celular eu sabia que estávamos mais perto do destino do que ele gostaria e a poeira laranja estava grudada na lataria, deixando aquele carro clássico com um aspecto feio. É uma das especialidades de Daniel, destruir as coisas. As pessoas. E os sentimentos que elas carregam.

Passe as chaves, daqui para frente eu dirijo.

Daniel equilibrou o cigarro nos lábios, tirou as chaves de Armani do bolso das calças e me entregou. Fomos para o carro em posições invertidas, abri a porta e entrei.

♜♜♜

O sol estava tão forte e batia contra o para-brisa de um jeito que o ar-condicionado não parecia funcionar. O equipamento sugava toda a força do carro e eu precisava abastecer. Olhei para o lado, Daniel acabou dormindo.

Contemplei a forma com que seus cílios claros repousavam em sua bochecha, a mecha de cabelo que atravessava o seu rosto. Estiquei o braço, empurrando lentamente com o dedo aqueles fios castanho-claros para longe. Não vi um buraco, o carro chacoalhou e Daniel abriu os olhos de repente, acordando.

Você é um desastre sobre rodas. — Ele colocou a mão na nuca e virou para o outro lado, me dando as costas.

É, eu sei — respondi. Ele já estava dormindo de novo, acho que não escutou.

Dirigi mais suavemente, procurando não me distrair. Chegamos no hotel em Nápoles na hora do almoço.

♜♜♜

O lobby tinha teto de ouro e Daniel o contemplava enquanto se escorava, cansado, no balcão de madeira. Entreguei meu cartão de crédito, a mulher nos encarou esquisito e não compreendi o problema.

Camas separadas — Daniel explicou, me fazendo encará-lo com espanto.

Ah, sim, claro, senhor. — A garota de cabelos loiros e uniforme virou-se, escolheu uma das chaves eletrônicas, fez duas cópias e me entregou junto com o cartão. — Sejam bem-vindos!

Obrigado. — Peguei as chaves e segui para os elevadores, apertei o terceiro andar e subimos rápido. — É o 2234.

Vou tomar banho primeiro.

Temos dez horas. — Olhei no relógio. — Marcamos com Anna no restaurante para o jantar.

Merda. Vocês italianos gostam de comer muito tarde — resmungou deslizando a mão pelo rosto, cansado e parando em frente a uma porta de madeira avermelhada com números dourados. Passei a chave eletrônica e a porta abriu. — E de gastar dinheiro.

Você que pediu pela suíte dupla — provoquei.

Sim. — Daniel passou para dentro do quarto. — Você ronca mais alto que um urso.

Duvido que você tenha visto um urso roncando um dia.

Certo, então ronca mais alto que a explosão sônica — ele estava falando do momento em que o caça aumentava a velocidade, deixando uma bola de nuvens no ar. Não achei justo, mas não retruquei.

Ah, não acredito, olha como ficou o meu carro! Armani reclamou, voltando para o lobby. Chegamos quase ao mesmo tempo. Vocês não fizeram mais nenhuma sujeira, não é?

Seu carro? Daniel ergueu a sobrancelha.

Foi um empate, então considero que o carro ainda é meu.

Francamente, eu teria ganho, se Benito não tivesse me atrasado. Arrumando a mochila nas costas, Daniel virou-se para o elevador. Vou aceitar o empate porque estou com sono demais para me importar.

Aceite logo, Armani, antes que ele mude de ideia. Joguei as chaves para o advogado e corri para o elevador, onde segurei a porta momentos antes de fechar. Daniel me encarou irritado. — Vamos ficar na mesma cama como no exército?

Nem vou responder esse delírio, finge que não me conhece, Benito! — Revirou os olhos azuis e cruzou os braços, onde tinha uma mancha de maionese na jaqueta jeans.

Eu tentei, você anunciou para todo mundo que nos conhecemos, agora, simplesmente, lide com isso. — Apertei muitas vezes o botão do vigésimo andar, com pressa de fechar a porta.

Aff. — Arfou, enchendo as bochechas de ar.

Quando fomos para o quarto, Daniel jogou as coisas em cima do sofá e se trancou sozinho no banheiro, adiantei-me para arrumar as roupas no armário e deitei no sofá, para dormir um pouco.

Acabei dormindo demais, nem vi a hora passar.

♜♜♜

Então... — Liam estreitou os olhos azuis na minha direção, colocando o paletó nos ombros e cobrindo o coldre das pistolas. — Qual o lance entre você e Daniel?

Não tem lance nenhum entre nós — respondi sentado em cima da cama bagunçada que tenho certeza que Liam dividiu com Nero momentos antes. Eu já estava de terno preto, sapatos, camisa azul clara e deixei a gravata dentro do bolso, pois ainda não tinha decidido se ia usar.

Sei. Vocês estavam se matando, mas viajaram juntos, estão no mesmo quarto...

Não insinue essas coisas, Liam. — Fiz o sinal da cruz para espantá-lo e, ofendido, ele bateu a língua nos dentes. — Cruzamos na academia do serviço secreto, ele era ex-piloto de caças, o consideravam um caubói dos ares e eu, bem, eu era apenas eu, tentando passar pelo treinamento da Giostra.

E o que mais? — Liam virou-se na minha direção, acertando a altura das calças.

Mais nada.

Sem segredos?

O que você quer? — Balancei a cabeça rapidamente dizendo que “não” e levantei os ombros, sem saber o que mais ele queria arrancar de mim.

Hm. Sabe que se não me contar, descobrirei, não é?

Você não. Você respeitará e deixará essa história para lá — exigi sério. — Fizemos parte do mesmo treinamento, eu não passei, ele seguiu a vida. Foi só. Prometa que não vai cavucar esse túmulo.

Certo, eu não vou — meu primo disse, o que me fez respirar de alívio. — Mas Nero...

Liam. — Revirei os olhos e fiquei de pé, chamando-o pela razão como uma bronca. — Estamos lidando com questões mais importantes aqui. Quero que Nero levante o histórico de todos os soldados que estão fazendo a proteção de Anna Torsello desde que seus pais foram atacados.

Acha que o ataque foi de alguém de dentro?

Ou alguém infiltrado. Procure padrões, Nero tem bons olhos.

Oh, ele tem muitas coisas boas — Liam insinuou brincando, o que me fez soltar ar de uma vez só pela boca, com ciúmes. — Vou falar com ele. Escute, Armani foi enfático sobre essa operação seguir em sigilo, então não comente com Anna sobre os caras de Sarajevo.

Pode deixar. — Concordei com um aceno de cabeça. Levantei da cama e fui até a porta e a abri, com Liam me seguindo. — Daniel comentou que foram meus pais que contrataram a agência dele, sabe por quê?

Não, não me disseram nada. Na verdade, nem sabia, mas faz sentido! Quando falei da agência, não se negaram. — Liam coçou o rosto, fechando um dos olhos. — Armani que fez toda a negociação e ele disse que a indicação foi de Enrico, o Carosello não aprovou a primeira agência. — Furou o ar com o dedo indicador. — Você sabe o motivo para seus pais se meterem nisso?

Meus pais escolhem bem quando vão terceirizar. — Coloquei as mãos nos bolsos. — Apenas me chamou a atenção.

Você realmente deveria ligar para eles, Ben — Liam suspirou resignado, apertando o botão do elevador. — Sei que ficou chateado com eles quando negaram o dinheiro para você se casar com Gianna, mas...

Esqueça Gianna. — Revirei os olhos.

Seus pais amam você.

Balancei a cabeça em negativo e entrei no elevador. Liam não disse mais nada, ficou se embelezando no espelho, treinando caras e bocas, se preparando para o jantar. A porta do elevador abriu e encontrei com Karen, dentro de um tubinho preto e saltos agulha, com uma bolsa cheia de brilhantes.

Olá, rapazes! — nos cumprimentou com seu sotaque e jeito extrovertido. Abriu a bolsa e pegou dois pontos de escuta, nos entregando. — Usem isso. Eu e Trevor seremos o casal perto das cortinas, os irmãos Berovic serão nossos olhos e ouvidos no carro de comunicações.

Perfeito. E Daniel? — perguntei. Liam me encarou de soslaio.

Cielo. Ele estará lá no alto, protegendo vocês. — Fez uma pistola com as mãos, indicando a posição de sniper. — Estamos prontos?

Va bene. — Coloquei o ponto na orelha.

♜♜♜

A trattoria era simples, pequena, e com uma decoração típica feita de diversas mesas quadradas cobertas por uma toalha verde xadrez e muitos quadros e utensílios pendurados na parede branca. O local mais se parecia com um corredor, tinha janelas apenas na recepção e uma porta pesada e fechada que dividia o salão. No fundo ficava uma cantina e, depois, a cozinha resguardada dos olhos dos clientes.

Não parecia o local adequado para uma princesinha da sociedade secreta se encontrar com alguém, mas considerei que apenas não queriam chamar atenção. Nada melhor do que estar em um dos nossos territórios.

Sentamos em uma mesa no centro do segundo salão, onde era possível ouvir a barulhada da cozinha, havia poucos clientes e nenhum deles vestido como nós.

Que maravilha, não tem cortinas — Karen reclamou. — E nem janelas. — Ela bateu o dedo na orelha. Por que ela se incomoda com cortinas, quando não tem janelas? — Cielo, você tem visual?

Negativo, Roccia. — A voz de Daniel soou metálica pelo sistema de comunicação.

Senti um arrepio escutando aquele timbre de voz fantasmagórico, poderia ter saído direto de um filme de terror, mas era a realidade e as sensações ainda provocavam sensações dicotômicas em mim. Provavelmente ele tinha equipamentos infravermelhos, mas sem visual seria impossível reconhecer um homem tirando uma carteira do bolso ou uma arma. É, estávamos ferrados. Cocei a sobrancelha.

Che bello! — Revirei os olhos com impaciência e derrubei a conta em cima de Liam, como se fosse culpa dele a contratação dos mercenários mais atrapalhados do mundo.

Pega leve! Acabamos de chegar. — Liam fez uma careta.

Os garçons trouxeram a carta do menu. Fiquei olhando as opções de cardápio, sem real interesse nos pratos, apenas fazendo hora. Um chiado soou pelo canal de som:

Sapo na lagoa. — O que ele estava dizendo?

Liam largou o cardápio e ficou em pé, percebi que a garota havia chegado e fiz o mesmo. Um soldado da sociedade secreta, tipicamente vestido com um terno estufado pelo coldre nas costas, abriu a porta de vidro para uma garota entrar.

Fiquei boquiaberto. Anna Torsello era uma mulher muito bonita, de caminhar elegante e dona de um belo corpo. Eu sei que a maioria das mulheres da sociedade secreta procuram manter uma boa aparência, é um lance importante para elas cuidar dos cabelos e dos esmaltes, combinar as roupas e os sapatos, mas eu estava falando de outro tipo de beleza: o que preenche o ambiente, joga o perfume doce em cima do seu nariz e encara firme bem no centro do seu maldito olho.

Srta. Torsello — Liam se adiantou, sendo a pessoa simpática que ele é. — Liam Mantovani, ao seu dispor.

A garota estava com calça cirrê colada no corpo, uma blusa de alça que tinha o suficiente para cobrir os seios e um casaco de pele sintética vermelha para combater o ar-condicionado do carro, mas que agora ela tirava, escorrendo a peça pelos ombros bronzeados. Mordi os lábios.

Sr. Mantovani — cumprimentou com um sorriso iluminado.

Esse é meu primo, Benito Lambertini — Liam nos apresentou e a garota jogou os olhos claros na minha direção. Foquei em seus lábios de batom quase imperceptível; eles eram cheios, convidativos.

Muito prazer, Sr. Lambertini, o Consigliere falou-me muito bem de vocês. — Estendeu a mão na minha direção.

Segurei em sua mão macia e firme, ela parecia uma mulher delicada, mas sabia como devia apertar a mão na hora dos negócios, mantendo o polegar firme e o pulso reto. A maioria das garotas acaba dando beijos no rosto, sem lembrar que quando se trata de negócios e não de amizade, apertamos as mãos. O seu anel de Nápoles, visto que ela havia herdado o cargo de Primo-Uomo do pai falecido e, portanto, era a Prima-Donna por conveniência, bateu a base contra o meu, o que tem a ferradura. Ela percebeu, mas não entendeu o significado, provavelmente a primeira vez que ficava diante de um soldado como eu.

Siediti, per favore. 1 — Ofereci uma das cadeiras, puxando para ela.

Anna me entregou o seu casaco e logo um garçom veio terminar o serviço que comecei, segurando a cadeira para empurrar quando ela se sentou. O casaco ele levou para trás do balcão da entrada. Anna colocou as mãos por cima da mesa, segurando-as juntas. Ela usava algumas pulseiras de ouro, mas, em geral, exibia poucas joias, possivelmente tinha outras preocupações na cabeça.

Grazie. Grazie — agradeceu-nos. — O Consigliere não poderá se juntar a nós, mas creio que ele já adiantou o assunto.

Sí, sí. Seu pai e seu irmão foram assassinados. Sua mãe sofreu um acidente, segue internada... E homens invadiram sua casa, para matar você e sua irmã mais nova — enumerei, ela se condoeu com aquelas palavras, os olhos se encheram de lágrimas, sem derramar. Percebi o quanto eu tinha sido insensível, frio e grosseiro tocando naquele assunto de forma tão seca. — Mi dispiace cosi tanto. (2) — Segurei em suas mãos.

Anna me encarou na hora, surpresa. Rapidamente tirei a mão dela. Foi rude tocá-la, eu confesso, não sei por que tive a necessidade urgente, imediata e impensada de confortá-la.

Non ti preoccupare. (3) — Ela chacoalhou os cabelos compridos e ondulados, deu um sorriso para amenizar a tensão do momento e secou as lágrimas com as almofadas dos dedos; percebi que suas unhas eram bem compridas e estavam sem esmalte. — Assim que encontrar os responsáveis eles serão vingados.

É para isso que você nos contratou — Liam inseriu.

Eu não quero apenas a morte deles, Sr. Mantovani e Sr. Lambertini. Eu quero que os responsáveis paguem da forma mais dolorosa possível — Anna disse arranhando a voz.

Faremos o nosso melhor — concordei.

Por que não pedimos um bom vinho, um bom prato tradicional e você nos conta o que sabe com detalhes?

Sí, sí. — Ela deu um sorriso bonito e tímido, abaixando a cabeça e empurrando os cabelos para trás da orelha. O simples gesto fez o meu coração bombear sangue mais depressa. — É um bom começo, eu suponho. Peçam o que quiserem, estou sem apetite e comi uma salada de frutas antes de sair de casa. Mas acompanho na bebida, o que vocês bebem? Cerveja?

Uísque — eu disse.

Vinho. — Liam riu.

A desculpa perfeita para eu tomar um de cada! — Ela riu e chamou o garçom. — Sirva esses senhores e me traga o mesmo.

Sí, signorina! — O garçom anotou e saiu rapidamente em busca do pedido.

Ficamos em silêncio enquanto esperamos e o garçom logo voltou com a bandeja com duas taças e dois copos, uma garrafa de vinho local e um uísque que era a coisa mais cara que eles tinham no cardápio. Serviu os copos derramando os líquidos e afastou-se.

Liam pegou sua taça, eu levantei o meu copo e Anna segurou um com cada mão, batendo de leve contra os nossos e fazendo um tilintar seco. Demos um gole, o uísque queimou a minha garganta e aumentou a sensação de calor dentro daquele terno. Anna bebeu um gole de cada, tossiu e soltou os copos em cima da mesa, com um suspiro.

Stai bene? — perguntei preocupado ao vê-la tossir.

Não, não muito. — Ela colocou a mão fechada em frente à boca, exalou ar, e depois sorriu. — Mas vou ficar. Especialmente depois que esses malditos pagarem por tudo o que fizeram. Só de pensar em arrancar os fígados deles, já fico excitada.

Bella, acuta, disposta a fare tutto per vendetta... (4) — Eu sorri galanteando, capturando os olhos claros dela para mim. — Perfecta!

Grazie, ma perfecto sei tu.

Droga. Eu estava fodido. Aquela garota não precisou de dois minutos, de poucas palavras, só tinha entrado no restaurante e nos cumprimentado... E já tinha deixado uma marca bem impressionante em mim.

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(1) Sente-se, por favor.

(2) Sinto muito (/ me desculpe por todas as coisas)

(3) Não se preocupe.

(4) Bonita, afiada, disposta a tudo por vingança.

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