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(01%) Coisas boas

Sabrina Marques

— Está perfeito, Elise! Olha só essa caligrafia, está melhorando muito! Que cor de carimbo você merece por esse feito? 

— Verde! Verde professora! 

Percorro meus dedos entre os carimbos de diferentes cores e desenhos, meus alunos de nove a onze anos formaram uma pequena fileira para mostrar os seus cadernos com as atividades que passei da aula passada, e Elise é a última aluna restante. 

— Sim! Verde, você foi muito boa! Posso dizer uma coisa? Uma das melhores! 

— Está vendo Alice? Eu fui a melhor.

Ela faz careta para sua amiga que arruma o material em sua mesa. 

— Não foi bem isso que eu disse, Elise.  - Carimbo o caderno da minha aluna com um risinho nos lábios, aquela letra colorida fez me ver o como seria bom ter uma menina, ou um menino? Isso realmente não me importa, mas a cada segundo eu fico me perguntando e adorando. Menina ou menino?  Isso se eu estiver grávida. 

A sirene escolar toca avisando o final da aula e fazendo um grande alvoroço na sala com crianças pulando, arrastando as cadeiras e gritando, tudo que eu consigo fazer é dar risada, meu humor nunca esteve melhor. 

— Bom crianças, vocês vão sair um de cada vez para os ônibus! E não se esqueçam de trazer as assinaturas dos pais de vocês para o passeio no museu, está bem?

— Eba! Professora eu mal posso esperar, parece muito bom! 

— Eu tenho certeza que vão gostar!

— Vai ter muitas gatinhas lá professora? — Michael pergunta recebendo uma bolinha de papel de Alice, sua melhor amiguinha. 

— Hmm bom a Alice vai? Não vai? 

— Eca professora! Eu digo uma gatinha como você. 

— Está dizendo que sou feia, é? — Alice retruca e as duas crianças começam uma pequena briga. 

— Ei! Alice é linda sim! E vai ter gatinhas lá, como gatinhos também, Alice. Mais um dos motivos para não esquecerem as assinaturas. Agora os dois andando devagar. 

Eles fazem careta, mas um por um sai da sala despedindo-se de mim com um beijo em minha bochecha, contudo Elise permanecia na frente da minha mesa segurando as alças da sua mochila cor de rosa. 

— Está tudo bem, Elise? Você é uma das primeiras a correr para saída.

— Estou professora, é que eu queria fazer uma pergunta. 

— Bem, pode fazer agora? 

Vou até minha escrivaninha de trabalho e arrumo as apostilas e livros didáticos espalhados. 

— A senhorita é portuguesa, não é? 

— Ah sou sim! Nasci e fui criada em Portugual! 

— Que lindo professora, por isso seu sotaque é assim? 

— É! Mas aprendi inglês muito cedo por causa dos meus pais, no entanto... Ainda tenho amigos portugueses. 

— É lindo, eu acho chic. 

— Era só isso que queria perguntar? 

— Hmm... Era sim, mas também queria dizer que eu quero ser igual a você quando crescer! 

Meus olhos brilham e não resisto a abraçar minha aluna e fazer cosquinhas em seu pescoço até a coordenadora aparecer para inspeção, assim que Elise sai da sala com um aceno de cabeça e mais um grande abraço meu, pego o celular que tocava sem parar na minha bolsa e atendo a ligação de Renata:

— Minha nossa estás varada é?! Você queres me matar!!! E aí? Está buchuda?! Pelo amores! Diga! 

— Bom segundo o teste que eu fiz, e que você me deu de presente... — pego o teste no bolso de trás da minha calça jeans azul e olho, ainda continua da mesma forma — não sabemos, porque simplesmente não funciona! Não está pegando, isso significa que é nada? 

— Ihhh essa porcaria não prestas?! O rabo é mesmo o pior de esfolar. 

Dou risada das expressões portuguesas constantes que Renata usa, ela simplesmente adora. 

— É tem razão, eu fiquei bem brava. Mas eu estou saindo da escola agora e vou passar na farmácia e comprar um que realmente funcione!

— Estarei ao rubro aqui! Na torcida! Acredito que vou ter tantos pentelitos para cuidar em breve. 

— Ah não, não... Um filho ou dois está bom, eu já lido com crianças demais na minha vida, não acha? Apesar de amá-las, tem certos limites! 

— Ores só! Victor disse que queria formar uma creche! 

— Se ele quer, vai ficar querendo. 

— Tás a ver? Tás a ver? É uma crueldade em pessoa. 

— Isso é injusto! Você e Felipe ainda não tem um bebê se quer, e vocês estão a cinco anos juntos! 

— Não encha chouriços, vamos ter um bebê... 

— Ah é mesmo? Quando? — pergunto colocando a bolsa no ombro e seguindo para a porta com as chaves, ela respira fundo como se tivesse contando nos dedos. 

— Quando tiver 43 anos! Vocês são recém-casados, estão naqueles fervores só, tem que ter muitos guris por agora! 

— Mais tarde falo com você, e sim eu quero ter filhos, mas não tantos como você imagina. Assim que eu souber se estou ou não, te conto! Pode ser? 

— Com certeza! Eita que estou na vibração. 

— Também estou, beijo na testa! 

Desligo o celular. No caminho até o estacionamento comprimento alguns pais de alunos e colegas de trabalho que me davam parabéns pelo meu recente casório. 

Entro no meu Chevrolet vermelho C/K 1994 algumas pessoas achavam que com meu casamento com um dos advogados mais renomados da Califórnia, eu trocaria o velho carrinho que dirijo desde que tirei a carteira, e também, o presente do meu pai que morreu dois anos depois. Todavia não troquei e jamais faria isso. Até porque, não sou interesseira e assim como eu, Victor também adora as coisas mais simples. 

O tarde está linda, o sol quente e brilhante, sem trânsito nas ruas mais movimentadas. Antes de ir até a farmácia passei no mercado e comprei algumas goloseimas e o chocolate favorito do meu marido e dessa vez não esqueci os seus biscoitos de amêndoas! Segui para a farmácia e estacionei na frente de um carro preto de luxo. 

Uma Mercedes-Benz? Na frente de uma simples farmácia? Me soou estranho, mas quando percebi já tinha estacionado o meu carrinho comum e vermelho na frente do grande automóvel brilhante, até dei risanha da façanha. 

Meus olhos grandes e azul claros olharam para o retrovisor, realmente eu estou diferente. Minha pele está mais oliosa que o normal! Mas é claro, estou tão nervosa e ansiosa com a possibilidade de ter um bebê na minha barriga sem contar os últimos dias e o casamento. Arrumo o arquinho de pérolas na minha cabeça, alinho meus grandes fios lisos e ruivos e limpo minha blusa cor pêssego com mangas bufantes. Por fim, abro a porta do carro e saio em direção a grande farmácia Golden Garden. 

Já tinha vindo aqui antes e nunca esteve tão vazia como está hoje, ah que bom! Odeio pegar filas. Seguro uma cestinha e aproveito para selecionar alguns analgésicos e remédios para caso de emergências, sempre gosto de estar previnida. Fico perdida quando passo pela seção de cosméticos! Não controlo minha queda por batons, não posso ver um que já quero comprar todos, amo maquiagem. 

Não sei quantos minutos fiquei ali escolhendo e em dúvida entre cores vermelhas, rosa e lilás de batom e esmalte, mas percebi um clima tenso assim que três homens fortes e altos entraram no estabelecimento. Encarei um que estava acima de peso e como os outros dois também usava um terno escuro com uma gravata ainda mais preta, fina e moderna. Assim que um dos homens que encaro percebe meu olhar rapidamente decido que está na hora de ir embora. 

O silêncio instalado na farmácia começa a me incomodar, mas tento me manter concentrada enquanto o farmacêutico passa cada produto que escolhi. 

— 47 dólares e noventa e nove cetanvos, mais alguma coisa senhorita?

— É... — Bato a mão na testa, como poderia me esquecer? — quero um teste de gravidez! 

— Temos vários — o farmacêutico responde com uma voz trêmula e quase medrosa. Giro meus olhos para os três homens que estão parados  conversando um com o outro, com certeza o moço está nervoso por isso. Mas que raios esses caras vão comprar? Ou fazer...? 

— O melhor que tiver! — digo retrocedendo minha atenção ao teste. 

— Temos este aqui de 33 dólares, dizem que é o melhor, sem falhas. 

— Ótimo! Este mesmo! Vou pagar tudo no cartão. 

Pago e levo minhas sacolas, pude sentir o medo dominar o farmacêutico, por isso mentalmente cogitei que aqueles homens  de terno deveriam ser colegas de trabalhos com algum problema de última hora. Fiquei tão inerte na curiosidade, que tropecei na porta de vidro quando alcancei a saída e as sacolas de cosméticos caíram no chão espalhando os produtos. 

— Droga! — praguejei colocando tudo na sacola e voltando a me levantar. Percebo então, rapidamente e inevitavelmente a presença de um homem, a sensaçãoe diferente de tudo que já sentir atravessa meu peito como uma bomba inesperada. 

Ele não estava lá antes, mas agora está. Encostado na frente da Mercedes-Benz prateada, com as mãos no bolso das calças sociais, o terno parece mais caro e impecável que dos três homens dentro da farmácia e até mesmo os paletós favoritos do meu marido, com todo o jeito de um grande homem. 

Engulo em seco. Sua barba aparada está perfeita e não consigo ver seus olhos por conta dos óculos escuros, ele está me encarando e percebe que estou fazendo o mesmo e isso parece patético e idiota. Não perco meu tempo admirando o cara alto, forte e como Renata falaria para citar tudo isso que passou pela minha cabeça em segundos fugazes, esse "grande caparro" . Corro para meu carro e ponho as compras no banco do passageiro. 

Mas o que foi isso?! 

Merda eu estacionei meu carrinho na frente do carrão desse sujeito?

Novamente dou risada, uma risada pesada e diferente. Olho para o retrovisor e o sorriso nos meus lábios some, agora ele está fazendo uma ligação e quase acredito que está olhando para a placa do meu carro. Pronto agora fiquei louca. Sem mais nem menos coloco o cinto de segurança e acelero deixando para trás essa situação e esses pensamentos inusitados. 

A noite

Tomei um banho quente e com saís aromáticos de lavanda que aliviaram a tensão na minha pele. Usei meu melhor vestido vermelho, um pouco acima do joelhos e rodado com um belo decote. Passei um pouco de maquiagem que esconderam minhas sardas, mas não o suficiente, pintei as unhas e coloquei velas na sala; taças de cristal e uma bebida geladinha. Coloquei uma versão lenta da música rocabye, uma das favoritas de Victor, e deixei as luzes bruxelarem enquanto atacava os docinhos no sofá como um pequeno mostrinho de cabelos vermelhos. Quem não ama doces? 

Logo escutei o motor do carro, ele abrindo a porta e largando a maleta de negócios. Então, as chaves jogadas no balcão e por fim, um estridente:

— Amor, cadê você?! 

— Estou aqui! Esperando você, venha logo! 

— Wow! Mas o que é isso? Estamos comemorando o quê mesmo, minha pimentinha? 

Largo os doces que estava comendo e abraço ele ainda sentada no sofá, recebendo-o com um beijo gostoso nos lábios. 

— Hoje é só um grande dia, vem senta aqui! Agora! 

— Eu vou tomar banho e... 

— Não! Senta aqui, anda! Vem. 

Ele ergue as sobrancelhas, mas logo aceita minhas investidas sentando no sofá grande para qual eu o puxei. Pulo em seu colo e lhe encho de beijos, sentido o cheiro maravilhoso do único homem que me fez gritar de tanto amor. Passo a mão pelos seus cabelos e pela sua pele escura e perfeita, paro os dedos nos seus lábios carnudos. 

— Nunca vi minha esposa tão carinhosa. 

— Ei! Eu sou muito carinhosa...  ainda não me acostumei com você me chamando de esposa!

— Estamos casados a menos de uma semana, você tem anos e anos para se acostumar. 

Ele desce as mãos pela minha cintura e quando achava que iria me beijar ele ergue a mão até a mesa de centro pegando a taça de bebida, dando um grande gole e se decepcionado para meu riso. 

— Suco de uva? 

— É que apartir de hoje, acho que euzinha aqui não posso beber mais nada além de sucos naturais.

— Mas por que não...? 

Minhas bochechas estavam ficando mais vermelha que os meus cabelos, então foi quando ele prestou atenção na música que eu pusera pra tocar, olhou para chupeta pequena em cima da caixa de bebês e a forma que eu alisava minha barriga, Victor me apertou em um abraço e um beijo fervoroso, deitando-me sobre o sofá e me entregando um beijo intenso e apaixonante. 

— Você está g-grávida? 

— Estou! De três meses!!! Acredita? 

— Caralho essa é a melhor notícia do ano, da minha vida meu amor! 

Suas mãos sobem pelo meu vestido me fazendo cócegas ao alcançar minha calcinha, sua boca beija meu pescoço enquanto morro em gargalhadas alegres e felizes. Lágrimas de pura felicidade escorrem pelos cantos dos meus olhos, como uma grande onda minha vida tem trazido maravilhas uma atrás da outra e só posso recebê-las em tamanha intensidade. 

Desato o nó da sua gravata e ele segue trilhando caminhos de beijos na minha pele. 

— Você não sabe o quanto eu quis ser pai, minha pimentinha! Esse vai ser o nosso primeiro manhoso! O primeiro de tantos. 

— Manhoso ou manhosa! Sim, sim eu sei disso, eu sei, mas serão só dois!!! 

Nos sentamos novamente, tiro sua gravata e aliso seu peito por dentro da camisa, olhando as feições deslumbradas e apaixonantes do meu grande marshmallow como gosto de chamá-lo por pura provocação. Meu sorriso é de orelha a orelha, acho que nunca estive assim em um ânimo soberano. 

— Sabe o que isso merece? Uma grande festa! Quero todos aqui, comemorando comigo! 

— Festa? Bem, de chá de bebê...? Isso vai demorar mais um pouquinho. 

— Não, não meu amor. Só de saber que está grávida já merece uma comemoração enorme, quero toda sua família e minha aqui. E que momento melhor que esse? Casamos a alguns dias, sua melhor amiga chegou no dia no nosso casamento e vai ficar na cidade por mais algumas semanas, sem falar que o meu melhor amigo chegou na cidade hoje!

— Seu melhor amigo? Você nunca fala dele, não pra mim. — volto a me enrolar em seus braços fortes, amando o jeito com que a luz das velas tocam sua pele e toda sua alegria, nossa alegria. 

— É uma longa conversa, mas não posso esperar para mostrar para ele a minha maior vitória, você  e nosso futuro bebê. Eu quero essa festa nesse fim de semana, vamos organizar tudo amanhã mesmo. 

— Tão rápido assim? 

— Ora, você não quer, minha pimentinha? 

— É claro que quero! Tudo que eu mais quero é comemorar e comemorar com você, eu estou tão, tão feliz como nunca estive antes!!! 

Beijo-o novamente me entregando a nosso amor inabalável. Nesta noite du rmo amaranhada em belos e lindos sonhos aconchegada no seu peito quente, protegida sabendo que só coisas boas esperam por nós dois e nosso grande futuro. 

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