O céu estava rosáceo e o cheiro da marina era indecente como se fosse um aquário podre e esquecido em uma casa abandonada. O silêncio que pairava no ar era apenas cortado pelo som da água represada abaixo dos cascos das embarcações. E não era um lugar luxuoso.
Eu estava andando pela marina sem saber o que procurar. Anna vinha ao meu lado segurando minha mão como o apoio moral e emocional que eu sempre precisava. Nada parecia real. Eu ainda buscava entender como Daniel poderia ter sobrevivido. Será que o médico estava nesse esquema? Muito provável. Na hora que ele anunciou a morte de Daniel eu entrei na sala com os aparelhos desligados e havia muito sangue nas toalhas e gases usadas para curativos. Talvez eu devesse ter descon
— Esse é o atestado de óbito oficial de Daniel, o que seus pais produziram. — Nero puxou um papel de uma pasta preta e me entregou. Franzi o cenho, segurando aquela cópia em preto e branco. — O nome é Matthew Clark.— O que isso significa? — Peguei o papel com desgosto. — Daniele é um clone?— É, basicamente isso. Estamos analisando, o DNA é inconclusivo, mas descobri documentos que Daniele estava em Livorno muito antes de Daniel chegar a Nápoles.— Existem outros? — Abaixei o papel e encarei os olhos g
— Buonasera — atendi a ligação enquanto atravessava a rua para um dos meus últimos compromissos de noivo: o bolo! Não reconheci o número, mas ouvi uma respiração forte, que me deixou com todos os sentidos em alerta, olhando de um lado para o outro. — Quem é?— Benito... — A voz engalfinhada era de Daniele e eu reconheceria aquele timbre de choro se escutasse em qualquer lugar. — Eu preciso de sua ajuda.— Por que não liga para Nero?— Quem? A criança estava correndo na grama verde, rindo. Ela vinha com os passinhos trôpegos na minha direção, usando um vestido florido e esticando os bracinhos gordinhos. Eu a segurava nos braços, beijava seu rosto risonho, cheirava sua pele rosada e macia. Seus cabelos eram claros e lisos, os olhos verdes e seu sorriso radiante, desdentado. As bolhas de sabão subiam coloridas para o ar, enquanto eu segurava a menininha no colo, girava rindo e a levava até os braços de sua mãe, sentada na espreguiçadeira perto da piscina grande, em quem eu dava um beijo quente e feliz. Eu me sentia tão completo.Despertei.Era o meio da madrugada e o meu co Capítulo 20: Chances para a felicidade
Durante aquele beijo voraz muitas coisas passaram por minha cabeça. Minha história com Gianna é longa, fui apaixonado por ela há bastante tempo e demorei muito para tomar uma atitude e finalmente beijá-la.Começamos um romance sem pretensões, afinal, sabíamos que nunca teríamos condições de nos casar através das regras do Carosello. Gia é uma princesa, uma peça valiosa, eu sou apenas um peão no tabuleiro. Tivemos momentos tórridos e momentos em que eu achei que poderia funcionar, mas não houve um relacionamento.Sou um homem de amores impossíveis, que quer o que não pode ter. Qu
— Vá dizendo — exigiu. Anna estava na minha frente, sabendo que eu viajei até Bologna.— Tive um sonho. É um sonho recorrente que eu tenho. Gianna e eu estamos em uma casa em Turim e estamos brincando com essa... — Minha voz falhou diante da memória dos sonhos, a felicidade que não existia e diante de tudo o que eu descobri. — É uma menininha, nossa filha. O bebê que fiz ela abortar, sabe? Eu sonho com isso quase todas as noites e, sempre que sonhava, bebia demais, ligava para ela... Por um tempo parou, quando conheci você e reencontrei Daniel — expliquei. Anna ficou ouvindo sem interromper. Os meus olhos estavam ardendo e limpei as lágrimas antes delas se manifestarem. — Eu a chamei para conversar, precis
Precisei me sentar antes que desmaiasse. Bernardo correu atrás de um copo de água e fiquei respirando como um asmático. Engoli a água gelada buscando aplacar meu coração, que batia tão acelerado e em choque com aquelas notícias.Bella, minha suposta irmã, pediu que me acalmasse e segurou minha mão, ato que Benício não gostou e deixou claro lançando um olhar mortal. Sem dizer nada, ela me soltou e coçou a nuca. Eu conhecia aquilo.Vi meus pais fazerem isso ao longo dos anos, comunicação telepática entre gêmeos! Além disso, aquele ciúme todo me era familiar. Ihhh... Essa fam
Os faróis vieram na minha direção e pensei que a pick-up me acertaria com o para-choque enferrujado caindo aos pedaços. Eu seria esmagado contra o portão, certamente. Fechei os olhos arrepiando os ombros e senti a lufada de ar frio contra minhas bochechas com força.— Maldição! — Camilo Hunter estava ao volante e levou um susto, brecando. Eu podia vê-lo por trás do vidro do carro e odiei perceber que ele era mesmo bonito: cabelo
Leis da Sociedade GiostraPrimeira LeiUm Cavalo gira porque é ligado ao Carosselo. Todos giram juntos.Segunda LeiDeve-se honrar a família.
Último capítulo