Vincenzo D'AngelisNão imaginei que tudo isso me traria tantas dores de cabeça. Faz um mês que as ameaças começaram, e elas simplesmente não cessam. Minha casa, que antes era um refúgio, agora se transformou em um entra e sai constante. Homens da família, associados e até curiosos vêm até mim ou ao meu pai, trazendo palavras de apoio, reclamações ou, mais frequentemente, seus medos.No galpão, nossos interrogatórios eram infrutíferos. Por mais que pressionássemos os informantes, ninguém trazia nada de relevante. Era como se estivéssemos rodeados por sombras, incapazes de distinguir aliados de inimigos. Meu estresse estava no limite, e, para piorar, quase não via Antonella ou meu filho. Cada dia que passava, sentia que essa distância só aumentava meu desconforto.Eu estava sentado no escritório da casa quando Guilhermo entrou, segurando um envelope.- Deixaram isso para você. Germana pegou na entrada e me trouxe.Suspirei, cansado.- Deve ser mais uma ameaça vazia. Algo que tentam usar
Antonella D' Angelis ( Fontana)Eu não consegui pregar os olhos a noite toda. O quarto estava silencioso, mas minha mente era um turbilhão. Meus olhos viajavam entre Vincenzo, que dormia ao meu lado, e nosso pequeno Enrico, adormecido no berço próximo. A decisão de Vincenzo de nos mandar para longe pesava como uma pedra em meu peito. Isso só podia significar que a situação estava pior do que eu imaginava. A cada suspiro que Vincenzo dava em seu sono, eu me perguntava como seria ficar longe dele sem saber se estaria seguro. Ele era forte, poderoso, alguém que foi moldado por esse mundo, mas até mesmo os homens mais fortes têm seus limites. E essa guerra... ela parecia ser diferente de tudo que já enfrentamos.Eu estava absorta nesses pensamentos quando Vincenzo se mexeu, rolando na cama até me encarar.- Não dormiu? - Sua voz era grave, ainda carregada de sono, mas seu olhar parecia captar minha inquietação.Eu apenas neguei com a cabeça, limpando uma lágrima apressada antes que ele pu
Antonella D'Angelis (Fontana)A viagem até o esconderijo transcorreu em silêncio, quebrado apenas pelo som abafado do motor do carro e pelo ocasional sussurro entre os seguranças que nos escoltavam. No carro, estávamos nós: eu, Enrico, minha mãe, Luiza, Camille e Giulia. Vincenzo e os outros homens ficaram para trás, e a ausência dele pesava no ar como um luto.Enquanto o carro avançava pelas estradas sinuosas, tentei manter minha atenção na paisagem. As colinas verdes e os campos cheios de oliveiras eram de uma beleza pacífica, quase irônica, considerando a tempestade que deixávamos para trás. Cada quilômetro nos afastava da mansão D'Angelis e, principalmente, dele.Deixei Vincenzo para trás.Aquela frase martelava na minha mente como um lembrete cruel. Eu sabia que não tinha escolha, que minha prioridade era proteger Enrico e seguir o plano. Mas o peso de partir sem olhar para trás era insuportável. Vincenzo não havia dito muito antes de sairmos, mas o olhar dele ao me ver partir di
Vincenzo D'Angelis O escritório estava silencioso, exceto pelo som constante de cliques e teclas enquanto Alessandro, navegava pelos arquivos das câmeras de segurança. O clima era pesado; cada homem presente sabia que encontrar quem invadiu sua privacidade era vital para a segurança da família.Vincenzo mantinha-se em pé próximo à janela, as mãos cruzadas nas costas, o olhar fixo na escuridão lá fora. Leonardo, subchefe, estava sentado em uma poltrona, segurando um charuto apagado que nunca parecia ter intenção de acender. Guilhermo, inclinava-se sobre a mesa, observando atentamente as imagens que Alessandro exibia. Giuseppe, permanecia em um canto, analisando uma folha de anotações que tinha em mãos.— Revisei os arquivos das câmeras externas três vezes — disse Alessandro, finalmente rompendo o silêncio. — O único movimento incomum foi aquele carro estacionado próximo à entrada oeste.— E o homem de boné que vimos perto dos arbustos? — perguntou Guilhermo, apontando para a tela. — E
Vincenzo D'Angelis Eu sabia que algo estava errado, mas não tinha ideia da extensão da traição até que a encontrasse bem diante dos meus olhos. Marcelo, ex-segurança da nossa casa, tinha se envolvido em algo que não apenas me afetaria, mas a minha família inteira. Era tarde demais para ser gentil ou pedir explicações com calma. O que ele fez, o que ele tentou fazer, não poderia ser perdoado.O dia em que o pegamos não foi algo que eu planejei, mas aconteceu rápido. Meu pessoal o localizou em um bar sujo no centro da cidade, tentando se esconder. Ele sabia que estava sendo caçado, mas o medo de ser descoberto nunca foi suficiente para fazê-lo tomar uma atitude inteligente. Ele estava tentando desaparecer, mas a nossa rede de informantes era maior.Fui até ele, com Guilhermo, Leonardo e Alessandro. Não dissemos nada. Não havia necessidade de palavras nesse momento. Quando o encontramos, ele estava olhando para o celular, completamente distraído, como se fosse possível fugir de tudo aqu
Vincenzo D'Angelis O restaurante estava silencioso, um contraste com o caos que rodava na minha mente. Escolhi o lugar a dedo: afastado, discreto, e com mesas estrategicamente dispostas para evitar olhares indiscretos. Nada podia sair do controle naquele encontro.Elena Vitorino, filha de um dos chefes do conselho, já me aguardava. Ela tinha chegado antes de mim, o que já era um sinal de nervosismo. Estava sentada com a postura impecável, os cabelos loiros presos em um coque perfeito. Seus olhos claros se ergueram quando me aproximei, mas não havia a frieza usual. Ela parecia... frágil. Vulnerável. Mas eu não estava ali para me comover.— Vincenzo — ela disse, levantando-se, um sorriso hesitante no rosto.— Elena. — Cumprimentei-a com um aceno curto, dispensando qualquer formalidade.Sentei-me à sua frente, meu olhar firme cravado no dela. Ela tentou sustentar meu olhar, mas logo desviou, mexendo nervosamente no guardanapo sobre a mesa. Esperei o garçom se aproximar e afastá-lo com u
Antonella D'AngelisO calor parecia irradiar do meu corpo como se uma febre incontrolável me queimasse por dentro. Minha cabeça pulsava, as náuseas iam e vinham, e até mesmo levantar do sofá parecia um esforço monumental.- Antonella, você precisa comer algo - insistiu minha mãe, sua preocupação evidente enquanto ajeitava meu cabelo atrás da orelha.- Não consigo, mãe. Só o cheiro da comida me faz querer vomitar - respondi, afundando a cabeça nas almofadas.Ela suspirou, mas não insistiu. Sabia que, além dos sintomas físicos, o que mais me consumia era a distância de Vincenzo. Ele fazia parte de mim, e ficar longe dele, sabendo dos perigos ao seu redor, era insuportável.Minha mãe voltou com um pano molhado, colocando-o na minha testa.- Talvez seja só estresse, filha. Tudo isso que está acontecendo, a tensão, a saudade... - disse ela, sentando-se ao meu lado.Fechei os olhos, tentando ignorar o aperto no peito.- Acho que é isso, mãe. Eu tento ser forte, tento manter a cabeça erguida
Antonella D' AngelisAcordei com a cabeça pesada, a luz do dia invadindo o quarto através das cortinas, mas o peso do que havia visto ainda estava em minha mente. O que quer que fosse, aquele momento parecia continuar me assombrando, como se eu fosse incapaz de afastar a imagem da foto. Tentando me recompor, olhei ao redor e vi Camille e minha mãe, Germana, me observando, suas expressões cheias de preocupação.- Antonella, querida, como você está? - Camille foi a primeira a falar, com um tom suave, mas cheio de apreensão.Eu tentei me levantar, mas uma onda de tontura me fez hesitar. O que aconteceu? Lembrei-me do susto que tomei quando vi aquela foto. O meu estômago ainda revirava só de pensar naquilo. Respirei fundo, tentando me controlar.- O que aconteceu? - Falei, tentando entender o que estava acontecendo.Minha mãe, que estava ao lado da cama, se aproximou com um olhar gentil e calmante.- Você desmaiou, filha. Ficou nervosa depois de ver algo que te abalou muito. Não se preocu