A praia era uma refúgio afastado que durante a semana mantinha-se pouco frequentada por por banhistas e turistas.
O quiosque de telhado feito por folhas imensas de bananeira tinha mesas acopladas ao chão construídas inteiramente por bambu que dava um charme especial ao restaurante que era frequentado por quem verdadeiramente conhecia, até porque o acesso até o quiosque se dava exclusivamente à visitantes militares ou parentes de militar.
No caso de Júlio como filho de major, ele carregava dentro de sua carteira uma identificação para ter acesso a lugares como esse possibilitando assim que me surpreendesse com um almoço à beira-mar.
Adentramos no quiosque pisando na areia fofa e branca da praia que combinava perfeitamente com o cenário ao fundo de um céu azul e o infinito do oceano.
Nos acomodamos perfeitamente em uma das mesas, das quais somente nós dois éramos clientes, desfrutando da brisa resfrecante do ambiente totalmente aberto, mudan
Como previsto Júlio além de estar preocupado com o meu bem estar, mandava-me constantemente mensagens de modo que voltamos a nos falar ao menos duas vezes ao dia.No entanto, passei a semana imersa em uma felicidade que há tempo não sentia, sorrindo à toa enquanto ele se dedicava a mim muito mais que antes.Era evidente que eu sabia ao mentir sobre um divórcio que não era real, as consequências catastróficas que isso acarretaria, inclusive resultando no possível término de meu relacionamento, porém mantinha a situação sob controle deixando-o sincronizado com a minha vida.As respostas que dava nas mensagens no celular, eram repletas de tristeza e mágoa com a decisão de uma mãe ficitícia e inescrupulosa.Júlio por sua vez, mostrou-se indignado diversas vezes não só com a ausência da figura materna que
Despertei em uma cama de hospital. O soro em meu braço gotejava lentamente e ao meu lado sentado no sofá estava Júlio que ao perceber que voltava à mim, levantou e veio em minha direção rapidamente.- O que aconteceu? - Indaguei ainda sem forças.Seus olhos avermelhados indicavam que ele havia recentemente chorado. Seu rosto abatido e a expressão cansada também mostravam o quantoestava desestabilizado emocionalmente e ao falar, suas palavras saíram trêmulas o bastante para me preocupar.- Sua madrinha Rosana está falando com o médico e logo virá para cá. Seu pai também está a caminho e a médica que te atendeu pediu para que eu a chamasse assim que você acordasse.Júlio ia saindo da sala quando o segurei, em busca de respostas.- Reco... O que houve? Que hospital é esse? Onde eu estou?Ele resp
Como prometido Júlio César retornou para os meus braços, provavelmente diante de um esforço supremo para ir e voltar diariamente para o sítio. Isso porque, meu namorado precisava acordar pelo menos duas horas com antecedência para se arrumar afim de chegar no horário para os compromissos acadêmicos e em seguida pegar novamente a estrada e retornar para cuidar de mim. Às vezes, era inevitável ao assistirmos filme juntinhos que ele cochilasse por meia hora ou até mais ao receber cafuné, que era um poderoso sonífero tanto para ele quanto para mim. No entanto, sua chegada era sempre motivo dos meus sorrisos e de minha alegria, pois ao seu lado meu mundo estava completo e muito mais colorido, assim como meu coração que se enchia de amor de amor, sem precisar de coisa alguma, além dele e de seu cheiro que nutria toda a minha alma. ... Contudo, quando ele estava sempre prestes a chegar ou quando ouvia o barulho do seu carro adentrar a propriedade, me
Levantei da cama assim que os primeiros raios solares invadiram o quarto.Virei-me de lado não encontrando Júlio e subitamente pulei da cama com a ideia fixa de que ele poderia estar conversando com minha madrinha Rosana sobre o que vira em meu braço.Um frio na barriga ouriçou todos os pêlos de meu corpo, pois Júlio saber que eu me cortava tinha um objetivo, mas envolver Rosana e os demais familiares, era arriscado demais.Colocando o roupão rapidamente, fui até o banheiro procurá-lo e não o encontrei.Abri a porta do quarto andando pelo corredor até o corrimão da escada, me debruçando para que conseguisse ouvir vozes ou chochinhos, e nada.Voltei para o quarto e ao ver a porta da varanda entreaberta, meu coração ainda batia rápido ao deparar-me com ele sentado em uma das poltronas, parecendo ter envelhecido vinte anos em pouco mais de um
Quando a última semana de provas começou, não podia esconder a minha ansiedade em rever Júlio. Estava convicta de que a pequena traição que havia cometido, tinha revigorado o que sentia por ele. Eu estava mais solta, mais leve com as incertezas de traições que antes me atormentavam, pois se eu tivesse realmente sido traída, ele nunca deixaria que eu soubesse. De certo modo, isso me confortava. No entanto, contávamos os minutos para nos rever e desejava seu corpo ainda mais, o que acreditava ser um provável efeito colateral do pequeno adultério. Certamente, traí-lo não era nada demais e já pensava quando teria novamente a oportunidade de sair sozinha para um barzinho qualquer, apta a novos flertes. Definitivamente, isso me causava uma sensação de superioridade e consequentemente um bem estar enorme. Eu era inatingível. Suprema. Inalcançável. Dona de tudo. ... Por fim, quando o resultado das aval
Eu tentava controlar o que sentia por dentro. Talvez nunca tenha sentido tanto medo na vida. Medo de Júlio saber que foi traído, medo de que Sandra me desmascarasse para o filho sem a mínima piedade sendo evidente que faria isso mais cedo ou mais tarde. Eu estava enlouquecida ao dar-me conta de que estava totalmente em suas mãos. Pensar em perder Júlio me causava ânsia de vômito e assim que cheguei em casa meu pai ao ver-me pálida e nervosa, logo se preocupou. Tentei disfarçar o nervosismo, me acalmando para em seguida ligar para Júlio. - Oi Reco, onde vc está? Vamos jantar fora mais tarde? - Não estou me sentindo mto bem... Podemos nos ver amanhã? - O que houve? Quer que eu vá praí agora? - Não, não! - Hesitei. - Só estou indisposta... - Você fez a matrícula da faculdade? Eu estava tão nervosa que tinha esquecido inclusive de ir a faculdade da qual já não tinha mais o mínimo interesse de f
Senti o chão que pisava estremecer, como se fosse um forte terremoto.Me segurei na cadeira para não cair, com o fato de ter sido descoberta e mesmo que eu não soubesse exatamente o que Júlio sabia, ainda sim, só de estarmos no mesmo ambiente, eu quase quis desmaiar.Minhas mãos começaram a tremer assim como todo o meu corpo.Não sabia identificar o que estava acontendo dentro de mim em relação a pensamentos ou sentimentos.A única coisa que passava por minha cabeça, era que tinha sido descoberta.Pela primeira vez na vida, não sabia o que fazer.Estava tonta, sentindo o desespero tomar todo o meu corpo.Não conseguia levantar e dar um passo.Eu sabia que estava totalmente perdida.Júlio encarou-me, vendo a perplexidade estampar meu rosto.O pânico, o choque, o medo, o susto, o pavor.... Tudo ao mesmo tem
Se eu soubesse que morreria em uma manhã de sábado ensolarado, teria dado prioridade ao por de sol, as estrelas brilhantes, ao horizonte vermelho alaranjado. Teria mergulhado mais nas ondas do oceano, escutado mais música, lido mais livros visto mais filmes. Teria feito mais amizade, cativado mais amores, cultivado mais energia positiva. Teria agradecido mais, reclamado menos, distribuido sorrisos. Teria me reconciliado com a família, dito mais eu te amo, adotaria um bichinho, plantaria uma árvore, viajaria mais. Se eu soubesse que não viveria mais que quarenta anos, teria andado descalça na areia, meditado, praticado boas ações, prezado por quem me amava. Teria mentido menos, decepcionado menos, causados menos dores, menos sofrimento. Teria abraçado mais, me desculpado mais. Teria feito diferente. Casado. Teria sido boa mãe, boa filha, boa afilhada, boa namorada. Se eu soubesse que morreria nos braços de Júlio sem a chance de