Adentrei a suíte e percebi a televisão ligada no mesmo canal que estava quando saí. A noite entrava pela janela junto com o calmante som do mar e tirei o paletó, caminhando até a sala.
Daniel estava no sofá, dormindo, ele parecia especialmente cansado, com os cabelos molhados de suor. Estranhei um pouco que ele ainda estivesse dormindo, mas vi a caixa de analgésicos aberta em cima da mesa de centro e contei os comprimidos da cartela. Por que raios ele estava tomando tantos? Estava com dor?
Olhei para os lados, desconfiado, vi a pistola em cima da prateleira, mas a posição não era a mesma que eu deixei. Maldito desleixado! O meu sorriso desa
— Pronto? — Nero atendeu a ligação, sem qualquer barulho de ambiente ao fundo. Pensei que ele estava no hotel.— Nero?— Parla, Benito.Já fazia algum tempo que eu estava dirigindo vagarosamente pelas ruas calorentas de Nápoles, tentando enxergar por entre as lágrimas na multidão. Meu corpo estava mais pesado que o normal e eu sentia o meu rosto inchado de arrependimento. Droga, eu tinha magoado Daniel para valer dessa vez!Fui um crápula, f
— Você está linda. — Sorri ao ver Anna diante da portaria do prédio em que reside, usando um vestido vermelho com uma fenda lateral de arrasar.— Estou surpresa, vamos de moto? — Anna deu um sorriso de batom quase imperceptível em seus lábios.— Achei que fosse gostar da surpresa. — Abaixei a cabeça, tímido.— E eu gostei! Só que você não está sendo irresponsável? Onde estão os carros blindados, meu amor? A tropa de choque? Os escudos que protegem as princesas do bafo do dragã
Corri os dedos pelo isqueiro zippo prateado e acendi o fogo. Queimei a ponta do cigarro, traguei forte buscando no ar um pouco da calmaria que faltava dentro de mim, como se o vento pudesse aplacar o fogo que queimava e causava dor. Guardei o isqueiro no bolso da calça, desencostando momentaneamente o ombro da porta. Voltei a me encostar, tirei o cigarro da boca e assoprei a fumaça.Fui descuidado. Deixei o pior acontecer.Era para ser uma noite perfeita, mas havia terminado em tragédia. Tivemos que fugir às pressas e fomos para uma clínica clandestina em que a Giostra operava.— — Não acredito! — Olhar para Anna em meio a toda aquela tristeza foi como receber a brisa do verão direto na face. — Você veio!— Eh, Benito! — Rindo de um jeito bonito, Anna enlaçou o braço da mão que estava segurando a garrafa em meu pescoço e beijou meus lábios. Inspirei fundo. — Tão inseguro!— Inseguro nada, você estava ignorando minhas mensagens. — Eu ri, segurando em sua cintura e beijando o rosto, o pescoço, enquanto inspirava aquele perfume que era como oxigênio para mim.Com Capítulo 15: Perspectivas
Existe uma enorme burocracia para resolver os problemas do Carosello. Demos entrada na documentação incriminatória sobre o Conde de Campania, com uma ajudinha do Consiglieri, que era amigo de Anna. O processo foi julgado em menos de uma semana, mas o Conde não caiu de seu posto, conseguindo colocar nossa operação em dúvida devido ao fato de que contratamos uma agência de fora.Para evitar retaliação, fiz Anna ficar comigo em Piemonte e aproveitei para mostrar toda a cidade de Torino e os arredores para ela. Vinho é uma coisa que temos bem, mas campos de motocross, ah, esse realmente fez a diferença e a deixou animada.A m&atild
O céu estava rosáceo e o cheiro da marina era indecente como se fosse um aquário podre e esquecido em uma casa abandonada. O silêncio que pairava no ar era apenas cortado pelo som da água represada abaixo dos cascos das embarcações. E não era um lugar luxuoso.Eu estava andando pela marina sem saber o que procurar. Anna vinha ao meu lado segurando minha mão como o apoio moral e emocional que eu sempre precisava. Nada parecia real. Eu ainda buscava entender como Daniel poderia ter sobrevivido. Será que o médico estava nesse esquema? Muito provável. Na hora que ele anunciou a morte de Daniel eu entrei na sala com os aparelhos desligados e havia muito sangue nas toalhas e gases usadas para curativos. Talvez eu devesse ter descon
— Esse é o atestado de óbito oficial de Daniel, o que seus pais produziram. — Nero puxou um papel de uma pasta preta e me entregou. Franzi o cenho, segurando aquela cópia em preto e branco. — O nome é Matthew Clark.— O que isso significa? — Peguei o papel com desgosto. — Daniele é um clone?— É, basicamente isso. Estamos analisando, o DNA é inconclusivo, mas descobri documentos que Daniele estava em Livorno muito antes de Daniel chegar a Nápoles.— Existem outros? — Abaixei o papel e encarei os olhos g
— Buonasera — atendi a ligação enquanto atravessava a rua para um dos meus últimos compromissos de noivo: o bolo! Não reconheci o número, mas ouvi uma respiração forte, que me deixou com todos os sentidos em alerta, olhando de um lado para o outro. — Quem é?— Benito... — A voz engalfinhada era de Daniele e eu reconheceria aquele timbre de choro se escutasse em qualquer lugar. — Eu preciso de sua ajuda.— Por que não liga para Nero?— Quem?Último capítulo